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CAPÍTULO II – OS CONTEXTOS ONDE SE DESENVOLVE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

2. A ESCOLA COMO CONTEXTO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.2. O GRUPO DE PARES

O grande período que constitui a adolescência é, como já referimos anteriormente, um período de abertura e experimentação do mundo e é caracterizado por uma estabilidade em relação ao grupo de pares, que difere da amizade dos antigos amigos da infância. Na pré- adolescência, assistimos à estabilidade das amizades, sendo que estas têm como base o encontro de pontos comuns de entendimento, são mais seletivas e prolongam-se no tempo. Na pré-adolescência, o amigo é normalmente do mesmo género, tornando-se o amigo inseparável. Com o decorrer da adolescência, o grupo de pares alarga-se, sempre dentro do conceito da identificação com o outro, partilhando interesses comuns e atitudes, sendo muito importante o sentimento de pertença. Estes sentimentos profundos levam a que os laços entre adolescentes e os seus pares sejam mais fortes aumentando obviamente a influência que os pares exercem sobre o adolescente. No entanto, no final da adolescência, parece haver uma diminuição da influência quer do grupo de pares, quer dos pais sobre o adolescente, em virtude de o adolescente desenvolver o seu próprio pensamento e tornar-se competente para pensar por si próprio e assumir as suas convicções (Kimmel & Weiner, 1995; Hockenberry, Wilson & Winkelstein, 2006; Hockenberry & Wilson, 2011).

Para além do sentido de pertença que o adolescente tem, desde a infância, em relação à família, este adquire na adolescência um outro sentido de pertença: o de grupo, sendo que as relações com qualidade na adolescência parecem indiciar um bom ajustamento na vida adulta. As habilidades para estabelecer relações interpessoais, o desenvolvimento do controlo social e a aquisição dos valores sociais, derivam de algum modo das interações que o adolescente foi capaz de estabelecer com os seus pares (Sprinthall & Collins, 1994).

O grupo de pares, que se caracteriza pela proximidade etária, ser colega de escola ou de outra atividade e ter outras semelhanças como o tipo de interesses, é indispensável para o desenvolvimento do adolescente, propiciando parte da segurança emocional de que ele

necessita, já que este tipo de relações contribuem claramente para o desenvolvimento das competências do adolescente, quer as afetivas, quer as sociais, as cognitivas, as intelectuais e a aquisição de papéis, normas e valores. As relações com o grupo de pares permite ao adolescente desenvolver características pessoais e sociais, que o preparam para a vida adulta independente, como aprender a pensar por si, facilitando a separação da família, adquirir um grau de conformismo quanto às normas e aos limites e facilita ainda o desenvolvimento de um autoconceito positivo. Proporciona também o desenvolvimento e a experimentação das capacidades de liderança (Sprinthall & Collins, 1994; Relvas, 1996).

Como já referimos, o grupo de pares, tem uma influência muito grande no comportamento e autoavaliação do adolescente, dando-lhe o apoio e facilitação de relacionamento, na resolução das suas angústias, na vivência dos afetos e no desenvolvimento de crenças e valores pessoais, permitindo-lhe perceber que não está só nas incertezas, tornando-o mais tranquilo (Alarcão, 2002). Aliás, a aquisição de novas e mais maduras relações com os pares é uma das tarefas específicas da adolescência (Havigurst, 1972).

Um dos fatores para o desenvolvimento moral relaciona-se com a qualidade e a quantidade interativa entre pares. Essa interação entre pares poderá mesmo ser mais importante para o desenvolvimento do jovem, do que a interação com os adultos pois o facto de haver maior igualdade e equilíbrio no relacionamento entre pares, parece diminuir e abreviar as questiúnculas e os desacordos, facilitando a resolução de divergências (Sprinthall & Sprinthall, 1993).

Nos 2º e 3º ciclos do Ensino Básico, os alunos são obviamente suscetíveis de serem influenciados pelos colegas da mesma idade (Jesus, 1999a). Desta forma, as relações entre o grupo de pares adquirem extrema importância no desenvolvimento e na vida do adolescente, com o alargamento das suas redes sociais e com a procura de aceitação por parte do adolescente. Este é, nesta altura, capaz de discutir de igual para igual, prescindindo da mediação dos adultos, pois já consegue exprimir os seus pontos de vista.

As mudanças ocorridas na adolescência implicam o surgimento de mudanças nas interações do jovem, não só na família, como também no grupo de pares. Nesta fase do seu desenvolvimento, o adolescente consegue escolher os seus amigos, procurando aqueles que partilhem os seus interesses e valores, crenças e atitudes, havendo diferenças nos relacionamentos entre os rapazes e as raparigas (Cole & Cole, 2004).

As relações entre pares no início da adolescência são essencialmente relações de amizade entre as pessoas do mesmo sexo, sendo caracterizadas pela ênfase na confiança, na lealdade

e no entendimento mútuo, à medida que a adolescência avança. Os rapazes e as raparigas têm conceções diferentes em relação aos amigos; enquanto as raparigas procuram confidentes com quem partilhar sentimentos e conhecimentos, os rapazes procuram apoio para eventuais conflitos (Cole & Cole, 2004).

Algumas características pessoais como as interações positivas com os colegas, ser amistoso e sociável, parecem ser características que favorecem aceitação pelos pares, enquanto que as atitudes desviantes podem conduzir à rejeição. Por outro lado, as atitudes dos adolescentes para com os amigos são diferentes daquelas que tomam para com os que não consideram amigos (Sprinthall & Collins, 1994).

O adolescente preocupa-se com o seu estatuto social dentro do grupo de pares. Este depende de alguns fatores, como por exemplo ser o elemento mais popular da turma, ser bonito ou atlético. O adolescente é suscetível à pressão dos pares, de modo a não perder o seu lugar no grupo. Esta suscetibilidade parece culminar por volta dos 15 anos (Cole & Cole, 2004).

No entanto, tal como acontece em todos os períodos de desenvolvimento humano, há pessoas que são mais facilmente aceites pelos outros e outras que, devido a características suas, possam ser rejeitadas (Sprinthall & Collins, 2004). Ser rejeitado é sempre uma situação de mal-estar e pode vir acompanhada por alguma violência.

Contudo, os pares enquanto grupo, podem também constituir um grupo de apoio para os alunos vítimas de violência e ter uma importância crucial na resolução de situações de conflito e maus tratos (Smith, 2000; Boulton, 2005, citado em Athanasiades, 2010).