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CAPÍTULO 4 AS TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA

4.1 A REGIÃO

A região das Terras Altas da Mantiqueira (TAM) está localizada no sul do Estado de Minas Gerais, junto à divisa com os estados de São Paulo e do Rio de Janeiro. Está distante aproximadamente 480 Km de Belo Horizonte, 280 Km da cidade de São Paulo e 250 Km da cidade do Rio de Janeiro. É considerada região de estâncias hidrominerais e é vizinha à famosa região Circuito das Águas, que engloba Caxambu e São Lourenço. As TAM compreendem nove municípios: Alagoa, Delfim Moreira, Itamonte, Itanhandu, Marmelópolis, Passa Quatro, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e Virgínia.

A história da região remonta ao século XVII, com os bandeirantes que partiram de São Paulo em direção às Gerais em busca de ouro e diamantes. No caminho, havia a Serra da Mantiqueira, que representava um sério obstáculo a ser ultrapassado, devido às suas elevações. A descoberta da Garganta do Embaú, uma depressão no meio da Serra, permitiu a travessia das caravanas. Transposta a Serra, os bandeirantes foram trilhando o caminho para as minas e muitos acampamentos foram montados ao longo do percurso. Surgia o Caminho Geral do Sertão, a primeira estrada oficial para Minas Gerais. O seu traçado foi ligeiramente modificado, de forma a chegar à cidade de Parati, onde havia o porto de onde saíam as

embarcações para a capital. Este caminho foi intensamente utilizado até 1711, quando foi aberto o “Caminho Novo”, que ligava as minas diretamente à capital, no Rio de Janeiro.

Transposta a Serra da Mantiqueira pela Garganta do Embaú, foram assentados os primeiros acampamentos já na região do Sertão das Gerais. O primeiro deles foi Passa Quatro, cujo nome veio da necessidade de cruzar quatro vezes o mesmo rio que serpenteia a região, e que servia de referência aos viajantes de primeira vez. Mais tarde, foram fundadas Pouso Alto, Virgínia, Marmelópolis, Itanhandu, Delfim Moreira, São Sebastião do Rio Verde e Alagoa.

Com a decadência da atividade mineradora, as pessoas envolvidas com esta atividade buscaram outra alternativa, que acabou sendo a atividade agrícola. A cultura de fumo foi a mais comum, utilizando trabalho escravo (GONÇALVES, 2003).

No século XIX, a inauguração da estrada de ferro Cruzeiro (SP) - Três Corações do Rio Verde (MG), em 1884, dinamizou a região, que agora contava com um eficiente meio de transporte interligando todo o sul de Minas. Isto permitiu trocas mais intensas entre os povoados, aumentando a circulação de pessoas e serviços, e fomentando as atividades comerciais.

No início do século XX, a região de Passa Quatro recebeu imigrantes italianos e franceses, que muito contribuíram para o desenvolvimento da cidade, inclusive influenciando o estilo das construções, resultando num belo casario, preservado até os dias de hoje.

Durante as décadas 1950 e 1960, a região viveu na sombra do Circuito das Águas, que tornou- se o principal pólo de turismo da área, devido à exploração do produto estâncias hidrominerais e cassinos. Passa Quatro, Pouso Alto, Itamonte e Itanhandu, principalmente, se beneficiavam de uma pequena parcela deste fluxo de turistas, já que se localizam nas estradas de acesso ao circuito e serviam de paragens para os turistas em busca das águas medicinais.

Geografia

Localizada na porção mais elevada da Serra da Mantiqueira, a região das TAM possui um ecossistema único no Brasil devido à sua altitude, onde predominam cotas acima de 1.000m, o que determina características especificas de clima, fauna e flora. A região concentra cinco dos mais altos picos do país, a saber: Agulhas Negras (2.789m, na divisa de Itamonte com o estado do Rio de Janeiro), Pedra da Mina (2.797m), Três Estados (2.665m), Capim Amarelo (2.392m) e Itaguaré (2.308 m), em Passa Quatro.

A região possui várias áreas de proteção ambiental: a APA da Mantiqueira (422.873 ha) (ver Figura 5), a Floresta Nacional de Passa Quatro (FLONA, 335 ha), o Parque Nacional do Itatiaia (30.000 ha) e Parque Estadual da Serra do Papagaio (23.917 ha). Cada uma destas áreas de conservação procura garantir a preservação do ambiente natural, controlando o uso, a ocupação e a exploração dos recursos.

Figura 5 – Delimitação da APA da Mantiqueira

Um detalhado levantamento das características físicas da região foi elaborado por ocasião do Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico (PDDT) da região, concluído em 1998.

