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As etapas da crise no interior da década (2008-2016)

Podemos dizer que a grande recessão teve um primeiro período drástico, marcadamente recessivo na economia mundial e nas potências, e um segundo momento em que os impactos da crise se manifestaram de distintas formas, seja no trasladar da crise para os países emergentes, as iniciativas do capital diante da crise, isto é, o conjunto de planos que vão sendo aplicados e seus efeitos ou as consequências do ponto de vista das lutas sociais, seja no movimento operário, na juventude ou em movimentos sociais, e mesmo nas consequências geopolíticas, particularmente em seu último capítulo, a guerra comercial. Esse conjunto de fatores, em que se imbricam a todo momento a economia, a política e as transformações sociais nos habilitam a pensar que vivenciamos uma longa década de crise econômica internacional, especialmente pelo débil crescimento que encontramos depois da recessão.

Dito isso, buscaremos descrever, em traços gerais, alguns dos estágios da crise econômica internacional no interior do período de uma década, de 2008 a 2018, tentando observar a partir da relação da economia com outros fatores sociais a dinâmica por meio da qual a crise vai paulatinamente se estabelecendo desde seu início até a atualidade.

1.2.1 2007-2009: a queda abrupta

O período entre 2007 e 2009 foi marcado tanto pelo auge da turbulência na economia mundial quanto pelo fundamental do crash, com a quebra de Lehman Brothers, em setembro de 2008, como ponto emblemático do período mais turbulento da crise. Conforme podemos ver no gráfico de crescimento mundial do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1966 e 2017, a partir dos dados do Banco Mundial:

Figura 3. Crescimento da economia mundial 1960-2017

Fonte: Banco Mundial

Do gráfico se pode extrair algumas conclusões iniciais. Em primeiro lugar, é notável perceber que 2009 apresenta efetivamente a maior queda do PIB mundial desde a Segunda Guerra Mundial, uma queda e um fenômeno categoricamente históricos. Mesmo quando analisamos as recessões de 1974-75 ou de 1981-82, a rigor, falamos em recessão por se tratar de uma queda coordenada nas potências, embora nessas crises o PIB mundial nunca tenha atingido taxas negativas. Já a crise de 2008-2009 levou a uma queda abrupta da economia mundial, ocasionado o recuo

no PIB em termos internacionais 2009 de 1,7%, mas nas potências um recuo ainda maior, podendo ser visualizado nos dados da economia norte-americana com contração de 2,7%, com a União Europeia de conjunto com contração de 4,3%, sendo que a Alemanha tinha uma crescimento negativo de 5,6%, a França em 2,9% de queda e o Reino Unido também com uma queda expressiva de 4,1%; enquanto o Japão apresentava queda de 5,4%19. Para buscar compreender um pouco o significado dessa queda, ou seja, interpretar o significado dos números da queda de 2009, façamos uma breve comparação com a crise de 1929, pensando as diferenças que existem entre a Grande Recessão atual e o que seria uma Depressão de 1929. Passada uma década desde o início da crise, muitos economistas marxistas e do

mainstream econômico concordam com que essa é a crise mais importante desde a

de 1929.20 Mas é evidente que os desdobramentos da crise efetivamente não se podem comparar com as da década de 1930, posto que o aflorar de processos revolucionários de um lado e a solução reacionária nazifascista de outro foi um pouco a tônica do período pós-29. Além do mais, embora não tenhamos as facilidades tecnológicas atuais para fazer as comparações econômicas, se quisermos destacar o exemplo da economia norte-americana, epicentro da crise, a título de comparação, poderíamos observar que entre 1929 a 1933 a dimensão catastrófica da queda econômica foi de 28,6% (JOSHUA, 2013, p. 21), uma realidade relativamente bem distinta da dinâmica de 3 anos (2008-2010) somados a economia norte-americana caiu apenas 0,3%21.Isaac Joshua deu uma importante contribuição para o entendimento da crise de 1929, fornecendo bases para as comparações com a crise de 2008, em sua obra La Crise de 1929 et l’émergence américaine, na qual apresenta o seguinte gráfico que nos ajuda a entender a dimensão da queda:

19 Dados extraídos do site do Banco Mundial, visualizados um a um cada país elencado, na plataforma

https://data.worldbank.org/. Acesso em: 05/01/2019.

