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CAPÍTULO II – OS CONTEXTOS ONDE SE DESENVOLVE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

4. A RESILIÊNCIA COMO FATOR DE DESENVOLVIMENTO PESSOAL

Como refere Tavares (2001) ser resiliente (…) seria desenvolver capacidades (…) que lhe

possibilite adaptar-se melhor a uma realidade cada vez mais imprevisível e agir adequada e rapidamente sobre ela, resolvendo os problemas que esta lhe coloca (p. 46).

Na atualidade, construir capacidades resilientes é um valor cada vez mais considerado pelos psicólogos educacionais, nos programas de promoção da saúde mental. Várias têm sido as questões que se têm colocado quanto à construção e à estabilidade da resiliência, sobre sendo um estado ou um traço variável. A resiliência é assim, para Tavares (2001), o

resultado do desenvolvimento de certas capacidades (…) adquirir uma certa invulnerabilidade sem se tornar insensível (p. 57). Desta forma, podemos afirmar que a

resiliência é fruto e permite o processo de desenvolvimento humano.

A invariância por género sugere que a construção da resiliência é muito semelhante para o género feminino e para o masculino, apontando para que a capacidade de regulação das emoções aumente com o desenvolvimento (Weiss, 2008).

As investigações na área da resiliência apontam para a importância de uma boa qualidade de cuidados e oportunidades para aprender, bem como uma nutrição e apoio familiar adequados que facilitem um desenvolvimento adequado em termos cognitivos e das competências sociais. As crianças a quem estas condições são oferecidas manifestam resiliência face à adversidade, desde que as circunstâncias se continuem a operar (Masten & Gewirtz, 2006). Nesta ordem de ideias, os estudos apontam para a necessidade da existência de sistemas adaptativos que promovam o desenvolvimento de competências quer em ambientes favoráveis, quer em ambientes desfavoráveis (Masten & Coatsworth, 1998). A resiliência parece emergir de processos comuns do desenvolvimento humano e funciona como um processo adaptativo que facilita a nossa relação com o mundo (Masten, 2001) e, nesse sentido, é um promotor do desenvolvimento humano.

A resiliência constrói-se sobre os nossos talentos inatos, a partir da interação que estabelecemos com os fatores externos e faz parte, por isso, do nosso desenvolvimento (Marcos, 2011). Nesse contexto, a resiliência constitui-se como um fator evolutivo, responsável pela preservação de cada um nas mudanças e complexificações que são características do desenvolvimento psicológico (Ralha-Simões, 2001). Twemlow & Bennett

(2008), referem evidência de que o treino específico pode promover a resiliência, oferecendo à criança a melhor oportunidade de cooperar e até mudar o mundo.

Assim, a resiliência funciona como um fator de desenvolvimento pessoal, ao mesmo tempo em que é uma característica do desenvolvimento, na medida em que pessoas resilientes apresentam melhor desenvolvimento intelectual, melhor autoestima e autocontrole (Werner & Smith, 1982; Werner, 1986), para além de melhor bem-estar (Jackson, Firtko & Edenborough, 2007). Para além destas características do desenvolvimento pessoal, as pessoas resilientes são ainda mais competentes socialmente e resolvem melhor os seus problemas (Bernard, 1995; Garmezy, 1993; Pereira, 2001) sendo, por outro lado, a personalidade resiliente bem ajustada (van Lieshout, 2000).

Do ponto de vista do desenvolvimento do adolescente, o desenvolvimento de capacidades resilientes permite aos estudantes considerados de risco, melhores oportunidades para o sucesso académico, apesar das suas vulnerabilidades (Edwards, Mumford & Serra-Roldan, 2007). Aliás, estudos da OCDE referem que em Portugal, cerca de 35% dos estudantes carenciados, conseguem ter sucesso na escola: estes são os alunos resilientes (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico [OCDE], 2011).

E, para Gomes-Pedro (2010)… na medida em que pressupõe uma autonomia e uma coerência no caminho para a liberdade (p. 18), a resiliência é um importante fator do desenvolvimento pessoal.

