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2. A REABILITAÇÃO URBANA EM PORTUGAL

2.5. A REABILITAÇÃO ALIADA AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Durante a maior parte da existência humana, frequentemente se descuraram as preocupações com o ambiente e com os impactos das acções humanas sobre o planeta. Como consequência directa deste desmazelo, nos últimos anos assistimos a grandes alterações climáticas e violentas manifestações da natureza, cada vez mais frequentes e devastadoras, obrigando-nos a pensar e a agir de maneira a podermos controlar essa situação, ou pelo menos fazer com que esta escalada de efeitos adversos, se mantenha dentro do que é “aceitável”, caso contrário, para além de sofrermos todos estes efeitos adversos e indesejáveis no presente e futuro próximo, ainda corremos o risco de deixar uma herança demasiado negra às gerações futuras.

Face às ocorrências das últimas duas décadas, as alterações climáticas passaram a ser objecto de estudo de um grande número de pessoas e entidades, tendo-se chegado a conclusões dramáticas sobre o efeito que o homem tem sobre o planeta, e mais que nunca, a correlação entre a acção humana e as alterações climáticas tornou-se evidente.

A partir dos primeiros estudos e conclusões dos mesmos, um pouco por todo o mundo se começou a ter preocupações no sentido de inverter a situação que até há bem poucos anos caracterizava a maneira de estar da generalidade da humanidade, tendo surgido o conceito de desenvolvimento sustentável, como sendo o “desenvolvimento que permite a satisfação das necessidades da geração actual, sem

comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações vindouras”. [5]

O desenvolvimento sustentável resulta então do reflexo da consciencialização da humanidade para a problemática central deste tema. O desenvolvimento, nas suas mais variadas vertentes, depende da sustentabilidade dos recursos, e se nada for feito, fica seriamente comprometido.

Este conceito foi alargado a todas as actividades caracterizadas por terem um forte impacto no meio ambiente, tendo-se assistido a partir da década de oitenta, a uma preocupação adicional na protecção dos recursos, intervindo-se a vários níveis, desde a agricultura ao planeamento do território, tendo sido desenvolvidas políticas de protecção dos solos, zonas florestais entre outras, claramente necessárias e que conceptualmente, são a resposta a alguns problemas que desde há muito, necessitavam de ser resolvidos, a fim de inverter a situação de total desrespeito para com o ambiente e recursos naturais verificada até então.

No parágrafo anterior, foi referido que as políticas desenvolvidas a partir dos anos 80 seriam conceptualmente a resposta a diversos problemas, pois em boa verdade, muitas delas ficaram aquém do esperado, sendo em muitos casos demasiado brandas e insuficientes para que produzissem resultados palpáveis, e claramente visíveis.

É por todos reconhecida a importância que a protecção e valorização das paisagens culturais e da paisagem em geral têm na preservação da identidade cultural das comunidades locais e na continuidade das tradições que lhe estão associadas, sendo importantes maneiras de promover a coesão social e de garantir uma maior intimidade entre o território e a população que nele habita.

Porém, e face às exigências actuais, e a diversas intervenções da humanidade sobre o território e o meio ambiente, temos assistido a uma grande pressão do homem sobre o ambiente, transformando a paisagem, em muitos casos, de forma irreversível.

Por tudo isto, surge então a necessidade de adoptar novas estratégias para integrar a gestão do território, da sua evolução, e da sua preservação no âmbito de uma política mais alargada, extensiva a toda a paisagem através de uma protecção unificada dos interesses culturais, ecológicos, estéticos e socioeconómicos do território. [6]

No que respeita à organização territorial e à intervenção sobre o património, evidencia-se a necessidade de reabilitar como alternativa sólida à construção nova, permitindo assim a satisfação de muitos princípios necessários para a conservação dos recursos e ao mesmo tempo, garantindo as necessidades das gerações actuais e das gerações vindouras.