Economia

Segundo relatório da Fundação João Pinheiro (2005), a região sul de Minas possui destaque no setor agropecuário, com bons resultados nas culturas de café, milho, cana-de-açúcar, mamona, frutas, mandioca, batata, leite, produção de carne suína, aves e ovos. Na indústria, destacam-se as atividades relacionadas a alimentos, material elétrico e de comunicações, extrativa mineral e têxtil. As principais cidades que concentram estas atividades são Poços de Caldas, Pouso Alegre, Varginha, Itajubá, Três Corações. Santa Rita do Sapucaí possui um pólo de tecnologia na área eletroeletrônica. O setor de Serviços é forte, face à presença das estâncias hidrominerais, destacando-se o comércio, estabelecimentos de ensino superior e hoteleiro.

No entanto, a região é considerada “estagnada economicamente” (ORTEGA apud GONÇALVES, 2003) devido ao declínio das atividades exercidas. Até a década de 1950, as lavouras estavam ocupadas com fumo, milho e mandioca. Gradativamente, face à popularização dos cigarros industrializados e ao “boom da batata”, estas culturas foram sendo substituídas pelas pastagens e outras lavouras de subsistência. O ciclo da batata também não durou muito já que a produção nacional foi concentrada no Paraná (GONÇALVES, 2003)

Com o avanço das décadas, as grandes propriedades foram sendo fracionadas entre os herdeiros, de forma que atualmente, na região, predominam as pequenas propriedades com mão-de-obra familiar. As atividades exercidas são a pecuária leiteira, e a cultura de legumes e hortaliças variados, que são utilizados para subsistência, trocados ou comercializados na própria região. A baixa capacidade produtiva limita a inserção desta produção em mercados

consumidores maiores, reduzindo suas possibilidades de crescimento e modernização. A alternativa encontrada para aumentar a renda das famílias é o processamento de laticínios que, por ser realizado de forma doméstica, normalmente não atende às normas da vigilância sanitária, limitando o comércio destes produtos. A comercialização da produção é realizada então em nível local, através de trocas entre as propriedades ou abastecendo o comércio local.

Outro entrave ao aumento da produção, é o relevo da região, muito acidentado que impossibilita a mecanização da lavoura.

Tais dificuldades têm estimulado a diversificação das atividades ou mesmo o êxodo. Conforme os índices levantados por Gonçalves (2003), a taxa média de crescimento da população urbana nesta região, na década de 1990, foi 12%, maior do que as médias de Minas Gerais, da região Sudeste e do Brasil. Este crescimento foi acompanhando do decréscimo da população rural, cuja taxa ficou em -0,8% no mesmo período.

Na diversificação de atividades, foram introduzidas novas culturas, como pêssego, ameixa, maçã, figo e amoras (frutas de clima temperado). Recentemente, alguns municípios têm desenvolvido a truticultura e apicultura (MELGAR, 1998).

A partir da década de 1960, algumas granjas foram introduzidas na região e na década de 1990 cresceram com a modernização e chegaram a ter 5 milhões de aves. No entanto, esta é uma atividade que não é bem vista na região, já que, devido à mecanização, uma granja ocupa pouquíssima mão-de-obra (não mais do que quatro funcionários) e produz muito resíduo orgânico (excrementos e restos dos animais)

Passa Quatro concentra um pequeno número de indústrias de atividades variadas, como uma engarrafadora de água mineral e fábricas de papelão, parafusos, calçados, tinturaria industrial e peças eletroeletrônicas (GONÇALVES, 2003).

Turismo

A atividade turística existe na região há algumas décadas, estimulada principalmente pelas cidades vizinhas de Caxambu e São Lourenço, caracterizando um turismo de estâncias hidrominerais. Com a decadência dos cassinos e das estâncias, outras formas de turismo começaram a ser exploradas. Nas últimas décadas, tem predominado a exploração do turismo rural, incrementado nos dias de hoje pelo ecoturismo, turismo de aventura e de eventos. É, com este último, que se busca equilibrar a sazonalidade.

Segundo Rodrigues (2001), em escala municipal torna-se difícil distinguir o turismo rural do ecoturismo, estas atividades acabam por se complementar, tornando-se um híbrido que, em casos acentuados, poderia ser chamado de turismo ecorrural. Na região das TAM, este hibridismo pode ser verificado, principalmente porque as atividades ainda acontecem em âmbito municipal e não regional.

As atividades de lazer existentes estão relacionadas ao meio ambiente e esportes de natureza, como rafting, cavalgadas, alpinismo, trekking, entre outros. A infra-estrutura hoteleira é predominantemente de pequeno porte, com algumas exceções em Passa Quatro (Hotel Recanto das Hortênsias) e Pouso Alto (Hotel Serraverde).

Cinco dos sete municípios que compõem as TAM fazem parte do Programa Estrada Real: Passa Quatro, Pouso Alto, Itamonte, Itanhandu e São Sebastião do Rio Verde. Os outros dois, no entanto, ficam na área de influência deste programa, usufruindo os fluxos turísticos e investimentos em infra-estrutura.

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