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A REFORMA DO ENSINO NA FRANÇA E NA POLONIA

No documento Revista Completa (páginas 132-135)

As nações, como a França e a Polônia, que estiveram ameaçadas em sua existência material e espiritual pela ocupação nazista, reagiram da

mesma maneira em face dos proble- mas a serem resolvidos após a vitó- ria; paralelamente ao esforço que rea- lizavam para enfraquecer e depois destruir o invasor, pensavam nas ta- refas da reconstrução que surgiriam com a libertação, colocando a reforma democrática do ensino como uma das iniciativas de maior importância para o pais.

Sem dúvida trata-se de medida de rigorosa justiça; os mais valentes na luta pela pátria não haviam sido, em sua grande maioria, estes homens do povo, cuja instrução fora sacrificada pelas classes dirigentes? Além disso, a reforma do ensino é também medida de salvação pública, pois, em países materialmente esgotados e arruinados, deve-se fazer apelo ao poder criador de todos, facilitando-se os meios para que as aptidões se revelem e desen- volvam, o que permitirá a cada um ocupar o lugar que lhe corresponde na economia da nação.

A convergência dos programas educativos na França e na Polônia é particularmente digna de nota, uma vez que a história" de suas institui- ções escolares difere muito uma da outra. A França é um país de for- mação gradual no transcurso dos sé- culos. Em sua lenta progressão, so- freu naturalmente revezes, mas sua existência nacional nunca teve solu- ção de continuidade. Sua unidade in- telectual e inclusive territorial foi re- sultado do trabalho laborioso da bur- guesia francesa que, aliando-se à rea- leza para derrocar os feudais que di- rigiram a nação até o século X V I I , suprimiu-a depois por conta própria. Mas, desta vitória, que devia em grande parte ao apoio das massas po- pulares, quis guardar para si todos

1 3 0 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS os benefícios. Estabeleceu um tipo de

ensino para seu uso exclusivo: o en- sino secundário, que só podia dar acesso às profissões liberais e domi- nantes. Forjou novos burgueses das crianças pobres admitidas no mesmo em virtude de qualidades que mani-

festavam, aumentando assim sua for- ça e prestígio.

Quanto ao ensino para o povo — o ensino primário —, só foi organi-

zado muito mais tarde, no último quarto do século X I X , e inteiramente à margem do ensino secundário,

isto é, sem nenhuma ligação corn o superior, para o qual unicamente o ensino secundário dá acesso. Por ou- tro lado, não abria caminho para um

ensino técnico sistematicamente orga- nizado . O ensino técnico, também, de- senvolveu-se à parte dos outros, de maneira muitas vezes híbrida, segun-

do as iniciativas governamentais, lo- cais ou privadas. P ô r ordem em to- das estas instituições, estabelecimen- tos e educadores de formaçao variada que ensinam nos mesmos, é tarefa di-

fícil e delicada.

Antes de mais nada é preciso re- fazer e coordenar tudo. Esta reforma da educação pública nâo passa ainda de simples projeto. O obstáculo prin- cipal consiste na resistência de seus antigos quadros, animados subita- mente de um espírito particularista à medida que a situação parecia resta-

belecer-se. Não é fácil prever as condições de uma recuperação defini- tiva. Só a vitória da democracia será capaz de realizá-la. Desta vitória de- pende a salvação da França.

A história da Polônia coloca-a diante de uma situação diferente. A Polônia só pôde começar a desenvol-

ver sua instituição universitária no período entre as duas guerras, e ape- nas recentemente eliminou os sens pa- rasitas. O número de suas escolas e professôres era baixíssimo e o dos iletrados considerável. Hoje, a demo-

cracia está no poder. Uma das pri- meiras tarefas empreendidas, apesar das ruinas do país, foi a de multipli- car os edifícios escolares e recrutar pessoal apto para as funções de pro- fessor. Formaram-se novos professô- res, após uma freqüência em cursos intensivos de alguns meses. Têm pres- tado os serviços que dele se espe- rava e os resultados são magníficos.

