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A reestruturação do capital e a resistência operária

Na década da crise econômica (2008-2018), os conflitos entre o capital e o trabalho se deram em distintas formas, incluindo formas indiretas, em que o proletariado não era o sujeito hegemônico das manifestações, mas nem por isso elas deixaram de ser formas de resistência ao metabolismo do capital na década da crise. Entre esses processos, poderíamos destacar os grandes processos revolucionários de massas como os que ocorreram no início da primavera árabe, mobilizações internacionais da juventude, o movimento feminista, movimento negro, movimentos LGBTs, entre outros. No entanto, um olhar mais acurado para a dinâmica da crise pode possibilitar perceber que o que antecedeu esses grandes fenômenos políticos e movimentos sociais foram grandes batalhas de resistência da classe trabalhadora contra os planos de austeridade, entre as quais a mais destacável foram as greves gerais na Grécia.

Entre os fatores que apontamos como fundamentais para a reestruturação do capital no interior da crise estavam os planos de austeridade, já que as distintas medidas econômicas dos pacotes propostos buscavam acelerar as consequências de precarização do mundo operário. Dessa forma, as reflexões que fizemos sobre o processo em curso de uma nova reestruturação produtiva na década ora referida correm em paralelo com os processos de resistência e a emergência do proletariado no interior da crise, que se não podemos dizer que é o que se destaca – afinal, a rigor, não vivenciamos nenhum processo ainda de revoluções ou rebeliões claramente proletárias –, não se pode dizer que não houve processos de relevância.

Kurt Vandaele (2016) apresenta um gráfico que trata das greves gerais63 e ameaças de greve64 (strike threads) no oeste europeu entre 1995 e 2015, em que se pode ver o pico de ações dos trabalhadores no ano de 2010:

63 O próprio conceito de greve geral, a rigor, poderia ser problematizado, já que distintos pesquisadores

trabalham com diferenças entre esses conceitos, até mesmo considerando a própria noção de paralisação nacional de um dia como uma greve geral. De todo modo, a pesquisa apresentada pode dar uma noção aproximada das ações mais intensas dos trabalhadores tomando a greve geral nesse sentido mais “amplo”.

64 Por “strike threads”, os autores consideram o seguinte: “Às vezes, a mera ameaça de ação grevista

pode induzir uma resposta do governo. Portanto, também olhamos para as ameaças de greve geral, mesmo quando a greve não ocorreu. Para contar como uma ‘ameaça’, uma liderança de um sindicato ou confederação sindical teve que declarar sua intenção de convocar uma greve geral em uma questão

Figura 10. Greves gerais (incluindo ameaças) no oeste europeu desde 1995

A partir dos dados do gráfico, poderíamos falar em ao menos 65 greves gerais ou ameaças de greve que fizeram governos recuarem após a crise de 2008 até o ano de 2015, um número enorme de greves das quais as batalhas contra os planos de austeridade são onde se encontra o maior número, com 14 greves gerais só em 2010. Outro dado a se destacar está na análise do movimento operário grego, em que se apontam 25 greves gerais entre 2000 e 2015. Disso podemos extrair mais “graficamente” a análise segundo a qual o período em que, em sentido estrito, podemos nos referir como “a grande recessão”, que são os dois anos que seguem a crise de 2008, é o momento em que vai se apresentar mais intensamente a resistência operária, ou seja, em que categoricamente o proletariado entra em cena em distintos lugares do mundo, sobretudo na Europa dos planos de austeridade.

específica e em uma determinada data”, no texto Striking Concessions from Governments: Explaining the Success of General Strikes in Western Europe, 1980-2009” de Kerstin Hamann, Alison Johnston, and John Kelly.

Um segundo gráfico65 traça a comparação dos países nos quais mais houve processos de resistência, entre os quais figuram Grécia, Itália, Portugal e Espanha.

Figura 11. Número de greves gerais nos países da Europa do Sul – 2002 -2011

O destaque para a Grécia se refere não a que tenha sido o único país com lutas importantes, mas onde elas foram expressivamente mais intensas.

