• Nenhum resultado encontrado

A REINCIDÊNCIA DO EGRESSO COMO CONSEQUÊNCIA DA INEFICÁCIA

Um grande indício que pode provar a ineficácia das penas privativas de liberdade no que tange à ressocialização dos apenados, São os elevados índices de reincidência, onde a grande maioria dos ex-detentos que retornam ao convívio social, voltam a delinqüir e acabam retornando à prisão.

Essa realidade é um reflexo direto do tratamento e das condições a que o condenado foi submetido no ambiente prisional durante o seu encarceramento, aliadas ainda ao sentimento de rejeição e de indiferença sob o qual ele é tratado pela sociedade e pelo próprio Estado ao readquirir sua liberdade. O estigma de ex-detento e o total desamparo pelas autoridades faz com que o egresso do sistema carcerário torne-se marginalizado no meio social, o que acaba o levando de volta ao mundo do crime, por não ter melhores opções228.

Desta maneira, a sociedade na qual o egresso buscará reinserção, ao invés de acolhê-lo o repele, como preconiza Mirabete229 quando afirma que “não obstante os esforços que podem ser feitos para o processo de reajustamento social, é inevitável que o egresso normalmente encontre uma sociedade fechada, refratária, indiferente, egoísta e que, ela mesma, o impulsione a delinqüir de novo.”

228 ZAFFARONI, Eugenio Rául. Manual de Direito Penal Brasileiro, p. 132.

229

A marginalização daqueles que cumprem ou já cumpriram pena privativa de liberdade aparece como um dos maiores obstáculos desta reprimenda, posto que caracterizam um enorme empecilho na reabilitação do egresso na vida em sociedade, aumentando, assim, as chances de o indivíduo retornar a cometer crimes.

Com o objetivo de afastar os efeitos negativos que incidem sobre a vida do preso e do libertado, há muito tempo tem-se ressaltado a importância do reatamento das relações do egresso com o mundo exterior. Uma das instituições que mais têm despertado as esperanças de um bom trabalho nesse processo é a do patronato230.

O patronato tem por finalidade assistir o egresso em sua vida em liberdade, “auxiliando-o a superar as dificuldades iniciais de caráter econômico, familiar ou de trabalho após o intervalo de isolamento decorrente do cumprimento da pena, em que se debilitaram os laços que o unem à sociedade.231

Assim como Mirabete, Zaffaroni232 também trata das dificuldades encontradas pelo egresso quanto à sua readaptação ao convívio social, e da importância do patronato nesse momento da vida dos ex-presidiários:

A acepção legal da palavra egresso é definida pela própria Lei de Execução Penal, que em seu artigo 26 considera egresso o condenado libertado definitivamente, pelo prazo de um ano após sua saída do estabelecimento prisional. Também é equiparado ao egresso o sentenciado que adquire a liberdade condicional durante o seu período de prova. Após o decurso do prazo de um ano, ou a cessação do período de prova, esse homem perde então a qualificação jurídica de egresso, bem como a assistência legal dela advinda. Legalmente, o egresso tem um amplo amparo, tendo seus direitos previstos nos artigos 25, 26 e 27 da Lei de Execução Penal. Esses dispositivos prevêem orientação para sua reintegração à sociedade, assistência social para auxiliar-lhe na obtenção de emprego e inclusive alojamento e alimentação em estabelecimento adequado nos primeiros dois meses de sua liberdade. A incumbência da efetivação desses direitos do egresso é de responsabilidade do

230

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, p. 244.

231

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de direito penal, p. 244.

Patronato Penitenciário, órgão poder executivo estadual e integrante dos órgãos da execução penal.

O Patronato, além de prestar-se a outras atribuições relativas à execução penal, no que se refere ao egresso, tem como finalidade principal promover a sua recolocação no mercado de trabalho, a prestação de assistência jurídica, pedagógica e psicológica. É um órgão que tem um papel fundamental dentro da reinserção social do ex-detento. O cumprimento do importante papel do Patronato tem encontrado obstáculo na falta de interesse político dos governos estaduais, os quais não tem lhe dado a importância merecida, não lhe destinando os recursos necessários, impossibilitando assim que ele efetive suas atribuições previstas em lei233.

