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5.4 DESAFIOS PARA PRODUÇÃO AGRÍCOLA

5.4.3 A questão da oferta de água

A água que é distribuída nos reassentamentos tem origem no Reservatório de Itaparica. O processo inicia-se a partir da entrada de água nos canais de aproximação e, em seguida, para as Estações de Bombeamento (EB) que estão distribuídas em diversos pontos. A partir daí, a água residencial segue para as Estações de Tratamento e para as residências. Já a água para irrigação agrícola sai da EB e vai diretamente para os lotes por meio de um sistema de tubulação instalado na década de 90. Quando a cota de água no reservatório reduz em grande proporção, o sistema entra em alerta vermelho pelo risco da falta de água. Com isso, inicia-se o processo de racionamento.

Durante o racionamento, a oferta de água nos reassentamentos para os lotes dura 4h por dia e, para as residências, 2h. Diversos produtores questionam a eficácia do serviço, muitos afirmam que a água é mal distribuída e que as 4h não são respeitadas, comprometendo o cultivo.

Para o agricultor familiar, esta situação é preocupante, porque o tamanho do lote não permite grandes produções25 e, com o racionamento, a produção cai geometricamente. Diante deste fato, os técnicos enfrentam dificuldades no diálogo

25A maioria não possui sistema de irrigação automatizado, o que reduziria o problema com o

com os produtores quando o assunto é redução do consumo de água, visto que, para eles, reduzir o uso da água significa produzir menos, ampliar a estagnação econômica e a futura evasão do reassentamento.

A cota de água do Reservatório de Itaparica, em setembro de 2015, era de 299.74, a previsão era de reduzir até 299.6 em novembro; na linguagem técnica, esse segundo valor significa “volume morto”, o que provocaria seriíssimas restrições para o produtor. Os técnicos afirmam que seria o colapso total. Fim do racionamento e completa falta de água.

Esse problema teria repercussões em nível regional sob o ponto de vista da oferta de empregos, diversos trabalhadores perderiam seus trabalhos nos lotes, enquanto diversos pequenos agricultores teriam que se mudar repentinamente. O abastecimento de frutas ficaria comprometido na Ceasa, em Recife, e também em cidades médias como Caruaru, Garanhuns, Serra Talhada e Floresta. O problema também pode atingir a foz do rio São Francisco. Com a redução da vazão, a água do mar pode invadir mais o continente, prejudicando as cidades localizadas às margens do encontro do rio com o mar.

O problema da falta de água faz parte da história da região, que está localizada em um ambiente semiárido e periodicamente vivencia secas, que, em alguns casos, são fortalecidas em função da ocorrência do fenômeno climático El Niño. Esta situação provoca extrema escassez de água, prejudicando as plantações, a atividade pecuária, as indústrias, entre outros.

Para combater a situação nos projetos irrigados, existe alguns planos, como a instalação de flutuantes, que realizariam um bombeamento do rio direto para o canal de abastecimento; no entanto, os custos são muito elevados e sua viabilidade ainda é desconhecida. Diante deste cenário, a possibilidade da completa falta de água começa a ameaçar os sertanejos.

Um dos principais desafios enfrentados para gestão da água nos perímetros irrigados está relacionado ao desperdício da água por parte dos produtores. Em virtude de a água ser gratuita, os agricultores utilizam o recurso em excesso ou, quando os equipamentos quebram, não realizam a troca ou a manutenção devida, permitindo que a água se acumule no solo (Fotografia 7).

A Plena acredita que a eficiência do sistema se inicia na ponta, onde está o produtor. Visto que se o agricultor desenvolve um uso racional da água, este recurso natural permanecerá por mais tempo, além que o tempo de bombeamento será reduzido, diminuindo o desgaste dos equipamentos do sistema de irrigação que, devido ao excesso do uso, estão sobrecarregados. Dessa forma, é importante que se realize um trabalho intenso de educação ambiental e orientação voltada para o consumo racional e eficiente de água.

Fotografia 7 - Equipamento do sistema de irrigação quebrado no reassentamento de Icó- Mandantes liberando água sem controle

Fonte: O autor.

Outro ponto que se destaca é a mudança do sistema de irrigação para um que consuma menos a água e tenha maior precisão no processo, por exemplo, o sistema por gotejamento para algumas culturas e o de micro aspersão para a cultura do coqueiro. As Estações de Bombeamento (EB) e tubulações precisam também ser trocadas em algumas áreas, visto que há locais com vazamento, entupimento e EBs que não estão bombeando corretamente, prejudicando os produtores que localizam- se no final do sistema.

Alguns reassentados informaram que, nos perímetros irrigados, há áreas de sequeiro sendo cultivadas com o sistema de irrigação, que são chamadas de áreas de expansão (Fotografia 8). De acordo com técnicos, há áreas de expansão em diversos locais do perímetro, aumentando significativamente o consumo de água do reservatório. As áreas de sequeiro foram destinadas para cultivo de culturas de ciclo

curto, mas alguns moradores utilizam estas áreas para produzir com sistema de irrigação. Há casos de produtores com 60ha produzindo em todo o espaço com irrigação.

Outros produtores desviam água das tubulações para os seus lotes, reduzindo o fluxo no sistema. Há informações de que alguns reassentados interferem no sistema, fazendo com que maior quantidade de água seja distribuída para seu lote. A soma destas ações prejudica em grande escala os agricultores que estão localizados no fim do sistema, os quais não conseguem receber o suficiente para produzir. Dessa forma, gera um desregulamento na distribuição da água no perímetro irrigado.

Fotografia 8 - Área de expansão com irrigação para o cultivo de cebola

Fonte: O autor.

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