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A RELAÇÃO DO ENSINO DA HISTÓRIA LOCAL E A EDUCAÇÃO

1 ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E PATRIMÔNIO

1.6 A RELAÇÃO DO ENSINO DA HISTÓRIA LOCAL E A EDUCAÇÃO

Na didática da história um dos objetivos do pensamento histórico é suprir as carências de orientação no tempo e a consciência de si identidade pessoal e social. (RÜSEN, 2011, p. 67) Um dos objetivos centrais do ensino de história na atualidade, relaciona-se à sua contribuição na constituição de identidades, na valorização do patrimônio histórico e cultural e na

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consciência histórica dos alunos. Nesta perspectiva a História, em especial a história local vem colaborar para uma nova visão sobre o ensino da disciplina. Segundo Schmidt e Cainelli:

O trabalho com a história local no ensino da História facilita, também, a construção de problematizações, a apreensão de várias histórias lidas com base em distintos sujeitos da história, bem como de histórias que foram silenciadas, isto é, que não foram institucionalizadas sob a forma de conhecimento histórico. Ademais, este trabalho pode favorecer a recuperação de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como constitutivas de uma realidade, histórica mais ampla e produzindo um conhecimento que ao ser analisado e retrabalhado, contribui para a construção de sua consciência histórica (2010, p. 140)

Por essa razão a disciplina de História deve contribuir para a formação do "cidadão e cidadã críticos" mostrando a importância da disciplina no processo de desenvolvimento da consciência histórica do educando. Considerando esses aspectos é que se deve repensar a questão de como os professores podem trabalhar com as fontes históricas utilizando-as como ferramentas de aprendizados.

Ao problematizar o patrimônio cultural, o ensino de História ultrapassa os limites das aulas expositivas ancorado no livro didático. A dinâmica de ensino e aprendizagem a partir da problematização do patrimônio cultural local, possibilita aos alunos uma maior compreensão do processo de construção da História a partir da interpretação das diversas narrativas que estão inseridas no patrimônio, e que muitas vezes não são percebidas.

Na caminhada com os alunos, pela Praça frei Caetano Brandão, no período da festividade de Santa Maria de Belém foi momento de descoberta, a maioria dos estudantes não tinham conhecimento dessa festividade. Os alunos conversaram com os organizadores sobre a festividade. Paulo Freire (2013), destaca o papel do professor como sendo não de transferir conhecimento, mas de criador de possibilidades para a produção ou construção desses saberes por parte do formando e esse processo ocorre em conjunto - educador e educando. Para o autor é necessário que o professor seja também um pesquisador, isso “Faz parte da natureza da sua prática docente a indagação, a busca e a pesquisa. Para isso, sua formação precisa ser permanente, o professor se perceba e se assume, porque professor, como pesquisador” (FREIRE, 2013, p.30) e ainda acrescenta que, nessa “...formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem é que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 2013, p.40). Neste sentido, faz-se necessário que o professor promova diálogos com os estudantes sobre a importância do estudo do patrimônio cultural nos processos de formação, a assim, envolvê-los, nas pesquisa e produção do conhecimento acerca do lugar em que vivem. O

59 entendimento de que os museus, monumentos e patrimônios, são pontos de partida para a atividade pedagógica, fortalece no professor a necessidade de levar os estudantes a participarem ativamente do processo de ensino e aprendizagem, no sentido de produzir e ampliar o conhecimento, e dar significado aos dados observados e investigados diretamente, pois:

A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural. (HORTA, 1999, p.4) Desta forma, defendemos o estudo do patrimônio cultural no ensino de História, como uma didática de ensino, cujo o conhecimento produzido pelo professor(a) e seus alunos, seja uma forma de conhecimento e valorização das diversas memórias disseminadas nos mais diferenciados sujeitos sociais, para que se possa apreender delas as diversas versões e olhares, que a experiência da histórica local se fundamenta e se constitui, não caindo somente na concepção “oficial” de memória e história que está alicerçada na visão dominante de apenas um segmento da sociedade ou de determinados indivíduos como se fossem os únicos representantes da memória social. O contato dos estudantes com os vestígios, sinais e documentos de diversos tempos precisam ser valorizados como evidência histórica.

É nessa lógica, que a Escola Rui Barbosa realiza suas atividades, amparadas pelo seu Projeto Político Pedagógico (PPP). Assim, a Educação Patrimonial na escola, ocorre por meio de projeto interdisciplinar, afim de aproximar o conhecimento abstrato das aulas de história com a prática de pesquisa em lócus, favorecendo a construção do conhecimento escolar, que de acordo com as concepções trabalhadas por Ana Maria Monteiro (2007), reforçam a tese em que “professores e alunos são sujeitos, portadores de visões de mundo e interesses diferenciados, que estabelecem relações entre si com múltiplas possibilidades de apropriação e interpretação” (MONTEIRO, 2007, p. 82) e não são meramente reprodutores e assimiladores de conhecimento cientifico produzido pela academia

Neste contexto, entende-se que, a história local, permite aos estudantes a oportunidade de olhar seu objeto de pesquisa (a cidade, o centro histórico e os objetos dos museus) e refletir sobre o passado e o presente, as mudanças e as permanências e seu significado. Compreender que o tempo passado representa formas diferentes de relação com o mundo, mas não de forma estanque e sim a partir de novas relações que vão se estabelecendo ao longo do tempo.

60 Ao problematizar o ensino da história a partir da educação patrimonial, espera-se que os alunos refletindo sobre o patrimônio local possam desenvolver um tipo de consciência histórica que promova um melhor desenvolvimento social da sua comunidade, pois, “[...] o ensino de história afeta o aprendizado de história e este configura a habilidade de se orientar na vida e de formar uma identidade histórica. ” (RÜSEN, 2011, 85 p.40). Sendo assim, esperamos que enquanto sujeitos históricos se sintam privilegiados de serem conscientes da própria historicidade reconhecendo a importância dos diversos agentes sociais que compõe a teia social em diferentes ambientes, tempos e espaços, reconhecendo que essas vivências forma a identidade, que é constituída pelas memórias e representações individuais e coletivas que juntas se completam e se legitimam, formam os contornos de como o indivíduo vê a si e ao todo.

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2 A CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA DO SABER HISTÓRICO ESCOLAR POR