• Nenhum resultado encontrado

Desafios da agricultura irrigada de base familiar no sistema produtivo de água de coco – Petrolândia, Pernambuco

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Desafios da agricultura irrigada de base familiar no sistema produtivo de água de coco – Petrolândia, Pernambuco"

Copied!
196
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

GUILHERME JOSÉ FERREIRA DE ARAÚJO

DESAFIOS DA AGRICULTURA IRRIGADA DE BASE FAMILIAR NO SISTEMA PRODUTIVO DE ÁGUA DE COCO – PETROLÂNDIA, PERNAMBUCO

RECIFE 2017

(2)

GUILHERME JOSÉ FERREIRA DE ARAÚJO

DESAFIOS DA AGRICULTURA IRRIGADA DE BASE FAMILIAR NO SISTEMA PRODUTIVO DE ÁGUA DE COCO – PETROLÂNDIA, PERNAMBUCO

RECIFE 2017

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em geografia.

Linha de pesquisa: Dinâmicas territoriais do desenvolvimento e regionalizações

Orientadora: Profa. Dra. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes

(3)

Catalogação na fonte

Bibliotecária: Maria Janeide Pereira da Silva, CRB4-1262

A663d Araújo, Guilherme José Ferreira de.

Desafios da agricultura irrigada de base familiar no sistema produtivo de água de coco – Petrolândia, Pernambuco / Guilherme José Ferreira de Araújo. – 2017.

195 f. : il. ; 30 cm.

Orientadora : Profª. Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes.

Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Geografia, Recife, 2017.

Inclui referências e apêndices.

1. Geografia. 2. Agricultura familiar. 3. Irrigação agrícola. 4. Coco – Produtos. 5. Coco – Indústria. 6. Agroindústria. 7. Globalização. I. Gomes, Edvânia Tôrres Aguiar (Orientadora). II. Título.

(4)

Guilherme José Ferreira de Araújo

DESAFIOS DA AGRICULTURA IRRIGADA DE BASE FAMILIAR NO SISTEMA PRODUTIVO DE ÁGUA DE COCO – PETROLÂNDIA, PERNAMBUCO

Aprovada em: 17/07/2017

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Drª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes (Orientadora)

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

__________________________________________ Drª. Edvânia Gomes de Assis Silva (Examinadora externa)

Universidade Federal do Piauí – UFPI

__________________________________________ Drª. Zuleika Alves de Arruda (Examinadora externa)

Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT

__________________________________________

Drª. Maria do Carmo Martins Sobral (Examinadora externa) Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

__________________________________________

Dr. Rodrigo Dutra Gomes (Avaliador interno) Universidade Federal de Pernambuco – UFPE

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em geografia.

(5)

Dedico esse trabalho ao ex-combatente da II Guerra Mundial, avô de consideração,

José Moreira Trindade (in memorian), financiador dos meus estudos secundários e quem, através de suas histórias de

(6)

AGRADECIMENTOS

Em sentido de oração agradeço a Divina Trindade pela iluminação e sabedoria outorgada para o desenvolvimento deste trabalho e pela condução magistral de minha trajetória acadêmica. Expresso a minha imensa gratidão aos meus pais, Solange Pessoa de Araújo e Jaildo Ferreira de Araújo, que sempre me orientam e inspiram. Sou grato aos meus avós Manuel Lima (in memorian) e Nadir Trindade (in memorian), a todos os meus familiares pelos incentivos e disposição em apoiar quando fosse preciso.

Agradeço a Profª. Edvânia Tôrres Aguiar Gomes, minha orientadora da tese, pela sua ajuda neste percurso acadêmico com início na fase da graduação, durante o período do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) e o intercâmbio na Philipps Universität Marbug (Alemanha) pelo programa Unibral I. No doutorado, agradeço pelas orientações nas atividades do grupo de pesquisa Sociedade e Natureza (Nexus), no Projeto Innovate e pelo incentivo para realização do doutorado sanduíche na Áustria. Sou grato pelo convite para minha participação na coordenação técnica do programa Urban Dynamics (Pós-graduação internacional envolvendo a Alemanha, França, Espanha, Brasil e Argentina).

Sou grato à Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Joaquim Nabuco – Pernambuco por contribuir nos trâmites de minha licença sem ônus para qualificação profissional.

Agradeço a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pelo financiamento da pesquisa e também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Técnico Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento do projeto Desafios para produção sustentável do espaço: implicações na gestão da água e da terra nos assentamentos irrigados do município de Petrolândia – Pernambuco.

Sou grato aos membros do Projeto Innovate por contribuir no meu estudo. A participação neste projeto trouxe um caráter singular a esta pesquisa e principalmente à minha vida profissional. Em especial, agradeço aos coordenadores Profª. Maria do Carmo Sobral, Profª. Renata Carvalho, Prof. Johann Köppel e Drª. Marianna Siegmund-Schultze.

Sou grato à Marlene Maria, minha orientadora no período do mestrado. Seus ensinos contribuíram para efetivação deste material. Também agradeço aos

(7)

professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGEO UFPE) que me ofereceram suportes em momentos oportunos.

Agradeço ao grupo de pesquisa Sociedade e Natureza (Nexus) que compartilhou infraestrutura técnica e acadêmica. Um apoio ímpar que perdurou em todas as etapas da realização da tese, em especial a Thamires Chaves, Marina Loureiro, Thaís Bulhões, Clélio Santos, Fernando Santos, Wilma Souza, Maurílio Bernardino e Anderson Santos. Também sou grato a Pedro Paulo e a João Cândido que contribuíram com o material cartográfico e a Erik Rytting pela ajuda no inglês.

Meu especial agradecimento ao grupo de pesquisa Arbeitsgruppe

Entwicklungs-und Nachhaltigkeitsforschung, da Universidade de Innsbruck – Áustria,

pelo acolhimento no período do doutorado sanduíche. Em especial ao Prof. Martin Coy que proporcionou esse vínculo. Sou grato ao Prof. Günter Mertins (in memorian) – antigo professor aposentado da Universidade de Marburg – quem pude visitar, por fornecer orientações acerca do estudo.

Continuando na etapa internacional da pesquisa, expresso minha gratidão ao Matthias Radek pelo apoio na pesquisa realizada na Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ - Frankfurt). Também sou grato ao Oliver Mundy pelo suporte durante a pesquisa na Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO – Roma). Agradeço ao Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD), por meio da Universidade de Witzenhausen (Alemanha), posteriormente via Universidade de Talca (Chile), que me forneceram oportunidades de discutir meu trabalho com um grupo de especialistas interdisciplinares de países tropicais.

Expresso minha gratidão a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) por abrir seu espaço para as pesquisas. Sou grato a Prefeitura de Petrolândia pelo material cartográfico e bibliográfico fornecido.

Sou grato à Plena Consultoria, ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Petrolândia (STR), à Associação de Reciclagem Biológica (ArBio), tal grupo forneceu apoio indispensável durante as pesquisas com os reassentados.

Agradeço carinhosamente aos moradores de Petrolândia, reassentados e não reassentados que receberam nossa equipe de pesquisa sempre de portas abertas para a realização das entrevistas sobre a realidade local, pessoas que gentilmente nos forneciam as informações para o estudo, com destaque para a Srª. Joana

(8)

Nogueira, Sr. Cícero, Sr. Hiataedson, Sr. Lucas, Sr. Paulo Campinho, Sr. Gilberto Menezes, Srª. Maria Barros, entre outros.

