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6 SISTEMA PRODUTIVO DO COCO E DERIVADOS

6.6 A PRODUÇÃO DO COCO EM PETROLÂNDIA

O município de Petrolândia está localizado no semiárido pernambucano; porém, devido a sua localização às margens do rio São Francisco e do reservatório de Itaparica, que possui uma vazão de 700m³/s, tem a possibilidade de irrigar suas terras, favorecendo perfeitamente o cultivo do coco.

A produção de coco iniciou no município durante os anos 90. Agricultores mudaram a antiga produção de banana, melancia, feijão, entre outros, por causa da grande demanda no mercado nacional. O comércio do produto normalmente é em forma in natura ou verde. Os consumidores locais não se interessam pelo sabor da água de coco vendida em embalagens tetra pak, que são encontradas em supermercados ao redor do mundo.

A produção de coco é uma importante fonte de emprego e crescimento de renda na Região de Itaparica. O município de Petrolândia desenvolve um papel de líder na microrregião, sendo o segundo maior produtor de coco do Estado de Pernambuco, seguindo o município de Petrolina (Tabela 9), que é um polo fruticultor consolidado, com produção de coco representando 2,53% no total do Brasil (MARTINS; JESUS JUNIOR, 2011).

Tabela 9 - Área plantada e quantidade de coco produzida ao ano em Pernambuco, Petrolina e Petrolândia

Área plantada (ha) Quantidade anual (frutos)

Pernambuco 14.237 129.822

Petrolina 1.800 72.000.000

Petrolândia 1.100 44.000.000

Fonte: SINDCOCO, 2017.

O coco é colhido entre 35 e 45 dias, o que interessa bastante os agricultores; dessa forma, não é necessário esperar uma estação ou mais tempo para ter que renovar a renda. Eles afirmam que este método de produção é muito bom para organizar a vida financeira da família, garantido assim o rendimento mensal.

O coco é vendido para atravessadores e para as indústrias por um valor irrisório. Dessa forma, grande parte dos produtores não alcançam um rendimento suficiente para continuar vivendo no reassentamento. Associado a outros fatores, alguns preferem vender seus lotes para pagar as dívidas.

O município de Petrolândia tem um grande mercado consumidor para a água de coco in natura. Porém, alguns produtores iniciaram a estratégia de engarrafar a água de coco e não se deter ao comércio do coco verde. A comercialização da água de coco engarrafada cresceu no mercado local e conquistou seu espaço na preferência do consumidor.

Os produtores afirmam que a ascensão das garrafas é porque estas não possuem nenhum tipo de conservantes ou produtos químicos e o coco desvalorizado no mercado poderia ser comercializado pelo mesmo valor que o coco padrão.

Os consumidores preferem também pela facilidade de transportar e pelo custo benefício, visto que uma garrafa possui 400ml e custa até R$3,50 e o coco verde custa, aproximadamente, R$2,00 e possui uma média de 300ml; porém, quando bem cultivado, o coco pode chegar a 500ml.

O comércio de água de coco engarrafada cresceu geometricamente em Petrolândia. A produção local ainda não é suficiente para as demandas do município.

Empresas de outras cidades e estados estão inserido seus produtos no comércio de Petrolândia.

O município produz o coco para três finalidades, basicamente. O produto principal é água de coco, que é comercializada in natura, ou seja, é consumida diretamente do coco verde. Esse produto é comercializado também com outros estados, principalmente capitais do Nordeste e cidades do Sudeste do Brasil.

Também é produzida água de coco para exportação. Neste caso, o produto principal é comercializado em litros, diferente do in natura, que é comercializado por unidade. Este produto segue para agroindústrias regionais, como a Paraipaba Agroindustrial, Dicoco, PepsiCo, Serra Coco, Frysk, Sococo onde passam pelo processo de industrialização, que corresponde a pasteurização, higienização para depois ser envasada nas embalagens tetra pak. As agroindústrias desenvolvem um serviço mais especializado, com alto nível de tecnologia e qualificação profissional. Por exemplo, a Paraipaba Agroindustrial realiza somente o processo de pasteurização e envia a água de coco em bags31 de mil litros para a sede localizada na cidade de

Paraipaba, no Ceará, onde o processo é finalizado para exportação.

