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4. QUATRO CASOS DE ESTUDO RECONVERSÃO DE

4.5. C ASOS DE ESTUDO NA C IDADE DO P ORTO – INTRODUÇÃO

4.5.3. C ARACTERIZAÇÃO DAS INTERVENÇÕES

4.5.3.3. Caso estudo 3

Inserido na zona histórica do Porto, este edifício apresentou desde início singularidades bastante positivas. Como foi descrito anteriormente, no terreno onde hoje está implantado o Conjunto Residencial Monchique, funcionou a primeira fábrica de cerâmica portuguesa e foi também aí que funcionou durante várias décadas uma refinaria de açúcar. Face á importância histórica do local, e com a recomendação de entidades como o IPAR, a empresa RAR imobiliária, dotou um montante ligeiramente superior a 250000 euros, para estudos arqueológicos, tendo sido encontrados numerosos vestígios da actividade da extinta Cerâmica de Massarelos, nomeadamente um espólio numeroso de peças, moldes, desenhos e utensílios utilizados pela mesma, tendo sido ainda observados parte dos muros, fornos e tanques da extinta fábrica, desactivada em 1920. [37]

Este material foi recolhido em cinco mil sacos para um armazém cedido pelo grupo RAR, tendo aí sido limpo, tratado e catalogado de forma a poder ser estudado de acordo com a metodologia definida e, posteriormente, embalado e acondicionado para ser cedido ao Gabinete de Arqueologia Urbana da Câmara do Porto, que apoiou o projecto com uma redução da taxa de licenciamento e construção, como sinal de reconhecimento pelo esforço dispendido pelo promotor deste conjunto residencial. Dois dos fornos existentes, foram transferidos para a marginal do Rio Douro, na zona circundante ao Freixo.

Figura 4.19 – Dois dos fornos que laboraram nas instalações do Condomínio Monchique.

O projecto ficou a cargo do arquitecto Vítor Carvalho Araújo, tendo este procurado manter elementos de referência, com destaque para a fachada sobre o rio e a chaminé industrial, com o objectivo de preservar a memória do local. O conjunto residencial, está implantado num terreno com 2553m, ocupando 1440m e sendo composto por quatro edifícios, num total de 17 apartamentos, agrupados em três espaços distintos.

Assim, com frente para a Rua de Monchique, surgiu o Espaço Monchique, resultando da recuperação das ruínas existentes no local e sendo composto por três apartamentos, com excelentes vistas para o rio, ficando na primeira linha para o rio. A Este deste edifício, encontra-se o Espaço Chaminé, resultando do agrupamento da parte Este das ruínas, e ainda de um edifício construído nas imediações da chaminé, organizando-se um pequeno pátio entre ambos. Este espaço, apresenta duas frentes distintas, tendo frente para sul o edifício que foi recuperado, e frente para poente o edifício construído nas imediações da chaminé, sendo que o conjunto destes dois edifícios, deu origem a 3 apartamentos, dois no edifício recuperado, e um no edifício construído de novo. Por último, surge o Espaço Restauração, com frente para a rua da Restauração, albergando 11 apartamentos, e tendo sido construído integralmente de raíz.

Estes três espaços, Monchique, Chaminé e Restauração, têm ligação entre si. Para tal na entrada pela rua da Restauração desenvolve-se um amplo e extenso átrio, permitindo o acesso ao Espaço Restauração, bem como à escadaria, e elevador que dão acesso ao espaço Monchique, e ainda ao Espaço Chaminé, podendo o acesso a este espaço ser feito pela garagem ou pelo pátio exterior.

Inicialmente, as tipologias definidas eram mais pequenas, tendo sido este empreendimento pensado para 27 apartamentos. Devido á obrigação de redução da cércea do Edifício Restauração, e consequentemente a redução de um piso neste edifício, obrigatoriamente o número de apartamentos foi reduzido, sendo que, com alterações tipológicas futuras, deram origem a 17 fogos, como foi dito anteriormente. No Espaço Monchique, o projecto inicial definiu 10 fracções, com áreas na ordem dos 100 m, no entanto, após várias alterações, fundiram-se alguns dos espaços criados anteriormente, dando origem a apenas três fogos, com áreas muito mais amplas. A área total para aparcamento

automóvel ocupa 1755,4 m, dando origem um número bastante grande de lugares de aparcamento (47 lugares originalmente), muito superior ao que é habitual.

Os Espaços Monchique e Chaminé, foram espaços onde se mantiveram as fachadas, porém, o interior destes espaços é completamente novo, uma vez que pouco ou nada restava do interior dos edifícios que se encontravam nestes espaços. As paredes exteriores, foram convenientemente reabilitadas, tendo sido tirado o reboco existente, e posteriormente substituído por reboco à base de ligante hidráulico. A cantaria, foi limpa com os devidos cuidados, evitando-se soluções muito abrasivas para a mesma, que apesar de parecerem boas soluções nos primeiros anos, com o decorrer do tempo mostram-se rapidamente más soluções, pois acabam por danificar a pedra, e deixa-la mais exposta aos agentes climatéricos e poluição, contribuindo para a catálise do seu envelhecimento. O isolamento foi colocado na caixa-de-ar, entre a parede da fachada existente, e uma parede interior que foi construída paralelamente.

A nível estrutural, os Espaços Monchique, Restauração e Chaminé desenvolvem-se em estruturas porticadas de betão armado, assentes em fundações directas, sendo a compartimentação, e as paredes exteriores realizadas em tijolo cerâmico. A cobertura é realizada em telha cerâmica à cor natural, tendo no espaço restauração aberturas onde foram colocados painéis de vidro para permitirem a entrada de luz natural para os apartamentos correspondentes. Um aspecto particularmente interessante, foi a ideia de utilizar os blocos de granito existentes nas paredes em ruína, para realizar placas de granito, a serem usadas no Edifício Restauração, permitindo desta forma uma tonalidade condizente com o local e restante edificado.

Tirando partido da sua localização, o Conjunto Residencial Monchique tornou possível a coexistência do passado histórico do local e um novo conceito de habitação de qualidade com todas as características necessárias para fazer deste, um caso de sucesso e em perfeita sintonia com a malha urbana que o envolve.