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CAPÍTULO II – OS CONTEXTOS ONDE SE DESENVOLVE A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

CAPÍTULO IV CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS

1. DEFINIÇÃO DO PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO

A passagem da infância para a idade adulta, acontece num período específico do desenvolvimento humano, que se processa durante cerca de oito anos, com inúmeras transformações da criança, a nível físico, intelectual, e social, com o objetivo de integrar o indivíduo no contexto social onde pertence e prepará-lo para a independência. Esse longo período compreende a pré-adolescência e a adolescência e, em termos escolares, o 2º e o 3º ciclos e o ensino secundário.

Por outro lado, o último século tem-se caracterizado por rápidas transformações sociais e as convulsões que têm ocorrido pressupõem o desenvolvimento de capacidades de adaptação e plasticidade cada vez mais complexas e profundas para fazer face não só a essas alterações, como também às situações de violência que ocorrem nos vários contextos onde o indivíduo se move. Os contextos mais importantes onde a criança e o jovem se movem, são a família e a escola, onde se transmite a educação informal e a educação formal.

A família é, ou deve ser, desde o nascimento da criança, a base de confiança e estabilidade que permite um desenvolvimento saudável, mesmo em situações de vulnerabilidade, pois é na família que se estabelecem os primeiros e mais fortes laços vinculativos e o sentimento inicial de pertença que nos permite ter a consciência de quem somos. A família, contribui assim para a formação da personalidade de cada um dos seus membros, através da interação que estes estabelecem entre si, sendo por isso um contexto de indiscutível indispensabilidade conhecer. A família é um sistema aberto, pelo que, como sistema aberto que é, se por um lado influencia a construção da personalidade e a tomada de valores das crianças e jovens, essa mesma família, pode ser também influenciada pelos seus membros e contextos.

A escola, outro dos contextos de desenvolvimento da criança e do adolescente, reveste-se também de grande importância, não só como motor de crescimento mas ainda como local privilegiado de desenvolvimento social, de promoção de autoestima e de bem-estar, quando se revela um paradigma de sucesso. No entanto, o contexto escolar pode ser causa de mal- estar, não só motivado pelo fraco desempenho escolar, como ainda pelas situações de violência que cada vez são mais frequentes e graves nas nossas escolas e em todo o mundo,

como revela quer a revisão da literatura quer as notícias diárias dos meios de comunicação social.

A construção de personalidades resilientes, que favorecem a superação de situações adversas, é uma necessidade, não só porque a resiliência é um fator de desenvolvimento pessoal (Tavares, 1996, 2001; Ralha-Simões, 2001; Pereira, 2001; Marcos, 2011), mas também porque funciona como moderador de situações de desequilíbrio, promovendo a adaptação a novas situações. Da revisão da literatura emerge assim a ideia de que a construção da resiliência é um fenómeno pessoal (Grotberg, 1995), parece ser uma característica diferencial (Matos, 2002) e é influenciada por fatores de proteção, como por exemplo a família (Werner, 1986) e fatores de risco ou vulnerabilidade, como por exemplo a violência, o stress, a perda de um dos progenitores, entre outros (Garmezy, 1984; Rutter, 1996; Rutter & Taylor, 2005), permitindo ao indivíduo manter-se saudável, mesmo em meio difícil.

No seguimento contextual, importa salientar ainda estudos acerca da influência dos estilos parentais e a sua relação com a personalidade das crianças e adolescentes (Peck et al., 1960; Baumrind, 1967, 1991; Cummings, 2010), assim como o estudo e criação do modelo da Cultura Organizacional da Família (Nave, 2007), estudo cuja amostra foi constituída por crianças a frequentar o 4º ano de escolaridade, no Algarve, e seus pais, ou seja, a famílias com filhos na escola (Relvas, 1996). A aplicação deste modelo permite identificar as características interrelacionais das famílias, tendo em conta as relações interpessoais (dando ênfase aos afetos), a heurística (sendo a tónica na adaptação e flexibilidade), a hierarquia (onde são enfatizadas as regras e o poder) e os objetivos sociais (a importância é dada à imagem e ao contexto social onde deve ser a integração). No estudo acima citado, Nave (2007), refere a necessidade do alargamento do seu estudo em famílias em outras fases diferentes do ciclo vital, como é o caso das famílias com filhos adolescentes, por exemplo.

Também os inúmeros estudos que têm sido elaborados na área da resiliência, continuam a realçar a necessidade da continuidade da investigação nesta área, nomeadamente o estudo de Martins (2005), que aborda a resiliência educacional de jovens com Necessidades Educativas Especiais, em Portugal.

Por outro lado, a escassez de investigações na área das relações entre pares no período da puberdade e da adolescência (2º e 3º ciclos do Ensino Básico) nomeadamente as relações de violência entre pares, e ainda das características dos indivíduos, no Algarve, torna emergente

a necessidade de se conhecer esta realidade, até porque surgem cada vez mais queixas formais e informais acerca do aumento da violência entre pares, no contexto escolar do Concelho de Faro. Só conhecendo a realidade podemos atuar adequadamente, com vista ao bem-estar dos jovens e famílias e ao bom desempenho escolar, diminuindo o abandono escolar e as situações de violência e mal-estar.

A revisão da literatura nos vários campos atrás citados (cultura organizacional da família, resiliência, violência entre pares e desempenho escolar), leva-nos então ao problema emergente desta investigação e a questionar a nossa realidade, situação de onde surgiu a motivação para empreendermos este projeto de investigação. Muitas são as questões que se nos colocam relativas às temáticas já citadas. Como são os jovens que frequentam o 2º e 3º ciclos do Concelho de Faro? Como se caracterizam em termos de resiliência? Como são as relações entre estes jovens no contexto escolar? Será que existe muita violência entre pares? Será que existem diferenças de resiliência entre os agredidos e os agressores? Que mecanismos estão subjacentes à capacidade de cada um para se adaptar às situações? Como é o desempenho escolar destes jovens? Qual é o papel da família no desenvolvimento destes jovens? Que características serão as das famílias destes jovens? Assim, o estudo que nos propomos realizar pretende contribuir para o bem-estar de jovens e famílias, através do conhecimento aprofundado dos contextos, tal como refere Masten, (2001, p. 235) attention

to human capabilities and adaptative systems that promote healthy development and functioning have the potential to inform policy and programs that foster competence and human capital and improve the health of communities and nations and also preventing problems.