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3 AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO SÉCULO XX

3.4 A reforma da Educação Básica no Ceará na década de 90

Almeida (2010) afirma que na década de 80 inicia-se, no Ceará, uma nova fase da organização econômica e política, na qual a reprodução de um modelo produtivo e de gestão vai facilitar a penetração dos capitais nacional e internacional, provocando um rompimento com as práticas mais tradicionais de produção econômica. Será, a década de 80, o período em que um grupo de “jovens empresários” – composto basicamente pelos senhores Benedito (Beni) Veras, Amarilho Macêdo, Tasso Jereissati, Sérgio Machado e Assis Machado –, se diz

disposto a reestruturar as relações socioeconômicas do Estado e “libertá-lo” do domínio “anacrônico” dos coronéis6

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Esses jovens empresários conquistaram o poder em 1986, elegendo Tasso Jereissati para o cargo de governador, no chamado “governo das mudanças”; que passa a ser caracterizado como aquele que promoveria as mudanças das quais o Ceará necessitava.

Almeida (2010) diz que um fator consubstanciaria essa nova fase: a eleição de Ciro Gomes, em 1990, e a dupla reeleição de Tasso Jereissati, em 1994 e 1998. Esses fatos vão materializar os interesses do capital nacional e do internacional no Estado, fundamentado numa filosofia burguesa/liberal (neoliberalismo). O clima da globalização serviria para justificar as ações tomadas pelo “governo das mudanças”.

Esse governo das mudanças é marcado por uma série de reformas no Estado (Administrativa e Fiscal, Saúde; Infraestrutura; Privatizações e Educacional). No caso da educação, desenvolvidas nos anos 1995-2000.

No campo educacional, um ponto precisa ser destacado: no governo mudancista, houve um amplo programa de recuperação e reformas de prédios escolares. O governo investiu em capacitação de recursos humanos e na modernização tecnológica, no caso, o Telensino,7 mas não conseguiu mudar os índices que impactavam na qualidade da educação. O índice de analfabetismo chegou a 44%; a cobertura do Ensino Fundamental, na época ensino de Primeiro Grau, era um dos mais baixo do País, chegando a 65%. Cerca de 200 mil crianças encontravam-se fora da escola, perfazendo um déficit de 30% na zona rural e 15% na zona urbana (HAGUETTE, 1993).

Quanto à qualidade do ensino, que era considerada em termos de rendimento cognitivo do alunado, era vista como lastimável: “os alunos do primeiro grau no Ceará, não dominam em média, menos da metade dos conteúdos julgados mínimos e indispensáveis da série e disciplina que cursavam” (HAGUETTE, 1993). Os governadores da época reconheciam as dificuldades, Ciro Gomes chegou a

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“Esse grupo de empresários tinha claro que a eles cabia a tarefa de libertar o Ceará do domínio dos 'coronéis', que impediam a sociedade de marchar para a modernidade, para uma sociedade da razão.” (TEIXEIRA, 1995, p. 4).

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Sistema presente na Educação do Estado do Ceará iniciada desde 1974 até os anos 90, tem sua atividade pedagógica de sala de aula desenvolvida por um profissional chamado orientador de aprendizagem. (FARIAS,1999).

declarar que “na área da Educação, é onde temos amargado maiores decepções” (IDEC,1992).

Era notório o fracasso do governo das mudanças no setor da Educação, comparando com a Saúde, os motivos eram claros. O incremento bem maior no volume de investimentos desse último em relação ao primeiro. Afirmavam ainda que a Secretaria de Educação não era capaz de desenvolver projetos que pudessem carrear recursos no orçamento da pasta.

Outra explicação para o fato foi a descontinuidade administrativa, pois, nos quatro primeiros anos do Governo Tasso Jereissati, sucederam-se três secretários. Ciro Gomes manteve a mesma secretária de Educação durante seu governo, mesmo assim o desempenho do setor não melhorou significativamente. Uma hipótese que parece razoável para essas questões foi a política de cortes nos gastos com o pessoal; a forma autoritária de governar praticado por Tasso Jereissati e Ciro Gomes, de forma exacerbada, considerado um fator muito relevante nas duas gestões socialdemocratas; tentar mudar a educação sem a participação efetiva dos servidores públicos nas decisões. O corte de professores, arrocho salarial, foram alguns motivos que contribuíram para uma atmosfera geral de desmotivação no magistério, no Ceará, nesse período.