Conforme escrevem Rüdig & Karyotis (2014, p. 488):

Embora protestos contra a austeridade possam ser vistos em muitos países, a crise da dívida soberana na zona do euro, que se acelerou em 2010, fornece um foco específico. O país na vanguarda desse desenvolvimento é a Grécia. Para evitar uma inadimplência desordenada em sua dívida, em maio de 2010, o governo socialista do PASOK negociou o maior empréstimo já recebido por um único país ($110 bilhões) em troca da promulgação de um programa de ajuste estrutural draconiano. A Grécia, evidentemente, não era o único país a enfrentar problemas econômicos agudos e a ser forçada a adotar políticas de austeridade. Espanha, Itália e Portugal no sul da Europa, assim como a Irlanda e o Reino Unido, entre outros, também estavam em posições semelhantes. No entanto, o protesto contra a austeridade parece ter sido, pelo menos até agora, muito mais intenso na Grécia do que em outros lugares, inclusive em comparação com países que também tiveram que recorrer a resgates financeiros internacionais (tradução nossa)

Isto posto e ao passar à abordagem do movimento operário grego contra a austeridade, podemos buscar identificar algumas ondas no interior dos conflitos contra os planos de austeridade no pós-crise, em que consideramos que existem diferenças destacáveis de uma para outra onda. Particularmente a partir de 2011 – quando no

65 Extraído do texto “Who Protests in Greece? Mass Opposition to Austerity” [Quem protesta na

início do ano alguns ditadores caíram com protestos massivos no Oriente Médio e, em seguida, com o desenvolvimento das lutas estudantis na Europa – entra-se em uma nova fase na qual não mais se poderá dissociar as lutas de resistência aos planos de austeridade do que significou, em distintos países, a confluência da juventude com o

movimento operário. No caso particular da Grécia, esse encontro se deu nas praças,

como nas mobilizações na Syntagma.

Georgios Karyotis e Wolfgang Rüdig (2017, p. 161), em um outro estudo realizado sobre os protestos na Grécia, apontam para essa diferenciação em três grandes ondas:

A primeira onda consiste no protesto em massa contra a austeridade que surgiu em 2010 e se intensificou após o acordo de resgate em maio (...). A segunda onda de protestos ocorreu em 2011 e viu não apenas um aumento adicional na participação (...), mas também uma expansão de suas atividades, notadamente com a ocupação de praças centrais por um novo movimento inspirado nos Indignados chamado Αγανακτισμένοι (Aganaktismeni) (...). Uma terceira onda de mobilização, a partir de meados de 2012, coincidiu com uma mudança parcial de foco das ruas para a arena eleitoral, com um partido anteriormente marginal, a Coligação da Esquerda Radical (SYRIZA), estabelecendo-se como o principal partido do movimento

Neste trabalho, queremos tratar especificamente das lutas da “primeira onda”, nos detendo mais brevemente no conteúdo do plano de austeridade anunciado pelo governo grego e contra o qual os trabalhadores se embateram.

Os planos de austeridade baseavam-se em conseguir um corte orçamentário de 30 bilhões de euros em três anos, reduzindo o que apontavam como “déficit público” a menos de 3% do PIB até 2014, o que correspondia a mais de 10% de redução posto que em 2011 (ano da medida) atingia 13,6%. Em troca, oferecia-se bilhões em empréstimos do FMI. Entre os principais pontos do plano de austeridade que queremos destacar aqui, que podemos retirar do The economic adjustment

programme for Greece66, relatório da Comissão Europeia, estão67:

66 Cf.: http://ec.europa.eu/economy_finance/publications/occasional_paper/2010/pdf/ocp61_en.pdf 67 Uma síntese dessas medidas pode ser acessada na matéria: Greece's austerity measures, da BCC,

• No setor público, as medidas eram draconianas: não apenas congelava qualquer aumento ou medida de valorização do trabalho, mas incluía ataques de grandes dimensões às atuais condições de trabalho, incluindo um congelamento de pagamentos para trabalhadores do setor público e demissões em alguns setores; agrega-se a isso que mesmo as medidas meritocráticas de bônus foram questionadas, com pagamentos realizados no Natal, na Páscoa e nas férias de verão anulados – substituídos por uma quantia significativamente menor, e naturalmente questionando qualquer outra política de bônus ou benefício ao trabalho.