20 isso pode ser observado nos trabalhos de praticamente todos os citados nesta tese.

21 Os dados do PIB anual norte-americanos podem ser acessados em:

Figura 4. A evolução da atividade econômica nacional. PIB em volume

Por um lado, a queda abrupta da economia mundial em 2009 não pode ser comparada econômica, política e socialmente à crise de 1929; por outro, não foi uma recessão a mais na história do capitalismo, significando uma importante queda na economia mundial, uma recessão de trajetória longa e sem perspectivas de retomada do crescimento em nível mundial.

Michael Roberts (2016), por sua vez, contesta essa visão e busca apresentar outra interpretação para os eventos da crise de 2008-2009. Em seu livro The Long

Depression, aponta o momento que estamos vivenciando como o de uma longa

depressão, a qual descreve do seguinte modo:

Aqui se define uma depressão quando economias apresentam uma produtividade claramente inferior às taxas precedentes (no total e per capita) e inferiores à média no longo prazo. Isso também significa que os níveis de empregabilidade e de investimentos estão claramente abaixo dos maiores picos e inferiores às médias no longo prazo. Acima de tudo, significa que a lucratividade dos segmentos capitalistas da economia é reduzida, amplamente abaixo dos níveis anteriores ao começo da depressão. Até então, foram três depressões (diferentes de quebras e recessões,

frequentemente recorrentes) do capitalismo moderno. A primeira foi em fins do século XIX (1873-1897); a segunda foi em meados do século XX (1929- 1939); e agora nós temos uma no começo do século XXI (2008-?). Todas essas começaram com quebras significativas (1973-1976; 1929-1932; e 2008-2009, tradução nossa).

Isso significa que, no entender de Michael Roberts, estamos vivenciando uma depressão. Ele a diferencia de uma recessão a partir dos ciclos do capitalismo, que implica na saturação de um ciclo longo de produção, inovação tecnológica, construção e infraestrutura, em suma, quando um conjunto de fatores que impacta num ciclo de lucratividade atinge seu esgotamento. Dessa forma, contrapõe a depressão com a recessão:

Mais importante, depressões (diferentemente de recessões) aparecem quando existe uma combinação sincronizada de declives cíclicos do capitalismo. Toda depressão surge quando o ciclo aglomerado de inovações amadurece e se “satura”; quando a produção mundial e o preço das

commodities entram em declive sincronizado, a saber, a inflação em lenta

evolução se transforma em deflação; quando o ciclo de investimento em construção e infraestrutura afunda; e sobretudo, quando o ciclo de lucratividade está na fase de declive. A combinação desses diferentes ciclos acontece apenas a cada sessenta ou setenta anos. Por isso a atual Longa Depressão é tão importante. (ROBERTS, 2016, p. 5, tradução nossa).

Essa definição forte e bastante particular da crise econômica como longa depressão Roberts faz já na introdução de sua obra. Ainda que não rejeite a expressão “Grande Recessão”, mas a veja em complemento com a definição de longa depressão, tomando o processo econômico em seu conjunto, ele atribui um enorme significado à queda de 2008, pela confluência de um conjunto de fatores, amplos ciclos que se combinam historicamente em uma crise apenas num intervalo que abrangeria 60 ou 70 anos.

Ao nosso ver, um aspecto que fica debilitado na análise de Michael Roberts são os impactos dos demais fatores sociais e políticos na dinâmica da crise econômica. Do ponto de vista objetivo, há aí muitos pontos enriquecedores no que tange a dimensão da queda econômica, incluindo-se que importantes nomes keynesianos (como veremos na seção a seguir) chegam a definir a crise como “estancamento secular”, o que com metodologias distintas aponta para o caminho que Roberts propõe. No entanto, Roberts peca ao não relacionar a queda econômica com