A própria secretária de Educação, Maria Luiza Chaves, na época, admitiu a não participação dos professores na concepção de um programa utilizado, o Telensino. Para ela, a resistência em aderir ao sistema era falta de conhecimento do funcionamento da poposta, e quando se conhece, é melhor, por que mudam de opinião, ou seja, podem contribuir com suas experiências no enriquecimento de sua aplicação. Outra crítica a esse sistema refere-se a transformar o professor especialista em orientador generalista, de forma obrigatória e sem treinamento adequado, gerando forte insatisfação por parte dos docentes.

Observam-se algumas inovações, a partir da gestão do secretário de Educação Antenor Naspolini (1995-2002), que empreendeu reformas na Educação do Ceará demonstrando mais eficiência e expressando credibilidade nas instituições. Três elementos apoiaram a reforma da Educação Básica, nesse período, como uma reconhecida necessidade de mudança; o contexto econômico favorável; a existência de mecanismos efetivos de participação social.

Segundo Naspolini (2001), a reforma educacional no Ceará aconteceu em fluxos vertical e horizontal. Nesse modelo, as decisões transitam a partir de níveis

hierárquicos superiores (com as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação), partindo da base, ou seja, do conjunto das escolas. Esse percurso parece ser mais longo e demorado, mostrando-se mais resistentes às pressões políticas e econômicas.

Pode-se dizer que esse modelo de reforma adotado no Ceará só foi possíve porque sua realização se deu de forma coletiva, ou seja, todos participando e tomando decisões em conjunto, considerando a experiência local, na escola, com as demandas de estado.

Esse conjunto de decisões do sistema educacional cearense teve como objetivo resolver a seguinte questão: Como garantir a educação de qualidade para todos? A política educacional adotada assumiu a proposta e a resposta, segundo Naspolini (2001), Todos pela Educação de Qualidade para Todos, sintetizando os pressupostos básicos das políticas públicas: acesso à qualidade a partir da mobilização e da resposta do estado a essas demandas. Essa expressões, como a mobilização em torno da educação universal e de qualidade advêm da Declaração Mundial de Educação para Todos (Jomtien,Tailândia,1990).

Observa-se que o principal e mais importante desafio dessas reformas no Ceará, foi resgatar a credibilidade de um sistema de educação precarizado, que não conseguia atrair e nem obter resultados positivos nesse campo, por meio de quatro categorias instituídas no Plano Decenal de Educação para Todos (PDEPT), entre elas se destacam: acesso à educação básica; melhoria do perfil de desempenho qualitativo dos alunos; valorização do magistério; e gestão democrática.

A gestão democrática enquadra-se no campo político, no que se refere à eleição para diretores, à municipalização e descentralização, na garantia de tornar a escola mais autônoma e participativa, garantida na LDBN (Lei 9.394/1996).

Para consolidar a Gestão Escolar numa perspectiva democrática, podem ser registrados alguns avanços, no Ceará, de 1995/2000, entre eles: o Sistema Permanente de Avaliação Educacional (SPAECE,1992), o Sistema Integrado de Gestão Educacional (SIGE,1997), o Sistema de Acompanhamento Pedagógico8 (SAP,1996).

8 Coordenadoria responsável pela definição de diretrizes e desenvolvimento do ensino e aprendizagem nas

escolas da Rede Estadual do Ceará, a partir da reflexão e elaboração de propostas pedagógicas no atendimento das demandas das escolas. Seduc. Gestão Pedagógica. Disponível em: https://www.seduc.ce.gov.br/gestao- pedagogica. Acesso em: 17 out. 2019.

Essas reformas ocorridas em nosso Estado não foram tão significantes assim, por terem sido assentadas num ideário neoliberal de um sistema voltado para a captação de alunos, alto controle sobre os recursos aplicados no ensino, e crescente vigilância sobre o trabalho educativo das escolas.

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