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CAPITULO 3 – PROPOSTA DE ATER COMO DIFERENCIAL PARA O TERRITÓRIO

4.4 A REPRESENTAÇÃO DOS AGENTES DE DESENVOLVIMENTO NO

Foi em 2016 que os agentes de desenvolvimento, na representação da COODERSUS, chegaram à comunidade de Arapapuzinho para expandir o serviço de Assistência Técnica, um amplo desafio de uma nova modalidade da ATER, em que o Governo Federal, estrategicamente, faz as Chamadas públicas para desenvolver ação técnica para um determinado povo e território; “este é um dos elementos constituidores e de suma importância para garantir a sobrevivência e manutenção das condições adequadas para a existência das identidades socioculturais de uma comunidade tradicional” (CAETANO, 2017, p. 361).

Logo, faz-se necessária a compreensão do território que, na percepção de Haesbart (2004; p. 01), tem a ver com “poder", mas o poder como representação simbólica, invisível, o qual só pode ser exercido com a cumplicidade [...], enfatiza Bourdieu (2003; p.7-8). Assim, um território tem sua representatividade, e Haesbart (2004; p. 01) chama atenção nesse poder não

apenas “político”, mas concreto de dominação, no sentido de apropriação. Para essa ação, as instituições do serviço de ATER são contratadas, "[...] ao serem gerenciados por uma instituição privada ou pública que, através de um contrato de gestão, fecha-se uma demanda específica e, consequentemente, essa instituição passa a administrar os recursos públicos [...]" (SILVA, 2013; p. 161). Compreende-se que há um custo/benefício para a aplicação dessa ação, e se torna indispensável uma seleção de entidades.

E para a aplicação dessa Assistência Técnica e Extensão Rural para o território quilombola do Baixo Tocantins, a COODERSUS, num período de três anos, recorrente ao contrato com o Governo Federal, organizou uma seleção com a responsabilidade de fazer um processo diferenciado de educação do qual essa nova ATER tem, como a pedagogia da ATER (CHAMADA nº 06/2014).

Para o Movimento social quilombola (ARQUIA), essa política foi a que mais abrangeu os quilombolas; mas, ainda que se diga que é uma política de grande abrangência territorial, a Chamada 006/2014, apresentou-se uma meta de 2.000 (duas mil) famílias quilombolas, no entanto, segundo o coordenador da COODERSUS, essa meta baixou para 1.500 (mil e quinhentas) famílias, ou seja, um corte de 25% no orçamento para atender essas famílias. O coordenador da Chamada explica o seguinte:

"Encontramos dificuldades, muitas famílias não se enquadravam de acordo com os critérios que rege o Plano Brasil Sem Miséria, muitos têm renda acima de R$ 85,000 (oitenta e cinco reais) por pessoa; outro também foi o acesso às comunidades, nossas estradas amazônicas que são os nossos rios, então tínhamos um tempo estipulado na busca ativa das famílias” (Entrevistado CO1).

Quando o coordenador faz essa colocação sobre as dificuldades em encontrar as famílias com o perfil exigido pelo projeto do Governo Federal, na verdade, ele faz referência à busca ativa, dentro da atividade de mobilização, que, de imediato, foi muito difícil. Mas, não somente pelo fato das famílias não se enquadrarem, pois, ao observar a realidade da comunidade do Arapapuzinho, algumas dessas famílias se enquadravam; entretanto, ficaram sem ser contempladas com a ATER mais pelo fato do cronograma desta já vir com um período fechado para cada atividade. Portanto, “é fundamental o contato direto com a comunidade por parte daqueles que elaboram as políticas públicas e os projetos de redefinições territoriais” (CAETANO et al., 2017, p. 360). Quando se trabalha com o elemento tempo, em lugares que se desconhecem, algo fica sem ser feito, ou feito de qualquer jeito. E, mesmo estando no mercado há 20 (vinte) anos, não significa que não encontrará dificuldades em sua ação. A organização de cronograma já vem pronta para desenvolver as atividades, as quais, em sua maioria, também já estão programadas e devem se manter no processo de acompanhamento da

própria demanda no SIATER (Sistema de Assistência Técnica e Extensão Rural), criado em 2014. Mesmo assim, tudo isso já apresenta algumas críticas relacionadas a essa organização dos cronogramas, devido à realidade da comunidade.

Essa cooperativa conta com técnicos na formação de nível superior (agrônomos, engenheiro florestal, pedagogo, assistente social, biólogo) e em nível técnico (piscicultura, avicultura, meio ambiente, entre outros). Entretanto, na função de extensionista, como relata, abaixo, uma das técnicas.

"[...] por mais que a gente tenha uma formação, mas a gente acaba desenvolvendo técnicas em outras áreas, porque isso demanda do profissional da ATER, que ele tenha um conhecimento em várias áreas (multidisciplinar), não fica focado só na sua formação, pois na hora que a gente chega na casa de um agricultor, compreendendo que ATER é isso, uma visita, uma consultoria ao agricultor, você chegando na casa dele, você não sabe se ele vai ter a ação produtiva voltada para a criação ou para a produção, você faz a visita e ele vai dizer qual é a necessidade dele, é ai que entra a questão do conhecimento, vamos dizer, multidisciplinar. Você não pode ficar preso à sua formação, mas entender um pouco de cada área agrícola e pecuária. (Entrevistada ET1, 2018).

Essa dimensão não abarca todos os técnicos, pois muitos ainda não fazem esse tipo de exercício, uma vez que em suas formações acadêmicas ocorre que, segundo Silva (2013; p.159), "As instituições de ensino realizam um exercício de catequese enviesada e padronizada pelo conceito da inovação tecnológica na agricultura". O fato é que é um conhecimento à luz das teorias, seja ela de evolução, desenvolvimentista, tecnológica, entre outras teorias, à luz do "melhor" ou que muitos autores chamam de "padronizados", "testados", "comprovados".

No que tange à multidisciplinaridade relatada pela extensionista, esta mostra que não se pode ter um conhecimento restrito apenas à formação técnica que cursou, pois pode ser surpreendido (a) com o que cada família vai apresentar na UPF's, já que nessa ATER o produtor é participativo, não em um plano fechado, mas buscando atender a cada realidade.

Tomando como exemplo, na comunidade pesquisada, há famílias que optaram por duas atividades, uma de manejo de açaí e outra de cultivo de roça; ou seja, como o fomento é dividido em duas parcelas, foi possível desenvolver as duas atividades. Isto posto, o extensionista se encontra de fato a explorar as duas opções, entre outras coisas.