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No documento Revista Completa (páginas 145-149)

relação à idade do trabalhador a

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suas mais ardentes esperanças. Excitados por esse vinho sinistro — o da supremacia sôbre seus irmãos alguns povos embebedaram-se nesse delirante espetáculo de predominância cultuando o idolo da Força e cravan- do no coração da humanidade a es- finge hedionda de Caim. Cumpre agora ao nosso século, a missão de re- conciliar o Homem com seu próximo,

extinguindo todas as barreiras de côr, credo ou origem, para resguardar o vínculo fraterno e tocar a terra de uma aura repousante de paz e de alegria.

Cabe-nos, particularmente a esta geração intoxicada, o cuidado da in-

fância, para que esse canteiro do amor divino não desabroche em flo- res de ódio ou de iniquidade, susci- tando posteriormente, novas torrentes

de imprecações, de lágrimas e de sangue.

Situar a criança como célula da compreensão humana — eis a tarefa traansbordante do século vinte! Mis- são gloriosa e difícil, pois que virá postergar barreiras milenárias calca- das sôbre lastros endurecidos, toda vez que para sua defesa se invocarem

postulados da precária dignidade ou do falso patriotismo. Pois que a co- existência de povos e de línguas se justifica — presume-se — para que a lição do trabalho se realize desemba- raçada e 'fortalecida pela assistencia mútua decorrente da vida de relação. Mas a evolução da Sociedade e do Estado, através dos tempos desde a tribo, o patriarcado e o clã, tem sido uma linha raivosa de pilhagem ao íntimo tesouro da moral humana, na mais torturante escravização do ho- mem aos seus instintos inferiores.

A "moral social" que lhe refreia

periodicamente esse gosto homicida, quando sustada, nos põe em presença não de seres compassivos e miseri- cordiosos — para que nascemos — mas de uma rugidora malta de cele- rados a se banquetearem nos festins bárbaros da guerra.

"A moral eleva um tribunal mais alto e mais temível que o das leis" — concluiu em vibrante fé de ofício o panfletário Rivarol.

Amemos, pois, na renovação social a dignificação da criança.

O século vinte se reveste então de um objetivo bifronte. E' o século da questão social — como conquista hu- mana, e o da redenção da criança,

surgida pelo sopro da complacência divina. E os desígnios sôbre que se situam os destinos da infância lan- çam suas raizes mais profundas no reservatório da escola primária. Ali, pela pressão do exemplo, pela suges- tão constante da iniciativa e do escla- recimento, postos em função educa- tiva, pode ser forjada uma geração senão de todo indene de mácula, mas

satisfatoriamente desbastada de todas as asperezas que uma desorientação educacional poderia agregar junto à alma dos discípulos.

A "moral social" adquire pois, co- mo força coercitiva de resistência ao mal, estreito contacto com a escola primária. Há que reconhecer, no las- tro da infância, a âncora de fixação para o destino do homem. Essa equa- ção foi já metrificada pelo gênio lu- zitano quando esculpiu esta estátua de beleza: "as almas infantis são brancas como a neve, são pérolas de leite em urnas virginais; tudo quanto se grava e quanto ali se escreve cris- taliza em seguida e não se apaga m a i s " .

Por isso, a mais alta dignidade da escola primária, sua função precí- pua e transcendente, é a da ilumina- ção do coração da infância, para su- focar nele as sementes envenenadas do erro e da maldade.

Esta tendência já se vai fazendo sentir no mundo hispano-americano e amostra bem incisiva é o capítulo da "moral social" incluída na recente re-

forma da legislação uruguaia, para seus proveitosos seis anos de currí- culo primário. Dando-lhe posição de realce no quadro das disciplinas co- muns os educadores sulinos legisla- ram para alvorada do Novo-Mundo, cuja semente histórica foi lançada no ocidente pelas mãos proféticas de Co- lombo. Bipartindo a esfera de ação entre "moral individual" e "moral social", as sugestões para o com- portamento da criança, dentro do cír- culo das atitudes, objetivam precisa- mente a sabedoria do espírito, para que mais tarde possa êle usufruir uma paz subjetiva, tão necessária para esta época de aflições e de desa- justamentos.