Essa assistência dada em função de evitar o egresso não deve ser considerada como uma solução ao problema da reincidência dos ex-detentos, uma vez que os fatores que geram esse problema são na sua maioria devidos ao ambiente criminógeno da prisão, o que exige a adoção de medidas durante todo o período de encarceramento. Entretanto, o trabalho efetuado sobre a pessoa do egresso diminui de maneira considerável os efeitos degradantes por ele sofridos durante o tempo que ficou preso e facilitaria a sua readaptação ao convívio social.

Não basta a lei para garantir a reinserção do infrator ao convívio social. O Estado precisa criar mais condições para viabilizar a aplicação da lei de Execução Penal, o que se verifica insuficiente, criando o circulo vicioso: Liberdade, Inadaptação, Nova delinqüência e Retorno ao Cárcere234.

A sociedade como um todo, juntamente com as autoridades devem promover a conscientização de que uma das principais soluções para a questão da elevada reincidência em nosso país, depende da adoção de uma política de apoio ao egresso, fazendo com que se faça valer o que está estabelecido na Lei

233 QUEIROZ, Paulo. Direito penal: Parte geral, p. 58.

234 SÁ, Matilde Maria Gonçalves de. O egresso do sistema prisional no Brasil. São Paulo: Paulistanajur, 2004, p.14

de Execução Penal, pois com a permanência dos moldes atuais, o egresso que não possui assistência hoje, continuará sendo o criminoso reincidente de amanhã.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente Monografia teve como objetivo demonstrar, mediante pesquisa em doutrinas e na legislação nacional, que o delito é um fato social e deve ser tratado com extrema cautela, uma vez que gerado no seio da comunidade, que além de ser a maior afetada pela criminalidade, representa uma ferramenta importante para controlá-la, de maneira conjunta do governo com a sociedade.

O aumento da população carcerária no Brasil vem aumentando em níveis absurdos, tornando os estabelecimentos prisionais em verdadeiras escolas para o crime e que, além de produzir seres humanos cada vez mais revoltos com a sociedade, o encarceramento não consegue atingir seu objetivo de devolver ao convívio social um indivíduo “recuperado”, cerceando assim o desenvolvimento do caráter e a recuperação do preso. Ademais, tamanha população carcerária gera enormes custos para os cofres públicos e o retorno que a sociedade tem com tal “investimento” é o aumento da violência e dos níveis de reincidência.

As penas alternativas ou restritivas de direito, destinam-se para os criminosos que representam pouco perigo para a sociedade analisando-se diversos fatores, seja pelo seu grau de culpabilidade, pelos seus antecedentes, pela sua conduta social e personalidade.

A Justiça Criminal intervém com o objetivo prevenir as infrações, promover a punição daqueles que cometem atos infracionais, constituindo a última reação do Estado em face da criminalidade. Em razão disso, é de suma importância reconhecer que a aplicação de penas alternativas contribuem para a reinserção do infrator à sociedade, sem esquecer da reparação do dano causado à vítima.

O caráter educativo e socialmente útil das sanções alternativas fazem com que estas representem um dos meios mais eficazes para prevenção da

reincidência dos infratores, uma vez que o infrator cumpre sua pena em "liberdade", sempre monitorado pelo Estado e pela comunidade, facilitando muito a sua reintegração social.

Esta trabalho foi dividido em três capítulos, no primeiro, abordou-se a origem e evolução histórica das penas no âmbito mundial e nacional; no segundo, foi feita a análise das penas restritivas de direito, trazendo conceitos, especificidades quanto à sua aplicação, além do seu surgimento e aplicabilidade dentro da legislação pátria; e, no terceiro e último capítulo, iniciou-se com abordagem de questões relacionadas à efetivação das penas alternativas, trazendo à tona a questão da ressocialização, do sistema prisional falho e das consequências geradas por esse sistema.

A pesquisa teve como base três problemas, os quais tiveram suas hipóteses:

1º Problema: A recuperação do apenado aplicando-se pena diferenciada da pena de reclusão é possível? Sim.

1ª Hipótese: As penas alternativas são benéficas ao apenado, posto que este não será submetido à pena privativa de liberdade em estabelecimento prisional; Confirmada.

2º Problema: O sistema prisional brasileiro tem capacidade de atingir o objetivo de recuperação do apenado? Não.

2ª Hipótese: As sanções alternativas são benéficas tanto para o apenado, quanto para a sociedade, uma vez que o apenado não é recolhido à prisão juntamente com criminosos de maior periculosidade, evitando assim o seu corrompimento e facilitando sua ressocialização; Confirmada.

