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4 O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO: UMA CONSTRUÇÃO

4.4 Realidade Educacional: Como a unidade escolar operacionaliza o

Quanto ao modelo de planejamento desenvolvido na escola, apresenta-se fragmentado e definido por áreas específicas. Em dias diferentes e horários diversos, os professores se reúnem, mas o que prevalece é um planejamento individual por parte dos professores.

Essa forma de planejar favorece diferentes concepções de educação, de metodologias de ensino, formas de avaliação. Esse contexto fragmentado evidencia a fragilidade da escola em atingir sua função social e não colabora para o trabalho coletivo; se constitui em realidades sem rumo comum; faz com que a escola não apresente identidade própria, sem a consolidação de um espaço de debate, diálogo, fundados na reflexão coletiva, que busca a transformação social. O descompasso é total e distancia a escola do atendimento das necessidades da comunidade local.

Não tem como atender às peculiaridades locais e à promoção do desenvolvimento educativo da comunidade escolar, sem uma ação coletiva com definição de princípios e metas e “o domínio das bases teórico-metodológicas indispensáveis à concretização das concepções assumidas coletivamente” (VEIGA, 1995, p.14).

Planejar de forma participativa congrega esforços na efetivação de ações pensadas de forma coletiva, democrática, superando conflitos e eliminando relações competitivas no interior das unidades escolares, procurando preservar a totalidade.

Uma sugestão é que os professores planejem suas ações didáticas relacionando-as com a missão e os valores previstos no PPP da escola, assim, a escola terá um fazer pedagógico coerente com as ações idealizadas em seu plano maior, planejando de forma coletiva as atividades a serem desenvolvidas no cotidiano da sala de aula, numa perspectiva interdisciplinar.

Assim, devem ser consolidados, no interior da escola, espaços de construções coletivas, momentos de estudo por meio da formação continuada de professores, que não discutam apenas ações no alcance de resultados em avaliação

de grande escala, mas conduzam uma prática de planejamento participativo e de mudanças intraescolares; inscrevam as práticas pedagógicas em projeto histórico consensualmente assumido pelo grupo, na construção de sua identidade cultural, enfim, que essas demandas possam ser assumidas por todos.

A gestão escolar tem um papel importante na compreensão do aprofundamento dos problemas postos pela prática pedagógica, exigindo um rompimento entre concepção e execução, no pensar e do fazer, por meio de um trabalho socializado, propiciando a prática do planejamento participativo e da participação.

O planejamento na escola é uma oportunidade de desenhar ações que estão previstas em seu PPP e podem ser atingidas mediante o apoio da equipe pedagógica e precisam ser consideradas no planejamento das ações dos docentes na escola. Nesse aspecto, a escola vem trabalhando nos planejamentos as metas previstas no PPP, como: combate à desistência e reprovação dos alunos, de acordo com os relatos de quatro professores e de uma coordenadora pedagógica:

Nos planejamentos são pensadas e propostas estratégias para que as metas de aprovação e combate à desistência/ evasão de alunos sejam atingidas. (PROFESSOR 3)

Ações do Jovem do Futuro, Feira de Ciências, Feiras Literárias, Feira das eletivas, etc. (PROFESSOR 5)

Algumas são bem enfatizadas ao longo do ano como: porcentagem de aprovação e reprovação, infrequência, aulas dadas, participação de pais (reuniões) e etc...(PROFESSOR 2)

Índice de aprovação/reprovação e índice de desenvolvimento da escola obtidas a partir de avaliações externas é o principal foco da equipe pedagógica. (PROFESSOR 1)

Metas de aprovação, reprovação, evasão. (COORDENADORA

PEDAGÓGICA).

Percebe-se que a equipe pedagógica e os professores da escola vêm trabalhando para atingir os índices de bons de resultados em avaliações externas que compõem o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb); que formarão o cálculo do Ideb e o Idmed. Essa realidade vem impactando nos planejamentos e nas estratégias de abordagens no processo de aprendizagem dos alunos. Em participação nas reuniões pedagógicas, comprovou-se que essas metas precisam ser atingidas; na ocasião, a coordenadora, em sua fala, chamava a atenção de que

aquele encontro seria para a construção do caminho da escola em 2019, a partir dos resultados obtidos, “que todos lutam, brigam por esses resultados e que todos

ganham quando a escola atinge um resultado positivo”, alunos, professores, enfim, a

escola como um todo. Essa narrativa oculta a prioridade atual das escolas e os resultados obtidos nas avaliações de larga escala.

