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A REFORMA PENAL DE 1984

A Reforma Penal de 1984 foi um marco de grande importância na história das penas no Direito Penal brasileiro, uma vez que, foi responsável pela instituição de modalidades inéditas de penas e abriu-se o caminho, como afirma Martins62, para uma “oxigenação do próprio pensamento dos profissionais do direito”

Em 1981 foi publicado o anteprojeto da parte geral do Código Penal de 1940, o qual eliminava as penas acessórias, passando a enumerar as modalidades: penas privativas de liberdade, penas restritivas de direito e penas patrimoniais. Na correção desse anteprojeto foi abolida a multa reparatória e substituído o aprendizado compulsório pela limitação do fim de semana 63.

A lei 7.209, de 11 de julho 1984 fez uma reforma na parte geral do Código Penal de 1940. Esta reforma trazia consigo a abolição das penas acessórias e o sistema do duplo binário que responde com a pena criminal e medida de segurança. Passa-se o nosso sistema a ser regido pelo sistema vicariante (responde com a pena criminal ou medida de segurança, ficando o ultimo reservado apenas para os inimputáveis). Nesse sentido observa Shecaira e Corrêa Júnior64: “A

61 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer, Penas Alternativas, p. 21

62

MARTINS, Jorge Henrique Shaefer, Penas Alternativas, p. 23.

63 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998, p. 87.

publicação da sentença, por seu caráter infamante, foi extinta e a perda da função pública tornou-se um efeito necessário da condenação criminal. O exílio local também foi extinto em virtude do caráter infamante”.

Preleciona Dotti65:

O Anteprojeto de revisão da Parte Geral do Código Penal brasileiro adotou algumas idéias básicas em torno das quais se desenvolveria todo o esquema proposto das reações criminais. Assim ele nos ressalta cinco linhas fundamentais, que seria: o repúdio à pena de morte, a manutenção da prisão, as novas penas patrimoniais, a extinção das penas acessórias e a revisão das medidas de segurança.

Assim, a reforma no direito penal brasileiro, por meio da Lei nº. 7.209, de 11.07.1984, procurou-se aplicar um aspecto mais realista, mais humano, a esse ramo do Direito. Muitos foram os fatores que levaram a essa mudança de enfoque na legislação penal, como, por exemplo, o aumento da criminalidade, o surgimento de modalidades criminais, a rejeição do apenado pela sociedade e a conseqüente reincidência, o desenvolvimento da tecnologia66. Pois a criminalidade tem motivação múltipla e enquanto não houver solução para esses problemas necessários será a convivência com as prisões67.

O Estado é o responsável pela segurança pública, tendo a seu dispor o encaminhamento do preso ao cárcere, como instrumento de defesa social. Sabemos que a prisão não é a melhor alternativa, pois, como meio de reinserção do indivíduo na sociedade ela é falha, mas não há outro caminho a percorrer senão esse68.

positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal, p. 46.

65 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 93.

66

BITENCOURT, Cezar Roberto. Novas penas alternativas. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 13.

67 SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORREA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena: finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal, p. 38.

68 SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORREA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena: finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal, p. 38.

Porém, não há que se dizer, que o problema prisional é o único responsável pela quantidade cada vez mais elevada de crimes, “a ele se agregam outros fatores, decorrentes da má distribuição de renda, da precariedade dos sistemas de educação, da falta de acesso ao trabalho, enfim, de diversas razões que dificultam o exercício de uma vida dentro dos padrões normais69”.

Como se percebe, a criminalidade possui motivações múltiplas, e enquanto não houver solução à esses problemas, necessária será a convivência com as prisões.

Em razão das superpopulações e da promiscuidade e do desrespeito com a relação ao ser humano, e da inexistência de um programa de acompanhamento, aconselhamento como medida de reinserção do preso na comunidade ampliou-se a Lei 7.209/84, os tipos de penas aplicáveis no país. O artigo 32 do Código Penal estatui que as penas sejam as privativas de liberdade, as restritivas de direito e as multas 70.

