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A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO POSSIBILIDADE DE UMA DIDÁTICA DE

1 ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E PATRIMÔNIO

1.3 A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL COMO POSSIBILIDADE DE UMA DIDÁTICA DE

A Educação Patrimonial no ensino de história pode se constituir numa didática de ensino de história ao pensar possibilidades didáticas para a constituição de noções entre os alunos e alunas sobre os sentidos de pertencimento, de valorização e de preservação do patrimônio. Demonstrar essa ideia é um dos objetivos da pesquisa que desenvolvemos na elaboração da presente dissertação. A História cumpre um importante papel na proposta e consecução da educação patrimonial, seja com propostas de projetos interdisciplinares relacionados à temática do patrimônio histórico cultural, seja em ações de aprendizagem para ampliação da consciência sobre o lugar de cada um na construção da identidade local e na percepção desta na globalização.

A didática que trata-se aqui é uma inflexão da produção historiográfica que visa discutir a função formativa da História a partir do tempo presente e pensa as relações entre as demais temporalidades para a formação humana dos indivíduos, partindo das reflexões históricas de Jörn Rüsen (1992; 2006). Na Didática da História e na perspectiva rüseniana os conteúdos renovados devem considerar as vivências dos estudantes e o contexto no qual estão inseridos, numa articulação entre história vivida e a história percebida, e isso constitui um desafio aos professores de história para ensinar de forma atraente aos estudantes, apropriando- se da história como ferramenta de transformação de si mesmo e logo de seus alunos também. Promovendo assim, uma Educação Histórica, cujos objetivos convergem para a formação ou contribuem para a formação de uma consciência histórica, que é a competência de ensejar a dimensão concreta da operação histórica, onde cada sujeito realiza no campo mental e representa no campo discursivo - a narrativa histórica. Essas competências a serem formadas nos estudantes foram visíveis no trabalho com o patrimônio do centro histórico de Belém.

41 O trabalho com o patrimônio histórico na educação básica é essencial no sentido de colocar o aluno em contato direto com as fontes patrimoniais, incentivando-os para a prática da pesquisa como meio de produção do conhecimento da história local, necessário para a valorização da memória, assim como a percepção de como são construídas e qual a importância daquele patrimônio para a comunidade, seja ele de natureza material ou imaterial. O trabalho com o patrimônio histórico cultural nas escolas além de favorecer a construção do conhecimento histórico a partir do local onde o estudante está inserido, contribui para diminuir a importância dada a história eurocêntrica que toma conta dos currículos escolares. Como mostra Circe Bittencourt:

[...]o compromisso do setor educacional articula-se a uma educação patrimonial para as atuais e futuras gerações, centradas no pluralismo cultural. Educação que não visa apenas evocar fatos históricos “notáveis”, de consagração de determinados valores de setores sociais privilegiados, mas também concorrer com a rememoração e preservação daquilo que tem significado para as diversas comunidades locais, regionais e de caráter nacional. (BITTENCOURT, 2009, p.178)

A contribuição dos professores nas escolas, fomentando ações que possibilite a produção do conhecimento através da oralidade, da memória de fatos significantes para a história local, contribui para que a comunidade se sinta parte desse processo histórico, conforme preconiza as diretrizes que regulamenta as questões educativas no Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em seu artigo 26 estabelece que: “a parte diversificada dos currículos do ensino fundamental e médio deve observar as características regionais e locais da sociedade e da cultura (...) voltada para a divulgação do “acervo cultural dos municípios e estados. ” (LDB, Lei nº 9.394/96) e nos componentes curriculares das diretrizes educacionais, tem-se nos Parâmetros Curriculares Nacionais, o destaque sobre o patrimônio, em que propõem ao aluno “conhecer a diversidade do Patrimônio etnocultural brasileiro, tendo uma atitude de respeito para com as pessoas e grupos que a compõem”. (PCN´s,1997, p.143).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais de História, documento tornado público pelo Ministério da Educação (MEC) em 1997/1998 já apontavam para essa direção ao incorporar à prática docente a educação patrimonial como uma metodologia importante ao ensino de História, pois “possibilita aos estudantes adquirirem, progressivamente, o olhar indagador sobre o mundo de que fazem parte” (PCNs, 1997, p.60) e ainda propõe que o professor inclua no seu planejamento projetos educativos que vincule os conteúdos a realidade local, bem como as características culturais locais, com objetivo de valorizar questões da própria comunidade, e ampliar os horizontes para compreensão das complexidades do país. (PCNs 1997,147-148).