Nestas condições, o ensino pôde ser obrigatório. E' gratuito, público, único. Começa a partir dos três anos, pela escola maternal. Prossegue du- rante anos com o ensino primário e, em princípio, durante 4 anos com o secundário, que deverá, sempre que possível, ser ministrado a todos.

O que há de comum nos projetos de reforma da França e Polônia é, em primeiro lugar, a intenção de abo- lir a diferença existente entre o en- sino primário, destinado ao povo, e o secundário, reservado à burguesia. Entre os dois não haverá mais que uma diferença de etapas a serem per-

corridas por todas as crianças. Uma segunda semelhança consiste na supressão da diferença tradicio-

nal entre o ensino propriamente in- telectual e o técnico. A sociedade es- tava dividida em trabalhadores ma- nuais, cuja condição devia permane- cer humilde, e intelectuais, a quem cabiam as posições dirigentes. Há cêrca de um século Marx denunciava esta diferenciação como igualmente

prejudicial a uns e outros. A evolu- ção das ciências e de técnica veio

dar-lhe plena razão. O conhecimento teórico e as transformações incessan- tes de nosso mundo material estão cada vez mais estreitamente solidá- rios. Desde logo, é impossível man- ter uma separação entre os dos cam- pos . E' preciso que as crianças neles se enquadrem de acordo com suas aptidões e preferências, dentro do marco de uma especialização cres- cente, e não seguindo uma linha de demarcação prévia.

O ensino secundário e o profissio- nal deverão, portanto, ser conjugados. Queremos para a França, durante o ciclo secundário, que deve começar a parar dos doze anos, dois períodos, dos quais o primeiro será de orienta- ção. Neste, todas as crianças recebe- rão ensino comum, ocupando-se tam- bém de outras coisas, entre as quais trabalhos manuais e estudos técnicos, em que realizarão ensaios. Levados desta maneira a se especializarem gradualmente, fazem-no mantendo contacto permanente com seus cama- radas especializados em outras cir- cunstâncias, de forma que não seja impossível uma mudança eventual de especialidades.

Esta faculdade deverá ser permi- tida mais tarde aos adultos se bem que mais raramente, graças ao ensino que também deve ser organizado para eles. As leis escolares da Polônia enunciam-no de maneira formal: "A instrução é posta ao alcance dos adul- tos, sem distinção de espécie algu- m a " . Na França, a instituição da educação protocolar é igualmente considerada indispensável.

Evidentemente, esta extensão do ensino secundário a todas as crianças e adultos, assim como a toda a espe- cialização intelectual e técnica, tor-

nará possível a extensão dos estudos superiores ou universitários a um nú- mero muito maior de estudantes, qualquer que seja sua especialidade, e a um maior número de especialis- tas técnicos. Multiplicar-se-ão os la- ços entre a ciência pura e as ativi- dades produtivas, em benefício de ambas.

Assim convergem as exigências da democracia e as do saber humano. Que a França e a Polônia possam desempenhar um papel eficiente nesta nova etapa da civilização. — H E N R I

WALLON — ( O Jornal, Rio).

A C H I N A L U T A C O N T R A O A N A L F A B E T I S M O

Os chineses criaram um sistema original de escrita que subsiste até hoje, através de muitos séculos. Os sinais que a integram são geralmente conhecidos pelo nome de ideogramas, se bem que muitos deles não o sejam, pois têm origem fonética.

Comparando o alfabeto chinês com os ocidentais, concordaremos sem dú- vida que o primeiro se assemelha mais ao ideográfico e se caracteriza pelo seu grande número de símbolos (al- guns milhares), que em geral podem ser considerados como não fonéticos. Esta peculiaridade da escrita chi- nesa, tem trazido consequências de tremenda importância (favoráveis e desfavoráveis) na história da nação Contribuiu para a continuidade histórica e para a unidade nacional.

Mesmo não se tratando de sinais fonéticos que afetariam as variantes de pronúncia de diversas regiões e épocas, são suscetíveis de salvar to-

dos os obstáculos de tempo e espaço, assim como acontece com a Cruz Cristã, que continua sendo a mesma

No documento Revista Completa (páginas 132-135)