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Cha (2008) argumenta que a história econômica e social da Coréia deve ser dividida nos três últimos séculos – e são estes os séculos que interessam mais particularmente – em três períodos: (a) um período de estagnação malthusiana que dura até 1910, quando ocorre a anexação da Coréia pelo Japão; (b) o período dito colonial que se estende de 1910 até 1945; e (c) o período da aceleração que começa no pós Segunda Guerra Mundial até os tempos atuais, quando a Coréia do Sul atinge alto nível de desenvolvimento e bem estar econômico e social.

Observando a periodização proposta por Cha e considerando que toda periodização é relativamente arbitrária pode-se dizer que a mesma cumpre o papel de estabelecer os equilíbrios entre mudanças e permanências. Deixando a denominação de “estagnação malthusiana” sobre inteira responsabilidade daquele autor, este trabalho concorda com as teses gerais do mesmo.

Um olhar para a periodização proposta mostra claramente que o primeiro período abarca dois séculos em uma longa duração braudeliana, onde predominam relações próprias do feudalismo asiático. O segundo e terceiro períodos possuem ligação importante com aquelas ocorridas no Japão, depois da chegada do Comandante Perry35 em 1876 e a subsequente abertura

da economia e da sociedade japonesa ao Ocidente. A menor distância que separa a Coréia do Japão é de 206 Quilômetros. Esta proximidade, inumeráveis vezes, estimulou o imperialismo japonês e oportunizou muitos problemas para a Coréia, mas também gerou possibilidades de

35 O primeiro contato entre japoneses e ocidentais ocorreu no período das grandes navegações nos séculos XV e XVI. No século XVII, o comércio do Japão passou a ser monopólio de alguns poucos comerciantes holandeses. O isolamento japonês perdurou até que a Esquadra Negra, sob o domínio do comandante Perry, forçou a abertura dos portos japoneses ao comércio com os Estados Unidos. (Hobsbawm, 1995)

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integração com um país de industrialização retardatária e exitosa como o Japão. Não é possível estudar a Coréia sem fazer referências aos seus dois vizinhos: Japão e China. (Kim, 1985)

Segundo McNamara (1990) as invasões japonesas ao território coreano, se perdem no tempo que, no Ocidente, ficou conhecido como Idade Média ou Medievo. No final do Século XV, o Japão propôs um tratado de paz com a Coréia que continha uma cláusula explosiva: usar o território coreano para invadir a China. Os dirigentes coreanos rejeitaram o tratado e, com isso, tiveram o seu território invadido pelo Japão em 1592, com o efetivo de 150 mil homens. A superioridade numérica, o fator surpresa e o uso de armas de fogo desconhecidas pelos coreanos explicam a queda da capital Seul em 15 dias.

Contudo, a resistência coreana mostrou-se muito eficiente na guerra de guerrilha. A ajuda chinesa foi fundamental. Os invasores cedem terreno e iniciam a retirada das tropas. Negociações de paz se arrastam por cinco anos. O Japão empreende outra invasão periférica que é novamente derrotada. Os custos para a Coréia são imensos em termos de recursos produtivos, homens mortos e o sequestro de trabalhadores qualificados.

Em 1876, depois de oito anos de diplomacia combinados com demonstrações de força, através de diversas invasões, a Coréia assina um tratado de amizade acompanhado de um acordo comercial e outro alfandegário. Os documentos foram elaborados pelos japoneses e beneficiavam o Japão com privilégios de extraterritorialidade, isenção de impostos e reconhecimento da moeda japonesa nos portos especificados no acordo alfandegário.

De 1882 até 1906, as relações entre a Coréia e o Japão continuaram muito tensas e sem solução estável. Em 1895 militares japoneses, aproveitando o fato de estarem treinando oficiais coreanos, invadem o palácio e assassinam a Rainha. Em 1906 o Japão estabelece um sistema de controle exercido por um General Residente. Este preposto japonês agia através do Conselho de Modernizações da Administração Coreana. A Coréia tentou reagir utilizando a diplomacia, buscando o apoio da comunidade internacional. Como os resultados eram irrisórios, a resposta do Japão foi forçar um novo acordo mais danoso à Coréia do que o de 1882 tornar o General Residente em autoridade máxima do país. Oficiais japoneses infiltraram-se nos poderes executivos e judiciários. As forças armadas coreanas são desarmadas e desmobilizadas. Houve muita resistência por parte dos coreanos, mas a repressão japonesa foi sempre implacável. Apesar da (ou talvez pela) violência dos poderes invasores, a resistência tomou vulto e transformou-se em guerra contra o invasor. As batalhas duram de 1907 até 1909, o principal problema das forças

