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2.3 A TEORIA DE CUSTOS DE TRANSAÇÃO (TCT)

2.4 A Relação Contratual e a Assimetria de Informação.

Elaborar contratos envolve custos que podem ser ex-ante ou ex-post, ou seja, custos existentes antes da realização da transação ou após a transação. Partindo da premissa de que os agentes possuem uma racionalidade limitada, pois, tanto os compradores como os vendedores não conhecem todas as informações referentes ao processo de transação, nem conseguem prever tudo que vai ocorrer até a finalização do

contrato, este instrumento será sempre complexo e incompleto, daí a existência destes custos. Durante a elaboração destes contratos, assimetrias de informação e atitudes oportunistas, tais como, risco moral e seleção adversa, também podem ser geradas (FIANI, 2002).

Assimetria de informação ocorre quando um dos agentes, numa determinada transação, possui uma informação essencial que o outro não tem, ou quando um dos agentes não consegue identificar as intenções das ações do outro. Como conseqüência, estabelece assim uma desvantagem para um dos lados. Esse conceito sinaliza que os mercados são imperfeitos porque seus atores não possuem as mesmas condições de processar, interpretar e utilizar informações. Na presença dessas assimetrias, as relações contratuais entre os agentes podem apresentar desequilíbrios (OCKÉ- REIS, 2005).

Uma das principais características do setor saúde, tanto público como privado, são as formas em que se apresentam as assimetrias de informação entre médicos, pacientes, provedores e financiadores dos serviços de saúde. Essas assimetrias são oriundas da seleção adversa e do risco moral (ANDRADE & LISBOA, 2000).

A seleção adversa, decorrente das assimetrias de informação, prejudica a realização das transações antes mesmo do estabelecimento do contrato, pois uma das partes depende de informações relativas à natureza da outra, que nem sempre são fornecidas. (ANDRADE & LISBOA, 2000). Na relação entre fornecedores e compradores de produtos de saúde, por exemplo, os compradores não podem garantir que os bens comprados sejam fornecidos na quantidade e qualidade solicitada, conforme estabelecido no edital. Dado a racionalidade limitada, os compradores podem adquirir produtos com baixa qualidade por preços elevados, gerando problemas de ineficiência nos serviços e maiores custos. Esse comportamento deriva, portanto, do acesso à informação.

O risco moral é um comportamento oportunista, escondido e não conhecido por uma das partes do contrato, no momento de sua elaboração. Ele surge quando um usuário, ou a Instituição, numa transação, não sofre as consequências completas das suas ações, e então tem uma tendência ou incentivo para agir com menos cuidado,

deixando para a outra parte ou grupo, na transação, sofrer alguma responsabilidade em consequência daquele comportamento.

Em relação ao risco moral, poderia ser exemplificado, no serviço público, o consumo dos serviços oferecidos pelas Unidades de Saúde. Como os usuários não possuem todas as informações sobre os custos envolvidos dos procedimentos oferecidos, dada à gratuidade, sentem-se incentivados a sobreutilizá-los, ou seja, utilizar várias vezes o mesmo serviço. Dessa forma, tendem a agir de forma inapropriada, prejudicando os interesses das instituições públicas, que é o de ofertar o serviço para um maior número de usuários e revela a falta de alinhamento de interesses entre as partes (ANDRADE & LISBOA, 2000).

No nível contratual, o risco moral está relacionado à comportamentos oportunistas após a sua elaboração. Ao contrário da seleção adversa, em que a assimetria de informação está relacionada às característia relacionadas à informação desconhecida dos agentes, o risco moral advém do comportamento oportunista de uma das partes, que se encontra escondido e não revelado para a outra.

Segundo a Teoria Institucionalista é possível criar estratégias para reduzir as assimetrias oriundas da seleção adversa e do risco moral nas transações. Em relação à seleção adversa, através do estabelecimento de confiança entre os agentes, a partir da emissão de sinais (informações) da parte que as detém e através do estabelecimento de incentivos de quem precisa das informações, ou seja, o comprador oferece incentivos para atrair apenas àqueles fornecedores que possam ofertar as informações corretas, aqueles que possuem boa reputação no mercado. Em relação ao risco moral, essa assimetria poderá ser reduzida através do monitoramento da execução do contrato, estímulo ao comportamento positivo através de mecanismos de incentivo, realinhamento dos objetivos entre os agentes, estabelecimento de compromissos entre as partes (WILLIANSOM, 1985).

Segundo Williansom (1985), onde há oportunismo a racionalidade não é limitada e é possível especificar contratos completos, não deixando margens para comportamentos oportunistas. Onde há racionalidade limitada, mas não há oportunismo, contratos podem ser governados por cláusulas gerais desde que as partes do contrato

resolvam divulgar todas as informações relevantes abertamente e se comportar de forma cooperativa durante o contrato e na execução e renovação contratual. No entanto, quando os dois pressupostos comportamentais se aplicarem, surgirem dificuldades contratuais.

A atividade econômica vai além da transformação tecnológica de insumos em produtos. Os insumos são adquiridos no mercado através de contratos ou internamente através da firma. Por não ser possível garantir o perfeito funcionamento e controle dessas atividades, é que surgem os custos de transação (FARINA 1997).Dessa forma, a partir da Teoria de Custos de Transação, os custos podem ser divididos em:

2.4.1 Custos de pesquisa e informação: custos de se adquirir informações sobre preços e custos, referentes às assimetrias de informações relacionadas ao risco moral e seleção adversa, considerando que as informações são incompletas e mesmo que fossem plenas, os agentes não conseguiriam processar todas elas, dada a sua racionalidade limitada. Além disso, segundo Farina (1997) mesmo se a capacidade de processar as informações fosse ilimitada, estas precisariam ser utilizadas nos órgão competentes para que possibilitassem a resolução de problemas contratuais.

2.4.2 Custos de negociação: surgidos quando as circunstâncias impedem que o planejado seja realizado ou quando o oportunismo (condutas relacionadas à falta de honestidade) de uma das partes leva a renegociar ou cumprir sanções postas no contrato.

2.4.3 Custos de supervisão e garantia de que o contrato acordado será cumprido: são custos relacionados com o monitoramento da execução dos acordos firmados entre os agentes. Vale ressaltar que os contratos são incompletos e, por mais salvaguardas que tenham, não conseguem prever o comportamento futuro dos agentes.