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Percursos identitários no mundo atual

3.3 As etapas da pesquisa

3.3.5 As possíveis repostas

As respostas a que cheguei por meio desta pesquisa encontram-se no

Capítulo 4, especialmente na seção As identidades de poder nas entrevistas

jornalísticas: muito além do esquema pergunta-resposta, bem como na

Conclusão.

3.4 Resumo

Este capítulo é a descrição da metodologia usada na presente pesquisa. O caráter qualitativo de O poder no discurso: choque de identidades em entrevistas jornalísticas está relacionado ao fato de que a nossa intenção não é a de fazer um levantamento estatístico das vezes em que as estratégias discursivas que analisamos ocorrem no gênero do discurso entrevista jornalísticas com políticos. Antes, interpretamos alguns modos que possibilitam o exercício do poder via discurso.

Numa breve análise a respeito das propostas qualitativa e quantitativa, vimos que elas não são tão excludentes assim, pelo fato de que “não há quantificação sem qualificação”, conforme Bauer e Gaskell (2002). Além disso, argumentamos a favor da ciência na condição de uma prática retórica, tendo em vista os seus elementos de persuasão e a sua finalidade de comunicar-se.

Em seguida, discorri sobre a pesquisa qualitativa como um processo multicultural em que o pesquisador é alguém que possui um gênero social e uma classe, por exemplo, e essas condições influenciam o saber científico, desprovendo-o de qualquer traço de objetividade e neutralidade.

Por fim, delimitei as categorias usadas na análise dos dados que formam o corpus desta pesquisa. Tais categorias compõem o arcabouço teórico da Análise do Discurso Crítica, com base em Fairclough (2001a e 2003), Chouliaraki e Fairclough (1999); da multimodalidade, na proposta de Kress e

van Leeuwen (1996); da Lingüística Sistêmico-Funcional, de acordo com Halliday (1994). Na extensão do trabalho em que tratei da questão identitária, fiz uso das contribuições de Giddens (2002), Bauman (1999, 2001 e 2005), de Woodward (2000), de Hall (2000), de Silva (2000), de Castells (2002) e de Canclini (2005).

CAPÍTULO 4

As identidades de poder nas entrevistas jornalísticas

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Atrevo-me a acrescentar, além da dissimulação e da fabulação, um terceiro elemento a força ao que assevera Edgar Morin no texto em epígrafe a respeito da entrevista. Não faltam exemplos que ilustram a força das entrevistas, como podemos observar nos fatos históricos discorridos a seguir.

O amanhecer do dia 22 de fevereiro de 1945 testemunhou um importante episódio, ou uma reviravolta, no curso político da história brasileira. Quando rompeu a censura à imprensa e concedeu uma entrevista a Carlos Lacerda no jornal Correio da Manhã, o ex-ministro do Presidente Getúlio Vargas, o romancista e político José Américo, denunciou a tentativa de Vargas de se perpetuar no poder. As declarações de Américo foram de tal modo contundentes que aceleraram o fim da ditadura do Estado Novo, cuja iminência se antevia com o fim da 2ª Guerra Mundial. Mais tarde, outra entrevista traria o então senador Getúlio novamente ao poder executivo, dessa vez por meio das páginas de O jornal, em que afirmou que voltaria “não como líder político, mas como líder das massas”. Em maio de 1992, o irmão do ex-Presidente Fernando Collor, Pedro Collor, em entrevista à revista Veja, anunciou o esquema de corrupção envolvendo um ex-tesoureiro de campanha do candidato Collor. No fim do mesmo ano, a sociedade brasileira conheceu a palavra impeachment,

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aplicada ao primeiro presidente eleito depois da reabertura política. Em 1823 antes de Getúlio, de Lacerda, de Américo e dos Collor em entrevista a O Tamoyo, o Patriarca da Independência, José Bonifácio Sobrinho, já havia revelado os seus desentendimentos com o imperador D. Pedro I, discorrendo sobre o seu pedido de demissão: Vossa Mercê bem sabe que tive a desgraça de ser o primeiro brasileiro a ser ministro de Estado: isto não podia passar pela goela dos europeus, e o que é pior, nem pela de muitos brasileiros (...)12.

Neste capítulo, analiso o gênero do discurso entrevistas jornalísticas com políticos, impressas e televisivas, dando especial atenção para as construções identitárias com vistas à prática do poder. O corpus utilizado é composto por três entrevistas de veículos de imprensa diferentes: as revistas de informação Veja e Carta Capital e o programa de entrevistas da Rede Bandeirantes de Televisão, Canal Livre. Inicialmente, faço um breve resgate do papel e da função que a entrevista possui nos contextos da prática social do jornalismo, com referência em Seabra e Sousa (2006), Medina (2004), Belo (2006), Caputo (2006), Lage (2005), Melo (1994) e Martins (1997). Em seguida, analiso a estrutura genérica, com base nas postulações teóricas de Fairclough (2001 e 2003), de Kress e van Leeuwen (1996) e de algumas considerações de Charaudeau (2006). Depois, analiso alguns modos de representação presentes no gênero entrevistas, com base primordial em Kress e van Leeuwen (1996), acerca de alguns dos construtos da gramática visual; e em Halliday (1994), sobre as categorias dos processos, participantes e circunstâncias. Por fim, analiso estratégias discursivas utilizadas por autoridades políticas para que sejam construídas as suas identidades no exercício do poder, com base teórica em Fairclough (2001), por meio das categorias do controle interacional tomada de turno e controle de tópicos ; em Fairclough (2003), por meio da categoria de modalidade; em Thompson (1995), por meio do que ele propõe em relação aos modos de operação da ideologia.

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Alguns dados da história política do Brasil aqui referidos encontram-se no texto Decifra-me ou te devoro: a entrevista política, da jornalista Helena Chagas, na obra Jornalismo Político: teoria, história