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rebeldes é a falta de suprimentos, desde armas e munições até alimentos. O Japão anuncia a vitória sobre os revoltosos. A resistência passa à clandestinidade e um grupo de militares coreanos cruza a fronteira e na Manchúria organiza as bases de um Exército de Libertação Nacional.

Em 1910, Japão e Coréia assinam um acordo de anexação do segundo país pelo primeiro. Pelo referido acordo, todos os tratados entre a Coréia e outras nações ficam revogados; e todos os tratados japoneses com o resto do mundo são automaticamente estendidos à Coréia.

Na verdade, o Japão instala uma ditadura total sobre a sociedade coreana. São proibidas as atividades políticas e reuniões públicas. Lideranças foram presas ou assassinadas. Livros foram destruídos. Ocorreram tentativas de se reescrever a história da Coréia. Como o objetivo japonês era de “exploração” da Coréia, uma parte significativa da população infantil e juvenil foi deixada fora da escola, numa tentativa evidente de criar um estoque de mão-de-obra barata.

Em março de 1919, frente ao estado de exploração econômica e opressão política, eclode uma rebelião contra o colonialismo japonês. O falecimento e funeral do Imperador Kojong foram utilizados como elementos catalisadores. Foram programadas manifestações pacíficas por todo país em defesa da independência. Os líderes do movimento assinam uma declaração de independência que é lida em toda Coréia. A reação japonesa é brutal. A polícia atira e mata centenas de manifestantes desarmados; milhares são presos e, transferidos para prisões japonesas, muitos morrem. A resistência coreana respondeu com atentados contra as delegacias de polícia. A segunda reação japonesa é maior; casas e igrejas são incendiadas. As estimativas indicam mais de 6 mil mortos, 15 mil feridos e 50 mil presos. Apesar da derrota, o que estava em jogo e saiu fortalecido do confronto foi o nacionalismo coreano. É nesse sentido que 01 de março de 1919 tem um forte significado político e simbólico. Os anos 20 e 30 do Século XX são períodos de resistência cada vez mais organizada contra o Japão. São anos de fortalecimento do orgulho nacional coreano.

É importante compreender que o domínio colonialista do Japão sobre a Coréia transcendia a própria exploração sobre os recursos econômicos daquele país. O objetivo real da ocupação japonesa era de usar a Coréia como base operacional e “corredor militar” para o domínio da China.

Em 1937, em um momento da conjuntura internacional que já se esboçavam as futuras alianças rumo à Segunda Guerra Mundial, o Japão passa a controlar os territórios da Manchúria e

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da China. A principal contribuição coreana para o esforço expansionista japonês, além dos bens de consumo direto (alimentos, principalmente), foi o uso e abuso da força de trabalho coreana. Quanto maior o esforço expansionista japonês, maior a exploração da força de trabalho e maior a parte do produto “expropriado”.

Em 1942, o Governo Geral foi inteiramente subordinado ao controle político do governo japonês. Foi imposta a mobilização total da força de trabalho e dos recursos econômicos coreanos para atender o esforço bélico japonês. Em 1943, a juventude coreana em idade de recrutamento foi forçada a servir no exército japonês.

Ainda em 1941, o governo provisório da Coréia, com sede na China, emitiu nota diplomática internacional exigindo dos líderes ocidentais: (a) o reconhecimento do governo provisório como legítimo representante da nação coreana (implícita estava a condição de Nação Independente); (b) apoio financeiro, técnico e militar na realização de ações contra o exército invasor (implícita estava a necessidade dos líderes ocidentais de declarar o Japão como invasor, apesar da anexação ter sido objetivada através de um acordo aparentemente legal); (c) o direito daquele governo provisório de participar livremente na definição do destino da Coréia nas discussões do pós-guerra.