Síntese

Neste capítulo, que teve como objetivo enquadrar teoricamente o presente estudo de investigação, fizemos uma abordagem das várias temáticas que pretendemos desenvolver e analisar, demonstrando pontos de ligação entre todas elas. Faremos aqui uma breve síntese dos vários pontos de ligação entre as temáticas estudadas.

Partimos então da análise do período de desenvolvimento que constitui a adolescência. Este é um período longo e atribulado, caracterizado por adaptações constantes do indivíduo devido às inúmeras transformações que ocorrem consigo. Muitas destas transformações são visíveis (as transformações físicas que por vezes tantos problemas de autoestima e de autoimagem produzem) mas, e não menos importantes são as transformações que ocorrem a nível intelectual, cognitivo, ou da estruturação do pensamento, que permite ao jovem ter posições filosóficas independentes dos outros, nomeadamente dos seus pais.

Por outro lado, o ser humano é um ser social, pelo que não vive nem se desenvolve só; ele é o produto das relações que estabeleceu e é capaz de estabelecer com os outros. Por esse motivo, todas as suas atitudes são influenciadas pelas suas experiências de vida, conquanto possa pensar de forma diferente dos demais.

Desde que nasce, o indivíduo estabelece relações de confiança com os outros e são essas relações que lhe dão segurança e lhe permitem desenvolver-se. Assim, a primeira relação especial é estabelecida com a pessoa que lhe presta cuidados. O apego surge então, normalmente, numa primeira relação que é estabelecida com a sua mãe (primeira prestadora de cuidados) ou com alguém que a substitua. Depois desta primeira relação vinculativa, ele é capaz de estabelecer novas e satisfatórias relações com outros indivíduos. Isso permite-lhe alargar os seus conhecimentos e estabelecer uma rede de apoios que lhe possibilitam desenvolver-se saudavelmente e integrar-se no meio social onde pertence.

O indivíduo nasce então numa família que é a responsável pela sua formação e pela sua educação informal. É nessa família que ele recebe o amor de que necessita para sobreviver e também onde aprende as primeiras regras da convivência social tendo em conta o meio onde ele se insere e os valores da sua família. Por este motivo, a família onde nascemos e crescemos, a sua forma de estar e de comunicar, reveste-se de fundamental importância para o desenvolvimento de competências pessoais (biológicas e psicológicas) e sociais.

A escola é, mais tarde, um outro contexto igualmente importante no nosso desenvolvimento. É lá que fazemos a educação formal e é lá que estabelecemos novas relações com outras pessoas. O ambiente escolar, tal como o ambiente familiar assume verdadeira importância na

formação, adaptação e desenvolvimento do indivíduo. Aliás, no largo período que constitui a adolescência, podemos dizer sem receio de nos enganarmos, que a escola é um dos contextos onde cada adolescente passa grande parte do seu tempo, senão a maior parte do seu tempo e onde estabelece relações indispensáveis para o seu desenvolvimento, com outras pessoas para além da sua família. Os pares, tornam-se assim peças fundamentais a considerar na construção da identidade do adolescente e as relações estabelecidas são imprescindíveis para o sucesso desse desenvolvimento.

No entanto, sabemos que, cada vez mais, se desenvolvem nas escolas relações conflituosas entre pares, tornando as escolas locais pouco seguros. Essas relações de violência são responsáveis pelo mal-estar de que somos informados todos os dias através dos média e podem, de alguma forma, ser responsáveis pelo insucesso escolar ou pelo mau desempenho escolar, ao não permitirem uma sensação de segurança e de bem-estar para os intervenientes nos conflitos.

Surge então a necessidade de se encontrar formas de superar o mal-estar sentido em ambiente escolar. O desenvolvimento de capacidades resilientes nos sujeitos, parece ser uma dessas formas, já que a resiliência é a capacidade humana que permite superar situações adversas e até sair delas reforçados.

Desta forma, nesta investigação pretendemos relacionar a influência que a cultura organizacional da família tem quer no desenvolvimento da resiliência dos jovens, quer nas relações que estabelecem com os seus pares e ainda no seu desempenho escolar. Pretendemos ainda analisar como é que as capacidades resilientes influenciam quer as relações de violência entre pares, quer o desempenho escolar e ainda como é que as relações de violência entre pares influenciam o desempenho escolar.

PARTE II