As penas privativas de liberdade são as de reclusão e as detentivas. As de reclusão que podem ser cumpridas nos regimes abertos, semi-abertos e fechados – art. 33 caput, observam para a fixação do regime prisional a quantificação da pena e as condições pessoais do apenado (art.33 § 2° alíneas a,b,c e §3°), enquanto as de detenção, somente podem ter início de cumprimento nos regimes abertos ou semi-abertos, ressalvada a possibilidade de regressão 71.

De qualquer sorte, o tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a trinta anos. Quando o agente for condenado a penas privativas de liberdade cuja soma seja superior a trinta anos, devem elas ser unificadas para atender ao limite máximo estabelecido, bem como,

69 MARTINS, Jorge Henrique Shaefer, Penas Alternativas. 2 ed. 4 tir. Curitiba: Juruá. 2005, p. 26

70 PRADO, Luís Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 91.

71 SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORREA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena: finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal, p. 42.

sobrevindo condenação por fato posterior ao início do cumprimento da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se, para esse fim, o período de pena jfar-se-á cumprido72.

Não houve qualquer restrição sobre a possibilidade de o acusado ser beneficiado com a suspensão condicional da pena, independente de ter sido condenado a pena de reclusão ou detenção, desde que a pena reclusiva ou detentiva não superasse dois anos (art.77, caput), ou a quatro anos quando se tratar de preso maior de 70 anos (art.77, §2°), desde que não registrada a reincidência e a culpabilidade, os antecedentes a conduta social e a personalidade, os motivos e circunstâncias do crime não indicassem que a medida não pudesse ser aplicada, por inócua ou ainda quando não fosse cabível a substituição por pena restritiva de direito (art.77, I, II, III). De qualquer forma o tempo máximo de cumprimento da pena não pode ultrapassar a 30 anos (art. 75) 73.

A grande inovação foi a criação de penas restritivas de direito as quais de acordo com o art. 43 e incisos, consistem em prestação de serviço a comunidade, interdição temporária de direito e limitações de fim de semana. Nesse sentido, aduz Jesus74: “[...] a tendência hoje é ampliar o catálogo das penas principais, não só permitindo a substituição das penas privativas de liberdade, para a exclusiva aplicação da multa, como também para imposição de outras sanções não privativas ou meramente restritivas de liberdade”.

De acordo com essa reforma, as penas previstas em nosso ordenamento passaram a ser: privativas de liberdade, restritivas de direito e multa, porém, Martins75 que “a principal inovação, foi a criação das penas restritivas de direito, as quais, consoante a definição do art. 43 e incisos do Diploma Penal, consistem em prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana. Dentre as penas restritivas de direito, tem-se a

72 Art. 75 e parágrafos da Lei 7.209/84.

73 SHECAIRA, Sérgio Salomão; CORREA JÚNIOR, Alceu. Teoria da pena: finalidades, direito positivo, jurisprudência e outros estudos da ciência criminal, p. 41.

74 JESUS, Damásio dePenas Alternativas – Anotações à Lei n. 9.714, de 25 de novembro de 1998. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 28.

prestação de serviços à comunidade, interdição temporária de direitos e a limitação do fim de semana".

O atual sistema de cumprimento de pena privativa de liberdade não está alcançando um de seus objetivos basilares, qual seja fazer com que o apenado se conscientize dos seus direitos e deveres como cidadão, e, conseqüentemente, torne-se apto ao convívio social. A pena privativa de liberdade, como sanção principal está falida. Ela proporciona a formação de delinqüentes altamente perigosos, embrutecidos, corrompidos, e deveria ser aplicada apenas nos casos em que ela é indispensável76.

A utilização irrestrita desse tipo de penalização, bem como o agravamento de sua execução, não reduz a criminalidade, já que, embora tenham surgido inúmeras leis estipulando novos tipos penais e agravando os tipos já existentes, não houve uma redução do índice de cometimento de crimes77.

Desta maneira, tidas como inovadoras, as medidas alternativas surgiram a fim de reformular e atualizar o sistema penal existente, procurando estabelecer penas proporcionais aos crimes cometidos, já que a pena de privativa de liberdade não consegue alcançar os níveis de ressocialização necessários.