(9)

RESUMO

A produção do coco (cocos nucifera) cresceu exponencialmente nos últimos 20 anos, principalmente no Brasil. A sua demanda se insere na perspectiva de sustentabilidade e um padrão de consumo alimentar saudável, envolvendo uma cadeia produtiva que inclui possibilidades na base local para a agricultura, se ampliando em diferentes níveis de complexidade. Alinha-se nesta pesquisa a preocupação de potencializar o sistema produtivo e de comercialização do coco e derivados, com ênfase na sua água, tendo como foco o Município de Petrolândia, situado no semiárido pernambucano e segundo maior produtor de coco e água de coco para exportação do Estado. Esta tese foi realizada com o objetivo de identificar os desafios e perspectivas para o fortalecimento, em bases sustentáveis, do sistema produtivo da água de coco no município. Metodologicamente apoiou-se nas diretrizes do Sustainable Livelihood Approach e na Ecologia Política, partindo da hipótese que é viável através da ênfase nas estruturas de produção, comercialização e logística a transformação deste produto em fator de desenvolvimento sustentável para o município. Um dos entraves é a exigência de acondicionamento e transporte do produto. O recorte empírico compreende os perímetros irrigados de Apolônio Sales, Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2 – reassentamentos criados pela Chesf. Constata-se o elevado potencial de crescimento econômico local, com possibilidades do estabelecimento de um Complexo Agroindustrial e a inserção do pequeno produtor nos benefícios do circuito de produção da água de coco. Este trabalho integra o Projeto INNOVATE, parceria entre universidades brasileiras e alemães estudando o uso e ocupação do solo na região de Itaparica Pernambuco e Bahia.

Palavras-chave: Globalização. Coco. Complexo Agroindustrial. Perímetros Irrigados. Semiárido nordestino.

(10)

ABSTRACT

Coconut (cocos nucifera) production has increased significantly around the world in the last 20 years, especially in Brazil. Its high demand is due to both environmental sustainability and improvements in quality of life because of its nutritional advantages. Its value chain includes a complex scenario with economic opportunities for local family farming and companies with specialized tecnology, and the involvement of regional and international partners links local production to the globalized market. Like most products, the success of its value chain stems from investments in both the logistic and marketing sectors. This research discusses the production and commerce of the coconut industry, with emphasis on coconut water from Petrolândia, a city in Northeast Brazil, located in the semi-arid region of the state of Pernambuco. This city is the second largest producer of coconuts in the state. This arid region faces many challenges. In the case studied, issues of survival and social inequality were identified as requiring academic attention and commitment. Perspectives are introduced to strengthen and enlarge Petrolândia’s coconunt water production system in a sustainable pattern. The methods were based on the Sustainable Livelihood Approach and Political Ecology with the hypothesis that this product will contribute to local sustainable development through investments in production infrastructure, marketing, and distribution. Coconut water shelf life is a major challenge that must be addressed, along with steps that must be taken to convert its strength as a commodity. The area of study included three irrigated schemes constructed by the Chesf-Hydroelectric Company of São Francisco: Apolônio Sales, Icó-Mandantes and Barreiras Bloco 2. Local economic potential was verified to be high, including opportunities to establish an Agroindrustry Center to assist small-scale producers to enter the international network of coconut water production, based on innovative processes and cooperative participation. This thesis integrates the mission of the Innovate Project, a collaboration among Brazilian and German universities studying the use of water and soil in the Itaparica region of Pernambuco and Bahia, Brazil.

Key-words: Globalization. Coconut. Agroindustry Center. Irrigated Scheme. Semi-arid Brazil.

(11)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Framework do sustainable livelihoods approach………... 49 Figura 2 - Submédio São Francisco com áreas de reassentamentos

irrigados... 60 Figura 3 - Localização dos países produtores de coco... 99 Figura 4 - Cadeia da comercialização da água de coco em escala global... 101 Figura 5 - Cadeia da comercialização do óleo de coco em escala global.... 102 Figura 6 - Localização dos países produtores de óleo de coco... 103 Figura 7 - Cadeia de produção da água de coco de Petrolândia para

exportação... 130 Figura 8 - Relação produção e compensação do custo para produção da

água de coco industrializada de Petrolândia... 132 Figura 9 - Relação entre o contexto de vulnerabilidade e o acesso aos

capitais do Sustainable Livelihood Approach... 139 Figura 10 - Cenários da produção de água de coco... 146 Figura 11 - Identificação de acesso aos elementos dos capitais do SLA por

reassentamento... 149 Figura 12 - Esquema básico da estrutura de um complexo agroindustrial 160

(12)

LISTA DE FOTOGRAFIAS

Fotografia 1 - Reservatório de Itaparica... 55

Fotografia 2 - Usina Hidroelétrica Luiz Gonzaga... 56

Fotografia 3 - Cidade de Petrolândia... 59

Fotografia 4 - Agrovila 10. Reassentamento de Icó-Mandantes... 61

Fotografia 5 - Comércio na agrovila 04 no reassentamento de Icó-Mandantes... 62

Fotografia 6 - Solo salinizado em lote no Reassentamento de Apolônio Sales... 69

Fotografia 7 - Equipamento do sistema de irrigação quebrado no reassentamento de Icó-Mandantes liberando água sem controle... 93

Fotografia 8 - Área de expansão com irrigação para o cultivo de cebola. 94 Fotografia 9 - Reassentado de Apolônio Sales apresentando um coco com praga do ácaro... 96

Fotografia 10 - Derivados do coco... 104

Fotografia 11 - Sucos com água de coco... 105

Fotografia 12 - Carvão da casca do coco... 107

Fotografia 13 - Bag de 1000 litros para armazenar água de coco pasteurizada... 129

Fotografia 14 - Água de coco em embalagens tetra pak... 131

Fotografia 15 - Filial da Paraipaba Agroindustrial... 165

Fotografia 16 - Água de coco envasada no Município de Petrolândia... 169

Fotografia 17 - Disposição no freezer de água de coco envasada em garrafas plásticas... 174

(13)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Proporção das culturas mais importantes por perímetro

irrigado... 78 Gráfico 2 -

Proporção da terceira cultura mais importantes por perímetro

irrigado... 80 Gráfico 3 - Distribuição das principais profissões por

reassentamento... 85 Gráfico 4 - Distribuição da produção de coco por continentes... 100

(14)

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Localização do município de Petrolândia... 63 Mapa 2 - Perímetro Irrigado de Apolônio Sales... 65 Mapa 3 - Perímetro Irrigado de Icó-Mandantes... 66 Mapa 4 - Destino internacional da água de coco industrializada de

Petrolândia... 128 Mapa 5 - Destino da produção de coco de Petrolândia no Brasil... 163 Mapa 6 - Área de influência da água de coco em garrafas plásticas

produzida em Petrolândia... 168 Mapa 7 - Localização do fornecedores de insumos para as garrafas

(15)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Principais culturas da agropecuária de Petrolândia produzidas por perímetro irrigado... 77 Quadro 2 - Principais associações de culturas da agropecuária de

Petrolândia produzidas por perímetro irrigado... 79

Quadro 3 - Número aproximado de famílias por perímetro irrigado no

município de Petrolândia no período de 1990 e

2015... 88 Quadro 4 - Definição particular dos elementos correspondentes aos capitais

do Sustainable Livelihood Approach... 147

Quadro 5 - Comparação do custo-benefício da produção da água de coco nos formatos in natura, envasada nas embalagens tetra pak e

(16)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Principais locais de origem dos produtores dos perímetros

irrigados de Petrolândia... 82 Tabela 2 - Escolaridade por perímetro irrigado do município de

Petrolândia... 84 Tabela 3 - Renda familiar mensal por perímetros irrigados do município

de Petrolândia... 86 Tabela 4 - Área colhida e produção de coco dos cinco maiores

produtores do mundo em 2014... 99 Tabela 5 - Área plantada com coqueiros em hectares e quantidade

produzida de coco em mil frutos/ha entre 1990 – 2016... 111 Tabela 6 - Principais estados brasileiros produtores de coco, em 2012.. 113 Tabela 7 - Preço em reais de coco verde comercializado nas Ceasas

de estados brasileiros do Nordeste, Sudeste, Sul e Norte... 115 Tabela 8 - Principais países de que importam o coco brasileiro em

toneladas, nas categorias fresco ou seco, com ou sem

casca... 116 Tabela 9 - Área plantada e quantidade de coco produzida ao ano em

Pernambuco, Petrolina e Petrolândia... 118 Tabela 10 - Média anual de produção de coco por produtor em cada

reassentamento... 151 Tabela 11 - Média de valor de comercialização do coco in natura e do litro

do coco por reassentamento... 152 Tabela 12 - Média de custos da produção de coco e renda do produtor

(17)

LISTA DE SIGLAS

AGEF Arbeitsgruppe Entwicklungs- und Nachhaltigkeitsforschung ATER Assistência Técnica e Extensão Rural

BMBF Bundesministerium für Bildung und Forschung

CAI Complexo Agroindustrial

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CHESF Companhia Hidroelétrica do São Francisco

CGI Centro de Gestão Integrado

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

CCO Centro de Controle Operacional

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CPA Cadeia de Produção Agropecuária

DAS Decision Support Approach

DFID Departamento de Desenvolvimento Internacional

EB Estação de Bombeamento

IDS Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento O&M Operação e Manutenção

INNOVATE Interplay among multiple uses of water reservoirs via innovative coupling of substance cycles in aquatic and terrestrial ecosystems

MST Movimento Sem Terra

PRONAF Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar

RD Região de Desenvolvimento

SLA Sustainable Livelihood Approach

VMT Verba de Manutenção Temporária

(18)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 20 1.1 MATERIAIS E MÉTODOS... 23 1.2 TESE... 26

2 ECOLOGIA POLÍTICA: UMA ABORDAGEM PARA

COMPREENDER OS CONFLITOS AMBIENTAIS EM ESPAÇOS RURAIS...