A terceira finalidade da produção da água de coco em Petrolândia é para comercialização local em garrafas plásticas de 300ml. Esta produção ocorre de modo simples, não são necessárias grandes instalações e o processo não é complexo. Qualquer pessoa está habilitada para fazer este tipo de envasamento, pois não é exigido algum tipo de qualificação profissional. Alguns produtores realizam este processo de modo artesanal em sua própria casa.

A comercialização local das garrafas iniciou no final da década de 1990, quando agricultores da região, inspirados em experiências de outros lugares, perceberam que poderiam aproveitar o coco que tem uma aparência fora dos padrões do mercado em um nicho diferenciado, onde o mesmo seria comercializado pelo mesmo valor do coco valorizado por causa do seu padrão estético.

31Corresponde a uma embalagem de plástico com capacidade para armazenar mil litros de água de coco e manter as condições apropriadas de acondicionamento para ser transportada para o setor da empresa responsável pela sequência do processo.

A empresa RC Distribuidora de Coco32 foi a primeira a realizar o processo de envase in natura; posteriormente, outras empresas entraram no setor. Atualmente, este é um importante mercado para o município, em função do seu alto consumo e por ser fonte de emprego e renda. Sua oferta ainda está aquém da demanda, favorecendo empresas de outros municípios que já entraram no mercado local.

O coco in natura é muito grande e pesado, comparado com as garrafas; portanto, alguns produtores iniciaram esta estratégia para agregar valor ao seu produto. Dessa forma, as garrafas se tornaram um atrativo na dinâmica do comércio local.

O valor da água de coco na garrafa plástica é superior ao do coco vendido in natura; no primeiro caso, os valores podem alcançar R$2,50 e, no segundo caso, R$1,20 no período do verão, já no inverno o valor do coco pode cair até R$0,25 e o valor das garrafas se mantém.

Os custos com a garrafa são de, aproximadamente, R$0,50 somados aos valores da produção, que é de, aproximadamente, R$0,25. Com isso, diversos produtores preferem comercializar a água de coco engarrafada. Há também um grande número de produtores que não tem este interesse, porque não querem ter um trabalho extra. Para estes, o lucro com a venda do produto in natura já seria suficiente.

Analisando este cenário, nota-se que a água de coco é mais cara que o próprio fruto, incluindo o produto mais explorado – a água de coco. No entanto, o coco sozinho possui um valor agregado muito superior ao da água de coco somente. De acordo com o que foi abordado em tópicos anteriores, desta fruta pode-se aproveitar todos os seus componentes, a fibra, a casca, a copra, o revestimento interno, etc. E destas partes pode-se criar diversos produtos, como o óleo, a farinha, o carvão, o açúcar, os temperos, o vinagrete, os snacks, entre outros. No entanto, essas possibilidades não são consideradas pelos agricultores. O fruto está sendo comercializado por um valor muito aquém do seu potencial de mercado. Este potencial também pode ser aproveitado pelos produtores para que os mesmos realizem o beneficiamento necessário e insiram esses novos produtos no mercado.

32O nome da empresa é a abreviação de Ricardo Caramelo, o proprietário. A RC Distribuidora de coco é uma das únicas que ainda se mantém no mercado, após a intervenção do Ministério do Trabalho e da Adagro.

Nesta perspectiva, observa-se que a falta de aproveitamento do valor agregado ao coco traz consequências negativas para o produtor, uma vez que o agricultor perde a possibilidade de aumentar sua renda e ter um produto extra para ser comercializado no inverno, quando o preço do coco cobre somente os custos de produção, ou os valores do coco se tornariam muito alto para compensar a perda pela não produção de outros bens de consumo.

Sob o aspecto ambiental, seriam evitadas as consequências negativas do descarte aleatório da casca do coco, como também não seria necessário transportar estes resíduos para aterro sanitário, visto que as fibras, a casca e os demais componentes seriam utilizados na fabricação de novos produtos para o mercado.