• Privatizações: como parte também do “enxugamento da máquina pública”, que nada mais é do que uma destruição dos serviços públicos e das condições de trabalho dos funcionários, a proposta era uma generalização das privatizações, incluindo setores primários e secundários da economia.

• Uma reforma da previdência, que buscava combinar um duro ataque ao setor público, aumentando em alguns casos 10-15 anos do tempo de trabalho para a aposentadoria, e condicionando, em geral, a aposentadoria à expectativa de vida no país, com idade mínima de 65 e aumentando progressivamente até 2020, com 40 anos no mínimo de trabalho. Além disso, os mesmos bônus que foram cortados nos servidores públicos (de Natal, Páscoa e férias de verão) também foram anulados para os aposentados. Por fim, diminuindo o valor das aposentadorias, não mais tomando o salário final, mas sim o salário médio do trabalhador.

• Aumento de impostos: o imposto sobre valor agregado, implementado em toda União Europeia, que taxa em todos os níveis os bens e serviços, seria aumentado de 21% para 23%.

Dessa maneira, o que marca a primeira fase da reestruturação do capital no epicentro da crise, tendo a Grécia como laboratório, é uma nova rodada, ainda mais profunda, dos “remédios” neoliberais: cortes de salário e demissões no funcionalismo público, reforma da previdência, privatizações e mais impostos (esse último não como parte do receituário oficial, mas muitas vezes aplicado na receita prática neoliberal).

O que existe de novo nessa velha fórmula? O grau de intensidade com que isso acontece em países de capitalismo avançado, como Grécia, Portugal, Espanha, Itália, por um lado, e a disputa imperialista que começa a gestar-se na União Europeia, com as potências mais fortes (sobretudo Alemanha, França e Inglaterra) buscando todas as formas de aumentar a dependência dos países de segunda linha no cenário europeu, impondo aos trabalhadores desses países condições de trabalho e de vida que se assemelham mais aos países do sul do mundo. Ainda assim, essas medidas isoladas não conformariam uma diferença qualitativa em relação à reestruturação neoliberal, era preciso a combinação com demais medidas, como apontamos no tópico anterior.

Desse ponto de vista, a primeira grande entrada em cena da classe trabalhadora com uma sequência de greves gerais, apesar do nível de controle significativo por parte da burocracia sindical, ocorreu na Grécia contra as medidas de austeridade da crise, ou seja, uma batalha do proletariado e suas entidades de classe contra as reminiscências neoliberais que se expressavam com vigor no interior da crise. Já em conexão com os movimentos de juventude e sob os impactos da Primavera Árabe, as lutas seguiram nos anos seguintes, no entanto, sem conseguir apresentar organização que pudesse barrar as medidas de austeridade.

A frente única defensiva, sem a qual a frente única ofensiva e os sovietes são impensáveis, foi um dos grandes ausentes durante todo o primeiro ciclo de lutas de classes que vai desde 2010 até 2012, com dezenas de greves gerais, mobilizações de massa e enfrentamentos com a polícia. (ALBAMONTE; MAIELLO, 2017, p. 28 – tradução nossa).

Com os sindicatos principais ainda colocando importantes limites ao movimento, ainda muito atrelados ao “socialista” PASOK, terminaram por resultar em importantes derrotas para os trabalhadores gregos e imposição das medidas de austeridade.

Conforme escreveu Claudia Cinatti (2012, p. 20) em 2012, no calor dos processos:

Os dados indicam que está havendo uma depressão: em 2012 a economia irá se contrair pelo quinto ano consecutivo, desta vez em 7%; o desemprego oficial está em torno de 22%, trabalhadores públicos e aposentados perderam em média um terço de seus ingressos e a dívida, logo após a quitação, acordada com a assinatura do memorando, ascende em torno de 113% do PIB. Os planos de ajuste exigidos pela troika não fazem mais que agravar esta situação. No marco desta catástrofe social e econômica e da crise dos partidos tradicionais, nos últimos dois anos se desenvolveu uma grande variedade de formas de luta: setoriais e mobilizações de massa; a emergência do “movimento das praças”, similar aos “indignados” espanhóis que durante dias ocupou a praça Syntagma e cercaram o parlamento; experiências minoritárias, porém significativas de ocupação e operação por parte de seus trabalhadores de estabelecimentos como o jornal Elefthrotypia, mesmo que lamentavelmente esta experiência não tenha se consolidado; e lutas operárias difíceis e prolongadas, talvez a mais emblemática seja a dos trabalhadores da Usina Grega, que após 9 meses de conflito foram duramente reprimidos pelo governo da Nova Democracia – PASOK e Dimar (tradução nossa).

Se os resultados foram contidos em se generalizar em uma greve geral política que pudesse questionar efetivamente os planos da troika e oferecer uma nova alternativa política e programática para a Grécia, um dos resultados indiretos – mas de muita importância – do processo de luta na Grécia, expressou-se no terreno político e, na realidade, relaciona-se com um fenômeno de alcance internacional, do qual esse país é um dos seus berços. Aquilo que Antonio Gramsci chamou de “crise orgânica” (GRAMSCI, 2007, p. 60), um fenômeno de crise de hegemonia, em que se abre uma fissura entre “representantes e representados”, tornou-se uma realidade patente na Grécia, com um verdadeiro derretimento do PASOK (então governo durante os ataques de 2010) e futura emergência do SYRIZA. No quarto capítulo deste trabalho, abordaremos com mais detalhes o fenômeno; gostaríamos apenas de apontar desde já que, embora o imperialismo europeu, em acordo com os setores dominantes e governos da Grécia, tenha conseguido impor contundentes medidas de austeridade à população grega, o custo desse processo foi desencadear uma enorme crise política no regime grego.

No que se refere aos planos de austeridade, o caso da Grécia é expressivo para nossa análise em dois sentidos. Se precisamente aí o plano foi mais agressivo contra os trabalhadores, também aí se deu a maior resposta proletária de 2010. Seu resultado significou uma derrota dos trabalhadores, mas veio acompanhada de uma crise política de hegemonia da classe dominante.

Entender esse processo é perceber onde os “extremos se tocam” na dinâmica da crise, pois as vitórias do capital contra os trabalhadores foram acompanhadas de novas batalhas muito mais intensas e de consequências decisivas para a dominação capitalista.

3.4.1 As reformas trabalhistas e as batalhas dos trabalhadores

A primeira grande expressão de uma reforma trabalhista, no sentido da “era estrutural da precarização do trabalho” se deu no Estado Espanhol. O processo se deu em algumas etapas, a primeira em paralelo com o processo grego, em junho de 2010, pelo governo “socialista” de Luiz Zapatero, tinha dois eixos fundamentais: generalizava os contratos precários de primeiro emprego e ampliava as possibilidades de demissão pelas empresas sob alegação de que não havia condições econômicas para manter os empregos, ou seja, facilitando enormemente as demissões.

Em fevereiro de 2012, com a entrada do Partido Popular no governo, ampliou- se muito o alcance da reforma com a aprovação do decreto-lei 3/2012 com uma série de medidas que iam no sentido de: a) debilitar as condições dos sindicatos nas negociações coletivas: “A reforma se pronuncia a favor de descentralizar os âmbitos de negociação coletiva para os aproximar, cada vez mais, à situação da empresa” (BLASCO, PÉREZ, 2015 – tradução nossa); b) ampliar as facilidades para as demissões, incluindo alegações econômicas, de modo que “Facilita a demissão por causas econômicas, com indenização de 20 dias de salário por ano no cargo, ao definir a diminuição persistente do nível de receitas ou vendas da empresa como aquela que se produz durante ao menos três trimestres consecutivos” (BETILILA, JANSEN, 2012 – tradução nossa); e c) ampliar as modalidades de contratos de trabalho.

