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Em razão da condição de miserabilidade, parcela considerável da população brasileira tem seus direitos educacionais prejudicados. Isso porque, para garantir o sustento da família, é necessária a inserção do maior número de pessoas no

mercado de trabalho233. Assim, embora o acesso à educação tenha aumentado nas

últimas décadas, a baixa escolaridade ainda é uma realidade para a maioria dos cidadãos e tem forte ligação com a criminalidade234.

De acordo com os dados da Superintendência dos Serviços Penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul (SUSEPE-RS), atualizados até 06 de novembro de 2017, há 35.419 homens e 1.966 mulheres cumprindo pena privativa de liberdade no Estado. Dentre eles, 183 (0,49%) têm ensino superior completo, 361 (0,97%) têm ensino superior incompleto, 2.476 (6,62%) concluíram o ensino médio, 4.098 (10,96%) têm o ensino médio incompleto, 4.762 (12,74%) concluíram o ensino

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A partir de 2017, só pode realizar a prova do ENEM quem está no ensino médio. Por isso, foi possível inscrever menos apenados do que no ano de 2016.

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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CUNHA, Elizangela Lelis da. Ressocialização: O desafio da educação no sistema prisional feminino. Caderno Cedes, Campinas, v. 30, n. 81, p.157-178, maio 2010. Trimestral. p.171. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v30n81/a03v3081.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2017.

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fundamental, 22.963 (61,42%) têm o ensino fundamental incompleto, 1.573 (4,21%) concluíram a alfabetização e 879 (2,35%) são analfabetos235.

Analisando tais dados, verifica-se que mais da metade dos condenados à pena privativa de liberdade (67,98%), no Estado do Rio Grande do Sul, sequer concluiu o ensino fundamental. Ademais, de acordo com o “Relatório Final” da Subcomissão da Situação Carcerária, de 2011, grande parte da população carcerária é composta por pessoas pobres236. Dessa forma, depreende-se que há uma forte ligação entre a criminalidade, a falta de educação e a pobreza. Assim, considerando a baixa escolaridade dentro do sistema penitenciário, é necessário refletir sobre o papel da educação, impulsionada pela remição da pena através do estudo e da leitura, e qual a sua efetividade no processo de ressocialização237.

O sistema prisional surgiu como uma forma de manter os infratores longe da sociedade e proteger o cidadão de suas ações criminosas. Entretanto, seu objetivo deve ir além de simplesmente aprisioná-los238. É necessário reeducá-los, através de estratégias laborativas e processos educativos, para que possam retornar ao convívio social e sejam reinseridos na sociedade.

Embora alguns penalistas e penitenciaristas acreditem que a ressocialização seria um mito enquanto ideal de perfeição, um dos objetivos da Lei de Execução Penal brasileira é a de proporcionar a reintegração social do sentenciado como finalidade da pena239. Ressocializar significa reinserir o apenado, ou seja, reeducá-lo para que possa se reintegrar à sociedade de maneira efetiva, observando às normas impostas240. De acordo com Adeildo Nunes:

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RIO GRANDE DO SUL. Superintendência dos Serviços Penitenciários. Grau de Instrução. 06 nov. 2017. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=34>. Acesso em: 09 nov. 2017.

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RIO GRANDE DO SUL. Subcomissão da Situação Carcerária: Relatório Final. Porto Alegre, 2011. Disponível em: <http://www.al.rs.gov.br/download/SubCarcer%C3%A1ria/RF_carceraria.pdf> Acesso em: 12 nov. 2017.

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CUNHA, Elizangela Lelis da. Ressocialização: O desafio da educação no sistema prisional feminino. Caderno Cedes, Campinas, v. 30, n. 81, p.157-178, maio 2010. Trimestral. p.175. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v30n81/a03v3081.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2017.

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TOMAZ, Rosimayre. O Trabalho e a Educação como Estratégias de Ressocialização do Preso. Disponível em: <https://rosimayretomaz.jusbrasil.com.br/artigos/373306309/o-trabalho-e-a- educacao-como-estrategias-de-ressocializacao-do-preso>. Acesso em: 12 out. 2017.

