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3.4 A Crise do Setor

3.4.2 Pressões do Mercado Automotivo

No início do século XXI, além das alterações estabelecidas pelas montadoras, a rede de distribuição passou a lidar com fatores que têm pressionado, cada vez mais, as con- cessionárias. As mudanças na própria cadeia automotiva e em fatores sociais, políticos e culturais ocorridas nas últimas décadas, fizeram que o mercado automotivo também passasse a exigir da rede de distribuição modificações em sua estrutura.

A seguir, encontram-se alguns dos principais pontos do mercado automotivo que vêm colocando em risco a sobrevivência do setor na maioria dos países:

• Competição entre franquias da mesma marca:

Segundo Arbix e Veiga (2003) a queda da rentabilidade que ocorre entre as concessio- nárias também está ligada à alta fragmentação da rede, ou seja, à grande quantidade de revendas de uma mesma marca no mercado. O resultado disso é uma desgastante competição entre franquias de uma mesma marca, na qual, quem sai perdendo são as próprias concessionárias por não atingir volume de vendas necessárias para obter abatimento nos custos e ganho de escala.

• O aumento e fortalecimento de agentes do mercado:

O fortalecimento de alguns atores do mercado automotivo vem atrapalhando a ten- tativa das concessionárias de obterem maior parcela do seu lucro em atividades como distribuição de peças e serviços e venda de carros usados.

O surgimento de grandes redes especializadas em manutenção e serviços automotivos vem ameaçando as atividades das revendas, a razão disso é a oferta de serviços de boa qualidade a preços bastante competitivos por essas redes (Mercer, 1994). Os altos valores cobrados pelas franquias nos serviços de manutenção também inibem os consumidores a continuar utilizando essa opção após o término da garantia. É importante destacar que o setor de venda de carros usados fora das concessioná- rias também andou se fortalecendo nos últimos anos, um bom exemplo é o que vem acontecendo nesse setor na cidade de Recife, em Pernambuco. Há alguns anos, o fragmentado mercado de veículos usados fora das concessionárias iniciou um movi- mento de concentração com a criação de grandes grupos de lojas associadas. Esses grupos passaram então a oferecer aos consumidores maior garantia da procedência do produto, maior número de financiamento e redução nas taxas de juros (Silveira, 2005), condições bastante semelhantes ao que é oferecido pelo setor de venda de carros usados das concessionárias a seus clientes.

• Surgimento de novos canais de comercialização:

O surgimento de novos canais de comercialização de automóveis também interfere na tradicional rede de distribuição de veículos. A Internet surgiu como meio das montadoras entrarem em contato direto com seus consumidores, usando as redes de concessionárias apenas como ponto de entrega do produto. As montadoras passaram a disponibilizar em suas páginas na Internet ferramentas que dão aos consumidores maior variedade de produtos, permitindo que as pessoas montem veículos perso- nalisados, escolhendo desde a cor até os opcionais de sua preferência. Destaca-se que, embora de forma mais tímida, as revendas também vêm utilizando esse canal para disponibilizar seus serviços. O advento da Internet também motivou a criação de novos atores como os cybermediaries, sites que disponilizam busca por veículos, comparação de preços e de produto, informações detalhadas sobre os automóveis, e chegam até a iniciar o processo de compras (Selz & Klein, 1998).

Segundo a E-Consulting e a Câmara-e.Net2, no Brasil, em 2005, as vendas de auto- móveis pela Internet totalizaram R$5,1 bilhões, o que corresponde a 53% do valor total de produtos comercializados por esse canal. Ainda segundo a E-Consulting e a Câmara-e.Net, a Internet também vem se destacando como fonte de informação antes da compra de automóveis, no Brasil 66% das pessoas que compram veículos de valor acima de R$60 mil utilizam informações extraidas da Internet durante o processo de decisão.

• Regulamentação:

Como foi visto anteriormente, a regulamentação do setor de distribuição de automó- veis pode contribuir de forma positiva ou negativa para as atividades das revendas. Em países como o Brasil, a legislação que regula a distribuição protege principal- mente os interesse das montadoras, permitindo que as marcas estabeleçam cláusulas abusivas e difíceis de serem cumpridas, como o estabelecimento de quotas de com- pra e a manutenção obrigatória de estoque. Normas desse tipo vêm frustrando, até certo ponto, a adaptação das concessionárias à nova realidade.

2Disponível em:http://www.camara-e.net/pesquisa.asp?txtPesquisa=autom%F3veis. Último acesso em 07/02/2007.

• Mudança de postura do consumidor:

A rede de distribuição automotiva também se depara com o novo perfil dos consumi- dores. O aumento da variedade de automóveis e o fácil acesso a informações sobre os mesmos, em canais como televisão e Internet, são alguns dos fatores que têm modificado bastante a postura dos consumidores. Mais exigentes, críticos, ousados e bem informados, tanto em relação aos seus direitos quanto às características dos veículos, eles passaram a demandar melhores serviços, produtos e atendimento. Um bom exemplo disso é a importância que os consumidores têm dado ao bom atendimento. Segundo resultados obtidos na pesquisa de Sampaio et. al. (2004), na questão: influência do ambiente da concessionária na decisão da compra de carros novos, o fator atendimento foi escolhido como mais importante, por 55,8% dos entrevistados, entre as opções: conforto da loja, ser cliente há muito tempo, localização, boa reputação, facilidades concedidas e confiança na assistência técnica. Está claro que a rede de distribuição encontra-se esmagada entre as montadoras e o próprio mercado automotivo. Diante desse cenário, os revendedores de veículos vêm tomando iniciativas para garantir o seu espaço na cadeia automotiva.