A lógica, portanto, seria diminuir as condições de negociação dos sindicatos, facilitar as possibilidades de demissão por parte das empresas e adequar a legislação à “nova realidade trabalhista” com um ataque à estabilidade do trabalho e a conformação desse novo proletariado de serviços. Sobre o último ponto dos contratos, vale a pena observar as quatro formas propostas na reforma:

No que diz respeito à nova contratação, surgem várias figuras. A primeira é o novo contrato permanente de apoio aos empreendedores. Esta modalidade contratual pode ser utilizada pelas empresas com menos de 50 trabalhadores, é permanente e a jornada é completa, com um período experimental de um ano; se beneficia de significativos incentivos fiscais; o trabalhador pode conciliar o salário com 25% de subsídio de desemprego; e o contrato deve durar por no mínimo três anos. A segunda modalidade é o contrato de formação e aprendizagem, destinado aos menores de 30 anos. Quando termine a duração do contrato, o trabalhador não poderá ser contratado sob esta modalidade pela mesma ou outra empresa para a mesma atividade laboral ou ocupação objeto da qualificação profissional associada ao contrato, mas sim para uma diferente. O tempo de trabalho não poderá superar 75% da jornada no primeiro ano e 85% no segundo e terceiro ano. Está bonificado com importantes reduções de parcelas até 100% das contribuições. A terceira modificação contratual faz referência à possibilidade de realizar horas extras por trabalhadores com contrato de tempo parcial. E a quarta modificação se refere à suspensão da limitação à concatenação de contratos temporários(BLASCO, PÉREZ, 2015 – tradução nossa).

Os processos de reanimação do questionado neoliberalismo com tentativas de desmonte do funcionalismo público, privatizações e reforma da previdência como o plano grego vieram seguidos da releitura do capital em atacar em um ponto crucial: recriar as modalidades de trabalho de forma a apontar ainda mais para o trabalho temporário, instável, atomizado, debilitando os sindicatos e criando as condições para o novo fenômeno que se nasceria no interior da crise: a uberização do trabalho.

Vale notar que o proletariado espanhol também entrou em cena nos dois momentos, com grandes greves gerais: em 2010, no entanto, tardou três meses para que os sindicatos reagissem à reforma trabalhista, tendo a greve ocorrido apenas em 29 de setembro, já com muitas dificuldades para reverter a reforma e bastante controlada pelas direções conciliadoras dos sindicatos, que na realidade serviram como freio em nome de defender as reformas necessárias para dar estabilidade ao governo “socialista” de Zapatero, terminaram em uma crise importante do PSOE e a emergência do PP. A outra grande greve geral se deu mais próxima da segunda reforma trabalhista, de 2012, desta vez com um impacto muito maior por parte dos sindicatos. Em uma matéria do jornal El País da época, embora numa guerra de cifras, é incontestável que podemos falar de um processo de centenas de milhares de trabalhadores no Estado Espanhol, com os sindicatos apontando que ultrapassava a casa do milhão em todo o país:

As mobilizações, como quase sempre, acabaram com a habitual guerra de cifras. O governo calculou em 800.000 o número de manifestantes em toda a Espanha,

enquanto os sindicatos estimaram em 900.000 o número de manifestantes em Madrid (sem cifras oficiais ao término da mesma), 800.000 em Barcelona (dez vezes menos segundo a Guarda Urbana) e 250.000 em Valencia (35.000 segundo a polícia local). El Pais realizou seus próprios cálculos nestas três marchas, as mais massivas, com resultados de 170.000 assistentes na capital, 275.000 em Barcelona e 98.000 em Valencia (GÓMEZ, 2012 – tradução nossa).68

As greves gerais no Estado Espanhol, portanto, também marcaram a combinação de dois setores estratégicos do proletariado, que se mostraram bem vivos durante as paralisações: as indústrias e o setor de transporte, com a classe trabalhadora já em 2012 impactada pelas marchas da juventude que acabaram por influenciar à esquerda o movimento operário nesse momento. As batalhas em torno da transformação das condições de trabalho seguiram ao longo de toda a década da crise, não só em Grécia, Espanha, Portugal e Itália, mas inclusive nas potências. Um país a se destacar nesse aspecto foi a França, com a reforma trabalhista de 2016.

As duas fases de batalhas em torno da reforma trabalhista na França estiveram colocadas entre os anos de 2016 e 2017: também aqui a reforma se iniciou sob os