os efeitos subjetivos e objetivos do período anterior, ou seja, com o processo de reestruturação produtiva, o conjunto das transformações no mundo do trabalho e especialmente os impactos subjetivos (fenômenos políticos, movimentos sociais e transformações ideológicas) do período de ofensiva neoliberal. Não se pode diminuir o alcance da restauração capitalista em países como a Rússia e a China, bem como o impacto dos 20 anos de campanha neoliberal de que a alternativa socialista, o marxismo, as classes sociais e um longo etc. haviam ficado relegados às páginas dos livros de história. Com isso, podemos traçar a hipótese de que a mesma crise econômica, em sua dimensão quantitativa, em um contexto distinto (por exemplo, o dos anos de 1970) teria produzido efeitos muito mais “catastróficos” do que a atual recessão – entendendo o catastrófico como uma queda mais acentuada do PIB, como em 1929, e fenômenos políticos e ideológicos mais agudos. A resposta de setores da juventude, dos movimentos de mulheres e negros, mas, sobretudo, da classe trabalhadora esteve, em certo sentido, muito aquém dos impactos da crise. É por essa razão que acreditamos que a própria definição do significado da depressão proveniente da crise do final dos 1920 e expressa com tudo nos anos de 1930 não se refere apenas aos dados econômicos da queda, ainda que esses, ao nosso entender, tenham um impacto muito importante na definição; mas se relaciona também com o alcance sociopolítico da crise (gerando amplos processos de revolução e contrarrevolução) e geopolítico (sobretudo, a competição entre as potências, especialmente os EUA de um lado e a Alemanha de outro). Tanto o capital, no caso extremo da conflagração das guerras mundiais, quanto o trabalho, no caso da resistência e a passagem à ofensiva com processos revolucionários, são sujeitos decisivos em delinear o tom da crise e, inclusive, o alcance que uma recessão pode ter, podendo levar ou não a quedas ainda mais abruptas e depressões. E justamente por subestimar esses demais fatores em sua análise, Roberts traça combinações econômicas de ciclos que ocorreriam de 60 em 60 anos, o que dá um tom objetivista a sua análise, pois sendo assim, esperaríamos que daqui 60 ocorra nova depressão? A análise dos eventos como guerras ou revoluções não impactariam na evolução (e olhando para o passado não impactam?). Ou seja, o economista britânico acaba um pouco refém da teoria dos grandes ciclos econômicos para sua definição da depressão.

De todo modo, a despeito desse debate em torno da própria categoria de descrição do processo de 2008-2009, Roberts oferece importantes contribuições para pensar esse primeiro período da crise econômica. As raízes desse processo buscaremos analisar no segundo capítulo; fiquemos por enquanto com os dados apontados por Roberts naquilo que são importantes para compreender os impactos da crise. O autor localiza o início da crise em agosto de 2007, quando o banco Paribas

Nacional torna público que fecharia um dos fundos de investimento hipotecário. Esse

anúncio implica em uma série de perdas, movimento que se segue com outros bancos nos EUA e culmina em um processo que desencadeia a recessão entre o começo de 2008 e o meio de 2009. Nesse sentido, analisa:

Esta quebra no capitalismo foi chamada de Grande Recessão porque foi realmente “grande”. Foi a mais longa e profunda em relação a produção que a economia capitalista global, no marco das trinta nações de capitalismo avançado da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atravessou desde a Grande Depressão de 1929-1932. Do pico de crescimento real no PIB do boom precedente em 2007, até o fundo da Grande Recessão em meados de 2009, as economias da OCDE contraíram em até 8 pontos percentuais no PIB. Se se compara a produção global em 2009 com onde a mesma deveria estar sem a queda, as perdas de lucro foram ainda maiores que os 8 pontos percentuais. No fundo da Grande Recessão, o nível da produção industrial foi 13 por cento abaixo do pico anterior, e a troca global caiu 20 por cento do pico anterior. O mercado de ações mundial caíram em média 50 por cento do pico de 2007. A Grande Recessão foi também a mais longa desde a Grande Depressão (ROBERTS, 2016, p. 66, tradução nossa).

Essa síntese dos dados é contundente para expressar o impacto econômico: queda de 8% nas economias centrais, 13% na produção industrial e 20% no comércio internacional, o que representa uma retração enorme.

