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CAPÍTULO II. POLÍTICA CRIMINAL DE PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR

1. Características do novo modelo social

1.3. A questão da causalidade: primeira análise

para os denominados delitos de dever, isso porque “nos delitos de ação, é autor quem domina a ação típica; aqui é decisivo o domínio do fato. Nos delitos de dever, pelo contrário, pratica uma ação típica somente, mas sempre, aquele que viola o dever extrapenal, sem que o domínio sobre o acontecimento exterior se revista da menor importância.”

133 Cf. ÍÑIGO CORROZA, Mª E., La responsabilidad penal del fabricante por defectos de sus p roductos,

p. 112, “ la infracción de la norma de conducta penal supone la creación de riesgos jurídicamente desvalorados. Esta <<desvaloración>> tiene como fundamento que se ponen en peligro o se dañan condiciones necesarias para el desarrollo de la vida social. Se defraudan, en definitiva, expectativas sin las cuales los ciudadanos ven peligrar su sistema de desarrollo social.”

134 A denominação adotada pelo Código de Defesa do Consumidor para estas situações em que há um

defeito é fato do produto (Cf. Art. 12, Lei 8.078/90).

135 Sobre as possibilidades de exclusão de responsabilidade no âmbito do Código de Defesa do

Consumidor: Cf. Art. 12, § 3º, incisos I a III: “O fabricante, o construtor, o produtor ou o importador só não será responsabilizado quando provar: I – que não colocou o produto no mercado; II – que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”

136 Cf. ÍÑIGO CORROZA, Mª E., op. cit., p. 139, “en el caso de las actividades de comercialización y

venta de productos, el problema de la acumulación se plantea en otros términos. El legislador no tiene en cuenta, a la hora de tipificar estas conductas, la actuación de otras empresas para prohibir o no la comercialización de determinados productos que en sí mismos no son defectuosos, pero que junto con otros podrían serlo.”

Na luta por definições que se apresenta na denominada sociedade de risco está o tormento da causalidade, porque, sem dúvida, verificado um fato seguirá a pergunta de o que o causou e a quem se pode (ou se deve) imputá-lo, estabelecendo assim um nexo causal, embora não se possa ignorar que causalidade e imputação do resultado merecem trato diferenciado. Ocorre que, modificada a sociedade e sua lógica será necessário superar conceitos naturais e científicos, e conciliar uma busca empírica baseada em uma racionalidade social e científica.

A existência de uma causalidade material-local-temporal fica cada vez mais rara e surgem as causalidades cumulativas, as fontes diferidas, os resultados em longo prazo137, as condutas sem autor, indicando uma causalidade suposta, mais ou menos <insegura y provisional>>138.

A demonstração da causalidade nesse novo contexto situa-se em um nexo de responsabilidade social e jurídica, não necessariamente decorrente de um processo natural, como se fosse uma forma de compartilhar não só as riquezas oriundas do status social, mas, também, uma repartição dos efeitos colaterais com segmentos até então intocados, seja de parte seja do todo, orientando a construção dogmática da Teoria do Delito, com ênfase para os tipos de perigo, tipos culposos, e de proteção ex ante dos bens

137 Retomando a questão dos riscos e avaliação de suas conseqüências: V. BECK, U., La Sociedad del

riesgo – Hacia una nueva modernidad, p. 33: “muchos de los nuevos riesgos(contaminaciones nucleares o químicas, sustancias nocivas en los alimentos, enfermidades civilizatorias) se sustraen por completo a la percepción humana inmediata. Al centro pasan cada vez más los peligros que en ciertos casos no se activan durante la vida de los afectados, sino en la de sus descendientes; se trata en todo caso de peligros que precisan de los <<órganos perceptivos>> de la ciencia (teorías, experimentos, instrumentos de medición) para hacerse <<visibles>>, interpretables, como peligros. El paradigma de estos peligros son las mutaciones genéticas causadas por la radioactividad, que, imperceptibles para los afectados, dejan a éstos por completo (tal como muestra el accidente en el reactor de Harrisburg) a la merced del juicio, de los errores, de las controversias de los expertos.” (- grifos constam do original -)

138 BECK, U., Ibid., p. 34. Continua afirmando que “el nexo causal que se establece en los riesgos entre los

efectos nocivos actuales o potenciales y el sistema de la producción industrial abre una pluralidad casi infinita de interpretaciones individuales.” (Ibid., p. 37).

jurídicos, numa tentativa de superação do dogma do resultado e a necessidade de imputação de tal com fulcro em uma causalidade revisitada.

Para a acolhida de uma nova causalidade que acompanhasse o novo modelo social e a nova forma de criação de riscos seria imprescindível um incremento da ciência, e se pautasse num horizonte normativo e axiológico, e, sobretudo ético139, que fosse capaz de colaborar com seu aparato técnico numa avaliação consciente e total, permitindo (ou ao menos buscando) uma convivência pacífica entre uma racionalidade científica e social, pois que “sem racionalidade social, a racionalidade científica é vazia, sem racionalidade científica, a racionalidade social é cega”140.

Não se pode ignorar, contudo, que a possibilidade de imputação de responsabilidade penal com delineamentos baseados em suposição, é objeto de críticas, que se iniciam pelo questionamento da responsabilidade objetiva e perseguem diversos estágios da Teoria do Delito, e é preciso evitar que se transmude em uma racionalidade tal que não privilegie mais qualquer atributo causal-científico e tão somente uma racionalidade social, sob pena de imputar efeitos que não poderiam ser decorrências de determinadas causas, recorrendo-se unicamente a uma causalidade empírica; o contrário, também, deve ser evitado não se permitindo que um racionalismo científico possa ser o único ponto a avaliar a relação de causa e efeito.

Caminhar-se-ia para uma irracionalidade situada numa zona de sombras141, não aquelas originárias de um atavismo que fazia o homem crer em coisas não

139 BECK, U., La Sociedad del Riesgo – Hacia una nueva modernidad, p. 36. 140 BECK, U., loc. cit. (- grifos constam do original -).

141 Segundo BECK, U., Ibid., p. 80/81, “crece la <<zona gris >> de las presunciones irreconocibles de

riesgos. Si de todas maneras es imposible determinar las relaciones causales de forma definitiva y terminante, si la ciencia sólo es un error disimulado a la espera de nuevos datos, si cualquier cosa puede suceder ¿de dónde procede entonces el derecho a <<creer>> en unos determinados riesgos y no en otros? Ya que, precisamente, la crisis de la autoridad científica puede favorecer uma ofuscación general de los riesgos. La crítica de la ciencia también es, por tanto, contra-productiva para el reconocimiento de los riesgos. Por consiguiente, la conciencia del riesgo de los afectados, que se manifiesta de múltiples maneras en el movimiento ecologista y en la crítica a la industria, a los expertos y a la

pertencentes ao mundo visível, como deuses e demônios, ou quando temia o fogo, a chuva, e o trovão; a zona de sombras, atualmente, invisível é habitada pelos terrorismos, por uma cifra negra de desvalidos, e os medos são a contaminação global da água, a chuva ácida, os armamentos nucleares.

As dificuldades apontadas não podem servir de motivo para se afastarem os saberes, inclusive o próprio Direito, não com objetivos pré-determinados, mas sim refletidos para conduzir o que já está, de certo modo, enrijecido e inflexível, mas também servindo o amparo técnico-científico como limitador da inconstante e, às vezes, inconseqüente busca pela evolução, desregulando uma sociedade segmentada em castas cuja ideia darwinista está presente na competência para sobreviver e da apropriação do poder econômico como uma forma eficaz de atingir a felicidade142.