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Interdição temporária de direitos

2.5 ESPÉCIES DE PENAS ALTERNATIVAS

2.5.4 Interdição temporária de direitos

A interdição temporária de direitos é uma sanção que consiste em incapacitar temporariamente o apenado no que tange ao exercício determinada atividade.

A alternativa penal de interdição temporária de direitos procura inibir abusos e desrespeitos aos deveres funcionais e profissionais inerentes a cada atividade, tendo pois grande reflexo econômico. Assim, tem por escopo impedir que o infrator continue a praticar a atividade ou os atos, através dos quais delinqüiram, evitando deste modo que o condenado incorra em nova conduta delituosa, reduzindo, assim, a reincidência 148.

As sanções da interdição temporária de direitos estão previstas no art. 47 do Código Penal, quais sejam:

Art. 47. As penas de interdição temporária de direitos são:

I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;

II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público;

III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; IV - proibição de freqüentar determinados lugares.

A sanção ora em questão, que se divide em: proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandado eletivo; proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação

148 BATISTA, Nilo. ‘A violência do estado e os parelhos policiais, cidadania e justiça. Revista da

especial, licença ou autorização do poder público; suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo; e proibição de freqüentar determinados lugares, será estudada na sequência da presente pesquisa.

2.5.4.1 Proibição do exercício de cargo, função, ou atividade pública, bem como de mandato eletivo

A primeira espécie das penas restritivas de direitos, que está estabelecida no inciso I do art. 47 do CP, apenas é aplicada em casos de crimes praticados no exercício de cargo, função ou atividade, em descumprimento com os deveres que lhe são atribuídos, sendo indispensável que a infração cometida esteja diretamente ligada ao mau uso do direito interditado, com fulcro no art. 56 do CP:

Art. 56 - As penas de interdição, previstas nos incisos I e II do art. 47 deste Código, aplicam-se para todo o crime cometido no exercício de profissão, atividade, ofício, cargo ou função, sempre que houver violação dos deveres que lhes são inerentes.

Com esta medida, o legislador procurou abranger toda e qualquer atividade desenvolvida por aqueles que usufruem da condição de funcionários públicos. A suspensão temporária irá durar o mesmo tempo da duração da pena privativa de liberdade substituída.

Segundo leciona Cezar Roberto Bitencourt149:

[...] é indispensável que a infração penal tenha sido praticada com violação dos direitos inerentes ao cargo, função ou atividade. Não é necessário, porém, que se trate de crime contra a Administração Pública; basta que o agente, de alguma forma, tenha violado os deveres que a qualidade de funcionário público lhe impõe.

A proibição de que trata o dispositivo analisado é necessariamente temporária, não se confundindo, portanto, com a perda do cargo ou função pública ou mandato eletivo, que só ocorre com efeito da própria condenação, “nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a administração pública quando a pena aplicada for superior a quatro anos (art.

92, I, do CP)”. A interdição de direitos deverá ter a duração da pena de prisão substituída. Depois de cumprida a pena, o apenado deverá voltar a exercer suas funções normalmente, desde que não haja impedimento de ordem administrativa150.

Para que esta medida seja aplicada, deve ter sido o crime executado com violação aos direitos inerentes às atividades da quais está sendo proibido d exercer, deve-se considerar, que trata-se de punição temporária e quando do retorno às atividades, não poderá haver qualquer impedimento de ordem administrativa.

2.5.4.2 Proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público

Esta medida está revista no inciso II do art. 47 do CP e sua aplicação está conectada à violação de deveres, que devem especificamente ser inerentes à profissão, atividade ou ofício que dependam de uma habilitação especial, de licença ou autorização do Poder Público.

Embora muito parecida com a proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, esta medida diferencia-se pois sua aplicação vale também para os delitos próprios, como afirma Franciele Silva Cardoso151:

Diferentemente da pena de proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, a pena prevista no art. 47, II, do CP aplica-se também quando se tratar de delitos próprios como violação de segredo profissional (art. 154 do CP), omissão de notificação de doença (art. 296 do CP), patrocínio infiel (art. 355 do CP), e não apenas quando há a desobediência de deveres próprios de profissão, atividade ou ofício sujeito a habilitação, licença ou autorização do Poder Judiciário.

150

CARDOSO, Franciele Silva. Penas e Medidas Alternativas : análise da efetividade de sua aplicação, p. 96-97.

151 CARDOSO, Franciele Silva. Penas e Medidas Alternativas : análise da efetividade de sua aplicação, p. 97.

Algumas profissões exigem autorização do poder público ou habilitação especial, ou seja, requerem inscrições em Conselhos Regionais (advogados, médicos, engenheiros), cursos superiores, registros especiais, as quais são controladas pelo poder público 152.