Depois de Pearl Harbor (dezembro de 1942) e da crescente ligação do Japão com o nazismo alemão, o governo provisório da Coréia acentua os esforços diplomáticos no sentido de isolar o Japão da comunidade internacional. Consegue-se um acordo de assistência com a China. A reunião do Cairo em 1943 decidiu pela legalidade do governo provisório e pela independência da Coréia ao final da Segunda Guerra Mundial.

Na verdade, o ato de independência da Coréia coincide com sua divisão entre Norte e Sul, comandada pelas forças de ocupação da União Soviética e dos Estados Unidos. Aquela dupla ocupação “benigna” (quando comparada com a ocupação “espoliativa” do Japão) representava conflitos internos preexistentes. Do lado dos EUA visava a criação de mais um pólo de resistência ao comunismo. Do lado da URSS, o objetivo era evitar ou equilibrar a presença ocidental e pró-capitalista nas suas proximidades.

Segundo Silveira (2000) com o final da Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos, como principal potência capitalista vitoriosa, buscou estabelecer uma Geopolítica dominante e suas respectivas áreas de influência. Não é demais lembrar que os EUA mantiveram a ocupação militar nos países onde havia estacionado suas tropas e desenvolveu políticas e instrumentos de

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intervenção econômico-militar em todo o mundo. Em todo o território sul-coreano os EUA construíram e ampliaram aeroportos e portos militares, concentrando forças ao longo do Paralelo 38. Para a modernização do exército títere sul-coreano, em 1949, ofereceram como "ajuda militar" cerca de 110 milhões de dólares.

A tensão entre Coreia do Sul e Coreia do Norte tem origem na divisão de poder global após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Durante o processo de ocupação das áreas tomadas pelo Japão - um ex-aliado nazista -, os Estados Unidos ficaram com o sul da península coreana, enquanto a União Soviética estabeleceu suas tropas no norte.

Inspirados pela revolução comunista na China, em 1949, os norte-coreanos decidiram, no ano seguinte, tentar unificar as Coreias por meio de uma declaração de guerra ao Sul. Começava ali a Guerra da Coreia (1950-1953), que tinha de um lado o apoio das tropas soviéticas e, do outro, a participação de militares americanos.

De acordo com Crouzet (1958) a Guerra da Coreia foi travada entre 25 de Junho de 1950 a 27 de Julho de 1953, opondo a Coréia do Sul e seus aliados, que incluíam os Estados Unidos da América e o Reino Unido, à Coreia do Norte, apoiada pela República Popular da China e pela União Soviética. O resultado foi a manutenção da divisão da península da Coreia em dois países. Em 1950, cinco anos e meio depois de vencer a Alemanha Nazista principalmente no front oriental russo em pleno inverno rigorosíssimo, os Estados Unidos e a União Soviética, ex-aliados, entram em conflito pelo controle da Coreia, uma nova zona de influência comercial e territorial, arriscando provocar uma terceira guerra mundial.

Como dito acima, a guerra tem início em 25 de junho de 1950. Em Setembro, as forças das Nações Unidas começam uma ambiciosa ofensiva para retomar a costa oeste, ocupada pelo exército norte-coreano. No dia 15 desse mês, chegam com certa facilidade a Incheon, perto de Seul, e algumas horas depois entram na cidade ocupada. Os setenta mil soldados norte-coreanos são vencidos pelos cento e quarenta mil soldados das Nações Unidas. Cinco dias depois, exatamente três meses após o início das hostilidades, Seul é libertada. Com essa vitória, os Estados Unidos mantêm sua supremacia no sul. No primeiro dia de Outubro, as forças internacionais violam a fronteira do paralelo 38, como os coreanos haviam feito, e avançam para a Coreia do Norte.

Então a guerra da Coréia entrou num período de escaramuças e pequenos combates, com ambos os lados preocupados em manter os pontos estratégicos já conquistados, lembrando a luta

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de trincheiras da Primeira Guerra Mundial. Esta situação persistiu por longos dezoito meses, enquanto as negociações de paz, intermediadas pela ONU, prosseguiam. Apesar da natureza estática dos dois últimos anos do conflito, as perdas de vidas foram acentuadas, e todos sofreram muito mais do que nos dois anos de guerra de movimento. O armistício total foi assinado em 27 de julho de 53 e a guerra da Coréia terminava praticamente como havia começado, apesar de ter causado tanta morte e destruição.