28

2.1 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA ECOLOGIA

POLÍTICA... 28 2.1.2 As raízes da Ecologia Política... 29 2.1.3 As raízes da Ecologia Política no Brasil... 31

2.2 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA ECOLOGIA

POLÍTICA... 32

2.3 ENQUADRAMENTO DA ABORDAGEM DA ECOLOGIA

POLÍTICA... 36

2.4 UM OLHAR SOBRE OS CONFLITOS AMBIENTAIS NA

AMÉRICA LATINA... 41

3 SUSTAINABLE LIVELIHOODS APPROACH: UMA

FERRAMENTA PARA ESTUDOS NO MEIO RURAL...

45

3.1 COMPREENSÃO TEÓRICA DA METODOLOGIA DO SLA... 45

3.2 ABORDAGEM PRÁTICA DO SLA... 47

4 ARCABOUÇO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA REGIÃO DE

ITAPARICA... 52 4.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO AMBIENTAL... 52

4.2 MARCOS HISTÓRICO-GEOGRÁFICOS DA REGIÃO DE

ITAPARICA... 54

4.3 IMPLICAÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO: MUNICÍPIO DE

PETROLÂNDIA 30 ANOS APÓS O REASSENTAMENTO... 62

4.4 ASPECTOS INSTITUCIONAIS, PLANEJAMENTO E

ESTAGNAÇÃO ECONÔMICA NOS PERÍMETROS IRRIGADOS

(19)

5 A ESTRUTURA AGRÁRIA DOS PERÍMETROS IRRIGADOS DE

PETROLÂNDIA... 74

5.1 PARCELAMENTO DOS PERÍMETROS IRRIGADOS DE PETROLÂNDIA NA SEGUNDA DÉCADA DO SÉCULO XXI... 74

5.2 CULTURAS PRODUZIDAS NOS PERÍMETROS IRRIGADOS... 75

5.3 ASPECTOS SOCIAIS DOS PERÍMETROS IRRIGADOS DE PETROLÂNDIA... 80

5.3.1 Atração migratória... 80

5.3.2 Escolaridade e profissão... 83

5.3.3 Renda familiar... 85

5.4 DESAFIOS PARA PRODUÇÃO AGRÍCOLA... 86

5.4.1 Sistema de Apoio à produção... 86

5.4.2 Acesso a crédito... 90

5.4.3 A questão da oferta de água... 91

5.4.4 A questão do acesso à terra... ... 94

5.4.5 A questão da infraestrutura... 95

6 SISTEMA PRODUTIVO DO COCO E DERIVADOS... 97

6.1 A PRODUÇÃO E A INDÚSTRIA DE COCO... 97

6.2 INDÚSTRIA DOS DERIVADOS DO COCO... 106

6.3 PRODUÇÃO DO COCO NO BRASIL... 108

6.4 O MERCADO DO COCO VERDE E DA ÁGUA DE COCO NO BRASIL... 113

6.5 A EXPORTAÇÃO DO COCO E DA ÁGUA DE COCO DO BRASIL... 115

6.6 A PRODUÇÃO DO COCO EM PETROLÂNDIA... 117

7 PRODUÇÃO DE ÁGUA DE COCO EM PETROLÂNDIA... 126

7.1 ESTRUTURA DA PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO... 126

7.2 O ESCOAMENTO PARA O MERCADO CONSUMIDOR... 135

7.3 NEGOCIAÇÃO COM OS ATRAVESSADORES... 135

(20)

7.5 O CONTEXTO DE VULNERABILIDADE DA PRODUÇÃO DA

ÁGUA DE COCO EM PETROLÂNDIA... 139

7.6 TENDÊNCIA PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM COMPLEXO AGROINDUSTRIAL (CAI) DA ÁGUA DE COCO... 157 8 CONCLUSÃO... 177 REFERÊNCIAS... 180 APÊNDICE A – FORMULÁRIO 1... 187 APÊNDICE B – FORMULÁRIO 2... 191 APÊNDICE C – FORMULÁRIO 3 ... 194

(21)

1 INTRODUÇÃO

O município de Petrolândia, localizado na região semiárida do estado de Pernambuco, tem uma importante produção de água de coco no cenário do Sertão. Os investimentos na cadeia produtiva do produto têm contribuído com a estruturação do seu território para impulsionar a formação de um Complexo Agroindustrial (CAI) desta fruta. Nesta perspectiva, está em processo a fecundação de um segundo polo frutícola na região do submédio do vale do rio São Francisco, formando um binômio com o polo Petrolina – Juazeiro.

Petrolândia destaca-se pelo volume de sua produção, sendo o segundo maior produtor de coco (cocos nucifera) do estado, atrás de Petrolina. A despeito das condições ambientais adversas encontradas na região semiárida, incluindo problemas peculiares do Nordeste do Brasil, historicamente caracterizado por poucos investimentos frente ao contexto nacional, o município tem atraído investidores de todo o país, além de abastecer agroindústrias localizadas nas principais regiões produtoras de coco do Brasil.

A produção de coco (cocos nucifera) em Petrolândia é possível somente em virtude da irrigação por meio do rio São Francisco. No final da década de 80 e início da década de 90, foram criados reassentamentos com sistema de irrigação, como medida compensatória para ribeirinhos que tiveram suas terras inundadas em função da construção do Reservatório de Itaparica, que visa represar água para geração de energia elétrica na Usina Hidroelétrica Luiz Gonzaga.

Inicialmente, foi criado o Perímetro Irrigado Apolônio Sales, inaugurado em maio de 1993. Após, o Perímetro Irrigado Icó-Mandantes, inaugurado em março de 1994. Entre os anos de 2006 e 2007 foi estabelecido o Perímetro Irrigado Barreiras Bloco 2. Esses reassentamentos fazem parte de um projeto de irrigação em áreas no vale do rio São Francisco, com o objetivo de promover o investimento na atividade agrícola de produtores dos mais variados níveis (BRASIL, 2010).

Na década de 90, os colonos de Petrolândia decidiram cultivar o coco com vistas a se inserir no mercado nacional, devido à crescente demanda pelo produto impulsionada por uma recente tendência global, que busca melhores padrões de vida por meio de um consumo sustentável e saudável (WENZEL, KIRIG, RAUCH, 2008).

(22)

A água de coco é um produto que corresponde às necessidades desse perfil de consumidor, em função dos benefícios oferecidos a partir da disponibilidade de nutrientes encontrados na fruta.

O cultivo do coco traz uma série de vantagens para os produtores; primeiro porque conseguem renovar sua renda em um período pouco maior que um mês. O processo de produção não requer muita complexidade técnica. Depois de cultivada, a planta tem aproximadamente 25 anos de vida produtiva, o que garante ao produtor os custos somente com a manutenção.

Além disso, é um produto que nunca se perde, em função de sua alta demanda no mercado consumidor e também porque pode ser aproveitado para o consumo in natura ou para o consumo industrializado, seja o consumo da água de coco beneficiado ou para o consumo dos derivados, como leite de coco, raspa de coco etc. Com a utilização de embalagens modernas e uso de tecnologia, a água de coco pode permanecer por um longo período nas prateleiras, favorecendo o aumento do consumo do produto.

