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O Plano Nacional de Direitos Humanos e a Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência

Percebi durante a análise da legislação sobre a Política Nacional de

Integração da Pessoa com Deficiência várias referências a outras normas

internacionais acolhidas pelo Brasil, bem como a imposição de adequação com grandes planos nacionais, a exemplo do Plano Nacional de Direitos Humanos de 1996, que foi instituído através do Decreto Federal nº 1.904/1996.

Assim, resolvi verificar as relações existentes entre a política de cotas nas empresas e o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH. Esta análise

permitiu identificar que, em tese, a “Política Nacional de Integração da Pessoa Portadora de Deficiência” deveria estar em consonância com o Programa Nacional de Direitos Humanos PNDH, de onde surgiram dois questionamentos: Consonância em quê? O que previu o PNDH para as pessoas com deficiência e sua inclusão nas empresas? As respostas fui buscar no estudo do “Programa Nacional de Direitos Humanos” - PNDH – e seus possíveis vínculos com a política nacional de integração

da pessoa portadora de deficiência com a política de cotas nas empresas nos termos da Lei nº 8.213/91.

Segundo o Programa Nacional de Direitos Humanos (BRASIL, 2007d), as ações relativas à execução e ao apoio do PNDH foram consideradas “prioritárias” e foram coordenadas pelo Ministério da Justiça. O PNDH tinha (tem) por objetivos: a identificação dos principais obstáculos à promoção e defesa dos “diretos humanos” no País; a implementação de atos e declarações internacionais, com a adesão brasileira, relacionados com “direitos humanos”; bem como a redução de condutas e atos de “violência”, “intolerância” e “discriminação”, com reflexos na diminuição das “desigualdades sociais”.

Procurei identificar durante as entrevistas realizadas com os sujeitos relevantes da política de cotas no contexto local qual teria sido a possível influência percebida do PNDH. Foi somente entre as “pessoas com deficiência” participantes de ONGs que encontrei uma possível percepção (e ainda de forma muito tênue) de relação entre as ações do PNDH e as ações da política de cotas local.

As pessoas com deficiência participantes de ONGs, as representantes das empresas e até representantes do poder público não conseguiram identificar as

supostas ações ocorridas por força do PNDH em nível local, destinadas às pessoas com deficiência. As pessoas com deficiência expressaram a percepção que, em São Luís, o Estado passou a dar mais atenção à pessoa com deficiência no período de 1996 a 200056. Porém, atribuíram as conquistas não às possíveis ações do PNDH (1996) ou à suposta implementação da política de cotas nas empresas (que só começou a ser implementada em São Luís no ano de 2000), mas sim à prática das ONGs de “denunciar”, através do Fórum de entidades, as supostas “omissões e discriminações” praticadas pelo Estado (União, Estados e Municípios) e da própria sociedade local. Segundo Araney Rabelo da Costa:

[...] eu realmente não sei dizer em que esse plano de direitos humanos aí [PNDH] foi importante mesmo pra gente [...] eu acho que isso é um projeto que ficou lá por cima [...] eu acho que o que decidiu mesmo foi que em todo lugar [outros estados] a gente foi pra rua denunciar esses abusos, inclusive aqui [São Luís]. Basta ver nos jornais Foi aí que eles começaram a ouvir a gente[...]; [...] foi por causa deste movimento que resolveram criar a Promotoria Especializada [Promotoria Especializada em Defesa dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência e do Idoso]; já tava pegando mal até pra eles [para o Ministério Público Estadual], até eles já “tavam” começando a se queimar com a gente[...]. (Informação verbal, grifo nosso)57

Assim, percebi que as pessoas interessadas somente conseguiram fazer uma aproximação no aspecto temporal, citando vagamente possíveis influências em razão do aparecimento de ações isoladas no cenário nacional por parte do Poder Público federal. Foi ainda relatado um inicio de articulação local entre as ONGs representativas das pessoas com patologias e com deficiências para pressionar o Poder Público estadual e municipal, inclusive em relação à questão de trabalho para a pessoa com deficiência.

A maioria das leis já existiam há muito tempo, mas o pessoal [Poder Público] sempre dizia que precisava “regulamentar” [falou com ênfase], sempre faltava “isso”, faltava “aquilo”[...], foi aí que o pessoal [integrantes de ONGs de outros estados] passou a pressionar lá em Brasília para dar logo um jeito nisso[...]; [...] aqui o movimento ainda tava se organizando, a gente não tinha a compreensão que se tem hoje [2006], mas lá [em Brasília] as entidades já estavam mais organizadas[...]; aqui a gente ainda tava se organizando, o pessoal foi criando outras entidades, o CVI-MA rachou por causa do projeto [Superar] da Alumar, eles não queriam aceitar que o CVI indicasse pessoas para fazer estágio lá porque eles não queriam

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Faço referência ao período anterior ao que me propus analisar em virtude da necessidade de caracterizar melhor o início do período de apresentação do PBGR em São Luís-MA e a sua conjuntura.

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cadeirante, cego e pessoas que tivessem dificuldade de andar [...]; aí o pessoal criou a ALM (Associação do Lesado Medular); depois disso é que vieram os Fóruns [de pessoas com patologia e de pessoas com deficiência]. (Informação verbal)58.

O anexo do Decreto que estabeleceu o PNDH (Decreto nº 1.904/1966) permitiu identificar as possíveis propostas de ações governamentais referentes à política de cotas nas empresas para as pessoas “portadoras de deficiência”. Estas apresentaram um horizonte temporal identificado como de “curto”, “médio” e “longo” prazos:

Pessoas portadoras de deficiência Curto prazo

Formular políticas de atenção às pessoas portadoras de deficiência, para a implementação de uma estratégia nacional de integração das ações governamentais e não-governamentais, com vistas ao efetivo cumprimento do Decreto nº 914, de 6 de setembro de 1993.

Propor normas relativas ao acesso do portador de deficiência ao mercado de trabalho e no serviço público, nos termos do artigo 37, VIII da Constituição Federal.

Adotar medidas que possibilitem o acesso das pessoas portadoras de deficiências às informações veiculadas pelos meios de comunicação. Médio prazo

Formular programa de educação para pessoas portadoras de deficiência. Implementar o programa de remoção de barreiras físicas que impedem ou dificultam a locomoção das pessoas portadoras de deficiência, ampliando o acesso às cidades históricas, turísticas, estâncias hidrominerais e grandes centros urbanos, como vistos no projeto "Cidade para Todos".

Longo prazo

Conceber sistemas de informações com a definição de bases de dados relativamente a pessoas portadores de deficiência, à legislação, ajudas técnicas, bibliografia e capacitação na área de reabilitação e atendimento (ANEXO DO DECRETO QUE ESTABELECEU O PNDH, 2007).

Percebo que muitas das propostas de ações governamentais já foram implementadas no Brasil, inclusive com alcance em São Luís do Maranhão. Entretanto, o levantamento bibliográfico realizado me permite apontar que existem poucos estudos em nível de mestrado e doutorado acerca das ações que foram efetivamente implementadas, principalmente acerca da política de cotas nas empresas.

Aponto que, embora muitas das propostas previstas no PNDH tenham sido regulamentadas no plano formal, a exemplo da política de cotas nas empresas, muitas estão se configurando como demandas recorrentes, pois vejo que são objeto

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de inúmeras estratégias que apresentam supostos resultados colocados em xeque pelos segmentos contemplados formalmente (e não atendidos efetivamente) e por segmentos se quer contemplados no nível formal.59