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Prestação pecuniária

2.5 ESPÉCIES DE PENAS ALTERNATIVAS

2.5.1 Prestação pecuniária

Segundo o texto legal, a pena de prestação pecuniária trata do pagamento de prestação em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada desde que com destinação social. A importância será fixada pelo juiz, de forma que o valor não seja inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos.

Observa-se que a finalidade dessa pena é reparar o dano sofrido pela vítima em face da infração penal, tendo a natureza de multa reparatória. Portanto, o valor fixado nesta sanção será destinado à vítima ou aos seus dependentes. Em não havendo vítima imediata ou seus dependentes, o montante da prestação pecuniária destinar-se-á à entidade pública ou privada com destinação social 123.

Preconiza Mirabete124 que:

Tal sanção consiste [...] no pagamento em dinheiro à vítima, a seus

dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz da condenação. Por disposição expressa, não pode ser ela inferior a um salário mínimo nem superior a 360 vezes esse salário (art. 45, § 1o, do CP, com a nova redação). Assim, de forma sumaria, deve o juiz fixar o quantum da reprimenda com base apenas nos dados disponíveis no processo, uma vez que não existe previsão legal específica de procedimento para calcular-se o prejuízo resultante da prática do crime.

122 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. p. 61.

123

MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. p. 89. 124 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. p. 269

Portanto, quando da sentença condenatória, o magistrado fixará o valor da prestação pecuniária, que vai de 1 a 360 salários mínimos e deverá, com base nas informações constantes nos autos, respeitar os seguintes critérios, conforme ensinamento de Damásio de Jesus125:

Haverá três posições: 1a) o juiz, para fixar o quantum da prestação pecuniária, entre um e trezentos e sessenta salários mínimos, emprega o mesmo critério da aplicação da multa comum: circunstancias judiciais do art. 59, caput, do CP e a situação econômica do réu (art. 60, caput); 2a) considera-se o mesmo sistema da fixação da multa vicariante (arts. 44, III, e 60, caput, do CP). Diferença entre as duas orientações: reside na primeira operação, em que, na primeira, leva-se em conta todas as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do CP; na segunda, somente as circunstâncias judiciais do art. 44, III; 3a) considera-se o valor do prejuízo da vítima. Nossa posição: a terceira. O critério não pode ser o da multa, uma vez que esta possui caráter retributivo. A prestação pecuniária é reparatória. Busca-se, diante disso, analogicamente ao art. 45, § 3o, do CP (perda de bens), o critério do prejuízo da vítima.

O art. 45, § 1º, em sua 2ª parte, previu a dedução do valor pago a título de prestação pecuniária do montante de eventual condenação do infrator em ação de reparação civil, caso coincida os beneficiários 126.

O parágrafo segundo do art. em comento, aduz sobre a possibilidade da conversão da prestação pecuniária em prestação de outra natureza se houver aceitação do beneficiário. Essa prestação de outra natureza, conforme ensinamento de Damásio127: “pode ter natureza pecuniária, restritiva de direitos ou liberdade, de obrigação de fazer ou não fazer, como por exemplo, reposição de árvores e doação de cestas básicas”.

Ressalte-se, que a prestação pecuniária embora possa ser semelhante, difere da pena de multa, pois aquela tem a natureza reparatória e essa

125JESUS, Damásio E. de. Penas Alternativas. p. 141 126

JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas. p. 141.

tem caráter retributivo, assim como, dentre outros critérios tais como o modo de fixação do quantum, ou a destinação do valor 128.

A experiência dos Juizados Especiais Criminais, nos quais se permitiu a conciliação para as infrações de menor potencial ofensivo dependentes de representação ou mesmo de iniciativa privada, sem dúvida contribui para que a idéia viesse a aflorar. Sendo criada essa modalidade de pena, que constitui em forma de punição que mais se aproxima do sentido retributivo existente entre a pena e o mal praticado 129.

Os resultados positivos que se verificam em tais casos, sem que seja necessária a menção na estatística, são significativos. Uma esmagadora maioria de situações tem redundado em acordos, nos quais o infrator soluciona seu problema sem a imposição de qualquer tipo de sanção, e a vítima vê seu prejuízo dirimido130.

Vale transcrever as observações de Bitencourt 131:

A fixação desta sanção penal em salários mínimos é, pelo menos,de duvidosa constitucionalidade [...] a grande “clientela” da Justiça Criminal provém das classes mais humildes, que dificilmente terá condições financeiras para suportar sanção desta natureza e nesses limites. Mais adequado, afora o ranço de inconstitucionalidade do parâmetro adotado, é o sistema dias-multa, que permite a aplicação mínima de um terço do salário mínimo (sem tê-lo como parâmetro) (art. 49 e § 1º do CP). Além desse limite, os mais pobres que constituem imensa maioria, terão grande dificuldade para suportar esse novo limite. Mas enfim, neste país, legisla-se “para inglês ver”, isto é, apenas “simbolicamente”.

Denota-se, assim, uma mudança do enfoque da legislação penal, onde surge a preocupação para com a vítima, e passa a prever uma forma de punir o infrator a modo de tentar restabelecer o status quo ante em relação à vítima.

128 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer. Penas alternativas. p. 90.

129 BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. p. 37.

130

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. p. 42.

No que tange ao pagamento da prestação pecuniária, afirma Franciele Silva Cardoso132:

O objeto da prestação pecuniária tanto pode ser dinheiro como títulos, pedras ou metais preciosos etc., e o seu pagamento pode se dar tanto à vista quanto parceladamente. A ordem de preferência para definir os beneficiários da prestação pecuniária é a seguinte: a) vítima pessoalmente; b) dependentes da vítima (descendentes, ascendentes, cônjuge e irmãos); c) entidade pública com destinação social; d)entidade privada com destinação social.

Assim como outras penas alternativas, a prestação pecuniária, possui caráter substitutivo e retributivo, ademais, como já mencionado além de buscar a punição do litígio do infrator e a vítima resta atendida aos ensejos e, de certa forma compensada pelo mal sofrido.