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NUNES, Adeildo. Comentários à Lei de Execução Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 05. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 16 nov. 2017.

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SILVA, José de Ribamar da. Prisão: ressocializar para não reincidir. 2003. 60 f. Monografia (Especialização) - Curso de Especialização em Modalidade de Tratamento Penal em Gestão Prisional, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2003. p. 36/37. Disponível em: <http://www.depen.pr.gov.br/arquivos/File/monografia_joseribamar.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2017.

Enquanto 85% das pessoas que cumprem pena privativa de liberdade voltam a delinquir, a reincidência é reduzida em relação aos que cumprem as penas restritivas de direitos. A falha, portanto, está no ambiente prisional, que deve ser completamente remodelado241.

Conforme dados da SUSEPE-RS, até 06 de novembro de 2017, havia 37.385 pessoas cumprindo pena privativa de liberdade no Estado. Desse total, 10.927 (29,23%) ingressaram pela primeira vez no sistema prisional e 26.458 (70,77%) são reincidentes, ou seja, não é a primeira vez que são aprisionados242. Logo, depreende-se que a taxa de reincidência é alta no Estado e, portanto, é necessário buscar meios de combatê-la.

A alfabetização e, sobretudo, a educação desempenham papel fundamental na ressocialização do sentenciado, pois propiciam a consciência da ilicitude e reforçam os freios inibitórios243. Ademais, o trabalho e o estudo proporcionam uma oportunidade de adquirir novas habilidades e aprimorar o seu conhecimento, possibilitando, de maneira mais fácil, a ressocialização do condenado244.

Assim, as atividades laborativas e educacionais, no ambiente penitenciário, não podem ser encaradas somente como uma forma de distrair os apenados ou de proporcionar o abatimento de parte da pena. É necessário que a educação seja integrada a uma política de qualificação profissional e trabalho no cárcere, a fim de resgatar a dignidade humana e possibilitar novos sonhos e rumos fora do sistema prisional245. Aliás, a elevação de nível escolar é essencial para que o condenado, ao sair do sistema carcerário, tenha melhores oportunidades de trabalho e, como consequência, possa se inserir na sociedade e afastar-se da criminalidade.

Nesse sentido, o professor entrevistado na PESM referiu que, a finalidade do núcleo, dentro das casas prisionais, é de ampliar a consciência crítica do

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NUNES, Adeildo. Comentários à Lei de Execução Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 05. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 06 nov. 2017.

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RIO GRANDE DO SUL. Superintendência dos Serviços Penitenciários. Índice de Retorno. 06 nov.

2017. Disponível em:

<http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=39&cod_conteudo=123>. Acesso em: 09 nov. 2017.

243

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: v.1: parte geral. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 504

244

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 262.

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CUNHA, Elizangela Lelis da. Ressocialização: O desafio da educação no sistema prisional feminino. Caderno Cedes, Campinas, v. 30, n. 81, p.157-178, maio 2010. Trimestral. p.175. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v30n81/a03v3081.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2017.

sentenciado, bem como resgatar a sua autoestima e cidadania246, proporcionando a sua ressocialização do ponto de vista social, moral e ético247. Ademais, relatou alguns exemplos de apenados que estudaram durante o cumprimento da pena privativa de liberdade e não voltaram a delinquir248.

Um dos exemplos mencionado é o de Margarida249, atualmente cumprindo pena em livramento condicional, estudou enquanto esteve no Presídio Regional de Santa Maria e, ao sair do cárcere, passou a trabalhar como diarista. Ademais, há o

caso de Jasmim250, apenada que também cumpre pena em livramento condicional e,

após ter se dedicado aos estudos dentro da casa prisional, por indicação de um dos professores, está trabalhado como cuidadora de idoso e diarista e não voltou a envolver-se em delitos251.

Outrossim, o professor mencionou o exemplo de Cravo252, apenado que cumpre pena em livramento condicional, estudou dentro do cárcere e, posteriormente, na Universidade Federal de Santa Maria. Por fim, narrou a história de Oleandro253, apenado analfabeto que, durante a execução da pena, concluiu a educação básica (T1 e T2) e terminou o 5º ano do ensino fundamental. Fora da casa prisional, Oleandro concluiu o ensino fundamental e, atualmente, por indicação dos professores, trabalha como vigilante254.

