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A Lei de Execução Penal prevê uma série de benefícios para contemplar os reeducandos que demonstrarem comportamento satisfatório durante o cumprimento da pena privativa de liberdade. Além dos já mencionados no capítulo anterior, quais sejam, a progressão de regime, o livramento condicional, a saída temporária e o monitoramento eletrônico, a legislação prevê a possibilidade de remição da pena.

De acordo com o item 132 da Exposição de Motivos da LEP, verifica-se que a proposta do instituto da remição da pena é de abreviar o tempo de condenação através de atividades laborativas, determinando que três dias de trabalho proporcionam um dia de resgate116. Outrossim, é importante referir que o tempo remido deverá ser computado para a concessão de livramento condicional e de indulto, que, da mesma forma que a remição, “constituem hipóteses práticas de sentença indeterminada como fenômeno que abranda os rigores da pré-fixação

116

BRASIL. Lei nº 7.210, de 7 de julho de 1984. Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 9 mai. 1983. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210- 11-julho-1984-356938-exposicaodemotivos-149285-pl.html>. Acesso em: 27 out. 2017.

invariável, contrária aos objetivos da Política Criminal e da reversão pessoal ao delinquente”117

.

A palavra remição deriva “de ‘redimire’, que no latim significa reparar, compensar, ressarcir. É preciso não confundir ‘remição’ com ‘remissão’; esta, segundo o léxico, significa a ação de perdoar”118

. Aliás, refere o Defensor Público do Estado de São Paulo, Lucas Corrêa Abrantes Pinheiro, que o perdão total ou parcial de penas poderá ser concedido, durante o seu cumprimento, através da graça, do indulto e da comutação119. Logo, é importante frisar que o conteúdo semântico e jurídico da palavra remição é o significado de contrapartida, não de perdão120.

Segundo Rodrigo Roig, “a remição é o desconto de parte do tempo de execução da pena, em regra pela realização de trabalho ou de estudo”121

. Já Luís Fernando Manzano refere que “remição é o cômputo como pena privativa de liberdade ou período de prova, dos dias de trabalho ou estudo”122, “é um benefício e

direito subjetivo do condenado que cumpre pena privativa de liberdade em regime fechado, semiaberto ou aberto, e do liberado condicional”123

.

O instituto da remição, segundo o item 133 da Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal, teve origem no Direito Penal Militar da guerra civil:

133. O instituto da remição é consagrado pelo Código Penal Espanhol (artigo 100). Tem origem no Direito Penal Militar da guerra civil e foi estabelecido por decreto de 28 de maio de 1937 para os prisioneiros de guerra e os condenados por crimes especiais. Em 7 de outubro de 1938 foi criado um patronato central para tratar da "redención de penas por el trabajo" e a partir de 14 de março de 1939 o benefício foi estendido aos crimes comuns. Após mais alguns avanços, a prática foi incorporada ao Código Penal com a Reforma de 1944. Outras ampliações ao funcionamento da remição verificaram-se em 1956 e 1963 (cf. Rodriguez

117

BRASIL. Lei nº 7.210, de 7 de julho de 1984. Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 9 mai. 1983. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210- 11-julho-1984-356938-exposicaodemotivos-149285-pl.html>. Acesso em: 27 out. 2017.

118

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 238. Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html> Acesso em: 27 out. 2017

119

PINHEIRO, Lucas Corrêa Abrantes. A nova remição de penas: Comentários à Lei 12.433/2011. Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da Universidade de São Paulo, [201_]. Disponível em: <http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/2013-02-04-13-50-03/2013-02-04-13-48-55/artigos- publicados/14-artigo-a-nova-remicao-de-penas-comentarios-a-lei-12-433-2011> Acesso em: 27 out. 2017.

120

Ibidem.

121

ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução Penal: Teoria Crítica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p.409. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 27 out. 2017.

122

MANZANO, Luís Fernando de Moraes. Curso de Processo Penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 835. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 27 out. 2017.

123

Devesa, "Derecho Penal Español", parte geral, Madrid, 1971, págs. 763 e seguintes).124

O instituto da remição está intimamente ligado ao principio constitucional da individualização da pena e, portanto, deve considerar as aptidões pessoais do condenado trabalhador ou estudante125. Ademais, é importante frisar que o benefício é fundamental para a reintegração social do apenado, pois, através do trabalho e do estudo, identifica-se com a sociedade126.

