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CAPÍTULO 3 AS POLÍTICAS DE TURISMO

3.3 P OLÍTICA DO E STADO DE M INAS G ERAIS

3.3.1 O Projeto Estrada Real

Paralelamente, um grande projeto turístico tem sido desenvolvido no estado de Minas Gerais, o Projeto Estrada Real. A Estrada Real era o caminho utilizado, no século XVII, para ligar o litoral, onde se concentravam as principais vilas da época da colônia, ao interior do sertão, onde estavam sendo explorados ouro e pedras preciosas, que passaram a ser a principal atividade econômica da colônia, após o declínio da atividade açucareira.

A busca pelas riquezas provocou o aumento no afluxo de pessoas que buscavam o interior, e a dificuldade representada pelo território, que possuía diversos obstáculos geográficos, fez com que se marcasse um caminho. Este caminho começava na região do Vale do Paraíba, onde hoje é o estado de São Paulo, e seguia até Vila Rica de Ouro Preto, chamado de Caminho Velho.

Estes caminhos recebiam a denominação de Estrada Real, porque eram as “únicas vias autorizadas de acesso à região das reservas auríferas e diamantíferas da capitania das Minas Gerais” (SANTOS, 2005). Isto significava que todo qualquer trânsito de mercadorias, pessoas, ouro e diamantes deveria passar por estes caminhos e era controlado e taxado pela coroa.

“Durante todo o século XVIII, e também em parte do XIX, quando a era mineradora já se fora e os caminhos se tornaram livres e empobrecidos, as estradas reais foram os troncos viários

principais do centro-sul do território colonial” (IDEM). Por isso, foram responsáveis por um vetor de desenvolvimento e ocupação que permitiu a ocupação do interior do Brasil. “O povoado à beira do caminho, com o cruzeiro, a capela, o pelourinho, o rancho de tropas, a venda, a oficina e as casas de pau-a-pique simbolizou, durante longo tempo, o processo de nucleação urbana do centro-sul da colônia” (IBIDEM).

A exploração aurífera prosperou e promoveu um intenso fluxo migratório de pessoas para a região das minas. Preocupada com a evasão de suas riquezas, a Coroa Portuguesa resolveu, em 1698, criar um novo caminho que pudesse ser controlado severamente. O traçado deste novo caminho ligava Vila Rica ao Rio de Janeiro, sede da colônia e do porto por onde seriam embarcadas as valiosas cargas para Portugal. Este caminho passou a ser chamado de Caminho Novo da Estrada Real e, a partir de 1720, por determinação da Coroa, deveria ser a única via para escoamento do ouro proveniente de Minas Gerais (GUERRA et al., 2003).

O valor cultural e histórico do percurso da Estrada Real foi o ponto de partida para motivar o governo do estado de Minas Gerais a criar um programa para sua preservação e exploração turística. Em 1999, o governo estadual promulgou a Lei n º 13.173/99, que dispõe sobre o “Programa de Incentivo ao Desenvolvimento do Potencial Turístico da Estrada Real”, e foi elaborada com base em contribuições de representantes dos setores público e privado ligados ao setor. Esta iniciativa busca desenvolver o turismo na região, visando a preservação do caminho da Estrada Real e o fomento de atividades que promovessem a criação de empregos e renda para a população que vive no entorno da estrada. O percurso da Estrada Real contempla 177 municípios, sendo 162 em Minas Gerais, 8 no Rio de Janeiro e 7 em São Paulo (ver Figura 4). Espera-se que os mais de 1.400 km do percurso atraiam cerca de 2,5 milhões de turistas por ano, gerando mais de 178.000 empregos e U$S 1,25 bilhão para as economias municipais (SETUR, 2006).

Paralelamente ao trabalho da SETUR, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) criou o Instituto Estrada Real (IER), uma sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como missão “liderar o processo de desenvolvimento estratégico sustentado para a área de influência da Estrada Real, atraindo o turista, sendo o referencial de conhecimento,

Figura 4 – Mapa da Estrada Real

divulgação e provedor de informações, contribuindo para a melhoria constante das condições socioeconômicas das regiões” (IER, 2005). Em conformidade com os objetivos do organismo que o criou, a FIEMG, possui o objetivo primordial de “fomentar negócios e turismo para o desenvolvimento da área de influência da Estrada Real” (IDEM).

O trabalho do IER vem alcançando muita visibilidade em escala nacional, devido ao seu esforço e empenho em promover e divulgar a Estrada Real. No entanto, sua atuação tem gerado controvérsias quanto à sua abrangência, que estaria sufocando a atuação da SETUR, a responsável pela implementação do programa18.

A atuação do IER tem gerado preocupação também junto aos idealizadores do Programa Estrada Real, relativa à formatação do produto turístico. Na concepção original, o Programa previa um horizonte de implementação de médio longo prazo, devido à pouca estruturação turística ao longo do trajeto. Por isso, o programa seria implementado paulatinamente, considerando o traçado original como um eixo estruturante, onde seriam priorizadas ações estruturais e de capacitação para então ser iniciado um processo de marketing.

De fato, da Estrada original existem poucos trechos com pavimentação ou delimitação original e, em outros locais, existem até mesmo construções realizadas em cima de resquícios da estrada. Outra preocupação reside no fato de que atualmente, o traçado original da Estrada Real passa por pontos perigosos, como por exemplo, favelas e outras áreas de risco, ou então é entrecortada por rodovias estaduais ou federais.

Outro aspecto de preocupação é a carência de serviços de turismo (hospedagem, alimentação, transporte, guias) ao longo dos 1.400 km do percurso. É certo que em algumas cidades, que já exploram o turismo, como Parati, Ouro Preto e Tiradentes, esta infra-estrutura já existe, mas em muitos outros trechos a falta de apoio ao turista é crônica, faltando inclusive sinalização. Ou seja, a Estrada Real não é, ainda, um produto turístico formatado. Ela possui potencial para ser um grande atrativo de turistas em nível supra nacional, assim como o Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Mas da forma como se encontra atualmente, não tem como satisfazer as demandas de um movimento turismo. E o IER tem atuado fortemente na divulgação da Estrada Real, como se estivesse pronta para receber os 2,5 milhões de turistas de imediato.

A SETUR continuou desenvolvendo seu trabalho no sentido de desenvolver a infra-estrutura ao longo do trajeto. Para isso, foram criados alguns decretos abrindo linhas de financiamento que visavam o fomento dos municípios pertencentes ao Projeto Estrada Real. Em 19/04/2003, foi criado o Decreto 43.276/03, que regulamenta o Fundo de Assistência ao Turismo (FASTUR). No mesmo ano, é promulgado o Decreto 43.539/03, que cria o Programa de Desenvolvimento de Empreendimentos da Estrada Real (FUNDESE/ESTRADA REAL). Este programa tem como objetivo “conceder financiamentos a microempresas, empresas de pequeno e médio portes e cooperativas de produção e comercialização, localizadas ou a serem implantadas nos municípios (...), desde que o empreendimento objeto do financiamento tenha vinculação direta com o circuito turístico da Estrada Real”.

Estes decretos foram importantes para a região das TAM porque abriram oportunidades de financiamento para novos empreendimentos na região, embora sejam destinados a investimentos do setor privado.

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