42 Seguindo as orientações do documento acima, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rui Barbosa realizamos periodicamente visitas aos museus, praças, igreja, forte do castelo e através de aula oficina desenvolvemos o experimento didático utilizando o patrimônio histórico do centro histórico de Belém, cujo resultado tem sido essencial para formação cidadã dos estudantes, que tiveram oportunidade de conhecer um pouco da história desses espaços, passaram a ter uma nova visão do lugar que certamente ficará em suas memórias. Desta forma, fazer uso de ações educativas amparados na Educação Patrimonial e Educação Histórica como parte do currículo, no processo de ensino e aprendizagem, contribuiu para o fortalecimento de uma visão estruturada em conceitos que serão essenciais, para uma vivência consciente dos estudantes, que deverá compreender que:

[...]uma paisagem histórica é um cenário composto por fragmentos, suscitadores de lembranças e problemáticas, que sensibiliza os estudantes sobre a participação dos antigos e modernos atores da História, acrescentando-lhes vivências e concretudes para a sua imaginação. (PCNs, 1997, p.162)

Para que isso ocorra, faz-se necessário a estruturação dos currículos, das aulas de História ou trabalhos interdisciplinares, que fomente novas possibilidades de aprendizado, por intermédio do contato direto com as fontes patrimoniais, instrumentalizando os estudantes para fazer leituras da sua realidade e partindo dela compreender o universo sociocultural no qual está inserido. Como ressalta Mattozzi, “ o professor pode aproveitar essa ligação entre a história e os bens culturais para incluir no currículo estratégias de pesquisa histórico didáticas que façam uso dos bens culturais” (MATTOZI, 2008, p. 137), para que isso ocorra, faz-se necessário nossas ações educativas de:

[...] desenvolver nos jovens, através de um contacto direto e constante com fontes patrimoniais, nomeadamente no âmbito local, sentimentos de responsabilidade em relação ao património histórico, e de pertença a comunidades portadoras de memórias necessárias à compreensão do presente e à reflexão crítica e construtiva sobre o futuro. (PINTO,2011, p.1)

Partindo desse princípio, o professor de história necessariamente deverá utilizar o patrimônio histórico cultural como fonte geradora de conhecimento da história local, favorecendo os estudantes no entendimento dos conceitos históricos necessários para a sua formação. Vale ressaltar que a legislação educacional traz em suas linhas gerais, a determinação sobre a importância de valorizar os elementos culturais, principalmente focando sobre o ‘acervo cultural do município” o Guia Básico de Educação Patrimonial (1999), publicado pelo IPHAN, reforça a necessidade da escola enquanto instituição promotora do conhecimento, fomentar ações levando em consideração que a Educação Patrimonial:

43 [...] busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural. (HORTA, 1999, p.6).

Neste sentido, consideramos fundamental que a escola inclua a Educação Patrimonial na elaboração de seu currículo, pois, é no espaço escolar que a diversidade está presente e precisa ser trabalhada. A escola precisa estar atenta aos saberes que os estudantes trazem para o ambiente escolar, pois são elementos de seu cotidiano, do seu pertencimento cultural, tais como: modo de pensar, fazer e agir que deve ser dado a devida consideração a fim de evitar uma série de problemas que acabam ignorando, silenciando, e até omitindo o direito a devida participação, impossibilitando desta forma o fortalecimento da democracia e a valorização da pluralidade cultural.

Para atender está necessidade, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rui Barbosa, apresenta-se como um espaço aberto ao diálogo e a produção do conhecimento, no sentido de identificar e valorizar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio histórico e cultural do centro Histórico de Belém e ainda, estabelece a possibilidade do professor realizar esse estudo, através da elaboração de projeto de pesquisa que envolva os estudantes, nas observações, registros e análises, seja em museus, patrimônios, monumentos, praças, forte do castelo, parques, etc.

Entendemos que, o trabalho com a Educação Patrimonial é um meio de desenvolver o sentimento de reconhecimento sobre os bens históricos e culturais da cidade, valorizando-os e preservando, despertando assim o sentimento de pertencimento necessário para a construção de um conceito de identidade histórica e cultural através dos bens locais. O mapeamento desses bens em conjunto com a implantação da educação patrimonial na Escola Estadual Rui Barbosa, são instrumentos valorosos para promover esta consciência histórico-cultural coletiva. Esse aspecto é reforçado nos PCN para o Ensino Médio, ao afirmar que o professor deve:

Introduzir na sala de aula o debate sobre o significado de festas e monumentos comemorativos, de museus, arquivos, áreas preservadas, permeia a compreensão do papel da memória na vida da população, dos vínculos que cada geração estabelece com outras gerações, das raízes culturais e históricas que caracterizam a sociedade humana. Retirar os alunos da sala de aula e proporcionar-lhes o contato ativo e crítico com as ruas, praças, edifícios públicos e monumentos constitui excelente oportunidade para desenvolvimento de uma aprendizagem significativa. (PCNEM, 1999, p.306)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), aprovada em 1996, também abre espaço para a Educação Patrimonial na parte diversificada do currículo do Ensino Fundamental e Médio, a qual leva em conta as características regionais e locais da sociedade e

44 da cultura. A legislação aponta para a necessidade de formação histórica com valorização da diversidade, como condição fundamental para a existência de uma escola plural e cidadã.