Segundo Hobsbawm (1995) o conflito foi encerrado com ambos os lados voltando para os limites do paralelo 38, a linha imaginária que marcava a divisão inicial entre os territórios comunistas e capitalistas. Apesar da assinatura do Tratado de Pan-munjom ter acabado com as batalhas imediatas, um acordo de paz nunca foi estabelecido, e Coreia do Sul e Coreia do Norte continuam oficialmente em guerra até hoje.

Em agosto de 1948, a República da Coréia do Sul é criada através da passagem do poder realizado pelo Governo Militar de ocupação dos Estados Unidos. Os problemas do novo governo não se resumiam apenas àqueles de reconstrução de um pós-guerra, mas contemplavam todos os conflitos ideológicos que opunham o Norte e o Sul. Tais conflitos levam à guerra da Coréia (1950-1953), um dos episódios mais marcantes da Guerra Fria.

Depois da década de ocupação japonesa; depois de uma guerra mundial, que devastou parte do planeta; depois de uma guerra regional de alta potência, as duas Coréias estavam com problemas sociais, econômicos e políticos graves. A reconstrução era uma tarefa grandiosa. A herança da guerra era pesada: mais de um milhão de mortos e mutilados; desemprego generalizado; forte transferência demográfica do campo para a cidade, o que provocou escassez de alimentos e forte pressão social nos centros urbanos.

A sociedade sul-coreana caminha de 1953 até 1960 num quadro de muita instabilidade política. O Partido Liberal, e sua maior liderança, Syngman Rhee resistem à democratização do país. Finalmente, em 1960, ocorrem eleições que são fraudadas pelo Presidente Rhee e o Partido Liberal. Em 15 de março, manifestações explodem em todo o país, chegando até a Seul. A repressão é severa e inclui o assassinato de opositores. O governo resolve endurecer e decreta a lei marcial. As manifestações continuam. Rhee renuncia. Um governo provisório encabeçado por Huh Chong é instalado com a principal tarefa de organizar novas eleições. O resultado das eleições é uma esmagadora e indiscutível vitória da oposição, representada pelo Partido Democrata.

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O novo governo eleito, do Partido Democrata, não foi capaz de gerar estabilidade e confiança. Os movimentos da massa resolvem manter a pressão política nas ruas, enquanto o governo passa a sofrer de “paralisia política”, não consegue atender a nenhuma força em disputa. Há uma crise de hegemonia no país. Crises não são fenômenos atemporais, estão sempre localizadas e são resolvidas na conjuntura e na curta duração. A solução já estava à caminho. Lá, como aqui, foi um “rumor de botas”.

Na madrugada de 16 de maio de 1961 as forças armadas, sob a direção do General Park Chung-Hee, tomam o poder através de um golpe de estado. O período Park Chung-Hee como presidente da Coréia do Sul se estende de 1961 até 1979 quando o mesmo é assassinado. O período denominado de Terceira República (1961-1971) é caracterizado pela reaproximação com o Japão e por forte crescimento econômico.

Em 1972 o presidente Park revisa a Constituição no sentido de uma maior centralização do poder nas mãos do presidente. A idéia era de que as reformas que a Coréia do Sul precisava, incluindo uma mais rápida modernização econômica, exigiam aquela centralização. Estava criada a Quarta República. Em outubro de 1979, o Presidente-General, Park Chung-Hee, foi assassinado. Foram 18 anos de governo exitoso no campo econômico. A Coréia do Sul sai da condição de país colonizado para a condição de potência regional, abaixo apenas do Japão.36

Com a morte do presidente Park, o Primeiro-Ministro Choi kyu Hah assume a presidência interinamente, para depois ser eleito, indiretamente, por um Colégio Eleitoral denominado de Conselho Nacional de Unificação. Mesmo eleito e portador da legitimidade conferida pelo Conselho Nacional de Unificação, o governo de Choi Kyu Hah dura menos de um ano, sendo substituído pelo General Chun Doo Kwan. O regime autoritário do General Park teria continuidade no regime do General Chun. Desse modo, estava fundada a 5ª. República.

