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MATRIZ 8 – Sensação dos Comandantes Militares

1.8 A proteção de navios e portos

Os atentados do 11 de Setembro foram determinantes na decisão da vigésima segunda sessão da Assembléia da Organização Marítima Internacional (IMO) em aprovar o desenvolvimento de novas medidas relativas à proteção de navios e instalações portuárias.32

Como resultado, a denominada Conferência Diplomática sobre Proteção Marítima realizada de 9 a 13 de dezembro de 2002 aprovou emendas ao SOLAS 74 e adotou uma série de Resoluções, dentre elas a de número 2, originando o Código Internacional para a Proteção de Navios e Instalações Portuárias, conhecido internacionalmente como ISPS Code.33 Esse Código se propõe, basicamente, “a estabelecer uma estrutura internacional envolvendo a

cooperação (grifo nosso) entre Governos Contratantes (...) a fim de detectar ameaças (grifo

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Como exemplo podemos citar as restrições publicadas pela Universidade de Harvard (TECNOLOGY, 2007). 32

Esse evento ocorreu em novembro de 2001. Para viabilizar o estudo que deveria estar pronto em dezembro de 2002 na Conferência de Governos Contratantes da Convenção Internacional para a Proteção da Vida Humana no Mar de 1974 (SOLAS 74), o Comitê de Segurança Marítima da Organização iniciou os trabalhos no mês de novembro de 2001, concluindo e apresentando-os no prazo previsto. SOLAS 74 é uma abreviatura da expressão

Safety of Life at Sea Convention 1974.

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nosso) à proteção e tomar medidas preventivas contra incidentes de proteção” (CONPORTOS, 2003, pp. 5 e 6). 34

Esse tipo de segurança a nível internacional merece uma análise parcial. Inicialmente, apesar de o ISPS Code ter sido publicado após o 11 de Setembro, não encontramos qualquer menção ao terrorismo, seus atos ou ações. As medidas preventivas estão relacionadas a incidentes de proteção.35 Podemos inferir que a inserção do termo terrorismo acarretaria impactos econômicos mundiais, haja vista um aumento substancial no frete marítimo devido ao valor do seguro, este diretamente proporcional à elevação do risco envolvido. Ou seja, a IMO está preocupada com a segurança da vida humana, dos bens materiais (carga, navios e instalações portuárias) e, do comércio marítimo internacional. Logicamente, todos vulneráveis a várias ameaças bem antes do 11 de Setembro. Torna-se lícito dizer que o Código trabalha primariamente com as dimensões de segurança social e econômica. Secundariamente, com a segurança política dos governos, ambiental - devido a certeza de que determinados ataques à navios no porto ou no mar acarreta danos ao meio ambiente -, e, finalmente, militar.

Outro aspecto que chama a atenção na abordagem ao ISPS Code é a conceituação de risco que o documento apresenta. Para ele, “o risco de proteção é uma função da ameaça de um ataque, juntamente com a vulnerabilidade do alvo e as conseqüências de um ataque” (CONPORTOS, 2003, p. 38). Mais uma vez constatamos a presença dos três fatores, de

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A tradução oficial do ISPS Code é o Anexo da Resolução 03, de 27 jun. 2003, da Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (CONPORTOS).

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A palavra terrorismo não é encontrada no IPS Code. Os incidentes de proteção previsto no Código são: dano ou destruição de um navio ou de uma instalação portuária, por meio de explosivos, incêndio criminoso, sabotagem ou vandalismo; seqüestro ou captura do navio ou de pessoas a bordo; violação de cargas, equipamentos ou sistema essenciais do navio ou de suas provisões; acesso ou uso não autorizado, incluindo a presença de clandestinos; tráfico de equipamentos ou armas, incluindo armas de destruição em massa; utilização do navio para transportar pessoas cuja intenção é causar um incidente de proteção e/ou seus equipamentos; utilização do navio como arma ou como meio de causar dano ou destruição; ataques vindos do mar enquanto o navio estiver atracado ou fundeado; ataques enquanto o navio estiver no mar; bloqueio: de entradas dos portos, comportas, aproximações, etc; e ataque nuclear, biológico e químico. Além dos “incidentes de proteção” para navios (CONPORTOS, 2003, p. 59), o ISPS Code tipifica os relativos às instalações portuárias (ibidem, p. 82). Eles são muito semelhantes, a principal diferença é o objeto que se pretende proteger: navio ou instalação portuária.

forma tão explícita como publicada na NSHS. Aqui, o risco se confunde com a insegurança, porém os dois se relacionam de maneira diretamente proporcional se considerarmos que quanto maior for o risco de algo nos causar danos, maior será o nosso sentimento de insegurança.

O Brasil, como um dos 162 países signatários, adotou o Código como diretriz para a elaboração dos planos de segurança tanto para navios como para portos, cuja tarefa coube a Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (CONPORTOS). Três aspectos são dignos de nota quanto ao funcionamento dessa Comissão. Primeiramente, ela foi criada em 1995 em função de novas demandas em área específica de segurança pública – portos, terminais e vias navegáveis.36 Em segundo lugar, as deliberações com ações concretas começaram a ocorrer efetivamente no pós ISPS Code, ou seja, cinco anos após a sua criação.37 Por último, o colegiado da CONPORTOS é formado por componentes dos Ministérios da Defesa – representado pela Marinha do Brasil -, Transportes, Fazenda, Relações Exteriores e Justiça, sendo presidida por este. Em suma, essa cooperação interministerial passou a funcionar e a apresentar resultados somente após um imperativo funcional da IMO, cujo não cumprimento acarretaria sanções à participação da indústria marítima brasileira no comércio marítimo internacional. 38

Um conceito também interessante inserido no ISPS Code é o de proteção. Esse Código sugere que a preocupação fundamental das indústrias portuária e de navegação, componentes que são da indústria marítima, está voltada para as vulnerabilidades e seus danos. Não há qualquer referência voltada contra a ameaça no sentido de se contrapor por meio de medidas coercitivas. Ele enfatiza medidas do tipo anti ameaça, entendidas como sendo iniciativas

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A CONPORTOS foi criada pelo Decreto Lei nº 1.507, de 30 de março de 1995. 37

De sua criação até o 11 de Setembro, a CONPORTOS nunca havia emitido qualquer Resolução. Em 2002, emitiu as de nº 001 e 002 em 24 jun. e 02 dez., respectivamente. No pós ISPS Code emitiu dezessete em 2003, sendo que a de nº 003, 27 jun. 2003, estabeleceu o Código como diretriz para a elaboração das avaliações e elaboração dos planos de segurança de cada porto ou terminal portuário (LEGISLAÇÃO, 2008).

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A implantação do ISPS Code concorreu para a competitividade dos portos brasileiros a nível internacional. Dos 218 planos de segurança pública portuária aprovados até 27 de março de 2006, 130 estão certificados, as demais instalações portuárias estão com certificação provisória (SEGURANÇA, 2007).

destinadas a reduzir V e D e a busca por indícios de algo antes que se torne capaz de causar danos. Uma vez informado ao Estado, caberá a ele atuar em A com legalidade e legitimidade para neutralizá-la ou eliminá-la, com o emprego de força bruta se necessário. Conclui-se que o papel da indústria marítima é anti ameaça enquanto somente o Estado pode adotar ações contra ameaça. 39