Originariamente, o artigo 126 da Lei 7.210/84 previa somente a possibilidade de remição de pena através do trabalho. No entanto, com a entrada em vigor da Lei 12.433/2011, que alterou alguns dispositivos da Lei de Execução Penal, o referido artigo passou a dispor que “o condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena”127

. Ademais, de acordo com o parágrafo 1º do referido artigo:

[...] § 1o A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de: I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;

II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.128

Da leitura do artigo 126, caput, da LEP depreende-se que a remição através do trabalho não será concedida a quem cumpre pena em regime aberto ou em livramento condicional. Isso porque, o artigo 114, inciso I da lei determina que só poderá ser colocado em regime aberto o condenado que “estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo imediatamente”129

. Ademais, o artigo 132, parágrafo 1º, “a” do mesmo Diploma Legal refere que uma das obrigações imposta

124

BRASIL. Lei nº 7.210, de 7 de julho de 1984. Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 9 mai. 1983 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1980-1987/lei-7210- 11-julho-1984-356938-exposicaodemotivos-149285-pl.html>. Acesso em: 27 out. 2017.

125

PINHEIRO, Lucas Corrêa Abrantes. A nova remição de penas: Comentários à Lei 12.433/2011. Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da Universidade de São Paulo, [201_]. Disponível em: <http://www.gecap.direitorp.usp.br/index.php/2013-02-04-13-50-03/2013-02-04-13-48-55/artigos- publicados/14-artigo-a-nova-remicao-de-penas-comentarios-a-lei-12-433-2011> Acesso em: 27 out. 2017.

126

Ibidem.

127

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

128

Ibidem.

129

ao liberado condicional é a obtenção de “ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto para o trabalho”130

. Destarte, o trabalho é condição de ingresso ao regime aberto e condição de permanência em livramento condicional, razão pela qual não há que falar em concessão de remição nesses casos.

O trabalho do condenado, previsto no artigo 28 da LEP, inicialmente tinha o objetivo de vingança e castigo, mas, com o tempo, passou a ter finalidade educativa e produtiva, além de visar à reabilitação e reinserção social do reeducando131. Por outro lado, conforme previsão no artigo 31 da LEP, o trabalho se constitui em uma obrigação do apenado, na medida de suas aptidões e capacidade132.

Entretanto, segundo Adeildo Nunes, o artigo 31 da LEP é inconstitucional, pois o Estado não pode obrigar o apenado a trabalhar, dentro ou fora da prisão, seja na qualidade de provisório ou na condição de condenado133. “O preso brasileiro só está submetido a cumprir o que está na lei ou na sentença penal condenatória porque ele detém todos os direitos de quem está em liberdade, exceto a liberdade”134

.

Logo, conclui-se que o trabalho é um direito do preso e, portanto, uma obrigação do Estado. Assim, Adeildo Nunes afirma que:

A administração prisional tem o dever de disponibilizar o trabalho para o preso, de forma remunerada, cabendo ao recluso aceitar ou não a incumbência. Sabendo-se que a ociosidade carcerária é uma das causas que produz conflitos internos em abundância, era de se esperar que o trabalho fosse efetivamente posto à disposição do detento, de preferência dentro do próprio ambiente prisional. Na prática, não é assim. Pelo contrário, o preso comumente pugna por desenvolver uma atividade lícita dentro das prisões, mas não há vontade política para esse desiderato.135

Ainda acerca do trabalho penitenciário, vale referir que a remição da pena através do “trabalho aplica-se tanto àquele realizado no interior do estabelecimento,

130

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

131

ISHIDA, Válter Kenji. Prática Jurídica de Execução Penal. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2015. P 281. Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html > Acesso em: 29 out. 2017.

132

Ibidem.

133

NUNES, Adeildo. Comentários à Lei de Execução Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 65. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 29 out. 2017.

134

Ibidem.

135

Idem. Da Execução Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 204 . Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 27 jun. 2017.

quanto ao trabalho externo”136

. Na prática, em razão da escassez de atividades produtivas dentro das casas prisionais, tornou-se costumeira a autorização para que os reeducandos que cumprem pena em regime semiaberto realizem trabalho externo137. Nesse sentido, a Súmula 562 do Superior Tribunal de Justiça pacificou que “é possível a remição de parte do tempo de execução da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha atividade laborativa, ainda que extramuros”138

.

Outrossim, o parágrafo 7º do artigo 126 da LEP refere que o instituto também é aplicável à prisão cautelar139. No entanto, tratando-se de preso provisório, a remição só poderá ser concedida se ele vier a ser condenado, “significando, assim, que a remição pelo trabalho e pelo estudo será sempre uma perspectiva de direito, que só poderá ser usufruída por aquele que vem a ser efetivamente condenado numa sentença penal”140

.