Em função da alta demanda associada com os fatores relacionados ao cultivo, a produção do coco difundiu-se pelo interior do Brasil, alcançando também a região semiárida. Nesta perspectiva, os produtores de Petrolândia se inserem no contexto da produção de coco em larga escala.

O município comercializa sua produção com agroindústrias de grande porte, as quais escoam para todo o Brasil e países da Europa e América do Norte. Em Petrolândia, encontram-se empreendimentos especializados no envase de água de coco e no comércio internacional. Tais empresas utilizam tecnologias recentes para aumentar a validade do produto por cerca de um ano.

Desde o período pós reassentamento, diversos produtores encontraram problemas no processo produtivo; em geral, são questões voltadas para o uso dos recursos naturais, especialmente a terra e a água, também para o acesso a informações técnicas sobre a cultura, entre outros. Os reassentamentos apresentam algumas áreas com solos inférteis, salinizados ou encharcados. Os reassentados questionam a eficiência dos serviços de assistência técnica e extensão rural, os quais não contemplam as necessidades dos produtores.

(23)

Sendo assim, os perímetros irrigados apresentam um cenário de desigualdade social, inclusive com importantes desafios para a pequena produção, que está inserida em um contexto de formação de um Complexo Agroindustrial (CAI) da produção do coco. Os pequenos produtores são os principais responsáveis pela captação de mão de obra, como também pela manutenção do sistema local de comercialização de insumos para a agricultura e demais relações locais. Dessa forma, apresentam-se como os agentes mantenedores do sistema agrário local.

Frente às perspectivas apontadas anteriormente, entende-se que os reassentamentos de Petrolândia apresentam um entrave para o fortalecimento da cadeia produtiva da água de coco, principalmente considerando os aspectos relacionados a pequena produção. Mesmo diante dos problemas para a produção, o município figura como o segundo maior produtor do estado, posicionando-se a frente das tradicionais áreas produtoras localizadas no litoral.

O objetivo desta pesquisa de doutorado é analisar os desafios para o fortalecimento do sistema produtivo da água de coco, frente a um cenário com tendência de formação de um Complexo Agroindustrial (CAI) da produção da água de coco, em Petrolândia – Pernambuco.

Como objetivo específico, a pesquisa preocupa-se em estabelecer os vínculos teóricos de suporte à análise a partir da abordagem da Ecologia Política, com ênfase nos conflitos ambientais. Sendo, estes, a força motriz para o surgimento da desigualdade social e os desafios para a produção; discutir os marcos históricos e geográficos da região de Itaparica, enfatizando o município de Petrolândia; analisar a atual estrutura agrária dos reassentamentos de Petrolândia, relacionando com o período anterior a transferência; analisar o sistema produtivo da água de coco de Petrolândia, considerando seus principais impactos socioambientais para a localidade; discutir a metodologia do Sustainable Livelihood Approach com recorte no ambiente agrário para identificar os perfis atuais dos reassentados de Petrolândia, no sentido de compreender os principais desafios para o fortalecimento da sistema produtivo da água de coco.

Esta tese foi desenvolvida de forma dialógica movida por questões que foram se assomando e demandando novos encaminhamentos. Dentre as questões fundantes destacam-se: i) a compreensão dos fatores determinantes para que uma

(24)

cultura de produção de coco se instalasse e expandisse numa região vulnerável do ponto de vista climático e pela escassez hídrica derivada do quadro semiárido; ii) como o pequeno produtor reassentado se relaciona com esse aporte, que se amplia há cerca de 20 anos, e o papel das cooperativas e associações nesse contexto; iii) análise de como as tendências de segmentos e agentes privados e públicos estão se estruturando para o cenário de produção de água de coco, especialmente frente às dificuldades (acesso à água, a terra, a meios de combate às pragas e a assistência técnica e extensão rural) e as potencialidades; iv) na análise da cadeia produtiva do segmento coco, onde se localizam os entraves em termos de uma logística que diminua as perdas por deterioração do e no acondicionamento do produto e na sua comercialização e distribuição; v) análise das possibilidades de fortalecimento e consolidação do potencial já instalado e a criação de alternativas dentro do SLA. Diante desta estrutura, a pesquisa se propõe a uma série de questões relacionadas ao estabelecimento de um Complexo Agroindustrial (CAI) da produção da água de coco em uma área semiárida, tais: Quais as relações entre o sistema produtivo da água de coco de alto valor com a formação de um CAI? Quais as possibilidades e perspectivas para o pequeno produtor e inclusão de demais trabalhadores diante do cenário da formação de um CAI em um município marcado pela desigualdade social, vulnerabilidades ambientais e escassez hídrica de uma região semiárida?

Os resultados deste trabalho poderão contribuir com o estabelecimento de políticas públicas para atração de investimentos e melhorias para o sistema produtivo local, no sentido de servir para o fortalecimento da cadeia produtiva da pequena produção da água de coco no município de Petrolândia. Também disponibilizar para os reassentados um instrumento de apoio para compreensão do estado atual dos perímetros irrigados e, dessa forma, servir como suporte à decisão acerca das medidas que devem ser criadas para seu próprio desenvolvimento socioeconômico.

1.1 MATERIAIS E MÉTODOS

A tese foi concebida por ocasião da realização do Projeto Innovate (Interplay among multiple uses of water reservoirs via innovative coupling of substance cycles in aquatic and terrestrial ecosystems), parceria binacional entre Brasil e Alemanha, com a liderança da Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Técnica de Berlim, com o objetivo de estudar o uso e ocupação do solo e da água na região de

(25)

Itaparica, com vistas a propor inovações sustentáveis para gestão dos recursos naturais na região.

O projeto Innovate foi dividido em sete subprojetos no sentido de enfatizar as áreas de atuação. O subprojeto 7 esteve envolvido com estudos voltados a compreender os desafios no lado social da pesquisa. Os objetivos eram desenvolver trabalhos onde resultados contribuiriam com o Decision Support Approach (DSA), ou seja, as pesquisas devem ter um caráter que busque inovações no sentido de apoiar os agentes locais nas decisões de gestão do espaço.

Este projeto teve o financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Bundesministerium für Bildung und Forschung – Alemanha (BMBF). A tese também teve suporte do projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) 484932/2013-6 Desafios para a produção sustentável do espaço: implicações na gestão da água e da terra nos assentamentos irrigados do município de Petrolândia – Pernambuco. Todos trouxeram importantes contribuições no sentido acadêmico e financeiro para finalização deste trabalho, considerando o apoio no aporte teórico e operacional, permitindo aprofundar o diálogo sobre o tema proposto nas excursões in loco e nos trabalhos desenvolvidos em outros ambientes universitários dentro e fora do Brasil.

Para elaboração da tese, utilizou-se o método hipotético-dedutivo. Inicialmente, foi feita uma revisão bibliográfica acerca das abordagens históricas e geográficas sobre a região de Itaparica, em especial o município de Petrolândia. Também construiu-se um levantamento bibliográfico acerca da abordagem na Ecologia Política, com ênfase nas questões sobre conflitos ambientais, com vistas a compreender o atual cenário de desigualdade socioambiental nos reassentamentos de Petrolândia. Por último, realizou-se uma revisão de literatura nas abordagens sobre a metodologia do Sustainable Livelihood Approach (SLA), a qual foi utilizada para identificar o perfil dos reassentados de Petrolândia na atualidade e suas influências na cadeia produtiva da água de coco.

A elaboração deste estudo segue uma estrutura metodológica que inicia a partir da linha de pesquisa em relações sociedade e natureza. Neste particular, escolheu-se a abordagem teórica da Ecologia Política, como subsídio para compreensão crítica dos conflitos ambientais, revelados por meio da desigualdade no acesso aos recursos

(26)

naturais no ambiente pesquisado. A metodologia do SLA tem o objetivo de especificar como ocorre o acesso aos recursos necessários para o fortalecimento da cadeia produtiva da água de coco.

A motivação para a definição desta estrutura inicia com a influência do grupo de pesquisa Sociedade e Natureza (Nexus – UFPE). Na sequência, a utilização da abordagem da Ecologia Política e a metodologia do SLA para identificar os principais desafios da cadeia produtiva da água de coco em Petrolândia surgiu por ocasião da realização do doutorado sanduíche na Faculdade de Geografia da Universidade de Innsbruck – Áustria, a partir dos estudos desenvolvidos no grupo de pesquisa

Arbeitsgruppe Entwicklungs – und Nachhaltigkeitsforschung1 (AGEF).