Assim, esta sanção trata-se de pena restritiva específica, pois, somente poderá ser aplicada à atividade ou profissão pela qual o apenado cometeu o abuso ou crime, ou seja devem ser obrigatoriamente à ela inerentes, não tendo qualquer alcance à outras atividades que o mesmo venha a exercer.

2.5.4.3 Suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículos

Esta terceira hipótese de interdição temporária de direitos, prevista no inciso III do art. 47 do CP, e conforme estabelece o art. 57 do mesmo diploma legal, tal penalidade só pode ser aplicada em casos de crimes de trânsito na modalidade efetuados na culposa.

Na análise dos dispositivos penais (os dos art. 43 e 47, III, do CP e do art. 292 e demais do CTB), resta claro que o disposto no Código Penal será de aplicação bastante restrita, “uma vez que essa pena restritiva de direitos só se aplica aos crimes culposos de trânsito (art. 57), e nos dois tipos culposos de trânsito previstos no Código de Transito Brasileiro (homicídio e lesão corporal) a pena de suspensão da habilitação já vem cominada no tipo e é cumulativa com a privação de liberdade. Logo, pela conjugação dos dispositivos, será impossível substituir a pena privativa de liberdade por essa pena restritiva, vez que também é principal”153.

Consiste em uma sanção específica por ter sido reservada exclusivamente aos delitos culposos de trânsito. Todavia isso não significa dizer que

152 JESUS, Damásio E. de. Penas alternativas. p. 182.

153

CARDOSO, Franciele Silva. Penas e Medidas Alternativas : análise da efetividade de sua aplicação, p. 98.

em todos os crimes culposos de trânsito o Juiz irá aplicar tal punição, podendo ser cominada outra pena restritiva de direitos dependendo das circunstâncias do fato 154. A suspensão de autorização ou habilitação para dirigir veículo já era prevista no art. 47, III, CP antes da vigência do novo Código de Trânsito Nacional (Lei n° 9.503 de 23 de setembro de 1997). Com esse novo diploma legal, a suspensão ou proibição de obter habilitação para dirigir veículo automotor pode ser imposta como pena principal, isolada ou cumulada com outras penas (art. 292 do Código de Trânsito Brasileiro) 155.

De maneira diferenciada do Código de Trânsito Brasileiro, o Código Penal trata a pena de suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo como pena restritiva de direitos substitutiva, onde primeiro se aplica a pena privativa de liberdade, e só depois, quando cabível, a mesma é substituída. Diferença também ocorre quando, no CTN está estabelecido que, tal suspensão ou proibição pode ser imposta como penalidade principal, isolada ou cumulativamente com outras penalidades, o que definitivamente não ocorre no CP.

Neste ditame, Martins156 ensina que:

Esta, ao contrário das outras – que são genéricas –, é específica e aplica-se a determinados crimes. É também de grande alcance preventivo especial: ao afastar do tráfego motoristas negligentes e ao impedir que o sentenciado continue a exercer a atividade no desempenho da qual mostrou-se irresponsável ou perigoso, estará impedindo que se oportunizem as condições que poderiam, naturalmente, levar à reincidência. Por outro lado, é a única sanção que restringe efetivamente a capacidade jurídica do condenado, justificando, inclusive, a sua denominação.

A suspensão de autorização para dirigir é aplicada de maneira bastante específica, já que sua aplicação se dá somente em face de crimes cometidos de maneira específica, além de alcançar benefícios consideráveis quanto

154

MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas alternativas. p. 111.

155 MARTINS, Jorge Henrique Schaefer. Penas alternativas. p. 111.

à prevenção da ocorrência de novos acidentes, já que tira de circulação indivíduos que não estão devidamente aptos à conduzir veículos em segurança.

2.5.4.4 Proibição de frequentar determinados lugares

Esta reprimenda está elencada no inciso IV, do art. 47 do CP e consiste na limitação, específica, do direito de ir e vir do condenado, não atingindo, porém, a totalidade desse direito. Quando da aplicação desta medida, o juiz deverá considerar, que o apenado deixe de frequentar determinados lugares que, de alguma maneira, liguem o criminoso à conduta a que está sendo punido, assim.

A proibição a que se refere o dispositivo em questão não pode recair sobre lugares indeterminados; o juiz, ao substituir a pena privativa de liberdade por essa modalidade de pena, deve, necessariamente, estabelecer quais os lugares cuja visitação é vedada ao condenado, sendo certo que a definição desses locais deve guardar alguma pertinência com o crime a que se visa unir, pois para justificar a proibição é necessário que haja, pelo menos em tese, uma relação de influência criminógena com o local em que foram cometidas a infração penal e a personalidade e/ou conduta do apenado e que, por essa razão, se pretende proibir a frequência do infrator, beneficiário da alternativa à pena de prisão157.

A proibição de frequentar determinados lugares objetiva a prevenção da prática de novos delitos, vedando que o delinquente continue a frequentar determinados locais ligados com o crime que cometeu, dificultando assim a sua reincidência.