3º Problema: Na conversão da pena privativa de liberdade em medida alternativa, há consequências trazidas pelo não cumprimento das condições estabelecidas no benefício? Sim

3ª Hipótese: Uma vez descumpridos os requisitos impostos, a consequência será a perda do benefício e a conversão por pena privativa de liberdade, nos termos da Lei. Confirmada.

Através da presente pesquisa, e das considerações finais, restaram comprovadas, em sua totalidades, as hipóteses levantadas no início desta.

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. 2 ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999.

BARELLI, W. Penas alternativas. O Estado de São Paulo, 1 nov. 1999.

BATISTA, Nilo. ‘A violência do estado e os parelhos policiais, cidadania e justiça. Revista da Associação dos Magistrados Brasileiros, ano 2, 1º semestre de 1998, n.4.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de GUIMARÃES, Torrieri. São Paulo: Martin Claret, 2005.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas. São Paulo: Saraiva, 1999/2000.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão – Causas e Alternativas. São Paulo: Saraiva, 2001.

BRUNO, Aníbal. Direito Penal. 3. ed. São Paulo: Forense, 1967. tomo III, p.81. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 1. CARDOSO, Franciele Silva. Penas e Medidas Alternativas : análise da efetividade de sua aplicação. São Paulo: Editora Método, 2004.

CERVINI, Raúl. Os Processos de Descriminalização, São Paulo: Revista dos Tribunais, Editora: RT, 1995.

COSTA, Walkyria Carvalho Nunes. Penas Alternativas. Consulex – Revista Jurídica, Brasília, DF, ano V, n. 104, p. 64-65, mai/2001

DEL-CAMPO, Eduardo Roberto A.. Penas restritivas de direitos. São Paulo: Juarez de Oliveira, 1999.

DELMANTO, Celso. Código penal comentado. São Paulo: Saraiva, 2000. DOTTI, René Ariel. Reforma penal brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 1988.

DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistemas de penas. 2 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1998.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir, tradução de Lígia M. Pondé Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1977.

GADELHA,Paulo de Tasso Benevides. Das penas alternativas. Revista Esmafe: Escola de Magistratura Federal da 5ª Região, Recife, n. 10, p. 123-131, dez. 2006. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/dspace/handle/2011/27209>. Acesso em: 18 out. 2010.

EL HIRECHE, Gamil Föppel, A Função da Pena na Visão de Claus Roxin. 1ª Edição. Editora Forense: São Paulo, 2004.

GRECO, Rogério. Direito Penal do Equilíbrio. 3.ed. Niterói: Impetus, 2008.

JESUS, Damásio Evangelista de. Penas Alternativas – Anotações à Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998. São Paulo: Saraiva, 1999.

KLOCH, Henrique; MOTTA, Ivan Dias da. O sistema prisional e os direitos da personalidade do apenado com fins de res(socialização). Maringá: Verbo Jurídico, 2008.

KUEHNE, Maurício. Doutrina e Prática da Execução Penal, Curitiba: Juruá, 1995. LEAL, João José. Curso de direito penal. Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris e FURB, 1991.

MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. 2 ed. 4 tir. Curitiba: Juruá. 2005.

MIRABETE,Júlio Fabrinni. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2007.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7 ed., São Paulo: Revista dos Tribunais.

OLIVEIRA, Odete Maria de. Prisão: um paradoxo social. 2. ed. Florianópolis: UFSC, 1996.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa jurídica e Metodologia da pesquisa jurídica. 10 ed. Florianópolis: OAB-SC editora, 2007.

PIMENTEL, Manoel Pedro. Ensaio sobre a pena: 1ª parte. São Paulo: Revista dos Tribunais, v. 85, n. 732, 2002.

PRADO, Luís Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

ROXIN, Claus. Problemas Fundamentais de Direito Penal. Editora Veja: São Paulo, 1986.

SÁ, Matilde Maria Gonçalves de. O egresso do sistema prisional no Brasil. São Paulo: Paulistanajur, 2004.

SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORREA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena: finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal. São Paulo; Revista dos Tribunais, 2002.

Regras de Tóquio, introdução in JESUS, Damásio de. Penas alternativas. Anotações à Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998. São Paulo: Saraiva, 1999. SILVA, E ; MEIRELES, A .Cadeia não é solução. Revista Isto É. São Paulo, 4 nov. 1997.

ZAFFARONI, Eugenio Rául. Manual de Direito Penal Brasileiro. 5. ed.. Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2004.