As teses de doutorado Dürre als gesellschaftliches naturverhältnis: eine

politische ökologie der wassernappheit im Nordosten Brasiliens2 e Lebensgestaltung

unter Bedingungen städtischer Armut in Maput (Mosambik): Empirische Untersuchung

und Konzeptionelle Überlegungen zu Sustainable Livelihoods3 foi a base teórica inicial

que motivou o desenvolvimento desta estrutura de tese, a qual foi aperfeiçoada no retorno ao Brasil após as discussões com a orientadora.

Para o desenvolvimento do SLA junto aos produtores foi realizada uma série de entrevistas nos reassentamentos de Apolônio Sales, Icó-Mandantes e Barreiras Bloco 2, também na cidade de Petrolândia. Foram criados formulários para entrevistar produtores, atravessadores e microempresários (envasadores). As consultas realizadas na cidade foram desenvolvidas na prefeitura municipal e não se utilizou de formulário específico. As entrevistas nos reassentamentos foram aplicadas considerando a unidade familiar, como propõem Chambers e Conway (1991). Foram utilizados critérios aleatórios para a escolha dos entrevistados. Em Icó-Mandantes, visitou-se oito agrovilas e aplicou-se os formulários em casas escolhidas aleatoriamente. E, em Barreiras Bloco 2, visitou-se duas agrovilas e também escolheu-se o método de escolha aleatória. Em Apolônio Sales, foram entrevistados

1Grupo de trabalho de estudos do desenvolvimento e sustentabilidade.

2Tradução livre para o português: Seca como uma relação natural social: uma ecologia política da falta de água no Nordeste do Brasil. Tese defendida por Tobias Schmitt, em 2013.

3Tradução livre para o português: Condições de vida sob pobreza urbana em Maputo (Moçambique): pesquisa empírica e discussão conceitual sobre sustainable livelihoods. Tese defendida por Ute Ammering, em 2014.

(27)

produtores em ruas diferentes e moradores da comunidade Sagrado Coração de Jesus.

As entrevistas foram estruturadas no modo de formulário com respostas diretas e uma opção para ser complementada pelo entrevistado. Após esse passo, os dados foram ordenados numericamente e os resultados dispostos no software SPSS, com o qual pôde-se criar gráficos, que forneceu subsídios para criação de tabelas e quadros.

A definição do perfil dos produtores baseou-se na análise dos resultados obtidos após os trabalhos com o SPSS como também a partir da análise dos questionários, material icnográfico, fotos do ambiente pesquisado, vídeos etc. Os perfis foram definidos a partir da abordagem do SLA; nesta perspectiva, criou-se quadros de acesso aos capitais do SLA e estabeleceu-se uma determinada quantidade de elementos chaves correspondentes aos capitais e o acesso (ou a sua falta) a estes elementos corresponde ao perfil do reassentado atualmente.

Os gráficos criados pelo SPSS associados aos resultados das entrevistas (tabelas, quadros, filmagem e fotografia) contribuíram também para compreensão da atual estrutura agrária dos reassentamentos de Petrolândia, os quais diferem significativamente da proposta inicial, estabelecida por volta da década de 90.

1.2 TESE

O município de Petrolândia encontra-se inserido na rede mundial de comercialização do coco (cocos nucifera), sendo o segundo maior produtor de Pernambuco. Sua produção é realizada em perímetros irrigados públicos e escoada por meio de empresas localizadas em outras regiões mais especializadas. A análise deste cenário sob a perspectiva da Ecologia Política e da metodologia do Sustainable Livelihood Approach (SLA) revela que no crescimento econômico regional de um polo agrícola, por exemplo, haverá uma estagnação econômica de produtores, que se consolida por meio de implicações no acesso aos capitais do SLA. Este ambiente é construído a partir de uma estrutura de controle dos recursos naturais e manutenção de acesso a seus meios por grupos políticos e econômicos, construindo um espaço de desigualdade permanente. As contradições que este quadro apresenta assemelham-se a outros polos agrícolas, em especial de países subdesenvolvidos, que se estruturam sob a perspectiva do mercado global. Um conjunto de produtores

(28)

tende a permanecer economicamente estagnado, mesmo sendo importantes abastecedores das principais regiões que fornecem para os consumidores em outros locais. Um público que adquire a mercadoria local por um preço aquém do real custo de produção. Este cenário é arquitetado por um conjunto de desafios para os produtores de base familiar e de benefícios para grandes empresas. A dependência do mercado internacional desmantela as possibilidades de fortalecimento de um mercado local, restringe a resiliência da pequena produção, ao passo que a região adquire importantes empreendimentos e equipamentos de alta tecnologia para a expansão da produção, tendendo a uma maior consolidação e formação de um Complexo Agroindustrial (CAI) - neste particular - da água de coco. A desigualdade e exploração do trabalho são fortalecidas com os conflitos ambientais e na restrição no acesso aos capitais do SLA. A mercadoria passa a ser desvalorizada devido a padrões externos de consumo, e a quantidade produzida passa a ser reduzida devido à desconexão entre os instrumentos e o ambiente. Estes fatores somados mantêm os agricultores de base familiar dependentes e explorados dentro de um determinado sistema produtivo voltado para o mercado externo.

(29)

2 ECOLOGIA POLÍTICA: UMA ABORDAGEM PARA COMPREENDER OS CONFLITOS AMBIENTAIS EM ESPAÇOS RURAIS

Bairro indígena construído espontaneamente para oferecer mão de obra barata no Reassentamento Irrigado de Icó-Mandantes.

2.1 PRESSUPOSTOS EPISTEMOLÓGICOS DA ECOLOGIA POLÍTICA

De acordo com Bryant e Bailey (2000) os primórdios da Ecologia Política remetem à década de 1970, se expandindo nas décadas subsequentes de 1980 e 1990. Na atualidade, este conceito se consolida como uma base sólida para pesquisas inovadoras que abordam as questões socioambientais, configurando-se como área provocadora no âmbito de pesquisas interdisciplinares.

Originalmente, este conceito emerge de interfaces entre as ciências naturais, sociais e política. Destacam-se as influências decorrentes de pesquisadores anglo-saxões, Estados Unidos e do Reino Unido (KRINGS, 2013).

(30)

A localização e as formas de acesso aos recursos naturais, exploração/extração de matéria prima e degradação do ambiente são pontos analisados politicamente (ROBBINS, 2005).

A velocidade e a intensidade dos avanços da técnica e da tecnologia colocaram maior visibilidade no conjunto dos impactos ambientalmente gerados. Nesse sentido, a Ecologia Política fornece instrumental teórico metodológico e conceitual que dá suporte a reflexão que surge em função da emergente necessidade por uma abordagem analítica que integre a compreensão política e o ambiente natural no contexto da intensificação das degradações e transformações.

De acordo com Zhouri (2006), a Ecologia Política surge em um momento onde se buscava novas bases para as Ciências Sociais. Nessa ocasião, a proposta era de superar dicotomias como objetividade-subjetividade, indivíduo-sociedade, natureza-cultura. Toda a crítica era oriunda de movimentos políticos e acadêmicos, as quais estavam voltadas primordialmente para o surgimento da sociedade industrial.

2.1.2 As raízes da Ecologia Política

Antes de continuar o debate neste campo de estudo, é preciso estabelecer as origens que influenciaram o pensamento atual. De acordo com Robbins (2005), o aristocrata russo Peter Alexeivich Kropotkin foi o primeiro membro da linhagem da Ecologia Política. No ano de 1921, quando faleceu, o geógrafo russo já era mundialmente conhecido como um filósofo anarquista, de trabalhos acadêmicos que enfatizavam as relações entre a sociedade e a natureza.

Os estudos de Kropotkin, no Oeste russo, nas proximidades da Manchúria e sua experiência com os Tungus, agricultores entre outros nativos foram pioneiros na Rússia do século XIX e começo do século XX, visto que, diante das adversidades da região, não existia nenhuma perspectiva de se explorar essa porção do país. Seu esforço originou mais pesquisas e debates sobre formas de crescimento de sociedades. E as evidências colecionadas nas expedições junto a pessoas e animais convenceram o cientista de que a sobrevivência e evolução são resultados de uma mútua ajuda, organização e cooperação entre indivíduos (ROBBINS, 2005).