Antes da lei 12.433/2011, havia duas correntes quanto a fórmula empregada para se descontar os dias remidos: a primeira posição era de que o tempo remido deveria ser somado ao tempo de pena cumprida, enquanto a segunda posição acreditava que o tempo remido deveria ser abatido da totalidade da pena aplicada141. A primeira corrente se revela mais beneficia ao condenado, mas, na prática judiciária, não prevalecia142. Assim, com o advento da Lei 12.433/2011, o artigo 128 da LEP passou a ter a seguinte redação: “o tempo remido será computado como pena cumprida, para todos os efeitos”143

, ou seja, para a

136

ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Execução Penal: Teoria Crítica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p.409. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 21 out. 2017.

137

NUNES, Adeildo. Da Execução Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 205 . Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 29 jun. 2017.

138

BRASIL. Superior Tribunal Justiça. Súmula nº 562. Brasília, DF, 24 de fevereiro de 2016. Brasília,

29 fev. 2016. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%27562%27>. Acesso em: 22 out. 2017.

139

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 23 out. 2017.

140

NUNES, Adeildo. Comentários à Lei de Execução Penal. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016. p. 292. Disponível em: <https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html>. Acesso em: 30 out. 2017.

141

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. p. 247. Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html> Acesso em: 29 out. 2017.

142

Ibidem.

143

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 24 out. 2017.

concessão dos demais benefícios previstos na Lei de Execução Penal, como a progressão de regime, livramento condicional, indulto, etc.

Entretanto, para o deferimento da benesse, é necessário prova documental do trabalho regular desenvolvido pelo preso ou da frequência e do aproveitamento escolar144. Acostado ao Processo de Execução Criminal a referida comprovação, a defesa poderá postular a concessão de remição, que será declarada pelo juiz da execução, após a oitiva do representante do Ministério Público, conforme redação do artigo 126, parágrafo 8º, da LEP145.

Ademais, importante frisar que, ao contrário dos benefícios anteriormente explanados, para a concessão da remição, não é necessário que o reeducando comprove, através do atestado de conduta carcerária, que apresenta conduta plenamente satisfatória. Nesse sentido, o Habeas Corpus nº 31287/SP, julgado pela Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, em 01/10/2015, tendo como relatora a Ministra Maria Thereza de Assis Moura, que aduz:

HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO. REMIÇÃO DA PENA. OBSERVÂNCIA DOS ARTS. 126 E 127 DA LEI DE EXECUÇÃO PENAL. INAPLICABILIDADE DO ART. 112 DA LEP. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

1. O atestado de conduta carcerária desfavorável, por si só, não impede a concessão da remição, devendo ser observada a legislação de regência (artigos 126 e 127 da Lei de Execução Penal).

2. Writ não conhecido. Ordem concedida de ofício, para determinar que o juízo da execução reexamine o pedido de remição da pena, relativo ao período compreendido entre 3.1.2011 a 29.4.2011, limitando, de forma fundamentada, a perda dos dias eventualmente remidos, em razão da falta grave praticada em 23.9.2011, a até 1/3 (um terço) dos dias remidos.146

Acerca da possibilidade de perda dos dias remidos, o artigo 127 da LEP refere que “em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da

144

MARCÃO, Renato. Lei de Execução Penal anotada. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 363. Disponível em: < https://portal.ufsm.br/biblioteca/pesquisa/index.html> Acesso em: 29 out. 2017.

145

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210compilado.htm>. Acesso em: 27 out. 2017.

146

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas Corpus nº 31287, São Paulo. Relatora: Ministra Maria Thereza de Assis Moura. Brasília, DF, 01 de outubro de 2015. Brasília, 22 out. 2015. Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=("Sexta+Turma").org.&processo=312873&&ti po;_visualizacao=RESUMO&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 27 out. 2017.

data da infração disciplinar”147

. De acordo com o artigo 57 do mesmo diploma legal, “na aplicação das sanções disciplinares, levar-se-ão em conta a natureza, os motivos, as circunstâncias e as consequências do fato, bem como a pessoa do faltoso e seu tempo de prisão”148

.

Outrossim, o item 134 da Exposição de Motivos da Lei de Execução Penal refere que, para evitar distorções que poderiam comprometer a eficiência e o crédito do instituto no nosso sistema, adotou-se “cautelas para a concessão e revogação do benefício, dependente de declaração judicial o crime de falsidade ideológica quando se declara ou atesta falsamente a prestação de serviço para instruir o pedido de remição”149

. Dessa forma, para a aplicação da punição consistente na perda do tempo remido, nos termos do artigo 59 da LEP, deverá ser instaurado procedimento disciplinar para que a falta seja apurada150 e, após a oitiva da defesa, o magistrado responsável pela execução criminal poderá, em decisão motiva, homologar a falta disciplinar151.

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