• Nenhum resultado encontrado

CUMPRIMENTO DA PENA

A Lei de Execução Penal prevê diversos benefícios que poderão ser concedidos ao longo da execução da pena, tais como a progressão de regime, o livramento condicional, a saída temporária, a inclusão do apenado no programa de monitoramento eletrônico, o indulto, a comutação, o serviço externo, a remição da pena, dentre outros. Entretanto, o presente capítulo tratará somente dos benefícios considerados mais relevantes para a compreensão do cumprimento da pena privativa de liberdade.

Para o deferimento dos benefícios pelo juízo da execução criminal, é necessário que o reeducando preencha alguns requisitos. Em regra, o apenado

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=ATC&sequencial=3181633 0&num_registro=201301284915&data=20140321&tipo=51&formato=PDF>. Acesso em: 21 out. 2017.

89

RENATO MARCÃO, 2016, apud PIMENTEL, 1983, p. 163. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 21 out. 2017.

90

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 21 out. 2017.

91

deverá, inicialmente, preencher o requisito objetivo, que significa cumprir uma fração da pena imposta, conforme previsão legal. Ademais, é imprescindível que o segregado preencha o requisito subjetivo, ou seja, demonstre, através do atestado de conduta carcerária, emitido pelo diretor da casa prisional, que mantém uma conduta plenamente satisfatória92.

De acordo com o artigo 14 do Regimento Disciplinar Penitenciário do Estado do Rio Grande do Sul (Decreto nº 46.534/09), “a conduta do preso será avaliada tendo em vista o seu grau de adaptação às normas que regulam sua permanência na instituição93” e será classificada em neutra, plenamente satisfatória, regular e péssima. Havendo o reconhecimento judicial de falta grave, a conduta do reeducando será classificada como péssima e, com o decurso do tempo, será reclassificada progressivamente, para a conduta imediatamente superior, de acordo com os prazos previstos no parágrafo 6º do referido artigo94.

Além disso, em casos peculiares, poderá ser exigida, em decisão motivada, a realização de exame criminológico, a fim de verificar o preenchimento do requisito subjetivo, conforme dispõe a Súmula 439 do STJ95. Logo, verifica-se que a realização do referido exame deixou de ser obrigatória.

Um dos principais benefícios previstos para quem cumpre pena privativa de liberdade é a progressão de regime, com previsão no artigo 112 da Lei de Execução Penal, a saber:

Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão96.

92

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 159.

93

RIO GRANDE DO SUL. Decreto nº 46.534, de 04 de agosto de 2009. Aprova o Regimento Disciplinar Penitenciário do Estado do Rio Grande do Sul. Regimento Disciplinar Penitenciário do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS, 05 ago. 2009. Disponível em: <http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1321547695_Regimento Disciplinar Penitenciário atualizado.pdf>. Acesso em: 23 out. 2017.

94

Ibidem.

95

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 439. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/sumanot/toc.jsp?livre=(sumula%20adj1%20%27439%27).sub. >. Acesso em: 23 out. 2017.

96

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

Ademais, de acordo com o artigo 2º, parágrafo 2º da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.071/1990), a progressão de regime, no caso dos condenados por crimes hediondos, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado for primário, e de 3/5, se reincidente97. Assim, depreende-se que a exigência de 1/6 para a concessão do benefício refere-se somente aos delitos comuns. Dessa forma, cumprido o requisito objetivo – 1/6 para delito comum, 2/5 para reeducando primário em crime hediondo ou equiparado e 3/5 para apenado reincidente em delito hediondo ou equiparado – e comprovada conduta plenamente satisfatória, será possível postular a progressão de regime.

De acordo com Renato Marcão, o sistema progressivo adotado pela LEP determina a passagem do condenado do regime mais severo para o menos rigoroso, ou seja, do regime fechado para o semiaberto e deste para o aberto. Ocorrendo a

ordem inversa, tem-se a regressão de regime98, que poderá decorrer da

homologação de falta greve.

Em observância ao disposto no artigo 93, inciso IX, da CRBF, o parágrafo 1º do artigo 112 da Lei de Execução Penal refere que, a decisão que conceder ou denegar o benefício deverá ser motivada e precedida de manifestação do Ministério Público e do defensor99.

Outro benefício importante na execução da pena privativa de liberdade é o livramento condicional, quando o reeducando será colocado “em liberdade sob o compromisso de cumprir determinadas condições judiciais”100

. De acordo com o artigo 83 do Código Penal, para que o apenado seja beneficiado com o livramento condicional, é necessário que ele cumpra pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos e alcance o requisito objetivo para o seu deferimento, ou seja:

Art. 83, I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;

II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;

97

BRASIL. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Lei de Crimes

Hediondos. Brasília, DF, 26 jul. 1990. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

98

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 156.

99

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

100

MANZANO, Luís Fernando de Moraes. Curso de Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 840. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 23 out. 2017.

(...)

V - cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza101.

Ademais, o apenado deverá comprovar comportamento satisfatório durante a execução da pena; desempenhar de forma adequada o trabalho que lhe foi atribuído e demonstrar aptidão para prover a sua própria subsistência através de trabalho honesto e reparar o dano causado pela infração, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo102

.