A escocesa Mary Fairfax Sommerville desenvolveu, no final do século XVIII e início do século XIX, críticas voltadas contra a escravidão, a apropriação de terras das

(31)

populações aborígenes, as imprudentes formas de degradação ambiental pela exploração humana através dos excessivos usos, das extrações e a introdução de espécies exóticas, as quais eram prejudiciais para as espécies nativas. Seguindo um caminho próprio, suas pesquisas tinham um viés que apontavam para os impactos humanos sobre a terra e os impactos que a terra proporcionava as sociedades. Com os inúmeros artigos científicos publicados, Sommerville teve acesso a espaços geralmente restritos a homens no campo da ciência, mesmo diante dos preconceitos por causa do seu gênero, ela conseguiu notoriedade com seus trabalhos, se tornando um dos braços importantes para os estudos atuais da Ecologia Política (ROBBINS, 2005).

Alexander Von Humboldt também é considerado um dos primeiros a fazer Ecologia Política em sua prática científica. Seus estudos durante as expedições ao redor do mundo durante o século XIX proporcionaram ao prussiano entrar em contato com as mais variadas formas de vida, humanas ou não, em meio a difíceis condições políticas e econômicas. Essas condições permitiram com que Humboldt desenvolvesse uma aparente apreciação pelo contexto político e econômico, no qual as pessoas enfrentavam no seu dia a dia (ROBBINS, 2005).

Elisée Reclus, comumente relacionado aos anarquistas franceses no âmbito da Geografia e das Ciências Sociais, expressou, na sua obra A Terra: uma história descritiva, uma análise sobre política e as questões recíprocas das relações entre homem e ambiente. O geógrafo francês contribuiu no debate sobre a questão da justiça, especialmente para os trabalhadores, apontando sua relação com as transformações sociais e ecológicas, além de apresentar a noção contemporânea de estrutura social e práticas ecológicas (ROBBINS, 2005).

O britânico Alfred Russel Wallace trouxe importantes contribuições para as raízes do pensamento da Ecologia Política. O geógrafo, e também naturalista, realizou expedições na Amazônia e Sul da América Latina. Nesse período, desenvolveu estudos sobre dominação social e imperialismo. Realizou uma crítica sobre a hierarquia social e a gestão da terra nos lugares por onde andou, ao mesmo tempo em que trocava correspondências com Charles Darwin, construindo a teoria da seleção natural. Wallace relacionou a evolução, justiça social e gestão da terra para oferecer uma crítica ao racismo e ao já emergente Darwinismo social (ROBBINS, 2005).

(32)

As pesquisas desenvolvidas por Friedrich Ratzel, abordando as influências das condições ambientais sobre a capacidade e as condições culturais dos povos, muito contribuíram para o desenvolvimento da Ecologia Política. Seus seguidores buscavam assiduamente codificar esta perspectiva dentro da prática científica. Posteriormente, este pensamento foi criticado como racista (ROBBINS, 2005).

2.1.3 As raízes da Ecologia Política no Brasil

O médico-geógrafo Josué de Castro foi um dos pioneiros no Brasil em pesquisas no que hoje se intitula Ecologia Política. Natural de Recife, local onde germinou seus estudos neste campo, Josué publicou, em 1946, a obra Geografia da Fome. A preocupação do autor era com a desigual distribuição dos alimentos, que influenciava a nutrição da população. Seu trabalho aponta lugares de subnutrição endêmica e sua relação com a falta de um plano de produção agrícola adequado.

No seu ensaio Alimentação e raça, publicado em 1936, o autor apontou que causas da pobreza e da subnutrição tinham raízes sociais e não eram determinadas pelos fatores ambientais, como era abordado pelo pensamento dominante da época (ANDRADE, 1997).

O geógrafo Hilgard O’Reilly Sternberg, filho de um alemão e de uma irlandesa, iniciou sua inclinação para os estudos ambientais por ocasião do seu doutoramento, concluído em 1956. Sua tese, intitulada A água e o homem na várzea do Careiro, tratou sobre as questões envolvendo a população ribeirinha e os cursos d’água. Neste trabalho, ele analisou as graves consequências do desmatamento para as comunidades, como as enchentes que ceifaram a vida de muitos dos habitantes.

Antes de falecer, em 2011, ocupava a cadeira de professor emérito de geografia na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Suas análises enfatizavam a relação sociedade e natureza. O campo de pesquisa utilizado era a floresta amazônica brasileira. O foco do seu trabalho era a questionar como comunidades humanas afetam o meio ambiente, por meio do uso impróprio do solo, da água, da flora, da fauna e através da concentração dos recursos nas mãos de poucos (SANDERS, 2011).

O geógrafo e ambientalista Aziz Nacib Ab’Saber teve um papel fundamental na luta pela questão ambiental no Brasil, destacam-se seus esforços pela preservação

(33)

da Amazônia e da Caatinga. O cientista defendeu seu doutorado em 1956 com a tese Geomorfologia do sítio urbano de São Paulo. Alguns de seus trabalhos foram premiados, como o livro Amazônia: do Discurso à Praxis. Os estudos do pesquisador também estavam voltados para os problemas urbanísticos e ambientais de grandes cidades. Ab’Saber sempre esteve à frente de embates de cunho ambiental, um dos últimos foi sobre a questão do Código Florestal Brasileiro e a Transposição do Rio São Francisco (DOURADO, 2012).

O pensamento da Ecologia Política também estava representado na obra de Manuel Correia de Andrade, um pernambucano que se dedicou ao estudo do espaço agrário brasileiro, sobretudo do Nordeste do Brasil. Em A Terra e o Homem no Nordeste, publicada em 1963, o professor Manuel debateu as relações injustas de posse da terra e a proletarização do trabalhador rural (ANDRADE, 2011).

2.2 QUESTÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS DA ECOLOGIA POLÍTICA

De acordo com Robbins (2005), a existência da Ecologia Política só existe por causa de uma ecologia apolítica pré-existente, que reflete o conflito pelo uso dos recursos naturais, a degradação da terra, as falhas no estado de conservação da natureza.

O debate de maior repercussão no âmbito da ecologia apolítica é a questão da escassez ecológica (ecoscarcity) e a modernização. Sobre o primeiro, desde o final do século XVIII vem se discutindo a importância da influência humana sobre o meio ambiente. Foi nessa ocasião que este tema foi posto pela primeira vez no escrutínio científico. O ponto central da discussão estava embasado em que a crise social e ecológica estava pautada no crescente número da população absoluta da terra com base, principalmente, nos argumentos de Thomas Malthus que, ao passar dos séculos, sofreu diversas críticas e alterações, a mais recente enunciada pelo Clube de Roma, na década de 1980 (ROBBINS, 2005).

Sobre o tópico da modernização, uma outra visão dominante afirma que os problemas ecológicos são originados devido às inadequadas adoções e implementações de técnicas modernas de gestão, exploração e conservação. Esta forma de pensamento normalmente está baseada em um compromisso com as questões voltadas para a eficiência econômica (ROBBINS, 2005).

(34)

A abordagem da modernização, relacionada à gestão ambiental e mudanças ecológicas, afirma que soluções eficientes, determinadas em ótimas condições econômicas, podem gerar resultados conhecidos como “ganhar-ganhar” (win-win), onde o crescimento econômico pode se desenvolver paralelamente à conservação ambiental. Considera-se que a afirmação de que a eficiência econômica paga dividendos ambientais está apoiada em diversos casos atuais; por exemplo, as industriais de papel entre outras que utilizam a tecnologia para transformar o lixo em margem de lucro.

No entanto, existe uma série de questionamentos e críticas acerca deste pensamento, uma delas reflete os problemas empíricos e conceituais; como exemplo recente são os resultados da Revolução Verde4, que provocou degradação de solos, contaminação da água e um crescente número de pestes invasoras nas plantações. Além de que estas relações reproduzem os padrões coloniais por meio de uma imposta transferência de conhecimento e tecnologia, sem considerar as práticas locais (ROBBINS, 2005).

