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(EAD) 75 4.1 Apresentação do Problema e hipóteses de investigação

2 A UNIVERSIDADE NO BRASIL E SUA AVALIAÇÃO

2.3 A redefinição do papel do Estado: de Sarney a Itamar Franco (1985-1994)

Com o fim do regime militar, o período Sarney caracterizou-se pela redemocratização nacional. Logo em seus primeiros dias de governo, foi instituída a Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES), cujo Relatório Final subsidiou a redação da nova Constituição federal que estava sendo elaborada. A Constituição Federal de 1988, seguindo as diretrizes do referido relatório, reafirmou a indissociabilidade das atividades de

ensino, pesquisa e extensão na contextura universitária, bem como a autonomia das

universidades.

O grande esforço do governo Sarney para promulgar a Constituição – pedra fundamental para qualquer outro marco regulatório – adiou, entretanto, a implantação de importantes mudanças específicas nos vários setores da sociedade, dentre eles a educação. Além disso, o atraso na implantação de mudanças específicas foi ainda maior, pelo fato de o governo Collor, que sucedeu o de Sarney, ter sido breve, repleto de problemas, e logo substituído pelo governo Itamar Franco, também de curta duração.

Muitas das melhorias na área de educação, esperadas com o término do regime militar e com a promulgação de uma nova Constituição, tiveram que aguardar. De qualquer forma, algo significativo havia mudado com Collor/Itamar Franco. Nos anos 1980, período da Assembléia Constituinte, as políticas públicas tinham como eixo principal “a democratização da escola mediante a universalização do aceso e a gestão democrática, centrada na formação do cidadão.” Já nos anos 1990, “ocorreu uma mudança desta centralidade, passando-se a enfatizar a qualidade, entendida como produtividade, e o eixo deslocou-se para a busca de maior eficiência e eficácia.” (PERONI, 2003, p. 73).

A mudança de foco se justifica pela franca expansão do número de matrículas, após a reorganização da educação brasileira com a Constituição de 1988 – não bastava crescer, era fundamental crescer com qualidade.

A Constituição de 1988 fez referência a uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), atribuindo à União a competência de legislar privativamente sobre esta e a um Plano Nacional de Educação com duração plurianual a ser estabelecido. A nova LDB demorou, entretanto, oito anos para ser finalizada, o que ocorreu apenas no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1996 (BRASIL, 1996a). Mais cinco anos se passaram até a publicação do Plano Nacional de Educação (PNE), em 2001 (BRASIL, 2001).

Constituição ao PNE – como fase de transição em que “o Brasil é palco de mudanças em sua ordem econômica, política, social e cultural”; e esclarecem que “o retorno à democracia no Brasil, não se dá por simples outorga ou concessão dos militares [...] trata-se de uma conquista lenta.”

2.3.1 Avaliação do ensino superior: PAIUB (1993-1994)

Fase intermediária (CNRES e GERES)

O PARU mal tinha começado, quando houve a mudança não apenas de governo, mas também de um governo militar para um civil, com a posse de Sarney, em janeiro 1985. Em março deste ano, foi instituída a Comissão Nacional para Reformulação da Educação Superior (CNRES) “destinada a oferecer subsídios à formulação de uma nova política para a educação superior brasileira”. Em novembro do mesmo ano, a Comissão divulgou o relatório final do seu trabalho, intitulado “Uma nova política para a educação superior brasileira” (CNRES, 1985).

Com base no parecer da CNRES, que tinha caráter consultivo, em 1986, foi instituído o Grupo Executivo para a Reformulação da Educação Superior (GERES), interno ao MEC, com a função de elaborar uma proposta de reforma universitária. O grupo tinha o propósito de analisar o relatório da CNRES, separando o que era imediatamente implementável daquilo que precisaria de mais ampla discussão com a comunidade universitária ou de um ordenamento jurídico elaborado.

O grupo tratou, prioritariamente, do segmento federal do sistema de ensino superior, “no qual, por força de legislações que escapam ao âmbito estritamente educacional, as instituições estão mais submetidas a normas e regulamentos que tolhem a sua autonomia e potencial de desempenho” (GERES, 1986, p. 2), herança da última reforma realizada no governo militar. Quanto ao setor privado, principalmente em questões relativas ao seu financiamento, “considerou o GERES requererem debate mais aprofundado, inclusive no âmbito da Assembleia Nacional Constituinte.” Para Barreyro e Rothen (2008, p. 145), o GERES não priorizou o ensino privado, por entender que “esse setor depende do sucesso do seu produto para obter os recursos para a sua manutenção e expansão” e, portanto, já estaria sendo regulado de alguma forma.

O relatório do GERES tratou de questões estruturais prioritárias, de cunho administrativo, e deixou o debate sobre a reorganização do ensino superior brasileiro mais

amplo para a Assembleia Constituinte. Na prática, isso dizia que uma reforma universitária só sairia após a Constituição, que veio a ser promulgada em 1988.

A revogação da Lei da Reforma Universitária de 1968, porém, não se realizou com a Constituição de 1988, por ser esta última um documento de propósito muito amplo. A revogação só ocorreu com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, oito anos mais tarde, já no governo Fernando Henrique Cardoso (BRASIL, 1996a).

PAIUB – Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (1993-1994)

Visando à retomada do debate sobre avaliação da universidade brasileira, ainda incipiente, mais uma nova comissão foi criada, então no governo Itamar Franco. Em julho de 1993, foi criada a Comissão Nacional de Avaliação das Universidades Brasileiras com objetivo de estabelecer diretrizes e viabilizar a implementação do processo de avaliação

institucional nas universidades brasileiras (MEC, 1993). Ela deveria sugerir detalhadamente

o trabalho para os anos de 1993 e 1994, período igual ao breve tempo que restava do governo Itamar.

Pela primeira vez, uma comissão desta natureza não era formada por especialistas, mas de representantes de instituições3, assegurando que seus resultados tivessem legitimidade política e que fossem rapidamente aprovados pelas universidades.

A Comissão Nacional publicou seus resultados em novembro de 1993, por meio do Documento Básico – Avaliação da Universidade Brasileira: uma Proposta Nacional. No mês seguinte, foi criado o Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB), a primeira tentativa de implantar um sistema nacional de avaliação

institucional para a educação superior no Brasil (POLIDORI et al., 2006, p. 427).

O PAIUB adentrou o governo Fernando Henrique Cardoso e recebeu novas adesões por meio de editais, mesmo com a gradual redução do apoio pelo MEC nesse novo governo. Sua extinção, não oficialmente mas por falta de financiamento, ocorreu com a introdução de novas políticas para a avaliação do ensino superior em 1996 (POLIDORI et al., 2006, p. 428).