Depois de uma Guerra Civil que se arrastou por cerca de três anos, em 1953 a Coréia apresentava renda per capita de 80 dólares americanos. Em 1980, menos de 30 anos depois, a

36Não se considera aqui a discussão sobre o papel e o poder no sistema-mundo que a China deve exercer no atual século XXI. Apesar de que em “Adam Smith em Pequim”, Giovanni Arrighi, dedicar-se a explicar teórica e historicamente a ascensão da China à posição de locomotiva da economia mundial, bem como as implicações da perda desta posição pelo Ocidente e, em particular, pelos Estados Unidos, este trabalho teria que abrir um parêntese que daria outra tese. De todo modo é cedo para confirmar ou refutar a corajosa, e ambiciosa tese de Arrighi. Aliás, só a História pode fornecer a palavra final sobre teses desta natureza. Entretanto, para quem estudou a obra completa de Arrighi e sabe da consistência metodológica e epistemológica e da combinação primorosa que aquele autor faz de Karl Marx, Max Weber, Joseph Schumpeter e Fernand Braudel, é quase impossível não se sentir tentado.

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renda per capita do país atingiria 1.645 dólares americanos e em 2010 este indicador chegou a 20.000 dólares americanos. No período 1950-80, a Coréia esteve entre as economias de maior crescimento do mundo, atingindo 6,5% de crescimento médio anual – tendo um máximo em 1969, ano em que o PIB apresentou variação de 13,8 %. Mais do que um exemplo de crescimento rápido e sustentado, a Coréia é um dos raros casos em que o crescimento do produto material aconteceu em convergência com um adequado desenvolvimento do sistema financeiro. (Banco Mundial).

Amsden (1992) já mostrava que o que caracteriza o capitalismo de industrialização tardia era um forte viés regional. Não se trata da velha, mas, ainda atualíssima, discussão sobre difusão desigual de tecnologia, mas da difusão desigual do capital. Assim, a Coréia do Sul é um interessante e bem-sucedido caso sobre o efeito do uso de fontes externas de financiamento em países de desenvolvimento tardio. Trata-se de um caso onde a dinâmica da poupança externa foi muito mais benéfica no longo prazo do que o observado em diversas economias tardias latino- americanas. Para analisar os efeitos da poupança externa na economia, porém, não se pode olvidar o contexto particular da Guerra Fria em que estes países eram parte do xadrez da geopolítica internacional. A Coréia do Sul, de forma diferente dos países latino americanos, foi fortemente beneficiada por grandes somas de ajuda externa, logo após a divisão do país em 1948, e continuou a receber recursos externos sob a forma de ajuda militar por muito tempo.

Entretanto é preferível evitar as explicações monocausais. Uma única variável não pode substituir uma teoria mais geral e que busque uma apreensão através do método histórico. Uma abordagem muito conhecida e até hoje utilizada é a dos “gansos migradores”37, devida a Kaname Akamatsu, onde o autor defende a tese de que é impossível entender o desenvolvimento de um país sem considerar suas relações com outros países mais desenvolvidos, ou seja, as transferências de tecnologia, os investimentos externos e o comércio entre as partes mais ricas e

37 O modelo dos “gansos migradores” é um paradigma de desenvolvimento criado a partir da publicação de um trabalho de Kaname Akamatsu no Journal of Developing Economies. Consiste no aproveitamento da sinergia criada na região, por meio de grandes investimentos empresariais, sob a liderança do Japão. O modelo baseia-se na divisão regional do trabalho para o Leste Asiático, tendo como pano de fundo, a teoria das vantagens comparativas. O paradigma postula que as nações asiáticas alcançariam o Ocidente, obedecendo a uma lógica segundo a qual a produção de commodities transferir-se-ia dos países mais avançados para os menos avançados. As nações subdesenvolvidas da região seriam consideradas "alinhadas sucessivamente atrás das nações industriais avançadas na ordem dos seus diferentes estágios de crescimento, seguindo um padrão análogo ao do vôo dos gansos selvagens", tendo-se como ganso líder o próprio Japão.

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as mais pobres de uma região promovem o desenvolvimento através da reestruturação da divisão do trabalho.

De acordo com Amsden (1992) a metáfora dos “gansos” levanta mais dúvidas do que