Ademais, vale citar a história do apenado Delfínio255, atualmente recolhido na PESM, em razão da prática de tráfico de drogas, que, no dia 09 de junho de 2017, com o auxílio da Defensoria Pública do Estado, pode lançar um livro de poesias,

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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CUNHA, Elizangela Lelis da. Ressocialização: O desafio da educação no sistema prisional feminino. Caderno Cedes, Campinas, v. 30, n. 81, p.157-178, maio 2010. Trimestral. p.175. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v30n81/a03v3081.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2017.

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

escrito dentro do cárcere256. A obra, intitulada “Odisseia no Hospício”, remete ao período em que o apenado permaneceu internado em um instituto psiquiátrico e aborda o uso das drogas, a justiça e a religião257. Segundo o professor entrevistado, Delfínio tem o hábito de ler diversos livros, principalmente obras de Sigmund Freud e Paulo Coelho258. A oportunidade de publicar um livro possibilitou ao apenado uma forma de auxiliar financeiramente a sua família e proporciona ao reeducando uma nova perspectiva fora do cárcere.

Ainda, há o exemplo de Amarilis259, apenada que, em novembro de 2016, cumpria pena em regime fechado, no PRSM, e estudava dentro da casa prisional. Inscrita pela escola Estadual Julieta Balestro, no dia 19 de novembro de 2016, a reeducanda venceu o concurso “Esta é minha Bandeira”, promovido pelo Lions Clube e organizado pela 3ª Divisão do Exército e a 8ª Coordenadoria Regional Educacional e Secretaria Municipal de Educação260.

Além dos exemplos ocorridos em Santa Maria, há o caso de Hibisco261, que passou 33 anos dentro de uma Penitenciária, em São Paulo, e, após encontrar um livro dentro de uma lixeira, passou a estudar. Durante o cumprimento da pena privativa de liberdade, o apenado concluiu os ensinos fundamental e médio e prestou o ENEM. Posteriormente, passou a cursar direito e tinha previsão de formar- se em 2016. Segundo o Portal G1, Hibisco referiu que gostaria de trabalhar na Defensoria Pública, para que pudesse ajudar os necessitados, afirmando que o Estado também quer recuperar o cidadão. Por fim, declarou que “somente a

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RIO GRANDE DO SUL. Defensoria Pública do Estado. Defensor Público ajuda cidadão privado de liberdade a publicar livro de poesia em Santa Maria. 28 jun. 2017. Disponível em: <http://www.defensoria.rs.def.br/conteudo/29311/defensor-publico-ajuda-cidadao-privado-de-

liberdade-a-publicar-livro-de-poesia-em-santa-maria >. Acesso em: 09 nov. 2017.

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RIO GRANDE DO SUL. Superintendência dos Serviços Penitenciários. Apenado da Penitenciária Estadual de Santa Maria lançou livro Odisseia no Hospício. 19 jun. 2017. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=4&cod_conteudo=2947>. Acesso em: 09 nov. 2017.

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PROFESSOR. Entrevista com um dos professores do núcleo existente dentro da PESM e do PRSM. Santa Maria, 07 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

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RIO GRANDE DO SUL. Superintendência dos Serviços Penitenciários. Texto de autoria da apenada foi premiado em concurso que abordou a Bandeira. 22 nov. 2016. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=4&cod_conteudo=2611>. Acesso em: 09 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

educação muda o ser humano e o mundo”, demonstrando compreender a importância da educação262.

Por fim, vale referir a história de Narciso263, que permaneceu preso por 10 anos, em razão de um assalto. O apenado Prestou o ENEM dentro da Penitenciária do Amapá e foi aprovado para cursar administração em uma faculdade de Macapá. Em razão de estar cumprindo pena em regime fechado, não pode estudar. Entretanto, durante a execução, qualificou-se em marcenaria e virou evangélico. Prestes a sair do cárcere, demonstrou saber a importância do estudo, afirmando que deseja mostrar que é um homem ressocializado264.