Ora, atentando ao que anteriormente se disse sobre o que era o “desenvolvimento sustentável” e o que é a reabilitação de edifícios, facilmente poderemos constatar a sua afinidade, pois a reabilitação acaba por ser uma forma de actuar, que garante o desenvolvimento sustentável, optimizando os recursos, recorrendo frequentemente à utilização dos recursos já aplicados no passado, e acrescentando novos recursos, numa quantidade consideravelmente menor que em outras actuações alternativas, nomeadamente a construção nova.

Por outro lado, não são somente os recursos as preocupações actuais, sendo particularmente importante para o desenvolvimento sustentável, a integração social, pois só assim é passível de existir um ambiente de harmonia entre os cidadãos.

Em Portugal, uma importante percentagem da população vive em condições abaixo dos níveis mínimos tidos como aceitáveis, principalmente em áreas urbanas desfavorecidas, construídas para resolver as carências habitacionais e os problemas do imediato, sem preocupações com a estética, limitando-se a cumprir as necessidades funcionais básicas exigíveis aquando da sua construção. Lado a lado com as áreas urbanas degradadas, normalmente andam classes sociais desfavorecidas, onde grande parte das pessoas se encontra no desemprego, e dependentes do apoio estatal. Esta situação acarreta diversas consequências, sendo vulgar encontrar pessoas deprimidas, desanimadas e com baixas expectativas de vida, pelo que esta situação acaba por em muitos casos por ser geradora de criminalidade, isolamento, e contribuir para a falta de coesão social.

Para bem de toda a sociedade e para a harmonia social entre as várias classes, é pois importante proceder à reabilitação destas áreas, integrando a população nos processos de tomada de decisão, para que deste modo se crie um clima de confiança entre os intervenientes, promovendo a promoção social das classes mais desfavorecidas. Com isto, para além de se eliminarem vários fenómenos sociais negativos, consegue-se valorizar em diversos aspectos as áreas onde é feita a intervenção, criando-se assim mais-valias, para atrair população para a própria zona e zonas envolventes, dando nova vida a estas zonas, e contribuindo para a diminuição da tendência crescente de expansão verificada durante o último meio século e consequente perda de identidade das cidades, e da cidadania.

Estamos então em condições de afirmar que a reabilitação urbana é uma prioridade actual, e deverá sê- lo ainda mais no futuro, em oposição à construção nova e ocupação do território pela mesma, e ao abrigo do conceito de desenvolvimento sustentável, a reabilitação deve garantir o respeito pela natureza, carácter, história e tradição cultural do património, para além de respeitar a escala daquilo que é objecto de reabilitação. Desta forma, para além da criação de atractividade para os locais, ou residentes nas zonas limítrofes, criam-se também mais e melhores condições para o turismo, actividade cada vez mais importante para o país e que constitui uma alternativa bastante válida para uma boa parte da população, e que, após a revitalização destes espaços, pode encontrar no turismo, uma saída para a sua precariedade.

A nível Europeu, a coesão social e territorial passou a ser uma prioridade a partir do ano 2000, tentando-se deste modo, atenuar as diferenças entre os vários países da União, em especial entre aqueles que aderiram recentemente e os que já se encontravam na União Europeia. Para o efeito, foram definidos princípios de desenvolvimento sustentável, orientadores das políticas de intervenção nos vários estados membros e que posteriormente foram transpostos para os diversos estados membros, à semelhança do que acontece hoje em Portugal.

Como vimos, a sustentabilidade dos recursos, está intimamente ligada a políticas que favorecem a reabilitação do edificado e, a um nível mais alargado, das cidades.

As cidades históricas são importantes referências para as regiões onde se inserem, representando um centro de vida cultural, um marco histórico e ao mesmo tempo representam um importante contributo para a identidade de uma região. São elas que atraem milhares de visitantes, contribuindo para a economia local e nacional e, numa escala mais alargada, da Europa.

Deste modo, é lógico o dever existente em proteger o seu carácter histórico, pois constitui um importante contributo para a economia da região, criando emprego e ajudando a promover a coesão social e resolver alguns dos problemas mais característicos destas cidades.