Concedida a liberdade condicional, o magistrado especificará as condições a que o reeducando estará submetido, sendo que, de acordo com o artigo 132, parágrafo 1º, da LEP, obrigatoriamente deverá obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto ao trabalho, deverá comunicar a sua ocupação periodicamente e não poderá mudar do território da comarca do Juízo de execução, sem prévia autorização103. Ademais, conforme o parágrafo 2º do referido artigo, o magistrado poderá impor outras obrigações ao liberado, como não mudar de residência sem comunicar ao Juiz e à autoridade incumbida da observação cautelar e de proteção, fixar horário para recolher-se à habitação e não frequentar determinados lugares104.

Conforme previsão no artigo 86 do CPB, o livramento condicional será revogado obrigatoriamente se o liberado houver sido condenado a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por delito cometido durante a sua vigência ou se, com a unificação das penas em razão de crime cometido antes da concessão do benefício, o reeducando não preencher o requisito objetivo para a manutenção da liberdade105. Ademais, o juiz poderá “revogar o livramento, se o liberado deixar de cumprir qualquer das obrigações constantes da sentença, ou for irrecorrivelmente

101

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

102

Ibidem.

103

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

104

Ibidem.

105

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

condenado, por crime ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade”106

, conforme artigo 87 do CPB.

Por fim, importante mencionar que, revogada a liberdade condicional, não poderá ser novamente concedida. Ademais, salvo quando a revogação ocorrer em razão de crime cometido antes da concessão do benefício, o período que o liberado

permaneceu livre não será computado como pena cumprida107.

Outro benefício comumente concedido é a saída temporária que, segundo Luis Fernando de Moraes Manzano, “funda-se na progressividade e na individualização da pena e na sua finalidade, qual seja, promover a reinserção social do condenado”108

. Para o deferimento de saída temporária, segundo o artigo 123 da LEP, é necessário a comprovação de comportamento adequado – requisito subjetivo -, cumprimento mínimo de 1/6 da pena privativa de liberdade, se o condenado for primário, e ¼, se reincidente, bem como é exigida a compatibilidade do benefício com os objetivos da pena109.

Conforme previsão no artigo 122 da LEP, o benefício será concedido ao reeducando que, além de preencher os requisitos anteriormente mencionados, cumpra pena em regime semiaberto e queira visitar a família, frequentar curso supletivo profissionalizante ou de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Execução, bem como quando almeja participar de atividades que concorram para o retorno ao convívio social110. Ademais, vale mencionar que a autorização de saída temporária será concedida por prazo não superior a sete dias e poderá ser renovada por mais quatro vezes durante o ano (art. 124, LEP)111.

Por fim, o último benefício considerado de extrema importância para a compreensão do Direito de Execução Penal é o monitoramento eletrônico. Instituído pela Lei 12.258/10, para prever a possibilidade de utilização de equipamento de

106

BRASIL. Decreto-lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro, RJ, 31 dez. 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

107

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

108

MANZANO, Luís Fernando de Moraes. Curso de Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 833. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 23 out. 2017.

109

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

110

Ibidem.

111

vigilância indireta pelo condenado112, o benefício poderá ser concedido ao reeducando que cumpre pena em regime semiaberto e é beneficiário de saída temporária e àquele que se encontra em prisão domiciliar113, conforme previsão no artigo 146-B da LEP.

De acordo com o artigo 146-C da Lei de Execução Penal, o reeducando deverá ser instruído sobre os cuidados que deverá adotar com o equipamento eletrônico, além dos seus deveres para a manutenção do benefício, a saber:

[...] I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações;

II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de permitir que outrem o faça;114

Ainda, o parágrafo único do referido artigo estabelece que, havendo a violação dos deveres mencionados, o juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa, poderá determinar a regressão de regime, a revogação da autorização de saída temporária, a revogação da prisão domiciliar ou advertir, por escrito, o reeducando. Por fim, o artigo 146-D da LEP prevê que o benefício poderá ser revogado quando se tornar desnecessário ou inadequado, se o acusado ou condenado violar os deveres impostos na concessão da benesse ou cometer falta grave115.

112

MANZANO, Luís Fernando de Moraes. Curso de Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 842. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 23 out. 2017.

113

AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Execução Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: Método, 2017. P 324. Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 12 jun. 2017.

114

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

115

3 O INSTITUTO DA REMIÇÃO DA PENA

Além dos benefícios analisados no capítulo anterior, a Lei de Execução Penal prevê outra benesse de extrema importância para quem cumpre pena privativa de liberdade: a remição da pena. De acordo com a Lei 7.210/84, o condenado poderá remir a pena através do trabalho e do estudo. Ademais, a partir de 2013, com o advento da Recomendação nº 44, do Conselho Nacional de Justiça, possibilitou-se aos reeducandos abater a pena também através da leitura.

Para melhor compreender a remição da pena, no presente capítulo será realizado um breve histórico sobre o benefício e apresentado o seu conceito (3.1), seguida de uma exposição sobre a remição da pena através do estudo e da leitura (3.2), será analisada a situação da Penitenciária Estadual de Santa Maria e do Presídio Regional de Santa Maria (3.3) e, por fim, será feita uma reflexão acerca da relação entre o instituto e a ressocialização (3.4).

Documentos relacionados