A partir dos casos relatados de apenados que tiveram a oportunidade de estudar e ler durante a execução da pena, verifica-se que a educação, a qualificação e o trabalho são os pilares da ressocialização. Assim, para que o índice de reincidência seja reduzido de forma considerável, é necessário ampliar as políticas de educação e trabalho dentro das casas prisionais. Nesse sentido:

Enquanto a sociedade não encarar os problemas que ela mesma cria, buscando mecanismos de humanização e inserção social de todos, por meio da redução da desigualdade social e econômica e de garantia de oportunidades dignas, o problema da violência continuará penalizando a todos, inclusive a esta mesma sociedade que se sente confortável em seu mundo de muros e câmeras de segurança, com medo de tudo que está fora dele265.

Destarte, depreende-se que a remição da pena através do estudo e da leitura tem papel fundamental na ressocialização e reinserção social do condenado, porquanto, além de proporcionar o abatimento da pena, incentiva o estudo e a qualificação do segregado. Veja que, ainda que a educação e o trabalho não proporcionem a regeneração de todos os apenados, constituem meio de reduzir a reincidência e, portanto, de reduzir a população carcerária.

262 G1. Ex-detento cursa direito após 33 anos preso: ‘Educação muda o homem’. São José do Rio

Preto, 31 maio 2015. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/sao-jose-do-rio-preto- aracatuba/noticia/2015/05/ex-detento-cursa-direito-apos-33-anos-preso-educacao-muda-o-

homem.html> Acesso em: 09 nov. 2017.

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A fim de preservar a identidade dos apenados mencionados durante a entrevista, serão utilizados nomes de flores para citá-los.

264 G1. ‘Quero mostrar que sou um ressocializado’, diz preso no Amapá. Macapá, 18 ago. 2013.

Disponível em: <http://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2013/08/quero-mostrar-que-sou-um- ressocializado-diz-preso-no-amapa.html> Acesso em: 10 nov. 2017.

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CUNHA, Elizangela Lelis da. Ressocialização: O desafio da educação no sistema prisional feminino. Caderno Cedes, Campinas, v. 30, n. 81, p.157-178, maio 2010. Trimestral. p.176. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v30n81/a03v3081.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2017.

4 CONCLUSÃO

Esta monografia teve como objetivo refletir sobre a relevância da educação no sistema penitenciário brasileiro, buscando-se analisar se a remição da pena, através do estudo e da leitura, é um meio de se atingir o principal objetivo da Lei de Execução Penal, qual seja, a ressocialização e reinserção social do egresso, ou se o instituto se constitui apenas em um meio de abreviar a pena. Tal preocupação fundamentou-se na crise do sistema penitenciário e no aumento da população carcerária.

O Direito de Execução Penal, regido pela Lei 7.210/1984 (LEP), objetiva executar as disposições da decisão condenatória, além de proporcionar a integração social daquele que transgrediu as normas impostas à sociedade. Ainda, procura meios de promover a recuperação do segregado, prevendo quais são os seus direitos e os deveres. A previsão de direitos mostra-se imprescindível para garantir a integridade física e moral do apenado, bem como para possibilitar a sua dignidade durante a execução da pena. Em contrapartida, a previsão de deveres é fundamental para assegurar o bom funcionamento da casa prisional.

Durante o cumprimento da pena privativa de liberdade, o apenado poderá ser contemplado com diversos benefícios, os quais serão deferidos caso ele preencha os requisitos objetivo e subjetivo exigidos na legislação. Dentre eles, estão a progressão de regime, o livramento condicional, as saídas temporárias, o monitoramento eletrônico e a remição da pena. A previsão de tais benesses é extremamente importante, pois incentiva os reeducandos a demonstrarem bom comportamento carcerário, exigido para o seu deferimento, assim como auxilia na sua reinserção social. Isso porque, a finalidade de muitos benefícios é de promover a liberação gradativa do sentenciado, bem como proporcionar a manutenção dos vínculos familiares, imprescindível para a ressocialização.