Há capítulos do programa uruguaio que valem ser recordados entre nós, pela sua densidade vital, tão profunda e tão humana! Em "moral indivi- dual" foram considerados, particular- mente, verdadeiras chaves para a saúde espiritual temas como estes: A Fineza do Trato — Ser e Pare- cer — O Respeito de Si Mesmo — Merecimento da Confiança Alheia pela Nossa Lealdade — A Nobreza do Perdão e a Covardia da Vingança — O (Esforço Próprio. Como Educa- rão da Vontade foram centralizados três itens principais consubstanciados

na Severidade para Consigo Mes-

mo e Tolerância para com os Demais, em Decisão e no Domínio de Si Mesmo. Capítulo interessante foi o que eles chamaram de Alegria de Viver, em cujo quadro realçam três indicações preciosas: O Pensamento conforme a Verdade, A Palavra e a Ação segundo o Pensamento e o Culto dos Bons Hábitos.

Na "moral social" puseram em re- levo os Afetos Familiares como tri- butários da paz, da alegria e da pros- peridade do lar; as Amizades da in- fância e da juventude e sua função educadora; a Fraternidade; o Res- peito Mutuo entre o homem e a mu- lher, pela pureza dos pensamentos, palavras e ações; o Fundamento da Justiça para todos; a Caridade, não só em obras, mas também em pensa- mento; Os Horrores da Guerra, a Pas e a Fraternidade para com os es- trangeiros .

Este rápido apanhado dos temas pertinentes aos 5.º e 6.° anos primá-

rios, das escolas uruguaias, nos revela o nível de compreensão com que os nossos antigos patrícios da Provín- cia Cisplatina situam a vinculação do Homem à sua essência espiritual,

para que êle mesmo realize o edifí- cio de seu reino interior.

Destarte, o fundamento do apren- dizado da moral se torna mais firme, por melhor compreendido, nos pri- mórdios da adolescência, quando o educando principia a tomar consciên- cia definida de sua vida de relação gravada com novas responsabilidades.

Êle abre então os olhos para o es- petáculo do mundo, observado agora sob ângulo diverso, à vista de novos atritos.

Iluminar a alma da criança — eis a missão transcendente da escola pri-

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mária, em todos os países, nesta alvo- rada redentora de após-guerra. Esta iluminação lhe conferirá o "grão de sabedoria", que o ditado persa incluiu como o fermento precioso da íelici- dade humana. — Luiz DE ALMEIDA —

( 0 Jornal, R i o ) .

N A S E N T R E L I N H A S D E U M CONGRESSO I N F A N T I L - J U -

V E N I L

I — Um Congresso e seu Campo de Estudo

— A função do Congresso não é de recreação! — proclamou um jo- vem congressista, aplaudido por seus companheiros, propondo se realizasse mais uma sessão à noite, que se des- tinava a ser livre para divertimentos.

Êste 'fato se verificou em Belo Horizonte, onde de 6 a 13 de julho se reuniram crianças mineiras, pau- listas e cariocas, para realizar o 2.º Congresso Infantil-Juvenil de Escri- tores. O 1.º Congresso realizara-se em fins de 1945, em São Paulo.

O nome do Congresso não corres- ponde em absoluto à idéia que o sim- ples leitor faz. Idéia e expressão, não se confundem como, aliás, acon- teceu frequentemente nos animados e sinceros debates que se realizaram na semana em que funcionou o Con- gresso. Assim, a sugestão de um dos adolescentes, batalhando por uma nova fábula, foi rebatida um dia quando falou em "modernizá-la" e aceita no dia seguinte quando vol- tando à sua idéia, falou em "atuali-

zá-la". O Congresso não foi, pois de escritores infantis-juvenis, mas sim de leitores. A palavra "escrito- r e s " explica-se pelo seguinte motivo:

um grupo de adolescentes que dirige o jornal de sua biblioteca, ou seja a Biblioteca Municipal Infantil de São Paulo, considerando-se portanto es- critores, reuniu-se com a idéia de organizar um congresso para discutir os problemas de suas leituras. Cha- maram êste congresso "infantil-juve- nil", para indicar que deveria ser formado pelos dois grandes grupos compreendidos na idade de 9 a 17 anos.