Em geral, a produção de um coco em Petrolândia custa aproximadamente R$0,25. Os produtores necessitam de adubo, fertilizante, máquina roçadeira e duas aplicações de fertilizante por mês. Por exemplo, um produtor com 2 hectares, possui aproximadamente 400 coqueiros, o que corresponde a 8 mil cocos ao mês. Para este caso, o valor do adubo mais pesticidas é de R$1.000,00, somados ao valor da aplicação, que ocorre duas vezes ao mês e sai por R$200,00. Diversos produtores precisam alugar trator e contratar a mão de obra, o que eleva um pouco mais os custos de produção.

Alguns produtores fazem associações de culturas, por exemplo, eles produzem, no mesmo espaço, ovelhas e coqueiros; dessa forma, não tem custos com máquina roçadeira, porque os ovinos realizam a “função” de roçar. Dessa forma, alguns agricultores afirmam que os custos da produção do coco não são elevados, o maior problema está no valor de comercialização, se será suficiente ou não para cobrir os gastos.

O período do verão é a melhor época em termos de valores, por exemplo, no mês de janeiro o valor do coco está em R$0,70, no inverno esse valor cai até R$0,25. Normalmente, o período de desvalorização começa no mês de maio e segue até setembro, quando inicia uma estação mais quente e a demanda pelo coco aumenta. Contudo, o coco é comercializado durante o ano todo, mesmo no período de desvalorização, visto que a permanência do fruto no coqueiro favorece o surgimento de pragas, segundo informações dos produtores do município.

A comercialização ocorre de formas variadas, as mais comuns são as compras realizadas ainda no lote, quando o comprador com sua equipe faz a extração e contagem dos cocos. Nesse caso, a negociação se dá ainda no lote após a extração. Outra forma é quando a negociação ocorre fora do lote, nesse caso, o comprador escolhe os cocos já dispostos no caminhão. Portanto, cabe ao agricultor realizar a extração dos cocos, o que implica em um maior custo, em função do valor da mão de obra para extrair o produto. No primeiro caso, no valor do coco já está implícito o custo da mão de obra.

No início do ano de 2016, o Ministério da Agricultura proibiu a comercialização das garrafas plásticas, alegando a falta de infraestrutura relacionada à salubridade do produto. Dessa forma, a comercialização foi reduzida em grandes proporções, somente alguns produtores comercializam, alguns, de modo ilegal, e uma empresa já receberam a licença do Ministério. Alguns produtores acreditam que as empresas maiores instaladas no município, como a Dicoco, Paraipaba Agroindustrial, PepsiCo, Serra Coco, solicitaram a esses órgãos uma fiscalização rigorosa sobre os produtos das garrafas.

As empresas grandes que produzem água de coco pasteurizadas, realizam a adição de conservantes e, em seguida, envasam o produto nas embalagens tetra pak. No entanto, o gosto não é o autêntico do coco, passa por uma transformação devido à pasteurização, que não é aceita pela população local; dessa forma, as grandes empresas não conseguiam comercializar seu produto no município. A água de coco nas garrafas plásticas tem mais prestígio na localidade, porque são envasadas diretamente do coco, sem passar pelo processo de pasteurização e adição de conservantes, dessa forma, mantém o sabor original do coco.

As grandes empresas buscaram eliminar a concorrência com as pequenas empresas; dessa forma, puderam iniciar a comercialização do seu produto no município e tentam forçar a aceitação do consumidor a um sabor de água de coco que não corresponde ao padrão natural.

Antes do coco, os produtores investiam em banana, melancia, entre outras frutas. Após a construção dos reassentamentos, diversos produtores escolheram o coco como uma nova opção para produção agrícola devido às vantagens econômicas e facilidades no processo produtivo, uma vez que é menor a quantidade de fungos e peste que atacam a cultura.

Em Petrolândia, assim como em Petrolina, a produção de coco só é possível por causa do sistema de irrigação. Apesar da cultura está adaptada ao clima quente, devido às mudanças climáticas fortalecida, nos últimos anos, a produção decresceu por causa das altas temperaturas, que têm prejudicado as folhas da planta. Alguns produtores afirmam que sua produção reduziu em, aproximadamente, 35%. Os produtores tiveram que mudar o sistema de irrigação e inserir mais componentes orgânicos como forma de lidar com o problema.