Educação Patrimonial apresenta-se como uma das mais recente vertente multidisciplinar, por abranger propostas metodológicas nas várias área do conhecimento e se utilizar dos chamados “lugares de memória” (museus, monumentos históricos, arquivos, bibliotecas, vestígios arqueológicos, etc) como canais de interação no processo ensino aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento, a sensibilidade e a consciência dos estudantes e dos cidadãos para a importância do conhecimento e da preservação de bens culturais,

considerados importantes para a compreensão da história da nossa sociedade e de outras que nos precederam. Horta (1999) define Educação Patrimonial como:

[...] um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidencias e manifestações da cultura. Em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural. (HORTA,1999, p. 6)

Nas palavras de Horta; Grunberg e Monteiro (1999, p. 5), a Educação Patrimonial pode ser traduzida como um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Dessa forma, a Educação Patrimonial contribui para o reforço da autoestima dos indivíduos e das comunidades, assim como a valorização da cultura. Neste sentido, é oportuno observar que:

Na Educação Patrimonial, a valorização do patrimônio histórico-Cultural ultrapassa a mera conservação e restauro de edifícios e monumentos públicos associados a um passado distante da população e dissociado de seu cotidiano. Mais do que conservação e restauro, o patrimônio histórico-cultural exige conhecimento e reconhecimento. A identificação, divulgação e popularização dos lugares de memória – sejam prédios públicos, museus, monumentos, parques, bibliotecas ou arquivos – permitem o resgate e a reconstrução dos valores que engendraram a consideração destes elementos como representantes de uma memória coletiva. É a interação, mais do que a contemplação, que possibilita ao ser humano, a valorização do patrimônio histórico-cultural. (HORTA; GRUNBERG; MONTEIRO, 199, p. 5).

A definição de Educação Patrimonial apresentada acima se mostra alinhada à proposta defendida neste trabalho, onde se reforça a possibilidade educativa do patrimônio como “fonte primária” do conhecimento e uma didática de ensino. Isso significa tomar o patrimônio como ponto de partida para a atividade pedagógica, observando, questionando e explorando todos os seus aspectos, que podem ser traduzidos em conceitos e conhecimento.

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Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Rui Barbosa, o trabalho com a Educação Patrimonial foi pensado com o objetivo de oportunizar aos estudantes múltiplas aprendizagens a partir do uso do patrimônio histórico como estratégia para estabelecer as conexões entre as temporalidades, a partir do contato direto com a história materializada nos objetos e monumentos do CHB numa proposta interdisciplinar, realizadas em dois momentos: dentro e fora do espaço escolar.

Deste modo a Educação Patrimonial associada ao ensino de História, terá a função mediadora no desenvolvimento da consciência histórica, contribuindo para o processo de orientação histórica como teorizado por Rüsen (2006), a fim de oportunizar aos estudantes o conhecimento do seu passado histórico e assim, ampliar os seus horizontes para as primeiras noções de pertencimento, identidade e temporalidade, facilitando seu entendimento e inserção no contexto histórico local.

O conhecimento da história local através da Educação Patrimonial instrumentaliza o estudante para se reconhecer como cidadão atuante e com papel transformador da sociedade, e não mero expectador, despertando maior interesse pelos bens culturais da coletividade. É neste sentido que esta pesquisa trabalha, reconhecendo que a educação patrimonial é uma metodologia de ensino que favorece a construção do conhecimento histórico a partir do uso de fontes patrimoniais com a finalidade especifica de aproximar os estudantes da história do local em que vive. Desta maneira, o anseio é possibilitar ao professor (a), o aporte da Educação Patrimonial e também estratégias de ensino e atividades com o patrimônio histórico. Pois, os materiais didáticos: “são instrumentos de trabalho do professor e dos alunos, suportes fundamentais na mediação entre o ensino e a aprendizagem” (BITTENCOURT, 2009, p.295). Logo, o objetivo fundamental, é que seus alunos entendam o lugar e passe a valorizar, e em determinadas situações fazer a crítica surgida do “olhar contemplativo” e do “olhar de curiosidade”, que partiria para um momento mais cientifico dessa relação de ensino aprendizagem. (BITTENCOURT, 2009, p.355).

1.4 HISTÓRIA, MEMÓRIA E IDENTIDADE: CONCEITOS FUNDANTES NA DIDÁTICA