A Ecologia Política é um amplo campo de pesquisa com uma compreensiva teoria que objetiva explicar as mudanças ambientais e, muito mais, estabelecer hipóteses e identificar os problemas no âmbito das relações sociedade e natureza (KRINGS, 2013 Apud Blaike, 1999). Junto a esta abordagem, está presente uma diversidade de análises teóricas e o desenvolvimento de outras linhas conceituais de significativa importância para pesquisas interdisciplinares na área ambiental. Dessa forma, nota-se uma relação íntima da Ecologia Política com outras teorias, como a teoria dos conflitos, abordagem do direito ao acesso ao recursos naturais, conceito de marginalidade, vulnerabilidade, enfoque nos livelihoods, entre outros (KRINGS, 2013).

O meio ambiente e os seus recursos naturais são como um campo de batalha de divergentes interesses que é controlado pelo direito ao acesso, poder e influência de agentes globais. É um importante tema de pesquisa relacionado com as análises de conflitos, divisão ambiental e luta pelo poder sobre os recursos naturais em

4Fase de transformação do processo de cultivo agrícola ocorrida principalmente no fim da década de 60 e início da década de 70. Foi caracterizado pela inserção de tecnologia no campo (pacotes tecnológicos) para beneficiar a produção de sementes, modernizar os métodos agronômicos, aperfeiçoar o processo de irrigação, introduzir insumos modernos e eficazes no aceleramento da produção, combate às pragas e colheita. Esse período registrou o surgimento das Variedades de Alto Rendimento (VAR) que buscavam ampliar o rendimento das sementes em menor tempo se utilizando de estudos científicos e tecnológicos.

(35)

questão. Normalmente, o cenário é montado por grupos com distintos interesses, poderes e esferas de atuação (KRINGS, 2013), o que pode variar desde grandes empresas, com interesses de explorar os recursos para transformá-los e disponibilizá-los no mercado global, até pequenos produtores, que já aproveitavam o ambiente local para sua própria subsistência. No entanto, procura-se identificar quem ganha e quem perde com este tipo de acesso aos bens naturais.

A desigualdade no acesso aos recursos naturais, como também suas consequências para o indivíduo ou grupos desprivilegiados, repercutem na marginalização ou na vulnerabilidade de áreas de diferentes escalas, que também podem sofrer com as transformações ambientais (KRINGS, 2013).

Um meio ambiente politizado também se caracteriza quando os recursos naturais se tornam cada vez mais escassos devido a uma crescente demanda por causa da intensa concorrência entre diferentes agentes ou quando o meio ambiente se torna ameaçado frente a projetos de desenvolvimento, os quais usurpam terras ou recursos naturais (land-grabbing) (KRINGS, 2013). Com isto, muitas comunidades antigas são desalojadas, tanto pela pressão gerada pela presença de grupos poderosos ou pela força da lei que, muitas vezes, são sancionadas para reduzir ou retirar o direito de grupos mais fracos sob o ponto de vista político e econômico, transferindo automaticamente este direito (direta ou indiretamente) para segmentos mais fortes, como Krings expressa abaixo:

[...] resultando na expulsão de grupos locais, ou quando medidas judiciais limitam o direito de acesso à terra, à água e à floresta àqueles que perderam o poder político. O conflito do uso da terra, os problemas no direito de acesso e os conflitos devido aos reassentamentos forçado são representações de um tipo de questão ambiental politizada (KRINGS, 2013, p. 1101)5.

O ponto de abordagem da Ecologia Política pode utilizar diversas esferas ou uma cadeia de análise. Uma região pode ser tomada como um exemplo do locus que será pesquisado; lá, estarão registradas as transformações ambientais através do tempo, as quais também podem ser heranças do período colonial como também de ações atuais. Esta análise, por sua vez, encaminhará as pesquisas para o premente

5 No original em alemão: [...] die zu einer Vertreibung von Lokalen Gruppen führen, oder wenn durch juristische

Maßnahmen die Zugangsrechte von politisch machtloseren Gruppen zu Land, Wasser und Wald beschränkt werden. Landnutzungskonflikte, verfügungsrechtliche Probleme, Konflikte im Zuge von Zwangsumsiedlungen sind Ausdruck einer solchen Politisierung der Umweltfrage.

(36)

problema ambiental. Normalmente, a degradação ambiental (solo, água, florestas, etc.) traz consequências negativas para as condições socioeconômicas de um determinado indivíduo, família ou grupos comunitários; por exemplo, a erosão do solo repercute diretamente na colheita e, consequentemente, expõe ao risco o abastecimento das cidades. Nessa cadeia, diversos segmentos (famílias ou indivíduos) são afetados (KRINGS, 2013).

O Estado desempenha um papel importantíssimo com relação aos acessos e gestão do meio ambiente local. Para a Ecologia Política, é fundamental a análise de sua participação, visto que são as leis que definem quem terá acesso aos bens naturais, como também define a organização e as formas que se deve lidar com o meio ambiente. O Estado, por estar inserido no processo de globalização, tem fortes ligações de dependência com a economia mundial; dessa forma, sofre pressão de diversos agentes internacionais com distintos interesses nos recursos naturais locais (KRINGS, 2013).

De acordo com Krings (2013), existem dois tipos de agentes que desenvolvem um papel de grande importância nos processos analisados pela Ecologia Política, o primeiro se apresenta como um indivíduo e o segundo como um grupo de agentes ou agentes coletivos. Estes podem ser identificados como habitantes de uma região, grupos ambientais, empresas ou órgãos estatais. Tais agentes representam interesses opostos, que, em muitos casos, contradizem com a manutenção de um ambiente em equilíbrio ou de uma igual distribuição dos recursos naturais.

Os agentes individuais buscam a exploração máxima dos recursos naturais; dessa forma, perseguem seu objetivo de modo solitário. Já os agentes coletivos, que são formados pelo grupo de diversos agentes individuais, estão em busca de se manterem nos padrões da estrutura institucional para que, dentro das formalidades legais, possam explorar os recursos.

Nos países subdesenvolvidos, é muito frequente as tensões entre diferentes grupos de agentes coletivos e o Estado. São diversos interesses em questão, porém com um único objetivo: direito de acesso aos recursos naturais, bem como o total controle orientado para uma exploração maximizada. Muitos grupos não possuem apenas um interesse de escala local; são, portanto, representantes de uma esfera global, buscando cumprir uma agenda internacional de organizações com escala de influência mundial (KRINGS, 2013).

(37)

2.3 ENQUADRAMENTO DA ABORDAGEM DA ECOLOGIA POLÍTICA

Quando a Ecologia Política surge como campo de pesquisa propriamente dita, ela passa a ser definida com o objetivo de aprofundar compreensão sobre a complexa relação entre a natureza e a sociedade por meio de uma análise criteriosa. O foco prioriza as formas de acesso e controle dos recursos naturais, com ênfase nas implicações que esta estrutura pode provocar para o meio ambiente e a subsistência dos pequenos produtores rurais (ROBBINS Apud WATTS, 2000).

São dedicados esforços no sentido de entender que as mudanças ambientais e as condições ecológicas também são resultados de processos políticos, onde os custos e benefícios oriundos destas mudanças são distribuídos desigualmente entre os agentes (BRYANT; BAILEY, 1997).

De acordo com Robbins (2004), a Ecologia Política possui quatro teses que desenvolvem seu campo de análise. A primeira tese aborda a questão da degradação e marginalização, onde serão debatidas as razões das mudanças ambientais e como estas vieram a ocorrer. Aqui, o estudo é orientado sob a perspectiva de que a degradação da terra é oriunda principalmente do contexto político e econômico, contrariando afirmações que apontam para os marginalizados como os principais originadores das alterações no ambiente.

A segunda tese trata dos conflitos ambientais. Aqui, são levantadas questões concernentes ao acesso ao ambiente. A preocupação,

portanto, é com quem tem acesso e por quê. Os conflitos nesta análise são apresentados para contribuir no debate das lutas de gênero, de classes e raciais (ROBBINS, 2004). O que é bem expresso por Blaikie (1999), na sua contribuição para a Zeitschrift für Wirtschaftsgeographie6, quando afirma que a Ecologia Política se

interessa em conhecer como e quais diferentes grupos de interesse detentores de poder político e econômico produzirão e se propagarão no meio ambiente.

