• Nenhum resultado encontrado

A Recepção das Convenções 111/58 e 159/83 da OIT no Brasil

2 ABORDAGEM DA DEFICIÊNCIA NO PANORAMA LEGAL E NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

2.1 A Recepção das Convenções 111/58 e 159/83 da OIT no Brasil

Para realizar uma aproximação das noções de pessoa com deficiência,

igualdade de oportunidades e discriminação contra a pessoa com deficiência para a

política de cotas nas empresas brasileiras senti a necessidade de reconstituir alguns passos do processo referente à recepção da Convenção 159/83 da OIT (sobre Reabilitação Profissional e Emprego de “Pessoas Deficientes”) pelo nosso

ordenamento jurídico. Faço referência direta à possível influência no processo de formulação da “Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência” (Lei 7.853/89 e Decreto 3.298/1999) na formulação da “política de cotas nas empresas”(Lei 8.213/1991) e especificamente possíveis influências no contexto local.

Durante a análise, foi possível identificar que o Congresso Nacional aprovou a Convenção da OIT nº 159/83 por meio do Decreto Legislativo nº 51, de 25 de agosto de 1989, e que a Carta de Ratificação da Convenção foi depositada em 18 de maio de 1990. Constatei também que o Decreto nº 129, de 22 de Maio de 1991, recepcionou e promulgou a Convenção 159/83 da OIT, fazendo-a parte do nosso ordenamento jurídico. A Convenção nº 159/83 sobre Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes entrou em vigor para o Brasil somente em 18 de maio de 1991 (BRASIL, 2007e).

A lei que trata da “Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência”, que é de 24/10/1989, teve o seu processo legislativo influenciado pelas discussões ainda recentes do processo constituinte, bem como pelo processo de discussão para o acolhimento formal da Convenção 159/83 da OIT pelo Congresso Nacional.

O Decreto nº 129/1991, que promulgou e acolheu a Convenção da OIT nº 159/83 no ordenamento jurídico brasileiro, considerou literalmente no texto o fato de que “A Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou no ano de 1981 o Ano

Internacional das Pessoas Deficientes, com o tema ‘Participação plena e igualdade’ e o Programa de Ação Mundial para as pessoas com Deficiência que foi

aprovado pela Assembléia Geral das Nações Unidas em seu trigésimo sétimo período de sessões, pela Resolução 37/52, de 3 de dezembro de 1982. Este permitiria a adoção de medidas em nível nacional e internacional para atingir as metas da "participação plena" das pessoas deficientes na “vida social” e no “desenvolvimento”, assim como de "igualdade" (BRASIL, 2007e)

A Recepção da Convenção 159/83 da OIT no ordenamento jurídico brasileiro também teve como conseqüência a adoção da “noção de pessoa com deficiência” e a adoção formal da “finalidade da reabilitação profissional” a “todas” as categorias de “pessoas deficientes”.

2. Para efeitos dessa Convenção, todo o País Membro deverá considerar que a finalidade da reabilitação profissional é a de permitir que a pessoa deficiente obtenha e conserve um emprego e progrida no mesmo, e que se promova, assim a integração ou a reintegração dessa pessoa na sociedade. Art. 3. Essa política deverá ter por finalidade assegurar que existam medidas adequadas de reabilitação profissional ao alcance de todas as categorias de pessoas deficientes e promover oportunidades de emprego para as pessoas deficientes no mercado regular de trabalho (BRASIL, 2004a).

Percebi que a Convenção nº 159/83 da OIT influenciou (e influencia) o ordenamento jurídico brasileiro desde a Constituição Federal de 1988, passando pela Lei Federal Nº 7.853/89 e estendendo seus efeitos à Lei Federal Nº 8.213/91, que trata da “política pública de reabilitação de pessoas com deficiência” e da “política de cotas nas empresas”. Consta nesta Convenção que a legislação nacional deve ter por base o “princípio de igualdade de oportunidades” entre os “trabalhadores deficientes” e os demais trabalhadores.

Art. 4 Essa política deverá ter como base o princípio de igualdade de oportunidades entre os trabalhadores deficientes e os trabalhadores em geral. Dever-se-á respeitar a igualdade de oportunidades e de tratamento para as trabalhadoras deficientes. As medidas positivas especiais com a finalidade de atingir a igualdade efetiva de oportunidades e de tratamento entre os trabalhadores deficientes e os demais trabalhadores não devem ser vistas como discriminatórias em relação a estes últimos (BRASIL, 2004a, grifo nosso).

É possível inferir desta citação que o poder executivo estaria assim obrigando-se legalmente a promover “medidas positivas especiais”, ou seja, ações afirmativas com a finalidade de atingir a igualdade material (ou efetiva) entre os “trabalhadores deficientes” e demais trabalhadores. Obriga-se a promover estas ações afirmativas para as diversas categorias de “pessoas deficientes”.

EMPREGO PARA PESSOAS DEFICIENTES

Art. 2º - De acordo com as condições nacionais, experiências e possibilidades nacionais, cada País Membro formulará, aplicará e periodicamente revisará a política nacional sobre a reabilitação profissional e emprego de pessoas deficientes.

Art. 3º - Essa política deverá ter por finalidade assegurar que existam medidas adequadas de reabilitação profissional ao alcance de todas as categorias de pessoas deficientes e promover oportunidades de emprego para as pessoas deficientes no mercado regular de trabalho.

É relevante consignar neste ponto que a Convenção nº 159/1983 da OIT não ofertou uma “definição legal” para vários termos utilizados, entre eles o de “igualdade de oportunidades”. Estabeleceu, entretanto, que todo País Membro

aplicará os dispositivos da Convenção através de medidas adequadas às condições nacionais e de acordo com a experiência, costumes, uso e hábitos nacionais, e que estas medidas especiais não devem ser vistas como medida discriminatória

Essa política deverá ter como base o princípio de igualdade de oportunidades entre os trabalhadores deficientes e dos trabalhadores em geral. Dever-se-á respeitar a igualdade de oportunidades e de tratamento para as trabalhadoras deficientes. As medidas positivas especiais com a finalidade de atingir a igualdade efetiva de oportunidades e de tratamento entre trabalhadores deficientes e os demais trabalhadores não devem ser vistas como discriminatórias em relação a estes últimos (BRASIL, 2004a).

Compreendendo que essas noções estão a influenciar os modelos de atenção à pessoa com deficiência no Brasil, Faço referência direta aos paradigmas de integração e inclusão social que ainda estão em construção na sociedade. Exemplifico citando a existência de pressões no cenário nacional (e local) por alterações de definições legais das diversas categorias de pessoas com deficiência, bem como a disputa pela efetiva participação na formulação, execução e avaliação das políticas públicas. Vejo que isto é um bom indicativo de que esta questão social está na agenda pública para uma nova discussão nacional e local.

É no contexto da dinâmica social, onde se configura a transição dos paradigmas de atenção à pessoa com deficiência e das noções de pessoa com

deficiência, de igualdade de oportunidades e de discriminação, que busquei

identificar e a analisar a noção efetivamente válida de pessoa com deficiência para a aplicação da política de cotas nas empresas locais.