A marca desse primeiro período, portanto, está muito relacionada com a queda econômica. Como podemos ver no gráfico de crescimento mundial e como é comum a todas as crises, o bumerangue econômico que leva a um período de crescimento depois da queda começa a virar em meados de 2009 e se expressa graficamente no crescimento mundial de 2010, quando o PIB mundial passa a um crescimento (ainda muito pequeno) de 1,6%.

Ocorre que, nesse período, a queda não é o único fator a ser considerado: as iniciativas dos governos no sentido de salvar os bancos e as empresas também lhe dão o tom, afinal, o volume empregado em políticas de relaxamento financeiro e

injeção de liquidez nos bancos e empresas é quase incomensurável. Como apontamos no tópico anterior, a massa de injeção monetária para livrar o mercado financeiro de títulos tóxicos e gerar liquidez nas empresas ultrapassou a casa dos trilhões.

Apenas para dar uma imagem gráfica desse processo, no fatídico mês de setembro de 2008, um dia depois da bancarrota do Lehman Brothers, o governo norte- americano decidiu injetar o valor de 85 bilhões de dólares para salvar a seguradora

American Internacional Global (AIG)22. É de se notar que em uma única medida de injeção para salvar uma grande empresa financeira foi gasto um montante equivalente ao total produto interno bruto de um ano de Uruguai, Paraguai e Bolívia somados, restando ainda nada menos que 20 bilhões. Poucos dias depois do salvamento da AIG, outra empresa de peso (emblemática em seu momento), foi beneficiária de um pacto bilionário: a General Motors (GM) que recebeu a soma de aproximadamente 50 bilhões. Mas a sequência de pacotes financeiros foi longa nas distintas potências, incluindo planos de ação mais ou menos coordenados. O maior se deu em 30 de setembro de 2008, quando o Senado americano aprovou um plano de resgate financeiro no valor de US$ 700 bilhões, o que seguindo nosso exemplo gráfico sul- americano podemos comparar esse valor ao equivalente à soma dos Produtos Interno Brutos de Argentina e Venezuela durante todo o ano de 200823. Esse foi o maior pacote, mas não foi o único e nem se deu em um país, mas foi uma política generalizada dos governos das principais potências diante da crise. Sendo assim, se levarmos em conta a atuação incisiva não só do Federal Reserve, mas também do Banco Central Europeu, dos países europeus e do Japão, veremos que foi um dos componentes decisivos da crise o salvamento dos bancos, das seguradoras e das grandes empresas, uma atuação sem a qual as consequências da crise poderiam ser imprevisíveis. Embora esteja presente em outros momentos da década, as políticas especialmente de quantitative easing (relaxamento quantitativo, em tradução livre), é nesse período que vai até 2009 em que se concentram os maiores montantes.

22 Cf.: https://dealbook.nytimes.com/2008/09/17/aigs-85-billion-government-bailou. Acesso em:

06/01/2019.

23 Segundo dados que pudemos extrair do site do Banco Mundial, no período de 2008 o PIB da

Venezuela foi de 315 bilhões de dólares, da Argentina foi de 361 bilhões. Disponível em:

Um terceiro elemento que consideramos determinante em descrever nessa etapa é o deslocamento do coração do imperialismo mundial, os Estados Unidos, para a Europa. É preciso dizer a própria definição de deslocamento pode ser problematizada, porque a interligação do sistema financeiro mundial hoje permite que os impactos da queda de um banco como Lehman Brothers possam ser sentidas em horas, minutos ou mesmo segundos em todo o mundo. Mas as medidas ágeis do governo norte-americano para salvar Wall Street e a possibilidade de injeções monetárias na dimensão quase incomensurável que se deram não foram, e nem poderiam ser, compartilhadas por todos os países da Europa.