A tese busca analisar, por exemplo, a crescente escassez de produtos oriundos de terras apropriadas por autoridades do estado, firmas privadas ou das elites sociais, os quais são os principais responsáveis em iniciar e acelerar o conflito entre os grupos (ROBBINS, 2004).

(38)

Nesta perspectiva, os conflitos ambientais se enraízam na sociedade quando determinado grupo (gênero, classe ou etnia) passa a ter o controle sobre os recursos coletivos em detrimento dos outros. Normalmente, esse processo ocorre com apoio de políticas públicas intervencionistas desenvolvidas pelas autoridades estatais ou em conjunto com agentes privados (ROBBINS, 2004). Esses conflitos também podem ser originados a longo prazo em função de medidas estabelecidas, cujo os resultados danosos necessitam de um tempo maior para serem percebidos.

A terceira tese apontada é referente à conservação e controle. Aqui, são trabalhadas as falhas nesse processo, como também a exclusão política e econômica. A compreensão desenvolvida nesta abordagem discute que os esforços para conservação ambiental, geralmente compreendidos como uma atitude benigna, também podem ter efeitos perversos para as comunidades; por exemplo, quando são estabelecidas áreas de preservação, cuja esta condição expropria antigos habitantes daquela área. Nesse caso, forma-se um cenário de exclusão diante de uma proposta preservação ambiental (ROBBINS, 2004).

A quarta tese se debruça sobre a questão da identidade ambiental e os movimentos sociais. Neste ponto, os estudos se dirigem para os levantes sociais, enfatizando os principais agentes, o ambiente e como essas ações são desenvolvidas. As forças políticas e sociais são apresentadas para relacionar as questões básicas da subsistência e a proteção ambiental (ROBBINS, 2004).

Diante da complexidade de sua abordagem, a Ecologia Política estabelece vínculos com diversos campos disciplinares; portanto, tem uma origem intertransdisciplinar. São identificadas raízes nas áreas da antropologia, da sociologia, da história, das ciências políticas e de áreas tecnológicas (ZIMMERER; BASSET, 2003).

De acordo com Coy (2013), a Ecologia Política utiliza as relações sociedade e natureza como sua principal categoria. Seu campo de pesquisa busca uma abordagem com fins de analisar as relações conflituosas entre a sociedade e a natureza / homem e meio ambiente, como também as estratégias de sobrevivências dos grupos mais vulneráveis. Por exemplo, os projetos para instalação de infraestrutura de grande porte na Amazônia e suas consequências para os grupos indígenas locais, como a desterritorialização desses grupos e os demais impactos

(39)

provocados nas comunidades locais que também são relocadas ou têm sua dinâmica econômica alterada.

A questão crucial que se busca entender são as relações entre as transformações sociais e as condições da natureza, que estão intrinsecamente relacionadas com as tendências econômicas controladas por agentes globais, o que será representado e concretizado através do acesso e uso dos recursos naturais, tanto para fins econômicos diretamente público ou privado (COY, 2013).

Segundo Krings (2013), as transformações ambientais se apresentam como resultado dos diferentes interesses de agentes poderosos sobre indivíduos locais, nacionais e internacionais. Esta complexa interação entre meio ambiente e sociedade se sustenta em um contexto histórico específico que se manifesta a partir de uma história ambiental local.

A análise das relações sociais frente ao uso do ambiente evoca, por si só, uma discussão politizada, ou seja, uma visão política das relações sociedade e natureza, que é o principal tópico de pesquisa da Ecologia Política. Associado a este âmbito, surgem questionamentos acerca dos diferentes cenários de vulnerabilidade e quais os agentes ocupam posição central. A pergunta que se pretende responder é quem ganha e quem perde nesse jogo de relações? Como que são divididos os custos neste cenário? Identificar as injustiças nesse processo faz parte de um papel fundamental neste estudo (COY, 2013).

O caso das catástrofes ambientais contribui com a reflexão desta questão como um exemplo atual e recorrente. Situações de estresse na natureza, como enchentes, furações, terremotos, são fruto de um processo anunciado por meio de pequenos fenômenos ou pela repetição dos eventos de grande magnitude, que provocam no espaço as mesmas tragédias, quando não são maiores, em função da diferença da infraestrutura instalada. Estes elementos formam uma ante-sala de um conjunto complexo, o qual não deve ser mais considerado natural e sim uma escolha (GOMES, 2006).

Há uma evidente contradição no âmbito social e tecnológico quando comparado os avanços no meio de comunicação, os desdobramentos da modernização com os resultados de manifestações ambientais de pequeno e de grande impacto nas aglomerações urbanas e nos espaços rurais, haja vista milhares

(40)

de vidas que são ceifadas por ocasião da ocorrência de fenômenos naturais, que se apresentam periodicamente como os maiores desafiadores da gestão pública, que insiste, junto com os meios de comunicação, em naturalizar situações que se repetem com frequência (GOMES, 2006).

A sociedade não questiona, nem percebe que o nível de desenvolvimento tecnológico alcançado já é o suficiente para garantir maior preservação da vida humana e não humana diante de catástrofes naturais, esta perspectiva torna-se mais clara quando é observada a partir das palavras de Gomes:

Diferentemente das polêmicas inseridas na teodiceia dos fenômenos ocorridos no iluminismo é emblemático constatar que sobre a tecnodicéia não repousam grandes questões e quiçá crises motivadoras de co-responsabilidades. A imanência da técnica desenvolvida pelos homens não causa torpor nesse contexto que reserva à natureza e tão somente a ela o legado da responsabilidade. Mesmo que em suspensão o debate teológico dentro dos circuitos da inteligência, comodamente se imputa à natureza a condição de sujeito autonomizado e licenciado pela tecnodicéia, nesses casos, para assumir a responsabilidade dos fenômenos catastróficos (GOMES, 2006, p.70).

O repasse de responsabilidade dos impactos ambientais na sociedade à natureza tem, propositalmente, a função de alimentar a expansão do sistema financeiro que, por sua vez, propicia o desenvolvimento do mundo da tecnologia por meio da criação de objetos modernos, que são enaltecidos devido sua alta capacidade de reagir diante de situações de emergência originadas no seio de fenômenos naturais de pequeno ou de grande porte, com significativa repercussão para manutenção da vida (GOMES, 2006).

Mesmo diante de diversas abordagens no campo de pesquisa em Ecologia Política, seus especialistas estão em comum acordo em pontos básicos. Destaca-se a concordância de que os problemas ambientais enfrentados pelos países subdesenvolvidos e os de economia emergentes não são apenas um reflexo de políticas públicas ineficientes ou de falhas no mercado. Estas forças foram cooptadas durante a ampla difusão do capitalismo, principalmente a partir do século XIX (BRYANT; BAILEY, 2000).

Desta forma, as pesquisas em Ecologia Política têm sido desenvolvidas principalmente para descrever os impactos no tempo e espaço que a força do capitalismo provocou no ambiente natural e social dos países do Sul. Diferentemente

Referências

Documentos relacionados

ed è una delle cause della permanente ostilità contro il potere da parte dell’opinione pubblica. 2) Oggi non basta più il semplice decentramento amministrativo.

 Random storage - refere-se à alocação de um espaço de stock de forma aleatória, segundo o espaço disponível no momento de chegada dos produtos (Petersen e Aase,

insights into the effects of small obstacles on riverine habitat and fish community structure of two Iberian streams with different levels of impact from the

Então são coisas que a gente vai fazendo, mas vai conversando também, sobre a importância, a gente sempre tem conversas com o grupo, quando a gente sempre faz

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Este questionário tem o objetivo de conhecer sua opinião sobre o processo de codificação no preenchimento do RP1. Nossa intenção é conhecer a sua visão sobre as dificuldades e

Os resultados são apresentados de acordo com as categorias que compõem cada um dos questionários utilizados para o estudo. Constatou-se que dos oito estudantes, seis

Evidentemente, na sociedade tecnológica e veloz dos tempos modernos a relevância da instituição parlamentar e o papel da lei como fonte normativa são cada vez menores,