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3.2 A Rede de Distribuição de Automóveis

3.2.4 A Rede de Distribuição no Brasil

O sistema brasileiro de distribuição de automóveis novos utiliza atualmente dois canais para atingir seus consumidores: a rede de concessionárias e a Internet (Grande, 2004).

A rede de concessionárias no Brasil opera baseada, principalmente, nas cinco funções integradas: venda de novos, venda de usados, serviços, distribuição de peças e financi- amento. Cada montadora é responsável por definir sua própria rede, na qual cada loja comercializa apenas a marca do fabricante.

O sistema de distribuição brasileiro é composto por aproximadamente 2.300 concessio- nárias (ANFAVEA, 2006) que em 2005 comercializaram cerca de 1,6 milhões de automóveis (Anuário da distribuição de veículos automotores no Brasil 2005, 2006).

Ao contrário dos Estados Unidos e da Europa a estrutura de distribuição de veículos no Brasil apóia-se em pequenas e médias empresas familiares, correspondendo a mais de 80% das revendas. A presença de megadealers, 0,3% das franquias brasileiras, ainda é muito baixa se comparada à Europa e aos Estados Unidos. A Tabela 3.6 apresenta o percentual das empresas pequenas (vendem até 20 veículos por mês), médias (vendem de 21 a 50 veículos por mês), médias grande (vendem de 51 a 100 veículos por mês), grande (vendem de 101 a 400 veículos por mês) e megadealers (vendem mais de 401 veículos por mês) (FENABRAVE, apud Ferreira, 2006).

Tabela 3.6: Participação de concessionárias pequenas, médias, médias grande, grandes e mega- dealers no número total de revendas da rede de distribuição de veículos.

Porte das Revendas Percentual de Concessionárias

Pequenas 45,5

Média 35,6

Média Grande 11,9

Grande 5,7

Megadealers 0,3

Já a participação das empresas no faturamento total do setor ocorre de maneira mais homogênea. A metade desse faturamento encontra-se com as pequenas e médias conces- sionárias, a outra metade com as médias grande, grandes e megadealers, como pode ser observado na Tabela 3.7.

Tabela 3.7: Participação de concessionárias pequenas, médias, médias grande, grande e megade- alers no faturamento total da rede de distribuição de veículos.

Porte das Revendas Percentual do Faturamento

Pequenas 27,8

Média 24,8

Média Grande 18,0

Grande 23,0

Megadealers 6,8

Fonte: FENABRAVE apud Ferreira (2006).

No que diz respeito à formação do lucro das empresas distribuidoras de veículos novos, as revendas brasileiras dependem principalmente das vendas de carros novos, represen- tando mais da metade da fonte de lucro. Em segundo e terceiro lugar vêm a distribuição de partes e serviços e as vendas de veículos usados respectivamente. É importante desta- car que esse comportamento faz que a rede de distribuição de automóveis no Brasil esteja mais vulnerável à crise que vem acometendo o setor.

Tabela 3.8: Participação das principais atividades da concessionária na formação do lucro total em 2001.

Atividade Participação no lucro total (%)

Venda de carros novos 55,0

Venda de carros usados 25,0

Dist. peças e serviços 10,0

Fonte: FENABRAVE e ASSOBRAV apud Grande (2004).

O sistema de distribuição brasileiro possui algumas características específicas. As revendas normalmente trabalham com altos estoques de carros novos, isso acontece pois as montadoras estabeleceram um sistema de quotas. Esse sistema obriga as concessionárias a adquirirem, junto às montadoras, determinado volume e modelos de carros, independente da demanda por esses veículos. Assim, automóveis com baixa demanda se acumulam nos

pátios das concessionárias (Grande, 2004). A utilização desse modelo de comercialização também é comum no fornecimento de peças de reposição pelas montadoras às franquias. A partir da década de noventa, a rede de distribuição brasileira começou a ser pressi- onada pelos fabricantes de automóveis, como ocorreu no restante do mundo, em busca de competitividade e eficiência. Desde então as concessionárias do Brasil testemunham uma redução em suas margens de lucros, as montadoras passaram a fazer exigências quanto à melhoria das instalações físicas, equipamentos e ferramentas, e qualificação de pessoal. Com isso, as operações de pequenas revendas vêm se extinguindo e, como nos Estados Unidos e Europa, vêm ocorrendo graduais redução no número de concessionárias (prin- cipalmente Ford, Volkswagen, Fiat e GM) e concentração de capital. Grandes grupos que operam franquias de várias marcas começaram a surgir e ganhar força desde então (Grande, 2004).

Tabela 3.9: Variação no número de concessionárias das principais montadoras no Brasil entre 2000 e 2004.

Rede Variação no número de concessionárias entre 2000 - 2004 (%)

Volkswagen −17, 7 GM −23, 3 Ford −9, 4 Fiat −41, 5 Peugeot 35, 6 Renault 229, 0 Toyota 89, 0 Honda 200, 0

Fonte: Compilação Anuário da indústria automobilística brasileira 2005 (2006) e Grande (2004).

A Tabela 3.9 apresenta a redução no número de concessionárias de veículos das marcas no país. É importante explicar que, no Brasil, os impactos das transformações do sistema de distribuição estão sendo sentidos em maior grau pelas concessionárias das marcas Ford, Volkswagen, Fiat e GM. Isso ocorre pois, até o início dos anos noventa, apenas esses fabricantes possuíam uma infra-estrutura de distribuição montada no país. Com a abertura do mercado automobilístico brasileiro, a busca por competitividade obrigou essas quatro marcas a reestruturar todos os setores da cadeia automotiva, inclusive o de distribuição, afetando o funcionamento das revendas já existentes. Ao mesmo tempo, as novas empresas que se instalaram no país montaram uma rede de distribuição mais

adequada à realidade, não precisando passar por grandes alterações. É por esse motivo que, enquanto as empresas instaladas nos últimos dez anos encontram-se em processo de expansão das suas franquias, as quatro marcas líderes no mercado sofrem reduções no número de concessionárias e concentração de capital.

A comercialização de veículos novos pela Internet é um fenômeno relativamente re- cente no Brasil, inciando-se nos primeiros anos do século XXI. A sua implementação gerou bastante polêmica pois, a legislação brasileira que regulamenta o setor de distribuição só admite a negociação direta de veículos novos entre montadoras e consumidores em ca- sos específicos. Como a venda de veículos pelas montadoras por meio da Internet não se enquadrava em nenhum desses casos, os distribuidores, por meio da FENABRAVE — Federação Nacional de Distribução de Veículos Automotores —, reagiram procurando negociar regras para essa modalidade de comércio. Ficou estabelecido que as concessio- nárias seriam responsáveis tanto pela entrega do produto quanto por uma revisão inicial no carro, por esses serviços as montadoras pagariam uma comissão (Grande, 2004).