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11 A representação de Rice em termos de participantes, processos e

4.3.3 A representação do entrevistado em Canal Livre

A análise da representação feita nesta seção focaliza o participante Severino Cavalcanti, o entrevistado no programa Canal Livre. Como fizemos em Carta Capital e em Veja, além da categoria dos participantes, serão analisados os processos e as circunstâncias utilizados pela matéria para construir a representação do então presidente da Câmara dos Deputados, com base teórica em Halliday (1994). Em seguida, analiso a imagem de Cavalcanti, com base nas categorias propostas por Kress e van Leeuwen (1996):

4.3.3.1 Participantes, processos e circunstâncias em Canal Livre

Nesta seção, analiso a representação feita sobre Severino Cavalcanti na reportagem inicial, uma espécie de lide televisivo, que introduz a matéria no programa. Vejamos a representação de Severino Cavalcanti nos exemplos (18a) e (18b) a seguir:

(18a)

Ele é o responsável pela maior derrota política aplicada ao governo Lula (...)

(18b)

Nosso entrevistado de hoje é o novo Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.

Em (18a), temos uma representação por meio de um processo relacional identificativo, em que o identificado é o pronome “ele”, cujo referente é Severino Cavalcanti. O elemento identificador é “o responsável pela maior derrota política aplicada ao governo Lula”. A representação de Severino em (18a), embora faça uso do pronome, não chega a ser uma construção difusa,

porque ocorre por meio de catáfora. Além disso, “ele”, o Severino, é o tema da oração, posição tradicionalmente privilegiada.

No caso de (18b), temos uma representação em que se faz uso do processo relacional identificativo (“é”) em que o identificado é (“nosso entrevistado”) e o identificador é (“o novo Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti”). Além disso, temos uma circunstância (“de hoje”). Nos casos em (18a) e (18b), o representado é sempre um participante do processo, e nunca ocupa o lugar dentro de uma circunstância. Como em todas as representações feitas de alguém ou de alguma coisa, a que se faz sobre Severino Cavalcanti atende a fatores de ordem ideológica, pois busca enfatizar algumas questões que possuem uma carga positiva: “é o responsável”, “o novo Presidente da Câmara”, por exemplo. Em nenhum momento o lide que introduz o programa menciona que o então candidato Severino foi eleito prometendo vultosos aumentos salariais para os deputados. Omitir essa informação é um exemplo de opção ideológica.

A representação feita sobre Severino Cavalcanti em Canal Livre é resumida do Quadro 12 A representação de Severino em termos de participantes, processos e circunstâncias em Canal Livre a seguir

Quadro 12 A representação de Severino em termos de participantes, processos e circunstâncias em Canal Livre Ele é o responsável pela maior derrota política aplicada ao governo Lula

Identificado Ele

Processo relacional identificativo é

Identificador o responsável pela maior derrota política aplicada ao governo Lula

Nosso entrevistado de hoje é o novo Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.

Identificado Nosso entrevistado

Circunstância de hoje

Processo relacional identificativo é

4.3.3.2 A imagem do entrevistado em Canal Livre

Faço uma análise da imagem de Severino Cavalcanti por meio da categoria do ethos, tendo em vista que a TV permite-nos a leitura dos gestos e reações desse entrevistado, o que o suporte das revistas não nos permitia. Para tanto, consideremos as seguintes imagens de Severino Cavalcanti nos exemplos a seguir:

(19a) (19b)

(20a) (20b)

Uma postura muito marcante do então Presidente da Câmara dos Deputados, observada nas imagens veiculadas, é a profusão de gestões que ele faz com as mãos, especialmente quando busca firmar, frente ao entrevistado e aos viewers, uma imagem ligada ao exercício do poder. Os gestos de Severino, que já são bem constantes, intensificam-se, e isso é acompanhado por uma mudança na entonação de sua voz, a cada vez que ele

busca distinguir a sua posição de “Deputado”, “Presidente da Câmara” ou de “secretário da Mesa Diretora por dez anos consecutivos”, etc. Os punhos cerrados e o dedo em riste são os principais elementos que o compõem o ethos de poder do ex-Presidente da Câmara dos Deputados. A seguir, conforme as Figura 12 e 13, reproduzo parte da fala que acompanha as imagens destacadas nos exemplos (19a) e (19b) e nos exemplos (20a) e (20b):

Figura 12 Ilustração do ethos de poder de Severino Cavalcanti em Canal Livre

Fernando Mitre: (...) O Presidente Fernando Henrique sempre defendeu a reforma política, mas quando assumiu

o primeiro mandato já deixou para o Congresso. O Presidente Lula é a favor da Reforma Política, mas a coisa não anda. Com os deputados, a mesma coisa. Por que a Reforma Política não anda, embora haja tantos discursos bonitos a favor dela?

Severino Cavalcanti: Mas agora vai

andar. A Câmara dos Deputados tem o Severino na presidência. Então, com esse Severino vai modificar a maneira de proceder na Câmara dos Deputados (...).

Figura 13 Ilustração do ethos de poder de Severino Cavalcanti em Canal Livre

Fernando Mitre: (...) Como é, aliás, que o senhor vê esta relação entre o público ... a opinião pública ... e essa

posição crítica que a opinião pública tem em relação ao Legislativo e aos deputados? Como é que o senhor vê isso e como é que o senhor coloca, aí, essa questão do aumento?

Severino Cavalcanti: Como eu cumpro

com o meu dever para com o meu eleitorado, eu não tenho dúvida alguma de chegar (...) São quarenta anos de mandato, que ... tem a aprovação da população. Fui Prefeito, fui Deputado Estadual, fui e sou Deputado Federal e vejo o seguinte: como eu tenho aprovação minha, eu estou completando na mesa diretora... vou completar, quando terminar esse meu mandato de presidente, dez anos. Pela primeira vez na história, um parlamentar conseguiu dez anos seguidos ficar na mesa diretora (...).

4.4 As identidades de poder nas entrevistas jornalísticas: além do