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CAPÍTULO 4 AS TERRAS ALTAS DA MANTIQUEIRA

4.2 A ASSOCIAÇÃO

4.2.1 História

A origem deste circuito remonta a 1998, quando os hoteleiros da região reuniram-se para formar uma associação que promovesse o turismo local e concentrasse os esforços de marketing e publicidade. Estes empresários vislumbravam um potencial igual ou maior que o do vizinho Circuito das Águas, que teve seu auge na década 1950. A sugestão do nome “Terras Altas da Mantiqueira” foi contribuição de Manoel Costa19, que foi um dos principais catalisadores do processo de construção da associação. O nome foi muito bem aceito entre os empresários, desde o início, e logo passou a ser divulgado espontaneamente.

As primeiras reuniões contaram com a presença dos empresários da região e alguns representantes do poder púbico local. O formato da associação foi discutido e chegou-se à conclusão que o ideal seria uma associação sem fins lucrativos, composta por representantes de todos os municípios.

19 Manoel Costa no ano seguinte, em 1999, assumiria o cargo de Secretário de Estado de Turismo de Minas Gerais, na recém criada Secretaria de Turismo.

A iniciativa teve apoio do SENAC, que financiou a elaboração de um Plano Diretor de Desenvolvimento Turístico (PDDT) para a micro-região e criou cursos profissionalizantes no setor, para as localidades envolvidas. O PDDT foi elaborado pelo consultor Ernesto Melgar, um uruguaio, residente no Brasil, que possui experiência profissional junto à Organização Mundial de Turismo (OMT).

O PDDT fez um levantamento minucioso das características sociais, econômicas, físicas e culturais dos sete municípios àquela época interessados na associação. Elenca os atrativos turísticos existentes e indica algumas alterações que deveriam ser feitas para melhorar a respectiva atratividade. Uma de suas melhores contribuições foi uma pesquisa de demanda turística, realizada na região, que apontava os principais centros emissores atuais e potenciais. A comprovação de que os principais fluxos turísticos vinham do Rio, São Paulo e da região do Vale do Paraíba, eram animadores, já que apontavam uma série de nichos de mercado pouco ou mesmo inexplorados.

Antes mesmo da apresentação do PDDT pelo consultor, os prefeitos da região se anteciparam e assinaram uma resolução em conjunto (Resolução nº001/98) que dispunha sobre a criação da região denominada Terras Altas da Mantiqueira. A região é composta pelos sete municípios (Alagoa, Itamonte, Itanhandu, Passa Quatro, Pouso Alto, São Sebastião do Rio Verde e Virgínia) e é reconhecida como “estância climática para a exploração do turismo”.

O SENAC atuou ainda em uma parceria com a Secretaria Estadual de Turismo do Governo de Minas Gerais, na criação de um modelo de Cadeia Produtiva de Turismo para a região, que identificava os seus seis principais elos. O modelo pretendia evidenciar a relação de interdependência e complementaridade entre eles, na busca de sinergias que potencializassem o desenvolvimento de setores e empresas (MASSARI, 2005).

Em 31 de março de 1999, finalmente ocorreu a primeira Assembléia de constituição da sociedade sem fins lucrativos, Associação das Terras Altas da Mantiqueira (ATAM), com a aprovação do Estatuto Social, seguida da reunião do conselho executivo e eleição de sua diretoria. Foi eleito, para a presidência, o senhor Carlos André Musa de Brito Sarmento20, e para a vice-presidência, o senhor Paulo Murilo da Costa Brito21. Os dois estiveram presentes desde as primeiras reuniões e faziam parte da comissão provisória para conduzir a associação ainda não formalizada. Neste mesmo período, foi nomeada uma secretária executiva, uma funcionária da Prefeitura de Itamonte cedida para trabalhar exclusivamente na associação.

Segundo o Estatuto Social aprovado nesta assembléia, o objetivo principal da associação era: “a promoção da imagem da região (...), bem como a integração das empresas situadas nestes municípios, visando incrementar a indústria turística da região e todas as atividades correlatas”.

Para alcançar este objetivo, o mesmo Estatuto previa as seguintes ações por parte da associação:

a) promover debates, estudos, seminários, congressos, palestras e eventos de qualquer outra natureza que sirvam para atingir o fim desejado;

b) representar as empresas turísticas e demais associados junto às autoridades federais, estaduais e municipais, de todos os escalões, sempre que se fizer necessária a promoção das terras altas da Mantiqueira, nunca visando interesse individual e sim o