A partir da narrativa dos atores percebe fortemente a racionalidade administrativa descrita por Silva (2013), a autora afirma ser um mecanismo para implementar políticas sociais, orientada pelos valores de eficiência, entendida como a relação entre produto e custos de insumos, tendendo a focalizar a análise de processo, só se preocupando com os resultados e impactos e nos graus de efeitos dos objetivos e metas estabelecidos. As diversidades dos sujeitos e a racionalidade conduzem ao desencontro, na medida em que se têm diferentes interesses, diferentes comptencias e papeis.

É importante enfatizar que a atuação de professores e equipe pedagógica para o alcance da aprendizagem dos alunos torna-se fundamental.

Uma escola bem organizada e bem gerida é aquela que cria e assegura condições pedagógico-didáticas, organizacionais e operacionais que propiciam o bom desempenho dos professores em sala de aula, de modo que todos seus alunos sejam bem sucedidos na aprendizagem escolar. (LIBÂNEO, 2004, p.1).

4.4.1 O Processo de Implantação do PPP na EEMTI Governador Cesar Cals de Oliveira Filho

Segundo Vasconcellos (2005), o processo de construção de um planejamento numa escola abre possibilidade de acentuar o fluxo de desejos, esperanças e, portanto, de forças, para a tão difícil tarefa de construir uma nova prática. Almeja-se também a partilha de todos os bens, sejam espirituais ou materiais. Como pensar numa escola sem o PPP? É claro que a escola caminha, mas para onde? Como se dá esse processo de construção nas escolas? Nos relatos de dois professores, do diretor-geral e da coordenadora pedagógica, fica evidente que o processo de construção da escola foi coletivo, porém com adaptações e

alterações de tópicos do antigo documento da Escola de Ensino Médio Regular, com a Escola em Tempo Integral proposta pela SEDUC-CE.

Houve breves encontros para construção do mesmo. Em particular a adequação do regimento ao PPP. (PROFESSOR 1)

Na semana pedagógica o PPP é discutido para possíveis alterações em seus tópicos. (PROFESSOR 3)

Aconteceu d eforma coletiva durante a semana pedagógica e os encontros coletivos. (PROFESSOR 2)

Encontro coletivo com toda comunidade escolar- pais, professores, funcionários, alunos e núcleo gestor. (DIRETOR GERAL).

Tomamos como base o documento da Seduc sobre as escolas de tempo integral fizemos adaptação. Trouxemos para o coletivo de professores fazer as devidas alterações ou aprovações. (COORDENADORA PEDAGÓGICA).

Quando perguntado como se deu o processo de construção desse documento na escola aos pais, os mesmos desconheciam porque não tiveram a oportunidade de participar desse momento no sentido de contribuir com sugestões para melhoria da escola de seus filhos.

O grupo de alunos relatou não saber como acontece o processo de

construção do PPP, porque não participaram desse momento na escola. Esses fatos confirmam que a escola vem trabalhando de forma isolada e as

decisões são tomadas internamente. A fala do núcleo gestor diverge da fala de pais e alunos, quando afirma que todos participaram da construção do PPP.

Percebe-se que não há, na escola, uma divulgação efetiva do processo de construção do PPP; os pais se queixam que a escola não faz essa publicidade e que precisa divulgar melhor para que todos tomem conhecimento de fato. O núcleo gestor não propõe momentos na comunidade educativa para que todos possam colaborar de forma participativa.

A participação é fundamental, no processo avaliativo de uma política pública, Andrade (1997) afirma que a participação social é um esquema para viabilizar a formulação e implementação de políticas públicas.

O planejamento, segundo Foucault (1926-1984), pode ser utilizado como dispositivo de disciplinamento de professores e alunos, como meio de dominação (em vez de libertação), na medida em que um pequeno grupo planeja e decide o destino de um grande conjunto de pessoas que deverão executar. Tal planejamento

introduz uma cisão da totalidade humana, tendo em vista que as pessoas não participam dos resultados do próprio trabalho.

No dizer de Dalmas (1997), a concepção do planejamento participativo é o ideal para uma instituição escolar, pois envolve as pessoas como sujeitos e estrutura um processo que os integra como grupo, visando ao desenvolvimento individual e comunitário.

O processo de construção do PPP de uma escola aglutina crenças, convicções, conhecimentos da comunidade escolar, em sua totalidade, por isso precisa ser concebido com base nas diferenças existentes entre os autores, quer sejam professores, alunos, núcleo gestor, funcionários e pais. Portanto, é fruto de reflexão e investigação, um instrumento de luta por uma educação melhor para todos.

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