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A Questão do Financiamento da Produção nos anos setenta

1962-66 Indicador Taxa ou

4. A década de setenta: a consolidação de um modelo virtuoso

4.2. A Questão do Financiamento da Produção nos anos setenta

Segundo Mármora & Messner (1990) é preciso ter claro que o colapso do sistema de Bretton Wood em 1971/73 criou um marco diferencial na história da economia mundial após 1945. A intensificação do processo de internacionalização do capital levou a uma assimilação das condições de produção nos países industrializados, foi também a razão para a tendência de crise nos centros capitalistas que estavam sincronizados e se reforçavam mutuamente. Dessa forma, os principais países industrializados se viram envolvidos na crise econômica ao mesmo tempo.

Assim, a crise da economia capitalista mundial dos anos setenta, falsamente denominada de crise do petróleo, falsamente imputada aos árabes foi caracterizada por processos convergentes de forte homogeneização e assimilação nos países industrializados, mas também por processos em paralelo de diferenciações na periferia. Junto com o aumento repentino das receitas de exportação dos países exportadores de petróleo devido à explosão dos preços daquele produto, de forma que a participação dos países ditos em desenvolvimento no mercado mundial subiu de 6,7% em 1972 para 17,1% em 1980, durante os anos setenta é incorporado na massa de países em desenvolvimento um grupo que se distingue por uma dinâmica e bem sucedida industrialização. São imediatamente chamados de Países Recentemente Industrializados, adotando-se a sigla NICs53. (UNCTAD, 1988).

A dinâmica da industrialização da maioria destes países é sustentada por planos de investimentos comandados pelo Estado. No caso da Coréia do Sul este comando se verifica de forma mais forte do que países como o Brasil, apesar de que ambos viveram experiencias de

53 NICs da sigla em inglês para Newly Industrialized Country é uma tipologia aplicada para países que buscam superar outros de mesma condição recente no intuito de atingir o Primeiro Mundo, isto é, o Núcleo Central do capitalismo mundial.

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regimes autoritarios no século XX. Esta dinamica de industrialização representa no início dos anos 70 em uma mudança importante no padrão de desempenho que caracterizou a história destes países nos anos cinquenta e sessenta. Na verdade, a taxa de participação dos países em desenvolvimento nas exportações mundiais de produtos manufaturados aumentou de 4,7% em 1955 para 11,9% em 1983. (UNCTAD, 1988).

Em 1981 o chamado “grupo dos quatro asiáticos” (Hong Kong, Cingapura, Taiwan e Coréia Sul) respondeu por 60,5% do total das exportações industriais do Terceiro Mundo, quando em 1963 essa participação era de apenas 23,8%. Em 1984 a Coréia do Sul respondeu individualmente por 18,1% de todas as exportações de manufaturados de países em desenvolvimento, quando em 1963 este valor era 1,1% e em 1973 era de 11%, que já era maior do que a participação total de países da América Latina que em 1984 era de meros 15,2%. Em 1986, as exportações de manufaturados da Coreia do Sul atingem 31,8 bilhões de dólares americanos, enquanto o somatório de todos os países latino-americanos alcança o valor de 20,4 bilhões de dólares americanos. (UNCTAD, 1988).

De acordo com Mármora & Messner (1990), pode-se dizer que nos países da periferia a industrialização encontra-se concentrada nos NICs, enquanto as exportações são, essencialmente, resultado dos Países Recentemente Industrializados do Leste Asiático (EANICs). No entanto, os diferentes ganhos nas exportações dentro do grupo de NICs não são uma expressão da eficiência do potencial produtivo e da dinâmica da acumulação de capital das economias em questão, mas sim o resultado de estratégias de desenvolvimento diferentes. Enquanto os Países Recentemente Industrializados da América Latina (LANICs) que são economias voltadas, principalmente, para o desenvolvimento orientado aos seus mercados domésticos, observa-se que a dinâmica da industrialização dos EANICs é centrada pesadamente sobre uma rápida expansão da participação das exportações no PIB e em suas relações crescentes com o comércio internacional.

Pode-se verificar um significativo crescimento do fluxo de crédito externo privado na Coréia do Sul depois de 1965. É correto creditar parte deste processo ao diferencial médio entre as taxas de juros internas e as taxas externas. Contudo, esta explicação é incompleta e monocausal ao extremo. Fato é que a reforma na política cambial, principalmente a unificação das taxas de câmbio ocorrida em 1964, acompanhada, como já assinalada, pelas desvalorizações do Won, foram fatores para o sucesso do modelo exportador e para a liberalização seletiva das

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importações. Seria um grande erro de análise esquecer a contribuição para o ingresso de capitais estrangeiros o próprio fortalecimento da economia coreana, as políticas econômicas realizadas para atrair fundos internacionais, a manutenção da ajuda americana e as relações do país com o capital orgânico do Japão e dos Estados Unidos.

De acordo com Woo (1991) nos anos cinquenta e mesmo no início da década de sessenta a Coréia do Sul não possuía dívida externa. Os dois primeiros Planos ajudam a elevar o endividamento externo do país, no começo da década de setenta, para algo em torno de 30% do PIB. Os juros baixos de captação dos empréstimos externos aliados ao fato de que o governo assumia o risco cambial implícito na tomada de recursos externos constituiu um grande incentivo para o endividamento.

O endividamento externo começa a se acelerar com a industrialização pesada, fato que a Coréia do Sul viveu em comum com outros países periféricos e semiperiféricos. Cabe destaque no caso coreano, segundo Canuto (1994) duas características importantes: (a) na Coréia do Sul ocorreu forte centralização do crédito, através do Estado, ou seja, o sistema bancário foi estatizado e as autoridades monetárias exerciam comando sobre a liquidez externa; (b) A Coréia do Sul atravessa a crise do endividamento externo das economias periféricas da primeira metade dos oitenta sem rompimento da “normalidade” nas suas relações financeiras com o exterior, enquanto procedia a uma reestruturação de seu parque industrial (Canuto, 1994: p. 6).

Pela Tabela 11 observa-se que o sistema de financiamento oficial ofertavam recursos fortemente subsidiados para exportação, enquanto o mercado informal (semilegal) operava com taxas de juros muito elevadas.

Segundo Park (1986), quanto ao financiamento externo, este só era possível com garantias dadas por instituições públicas ou por instituições financeiras controladas pelo governo. É assim que o governo exercia o controle sobre a liquidez do sistema.

De acordo com Canuto (1994) a política cambial foi tal que os custos reais na moeda doméstica com os juros dos empréstimos externos foram diminuídos a valores negativos durante os anos setenta e até o início dos oitenta. Por outro lado, os recorrentes déficits em transações correntes do Balanço de pagamentos foram zerados com recursos aportados do sistema financeiro internacional, de maneira que a dívida externa bruta do país elevou-se de dois bilhões de dólares americanos para vinte e sete bilhões ao final da década de oitenta. Entretanto, o Investimento

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Interno Bruto permaneceu no final da década de setenta em torno de 30,0% do PIB, enquanto a relação dívida externa total/PIB oscilou de 35,0% em 1978 para 47,7% em 1980.

TABELA 11