Diferentemente do que muito se escreveu e se falou, de que a União Europeia seria uma entidade que anularia as contradições entre Estados, sua verdadeira face se revelou durante a crise. Os elos débeis como Grécia, Portugal, Espanha, Itália sentiram mais forte seus efeitos, para não falar de exemplos como Irlanda, Islândia etc. Só para darmos uma ideia, é altamente irônico, mas factual, que a política “neoliberal” nos Estados Unidos tenha sido (muito distinta do “laissez faire”), em relação aos quatro principais bancos de investimento no fatídico mês de setembro, a seguinte: os dois maiores, Goldman Sachs e JP Morgan foram transformados em bancos comerciais, o terceiro, Merril Lynch, foi comprado pelo Bank of America (evitando um possível catástrofe) e o quarto, o banco de investimentos Lehman Brothers, sofreu as consequências da lei do valor. Contudo, ainda que com essa enorme perda, Wall Street conseguiu contornar a crise que atingia seu coração e de seus principais pilares, em operações que envolviam algumas dezenas ou centenas de bilhões de dólares, chegando a casa dos trilhões se tomadas em seu conjunto.

O contágio ou deslocamento para a Europa, em certo sentido e entre outros fatores, está nessa comparação entre a capacidade das potências e dos países de capitalismo avançado em lidar com a “crise de confiança”; a rigor, uma pressão avassaladora da lei do valor em restabelecer o equilíbrio, explodindo as bolhas de capital fictício. Apenas para exemplificarmos os impactos mais imediatos da crise imobiliária nos EUA, diretamente interligada com o sistema financeiro europeu, poderíamos citar que um dos eventos destacáveis da crise, considerado por alguns economistas um ponto de clivagem para seu início, foi as turbulências vividas pelo banco francês BNP Paribas, em agosto de 2007. Anunciava-se publicamente que “O

valor líquido de ativos, bem como subscrições / resgates, em estrita conformidade com os regulamentos, para os seguintes fundos: Parvest Dynamic ABS a partir de 7 de agosto de 2007, 15:00 (hora de Luxemburgo); BNP Paribas ABS Euribor e BNP Paribas ABS Eonia a partir de 7 de agosto de 2007, 13:00 (hora de Paris)””24, referindo-se a dois fundos de investimento. Para citar mais um exemplo, em fevereiro de 2008, a nacionalização do banco de investimentos Northern Rock, que esteve por um fio de quebrar em meio a especulação imobiliária, no principal centro financeiro europeu, a City of London, indicava o alcance mundial da crise. Nesse sentido, o primeiro período da crise, entre 2007 e 2009, marcou também o deslocamento da crise para a União Europeia, em que não só a Grande Recessão terá impacto, mas se tornará também o epicentro principal dos acontecimentos da segunda etapa da crise, entre 2010 e 2011. O importante a se destacar aqui, todavia, é que, do ponto de vista cronológico, esse deslocamento não ocorre como momentos distintos; antes se relaciona com a capacidade das potências de irem buscando salvar as principais empresas e bancos de seu sistema financeiro e deixar as explosões para os países como menos capacidade de intervenção. Esse é um fato decisivo no interior da crise, pois, ainda que seu epicentro se tornaria a Europa, não será por acaso que no “centro dentro do centro” estarão Grécia, Espanha, Portugal e Itália e não as principais potências europeias, uma expressão clara das disputas interimperialistas para decidir quem irá pagar a conta da recessão econômica internacional.

Aqui é interessante notar que, embora do ponto de vista da exposição abordaremos em momentos distintos o significado da crise no “sul do mundo” e particularmente nos emergentes, nosso posicionamento é contrário às teorias da “desacoplagem”, segundo as quais a crise se dava no centro das potências e não afetaria os BRICS, propondo uma separação no sistema internacional no que se refere aos efeitos da crise. A crise dos emergentes a partir de 2012, na realidade, foi um duro golpe nessas teorias, já que a própria realidade se evidenciou completamente contrária a essa dinâmica, por isso não nos deteremos nelas.

24 Cf.https://group.bnpparibas/en/press-release/bnp-paribas-investment-partners-temporaly-

suspends-calculation-net-asset-funds-parvest-dynamic-abs-bnp-paribas-abs-euribor-bnp-paribas- abs-eonia

1.2.2 2010-2011: os planos de austeridade

O ano de 2010 abre um novo momento de ação coordenada entre as potências, particularmente os países da Europa em meio à crise: anunciam-se em distintos países planos dacronianos de austeridade, o que marca, em traços gerais, um novo