Neste 2.º Congresso, a idéia mos- trou-se praticamente impossível. Com algumas e bem raras exceções, em- polgaram-nos os jovens de 14 a 17 anos, de maneira inacessível à criança menor.

Fato curioso, que dá que pensar aos educadores é que estes jovens discutiram não a leitura deles, mas sim a literatura infantil, quase exclu- sivamente. Isto, em parte, pode ser explicado por não existir entre nós muito do que podemos denominar li- teratura juvenil e de outro lado por- que os jovens sentem-se preparados e prontos para contribuir com sua própria experiência ainda bem viva, para melhoras e modificações no cam- po da literatura infantil, embora es- tejam já entregues à leitura de "livros de idade adulta".

O campo de estudo propriamente dito foi o Minas Tenis Clube. A comparação dos lugares em que se realizaram o 1.° e 2.° Congresso muito nos ensina quanto à impor- tância da escolha do ambiente para o desenrolar eficiente das reuniões. A atmosfera digna e serena do audi- tório da Biblioteca Municipal de São Paulo, com suas poltronas estofadas, em muito se distinguiu da sala im-

provisada, corn cadeiras móveis, e considerada " s u a " pelos jovens só- cios do clube de esporte. Na última

reunião, no sábado, os sócios adoles- centes do clube viram sacrificada sua tarde dançante e, por esse motivo, pu- seram à prova a persistência e pa- ciência dos já cansados jovens con- gressistas — e nem sempre a prova foi vencida. Tumultos e choques pro- longaram os trabalhos, até que che- gou a vez das votações, conclusões e vivas finais. Não nos parece abso- lutamente necessário impedir que os jovens se movimentem durante as sessões, mas deve haver destinação única e dignidade do lugar, o que influi em muito nas atitudes dos jovens.

II — Porque "Entrelinhas"

Cem a duzentas teses foram apre- sentadas por crianças do 3º ano pri- mário até jovens do 1.º ano colegial. A mesa apresentou suas conclusões sôbre elas e em seguida as teses fo- ram aceitas ou rejeitadas pelo ple- nário. Se bem que achamos interes- santes tanto o volume como o con- teúdo destes trabalhos, o que mais nos interessou nesse congresso foram as tais "entrelinhas", isto é, aquilo que não constou do programa, mas que se manifestou em atitudes, comporta- mentos e em opiniões nem sempre relacionadas ao próprio temário.

Já no 1.º congresso apresentamos algo "à margem do Congresso" referente a opiniões dos jovens sôbre o real e o irreal, sôbre o que con- sideram prejudicial, suas opiniões em terreno de economia, da psicologia, etc, suas atitudes parlamentares e so- ciais. Desta vez vamos tratar, além

de certas tendências revolucionárias no terreno da literatura infantil, de um fenômeno novo no 2.° Congresso: a participação de adultos, e outro, não de menos importância, ou seja, a frequente referência a concepções e idéias políticas nos debates, a pro- blemas essenciais da hora atual e que, por isso, fazem parte integrante da vida do adolescente de nosso tempo.

É isso que constitui o que chama- mos de "entrelinhas" do congresso in- fantil-juvenil. Aquêles que sa inte- ressam pelas conclusões formuladas podem consultar as atas a serem pu- blicadas mais tarde.

I I I — Adultos no Congresso Infan- til-Juvenil

O que houve de novo no 2.º Con- gresso não foi somente o presença de maior número de adultos convidados, especialmente de escritores, mas, o papel que lhes coube. Provavelmente não imaginaram antes a duplicidade ou ambiguidade que sua presença ha- veria de causar entre os jovens. F o - ram procurados para dar inúmeros

autógrafos, aclamados durante confe- rências, alvo de homenagens e de protestos por exercer influência, su- jeitos a repreensões por atrapalhar a discussão e ao mesmo tempo ao pú- blico atento para ouvir o que deve ser modificado nos livros infantis. Aliás, não é absolutamente certo que, com os novos rumos sugeridos, os jo- vens ficassem assim tão entusiasma- dos como o imaginaram nas calorosas discussões. O efeito e a reação do Congresso, sôbre os adultos, atentos durante seis dias ou nove sessões, se relacionavam intimamente com o grupo profissional que representavam.

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