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CAPITULO 3 – PROPOSTA DE ATER COMO DIFERENCIAL PARA O TERRITÓRIO

3.5 O PAPEL DO ESTADO E DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA PNATER

3.5.2 O papel dos movimentos sociais (ARQUIA) diante da ATER quilombola

As lutas dos movimentos sociais são frequentes, tanto a nível nacional quanto local. São formas coletivas que têm contribuído bastante nas conquistas relacionadas às políticas públicas. E esses movimentos se organizam em;

Associações, sindicatos, partidos, movimentos sociais, organizações profissionais, atividades culturais, meios de comunicação, sistema educacional, parlamentos, igrejas etc. Essa conjuntura social representa expressivamente uma sociedade que busca apoio diante do governo, ou seja, da instituição política. Sendo necessário o Estado cumprir com seu dever. (GRAMSCI, 1996, apud MONTAÑO, 2011; p. 43).

Não se pode ser néscio a ponto de acreditar na bondade dos representantes do Estado, pois os movimentos sociais sempre apresentaram papéis importantíssimo na inclusão de demandas dos povos tradicionais relacionados às políticas públicas; não é de hoje que esses atores se integram para fazer valer os direitos dos Agricultores Familiares para o fortalecimento dessas políticas e também para a valorização das ações locais.

Os territórios Quilombolas das ilhas de Abaetetuba, especificamente o Arapapuzinho, vêm sendo representados pelos movimentos sociais quilombolas, a ARQUIA (Associação dos Remanescentes de Quilombo das Ilhas de Abaetetuba). Gohn (2008) chama esses movimentos de identitários, usualmente pertencentes às camadas populares, dentre os vários exemplos dessa camada, tem-se os afrodescendentes.

Esses movimentos sociais sempre atuam de forma positiva nas comunidades, por apresentarem não só o vínculo com a terra e a questão socioeconômica, mas também na luta pelo direito de viver com dignidade, por acesso à educação, à saúde e à cultura. “Essas lutas têm assumido – não apenas de resistência, mas também de luta por direitos: reconhecimento de suas culturas e da própria existência, redistribuição de terras em territórios de seus ancestrais”

(GOHN, 2008; p.440); é luta por emancipação e por políticas públicas territoriais, com a valorização dos povos e saber existentes nas ditas “comunidades tradicionais”.

Diante disso, percebe-se que a organização coletiva tem uma força, ou resistência muito maior, não deixando que as situações de descaso do Estado permaneçam sem serem postas em ponto de debate. Mas, infelizmente, quem se põe à frente desses coletivos, em muitos casos, perdem a vida nessa luta. Uma luta de direitos por uma “nova” condição de vida, por um sistema menos opressor.

E é nesse novo modelo de Movimento Social que a ARQUIA busca dar aos seus associados e população da comunidade em geral “A condição de sujeito de um novo modelo de fazer política dos novos movimentos sociais, que têm seu maior emblema na “afirmação positiva” de suas atividades transparentes centradas na ação coletiva” (GOHN, 2011). Pois, a luta por política pública é algo relevante nas conquistas territoriais; entretanto, o acompanhamento no momento da efetivação desta é indispensável pelo fato de que os benefícios são para as famílias que estão dentro do território para o qual essa política foi destinada, como forma de reparações sociais.

Quando a ARQUIA foi fundada, alguns dos objetivos eram administrar as terras dos

Quilombos, buscar projetos para a geração de renda e resgatar a cultura afro-brasileira. O primeiro presidente foi o sr. Gersino, do rio Genipaúba, que conseguiu vários projetos, como: a obtenção de uma “rabeta” para monitorar as comunidades Quilombolas, minicursos de manejo do açaí, piscicultura, criação de galinhas brancas e gigantes negras, porcos e viveiros de mudas, entre outros projetos que não chegaram a ser concluídos, como é o exemplo da fábrica de polpa de açaí no Genipaúba. Desde então, percebe-se que a visão socioeconômica estava lançada, foi nessa mesma gestão que alguns quilombolas foram contemplados com o PRONAF A, ocorrido no ano de 2004, com o recurso destinado ao manejo de açaí.

A “nova” coordenação, que permanece até a data de hoje (2018), tem como presidente o senhor Edilson da Conceição Corrêa, de 60 (sessenta) anos e outros representantes, como: Isaias Rodrigues (coordenador de projetos); Benedito Batista (secretário); Vera Lúcia (tesoureira); Esmelino Caripuna (coordenador de esporte); Manoel de Jesus (Duca); Domingos Pinheiro (Coordenador de Património) (Bico); D. Maria da Luz; D. Cesarina; e, o Sr. Benailson, que também fazem parte da coordenação. Assim está formada a coordenação da associação, sendo que cada um desses representantes pertence a uma comunidade quilombola das ilhas de Abaetetuba.

Segundo o Sr. Edilson, a luta da associação “é uma luta de muitos anos, buscando esses

trabalho e bordoada” (MQ1, 2017). Essa é uma fala de indignação do presidente da associação, pois, realmente, só quem viveu esse processo é que sabe o quanto que os negros ficaram à margem da sociedade. Ele também afirma que “hoje a luta é pelo reconhecimento das culturas quilombolas e políticas, na busca de melhoria para nossas vidas”. Ou seja, esse movimento social não está interessado apenas na regularização das terras, mas em projetos que visam a melhoria de vida.