20 Proprietário do Hotel Serraverde, em Pouso Alto.

coletivo, principalmente junto aos municípios que formam as Terras Altas da Mantiqueira;

c) publicar cartas, manifestos, livros ou quaisquer outros documentos adequados à defesa dos interesses e à promoção;

d) desenvolver, periodicamente, campanhas de publicidade para dar à indústria turística uma imagem adequada perante à comunidade local, estadual e de todo o país, bem como manter a imprensa informada de seus objetivos e realizações e dos problemas enfrentados pelos diversos setores da economia da região;

e) fazer representar-se junto a entidades congêneres de outros estados ou países e ainda de associações internacionais;

f) manter relacionamento com entidades públicas e privadas de outros países, especialmente no que se refere ao turismo na região;

g) apoiar iniciativas que visem treinamento e qualificação de pessoal da região para que possam ser aprovado (sic) em todos os setores de sua economia;

h) participar da correta execução da política turística regional e servir às autoridades municipais, estaduais e federais como órgão consultivo, quando assim for solicitado;

i) desenvolver estudos relacionados com a compra e consumo de materiais e equipamentos das empresas turísticas, promovendo sua função de distribuidor local sem fins lucrativos perante seus associados;

j) estabelecer e promover serviços de capacitação e treinamento de recursos humanos locais, atuando como fornecedor de mão-de-obra qualificada às empresas associadas que necessitarem;

k) desenvolver e realizar levantamentos estatísticos para determinar periodicamente os dados sócio-econômicos derivados da atuação dos empresários turísticos locais, informando de novos investimentos, taxas de retorno de capitais, emprego direto e indireto gerado, ações de benefício social desenvolvido pela sociedade e aportes fiscais municipais e estaduais;

l) promover para que a atividade hoteleira tenha uma adequada representação nas diversas entidades oficiais e privadas que tenham, como principal objetivo, a promoção e o fomento da atividade turística da região.

As ações relacionadas acima refletem bem o espírito que tomava os integrantes da ATAM à época. A abrangência do escopo de ação evidencia os anseios e expectativas deles, que depositavam na associação a esperança de transformar o turismo local, trazendo prosperidade à região.

No ano seguinte, em 23 de março de 2000, dois municípios são acrescentados à associação: Delfim Moreira e Marmelópolis, e mais uma pessoa é contratada para trabalhar na ATAM, assumindo a função de Diretora de Planejamento e Administração. A inclusão destes municípios demonstra que, a esta altura, a associação gozava de boa imagem, sendo capaz de agregar mais dois integrantes.

Em setembro de 2000, acontece a 2ª edição da ABAV Multiminas, a maior feira de turismo do estado, e a ATAM participa com um estande. É interessante a forma como se deu a participação da associação nesta feira, conforme o registro no livro de atas da ATAM. Um

único associado, o proprietário da Trutaria Delfim Moreira, fez uma doação no valor de R$1.200,00 para as despesas de hospedagem, alimentação e transporte das três pessoas enviadas. As Prefeituras de Itanhandu e Passa Quatro forneceram meios de transporte para o pessoal, móveis e objetos necessários à decoração do estande. O espaço na feira foi cedido pela SETUR, que ainda emprestou um aparelho de TV e vídeo utilizados para exposição de audiovisual. Durante a feira, a ATAM atuou em parceria com a Associação dos Artesãos das Terras Altas da Mantiqueira (ARATAM), exibindo e vendendo os produtos desta no estande. Trata-se de um bom exemplo de como deve funcionar o associativismo para promover o turismo, integrando apoio governamental e privado.

Em julho de 2000, foi aprovado o Plano Estrutural da ATAM, com a finalidade de “orientar as ações dos órgãos públicos, da associação e de seus associados para o desenvolvimento do turismo” na região. Para tanto, este Plano previa as responsabilidades do poder público municipal, da associação e dos associados.

No mesmo período, também foi aprovado o Regimento Interno da ATAM, que define a estrutura de cargos e hierarquia da associação e as atribuições de cada função.

No entanto, na reunião seguinte, em 10 de outubro de 2000, o Conselho Executivo deliberou “adormecer as atividades” da ATAM a partir de 30 de novembro de 2000, devido à “absoluta falta de recursos e sem perspectiva de recebimento das contribuições previstas” (Ata de Reunião do Conselho Executivo da ATAM, de 10/10/2000). A funcionária que trabalhava como secretária executiva foi dispensada e o aluguel da sede em Santana do Capivari foi rescindido, assim como a assinatura das linhas telefônicas contratadas. Nesta ata, relata-se uma crise instalada na ATAM, e são descritas dificuldades na organização e gestão da associação, assim como financeiras. Segundo relatório financeiro apresentado na ocasião,

nenhuma prefeitura manteve-se adimplente no ano de 2000, tornando a ATAM deficitária22 e inviabilizando a realização de quaisquer atividades, e até mesmo a sua própria subsistência. De acordo com os conselheiros, a crise deveu-se, sobretudo, ao ano eleitoral.

Nos anos seguintes, em 2001 e 2002, foram realizadas algumas reuniões do Conselho Executivo da ATAM, sem, no entanto, prever qualquer realização objetiva. Foram registradas várias manifestações a favor da retomada das atividades da associação, inclusive a de alguns prefeitos da região, que destacaram a importância e a sua necessidade e o desejo de vê-la operando. No entanto, nenhuma ação concreta foi realizada. O enfraquecimento da associação fica evidente.

No final de 2001, em dezembro, a assembléia geral reuniu-se para eleger uma nova diretoria, com o intuito de injetar ânimo para a retomada. Ainda assim, pouco foi feito e apenas duas outras reuniões aconteceram, onde foram tratados assuntos de menor importância.

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