O benefício da remição da pena poderá ser concedido ao apenado que exercer atividade laborativa no interior ou exterior da casa prisional, ou que desempenhe atividade educativa durante a execução penal. No entanto, a previsão legal de remição através do estudo só ocorreu com a publicação da Lei 12.433, em 2011, e a remição da pena pela leitura, por ora, está prevista somente na Recomendação nº 44 do CNJ. No caso do trabalho, o sentenciado poderá remir um dia de pena a cada três dias de serviço prestado. Em se tratando de estudo, poderá

abater um dia da pena a cada doze horas de frequência escolar, dividas em, no mínimo, três dias. Por fim, no caso da leitura, será possível a remição de quatro dias a cada resenha apresentada e aprovada.

Através da entrevista realizada na Penitenciária Estadual de Santa Maria, com um dos professores responsáveis pelas aulas ministradas dentro das casas prisionais, foi possível apurar que as diversas atividades e projetos desenvolvidos na PESM e no PRSM auxiliam sobremaneira no êxito dos objetivos da execução penal. As aulas são ministradas por professores comprometidos, que se empenham ao máximo para proporcionar aos apenados uma educação de qualidade, de forma interativa e atrativa. Docentes que têm a preocupação de sanar a dúvida de cada um dos segregados, além de elaborar uma apostila para auxiliar aqueles que decidem estudar por conta própria.

Os condenados que cumprem pena na PESM puderam, através do teatro, compreender de maneira descomplicada a história e, através das aulas de educação artística, puderam elaborar trabalhos manuais e distrair-se das mazelas do cárcere. Durante os torneios de futsal, puderam colocar em prática os ensinamentos das aulas de matemática e de educação física, além de entreter-se e praticar uma atividade física. Através do Projeto Leitura Itinerante, tiveram acesso às mais variadas obras e puderam desenvolver o hábito da leitura, aprimorando seus conhecimentos e a capacidade de interpretação. Por fim, através do Projeto de Xadrez, puderam desenvolver o raciocínio lógico e melhorar o desempenho nas atividades escolares.

Embora um dos objetivos da Lei de Execução Penal seja possibilitar a ressocialização do sentenciado, por vezes, tal objetivo não é alcançado, já que muitos estabelecimentos prisionais são incapazes de efetivar as disposições legais, em razão da incompatibilidade entre a lei e a realidade do sistema penitenciário brasileiro. Como consequência disso, o índice de reincidência tem aumentado de forma significativa nos últimos anos. Ademais, observa-se que o Estado e a sociedade não tratam o reeducando como ser humano, o que dificulta, por óbvio, a sua recuperação. Ao contrário, deveriam juntar-se, a fim de garantir ao sentenciado o respeito de seus direitos fundamentais, além de procurar promover políticas públicas voltadas à ressocialização e ao amparo do egresso fora do cárcere.

Nesse sentido, é imprescindível que o Estado promova palestras, debates e novos projetos voltados ao combate da reincidência, construa casas prisionais

dotadas de bibliotecas e de salas de aula, bem como disponibilize postos de trabalho que proporcionem ao condenado uma profissão que poderá ser desempenhada quando estiver em liberdade. Inserindo o apenado no mercado de trabalho, será possível garantir-lhe condições de viver com dignidade no meio social e afastá-lo das práticas criminosas, principalmente se foram elas que o levaram ao cárcere.

Ademais, é fundamental combater o ócio que impera dentro das casas prisionais, buscando-se evitar que os condenados utilizem o tempo livre para nutrir sentimentos de raiva e de vingança, aliar-se aos apenados de alta periculosidade e arquitetar novos delitos, rebeliões e fugas. Para isso, é necessário inserir, em todos os estabelecimentos penais, núcleos eficientes que possibilitem aos sentenciados estudar e se qualificar durante a execução. Entretanto, é essencial que tais atividades não sejam compreendidas apenas como uma distração ou forma de abater a pena privativa de liberdade. A educação deve ser integrada a políticas públicas que busquem a qualificação profissional do apenado, além da sua (res)socialização. Isso porque, através do estudo e do trabalho, o reeducando terá melhores oportunidades fora do sistema carcerário e, portanto, poderá se reinserir na sociedade e exercer uma atividade laboral digna.

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