Desse modo, os atuais representantes da ARQUIA conseguiram a efetivação de vários projetos do Governo Federal, como luz para todos e a permanência dos cursos de manejo sustentável, e iniciaram a luta pelo projeto “Juventude Rural”, que tencionava capacitar os jovens para fazer a mediação entre a produção e o respectivo beneficiamento e venda, levando- os não só para o mercado de trabalho, como também para o acesso ao crédito, para que pudessem desenvolver sua autonomia financeira. Entretanto, foi um projeto que não chegou a uma ação concreta, apenas ficou nas reuniões e formações.

Em relação à educação, conseguiram a inserção de muitos jovens e também dos adultos no Processo Seletivo Especial Quilombola (PSE), que já inseriu aproximadamente 200 (duzentos) jovens das comunidades quilombolas nas universidades federais. Outro benefício relevante foi a Escola Quilombola Santo André, localizada no Baixo Itacuruçá, que atende mais de 300 (trezentos) alunos de várias comunidades da proximidade.

Compreende-se que são várias as lutas e promessas de políticas públicas, contudo, o coordenador de projetos da associação há 10 (dez) anos, o sr. Isaías Rodrigues, já faz destaque em forma de comemoração por essas conquistas coletivas, a saber: projetos na produção de mudas, criação de porcos, galinha, piscicultura, manejos de açaizais envolvendo produção, projeto na área de agroecologia (roça sem fogo) e projetos em parceria com o SEBRAE. “Fizemos exposição de um trabalho sobre o reaproveitamento do resíduo líquido da mandioca, aproveitado para fazer sabão e outros derivados” (Entrevistado MQ2). Ele ressalta que as conquistas deveriam ser frequentes, mas, infelizmente, não é tão fácil fazer articulações das políticas.

Não é pertinente fazer, aqui, um debate sobre todas as lutas da ARQUIA, mas cabe, sim, apresentar sua representação no campo de ação perante essas políticas públicas, uma vez que o destaque é a ATER no território quilombola. E está descrito no documento normativo da nova ATER a representação dos movimentos sociais, algo de grande importância na construção histórica desse “novo” modelo de Assistência Técnica, em que os extensionistas se interessam pela vida do agricultor (SCHMITZ, 2005).

Com essas explanações, faz-se um recorte sobre essa conquista dos quilombolas em Abaetetuba. Foi em meio a uma crise do território quilombola, por um período de mais ou menos 04 (quatro) anos, com a inadimplência cometida pelo Imposto Territorial Rural (ITR), que chegou a R$ 18.000.000,00 (dezoito milhões de reais). Isso teve repercussão nacional, foi luta intensa para que as comunidades quilombolas saíssem dessa dívida, e a ARQUIA estava em meio a essa situação. Criou-se a lei 13.043/14, que até então não existia, para isenção das comunidades quilombolas do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural), em que “[...] foi outra articulação então que tivemos que reunir com a fundação Pró-Índio em S. Paulo, buscar pareceria com o escritório para poder resolver essa questão. Foi feita uma articulação entre o movimento social e o INCRA”. (Entrevistado MQ2).

Após esse momento nebuloso, ocorreu a Chamada Pública quilombola no final de 2014, em que participaram as instituições para desenvolver o serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural, e a COODERSUS foi a contratada. A partir de então, a associação passou a praticar o papel de trazer informações do enlace da política para as famílias nessa ação, verificando como as atividades estavam sendo desenvolvidas no local de atuação com o vínculo comunitário que faz a mediação.

CAPÍTULO 4 – SABERES E PRÁTICAS NA AGRICULTURA FAMILIAR QUILOMBOLA: UM OLHAR NA AÇÃO DA CHAMADA 006/2014 DO PRONATER

Antes da chegada da ATER, os quilombolas do Arapapuzinho já desenvolviam as atividades do cultivo da mandioca e do açaí, e que ambas atividades são muito importantes no processo econômico e cultural da comunidade, este capítulo faz referência as duas atividades expressas no trabalho, assim como aos extensionistas, mediante à sua formação e ao contexto de aplicação desses conhecimentos adquiridos nos amplos processos de estudos. Pois, entende- se que os conhecimentos tradicionais sempre foram de suma importância para os povos, que não dispõem de recursos tecnológicos para o desenvolvimento das atividades agrícolas nos espaços locais, dos grupos familiares que precisam manter-se diariamente. Assim como há a compreensão de que não se está falando de qualquer política, mas de política que tem um diferencial.

Esses extensionistas foram preparados para estar em campo? Até onde isso pode ser benéfico aos quilombolas? Quem são essas famílias que estão sendo atendidas?

Essas reflexões estão sendo trabalhadas no decorrer deste trabalho, e são necessárias para a compreensão de uma política que tem todo um passado e de um povo que tem uma luta histórica, os Quilombolas.