O coqueiro requer muita água, o que é encontrado facilmente na região devido ao rio São Francisco e o reservatório de Itaparica. Alguns produtos, como feijão, cebola, banana, melancia, entre outros, podem ser produzidos em maior quantidade que o coco, mesmo assim, não despertou o interesse da maioria dos agricultores, que prefere cultivar o coco em função do maior retorno econômico; além disso, há também o suprimento da biomassa para manter as propriedades do solo. As fibras do coco são utilizadas para proteger o solo da erosão e evitar o excesso de humidade. Alguns agricultores queimam a biomassa para utilizar o potássio das cinzas como fertilizante.

Alguns produtores afirmam que a atual produção municipal não é suficiente para a abastecer o mercado local; neste caso, há espaço para abertura de novas fábricas para engarrafar a água de coco. Há agricultores que tem o interesse em abrir seu próprio negócio para engarrafar água de coco em função das oportunidades do mercado.

Com as garrafas, os próprios produtores comercializam sem intermediação dos atravessadores, o que não ocorre com a comercialização do coco in natura, que sempre tem os atravessadores para escoar a produção para o mercado nacional. Dessa forma, os produtores das garrafas têm um maior controle sobre sua taxa de lucro e podem negociar melhor o preço do seu produto no mercado, o que não ocorre com os produtores do coco in natura que se veem pressionados pelas determinações dos atravessadores.

Diversos agricultores acreditam que o investimento no engarrafamento da água de coco traz maior retorno a curto prazo. Produtores afirmam que, com a água de coco engarrafada, ganha-se tempo e espaço. Uma vez que este produto não necessita de muito espaço para armazenamento e o transporte é mais fácil em comparação com o coco verde que necessita de mais espaço durante o escoamento

até o mercado consumidor, além do custo benefício, que é mais vantajoso que o coco in natura.

O mercado consumidor da água de coco em Petrolândia é bastante expressivo, a população já está adaptada à compra da água de coco em garrafas, o que não é comum nas demais cidades brasileiras. O consumidor normalmente se interessa pelo coco in natura, porque tem menor risco de fraude, ou seja, a mistura da água de coco com a água natural. Esse mercado tem contribuído com a geração de renda dos agricultores.

No entanto, a maioria enfrenta alguns problemas para instalação do seu próprio negócio devido aos altos custos da construção da fábrica, aquisição dos materiais, manutenção dos funcionários e gestão do empreendimento. Esses altos custos para construir uma pequena fábrica é um dos principais fatores que desencoraja os agricultores. As exigências sanitárias e licenciamento ambiental também são um dos grandes implicadores nesse processo de manutenção da fábrica.

Para permanecer no padrão exigido pelos órgãos de fiscalização, também é necessário desembolsar grandes valores mensalmente, o que impossibilita o pequeno agricultor de buscar essa alternativa de aumentar sua renda familiar. Somado a esses fatores, ainda há o risco da não comercialização, que é necessário assumir. Como a água de coco é 100% natural, sem adição de conservantes ou qualquer tipo de elemento químico, o produto tem validade de oito dias, caso não seja consumido nesse período, deve ser devolvido ao produtor.

Há casos de pequenos agricultores que adquiriram o equipamento necessário para engarrafar e com a possibilidade de realizar o processo manualmente em sua própria residência, sem a necessidade de uma grande infraestrutura. Como não necessita de conservantes ou qualquer tipo de aditivo, o processo fica simples e fácil, possibilitando a qualquer pequeno produtor investir no engarrafamento. Porém nem todos conseguem se manter no mercado, porque os custos de produção ainda são altos em relação à demanda oferecida. Alguns pequenos produtores que não conseguiram se adequar aos padrões sanitários e ambientais, tiveram que parar a produção, outros também pararam de produzir porque não conseguiram o retorno suficiente para cobrir os gastos.

O mercado da água de coco engarrafada precisa ser mais explorado e os produtores precisam receber maiores investimentos para produzirem em grande escala, que corresponda com a demanda municipal. A formação de associações ou cooperativas para contribuir com a organização dos agricultores, bem como com o seu processo de comercialização.

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