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4.1 DIREITO AMBIENTAL, DANO E TUTELA JURISDICIONAL

4.1.3 A responsabilização jurídica para questões ambientais

Conforme abordado no primeiro capítulo do presente trabalho, o direito ambiental se consolidou num cenário de uma extrema e globalizada preocupação com o futuro dos recursos naturais e, consequentemente, com o destino da própria humanidade.

Neste contexto, e diante das características inerentes à matéria é que a responsabilização por eventuais danos ganha características peculiares.

Antunes (2010, p. 211), por sua vez, afirma que “a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, no sistema jurídico brasileiro, é matéria que goza de status constitucional, visto que inserida no capítulo voltado para a proteção do meio ambiente”.

Ao voltarmos nosso olhar para a constituição, vemos que é no art. 225, mais especificamente em seu parágrafo terceiro, que encontramos a responsabilização de que fala Antunes, vejamos: “§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados“.

123 Trata-se, como visto na leitura do parágrafo em comento, de tríplice responsabilização: civil, penal e administrativa. Para os fins deste trabalho, interessa mais a responsabilização cível e os instrumentos processuais à sua disposição, por tal razão é neste tipo de responsabilização de daremos maior enfoque.

Para (2012) Bedran e Mayer “no direito ambiental, sempre houve uma enorme dificuldade em demonstrar a culpa do agente causador do dano pela teoria subjetiva. Destarte, devido à importância do bem tutelado, a doutrina passou a adotar a teoria objetiva, que prescinde de culpa”.

Ao tratar sobre a responsabilidade civil ambiental Pereira (2016) nos ensina que se trata de responsabilidade extracontratual do Direito Civil, “consubstanciada no dever de indenizar ou reparar, a ser suportado por aquele que exerce atividade violadora do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, cuja conduta tenha causado prejuízo ao meio ambiente ou à coletividade”.

O tema enfrentado pelo Constituinte de 1988, também tem guarida na Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, no seu Art. 14, § 1°, assim o diz:

Art. 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

(...)

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Nota-se, portanto, que a responsabilidade civil por danos ao meio ambiente é objetiva, ou seja, ela independe da existência de culpa, sendo pressupostos indispensáveis para a reparação: o dano ou evento danoso e o nexo causal.

Assim são as lições de Bedran e Mayer (2012):

A responsabilidade objetiva foi surgindo aos poucos na doutrina e jurisprudência, sendo adotada paulatinamente em leis esparsas até os dias atuais. Apesar de a responsabilidade subjetiva ser a regra, determinadas matérias elencadas na Constituição Federal, no Código Civil e na legislação brasileira tratam da responsabilidade sem culpa, sendo necessário apenas que se configure a ação ou omissão, o nexo de causalidade e o dano.

124 Considerando-se que o intento da legislação é conferir proteção efetiva ao meio ambiente e inibir condutas danosas ao mesmo, a responsabilização não poderia ser outra senão a objetiva.

Assim posiciona-se a jurisprudência do tribunal de justiça do Distrito Federal:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.

RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO DE SANEAMENTO AMBIENTAL (ÁGUA E ESGOTO). ATO ILÍCITO COMPROVADO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. PRECEDENTES DO STF. DANOS MATERIAIS E ESTÉTICOS. Com o julgamento do Recurso Extraordinário nº 591874/MS, o plenário do Supremo Tribunal Federal assentou entendimento no sentido de que o dano causado por empresa prestadora de serviço público a terceiro não usuário do referido serviço deve ser analisado sob o prisma da responsabilidade civil objetiva, em que independe de culpa (lato sensu). Com efeito, ainda que o vitimado não tenha qualquer relação contratual com a empresa acionada na justiça, está-se diante de típico caso de responsabilidade civil extracontratual objetiva, cabendo à parte postulante a comprovação do evento danoso, do resultado e do nexo de causalidade entre um e outro. Verificando-se que o arbitramento na sentença do montante a título de dano estético levou em conta o grau de lesividade da conduta, bem como sua intensidade, a extensão do dano, a capacidade econômica das partes (requerente e requerido), a máxima da vedação do enriquecimento sem causa, a função pedagógica/preventiva, a repercussão da conduta do ofensor na esfera pessoal da vítima, a proteção dada pela lei, etc, sua confirmação é medida que se impõe. Recursos conhecidos e desprovidos. (TJ-DF - APC: 20130111106870, Relator: GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 03/02/2016, 3ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 12/02/2016. Pág.: 203).

Seguindo a mesma ordem de ideias é a jurisprudência do tribunal de justiça do Rio Grande do Sul:

APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. POLUIÇÃO. ESGOTO A CÉU ABERTO. DANO AMBIENTAL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. OBRAS DE

INFRAESTRUTURA E RECUPERAÇÃO DA ÁREA DEGRADADA.

LOTEAMENTO IRREGULAR. RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DO MUNICÍPIO. 1. A Constituição Federal, em seu artigo 225, consagra o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso do povo e essencial à qualidade vida. 2. A Lei nº6.938/81, ao dispor sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, caracteriza como degradação ambiental a poluição que lese a saúde, a segurança e o bem-estar da população e, também, afetem as condições sanitárias do meio ambiente. 3. O artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 foi recepcionado pela Constituição Federal, ao prever a responsabilidade objetiva pelos danos causados ao meio ambiente, sem exigência de qualquer elemento subjetivo para configuração da responsabilidade civil. 4. A existência do dano e do nexo causal caracteriza a responsabilidade de reparação pelos danos ambientais causados, nos termos do artigo 225, § 2º, da CF, artigo 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 e o artigo 927, parágrafo único, do CC. 5. O Município tem o poder-dever de fiscalizar e regularizar a implantação de loteamentos irregulares, favorável ao interesse público e à satisfação do bem comum, pois é o responsável pelo parcelamento, uso e ocupação do solo urbano, atividade vinculada. Exegese do art. 30 da CF e do art. 40 da Lei nº6.766/79. 6.Hipótese em que tanto o loteador, quanto o Município, tem responsabilidade pela regularização do loteamento, especialmente em relação às obras de infraestrutura, sendo a responsabilidade deste último subsidiária. 7. A herança responde pelas obrigações contraídas pelo

125 de cujus, mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, na proporção de seus quinhões, conforme disposto no art. 1.997 do Código Civil. RECURSO DO MUNICÍPIO PARCIALMENTE PROVIDO E RECURSO DA CORRÉ ZELANI PROVIDO, COM EXTENSÃO EM BENEFÍCIO AOS DEMAIS CORRÉUS. Apelação e Reexame Necessário Nº 70067541722, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 19/07/2016.

Vê-se, portanto, que a responsabilidade civil em matéria ambiental, inclina-se a atuar de forma preventiva, ao passo que, almeja a certeza da imputação, na qual, não há avaliação do animus do agente, sua coercibilidade busca inibir a pratica danosa e conscientizar quanto a necessidade de preservação.