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4.2 A PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS

4.2.1 A RSC na perspectiva dos gestores da unidade frigorífica

A empresa tem algumas diretrizes gerais que são seguidas por todas as suas unidades no Rio Grande do Sul, consolidada em um documento que expressa a Missão, os Objetivos, Princípios e o Negócio da empresa desde 1995. Nesse documento, explicita-se a orientação geral de criar valor para os seus stakeholders: "A finalidade é desenvolver as atividades agropecuária e comercial, oferecendo produtos e serviços com qualidade, a fim de construir o caminho da satisfação dos associados, funcionários e clientes".

A empresa impõe o programa de qualidade e a filosofia cooperativista para balizar suas ações em alguns temas, como a relação com os consumidores, a proteção ambiental, ambiente de trabalho sem discriminações, relações éticas com fornecedores e parceiros comerciais. Estas premissas básicas devem ser seguidas

por todas as unidades. A empresa não possui um programa especifico que aborde ações de responsabilidade social. No caso da unidade frigorífica, algumas ações de caráter social são realizadas interna e externamente. As ações externas estão voltadas para comunidade local e pode-se dizer que essas ações abrangem um número pequeno da sociedade. Fazem parte do Programa de Qualidade desenvolvido na empresa, ações como, palestras de sensibilização sobre preservação, reflorestamento e cuidados especiais com os recursos naturais são realizadas pelos próprios colaboradores na comunidade. Internamente também são desenvolvidos programas e ações com caráter social, como campanha do agasalho, campanha de alimentos, rústicas, festival da canção, campanha de reciclagem de lixo entre outras.

As entrevistas realizadas na unidade indicam que as principais ações realizadas na planta industrial seguem as orientações pertinentes às obrigações legais e à observância de recomendações dos órgãos reguladores. São exemplos o tratamento de efluentes, cuidados com a segurança alimentar, procedimentos e normas dos programas de qualidade.

Nas entrevistas realizadas no frigorífico, pôde-se perceber que o tema RSC é novo e por alguns ainda é desconhecido. Na área que coordena o programa de qualidade, o tema se confunde com o próprio programa de qualidade. Para o setor comercial, o tema é mais familiar, seus integrantes sabem da importância da responsabilidade social e de seu potencial estratégico em futuras negociações. Na gerência da unidade, o tema é conhecido e há consciência de sua importância apesar de entenderem que a responsabilidade social corporativa da empresa já é cumprida ao executarem sua missão.

Acho esse tema muito atual, eu acho que a responsabilidade social sempre existiu principalmente em empresas como as cooperativas. Acho que a empresa cooperativa tem uma diferença social muito maior do que qualquer outra empresa [...]. o sistema cooperativo tem uma ação social por princípio, desde sua criação e sua origem (GERENTE DA UNIDADE FRIGORÍFICA, 2010).

No entanto, está-se iniciando o processo de disseminação do conceito dentro da empresa para num futuro próximo utilizá-lo de forma estratégica. As entrevistas apontaram unanimidade nas afirmações de que a empresa não tem um programa de RSC instituído, mas que é um objetivo a ser alcançado.

Acho que o tema é importante, vejo a empresa como um todo... Ela tem ações sociais fortes e na nossa unidade também temos uma preocupação grande em aproveitar e fazer ações sociais que possam agregar valor ao produto [...] essa é a intenção, mas nós somos muito limitados em recursos humanos para organizar essas ações sociais, não se tem um plano (GERENTE DA UNIDADE FRIGORÍFICA, 2010).

Fica evidente nas falas que se cumprem as obrigações sociais e as exigências legais em resposta a constrangimentos legais e de um mercado externo altamente exigente. As exigências pela qualidade da carne estão cada vez maiores e envolvem diversos aspectos inter-relacionados que englobam todas as etapas da cadeia agroindustrial, desde o nascimento do animal até o preparo para o consumo final da carne in natura e de produtos cárneos processados.

Segundo Bridi (2010), o conceito “qualidade de carne” varia conforme as regiões geográficas, as classes socioeconômicas, as diferentes visões técnico- científicas, industriais e comerciais, questões culturais, entre outros aspectos. Oscila também de acordo com as características próprias de cada consumidor e com suas preferências individuais possuindo, então, muitas variáveis. Em resumo, a qualidade da carne é uma medida das características desejadas e valorizadas pelo consumidor.

Alguns mercados, como o Japonês, Americano e da Comunidade Comum Europeia, além do requisito qualidade, exigem que outros parâmetros sejam incorporados para a importação de carne. A adoção de sistemas de gestão, como as ISOS, Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), Boas Práticas de Produção (BPP), Boas Práticas de Fabricação (BPF) que garantam a segurança alimentar da carne; adoção de práticas que garantam a sustentabilidade do sistema produtivo nos aspectos sociais e ambientais; sistemas de produção que garantam o bem-estar dos animais de produção; abate humanitário dos animais (utilização de métodos eficientes de insensibilização) entre outros são exigências desses mercados.

No atual estágio da empresa, percebe-se que os gestores do frigorífico têm uma grande preocupação em cumprir com o regramento legal instituído pelos órgãos reguladores e pelo mercado externo. Tratamento de efluentes, reflorestamento, garantia da qualidade, através dos programas Boas Práticas de Fabricação (BPF), Procedimento Padrão de Higiene Operacional (PPHO), (Procedimentos Sanitários das Operações (PSO), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC),

Programas de Auto-controle são alguns dos procedimentos adotados pela empresa que visam ao cumprimento dessas exigências.

Isso é importante e poderia ser o diferencial, hoje nem tanto, mas a curto prazo deve ter um destaque maior essa ações sociais, principalmente se bem planejadas e divulgadas, publicadas. Essa é ainda a nossa falha, nós fizemos muito e não conseguimos publicar (GERENTE DA UNIDADE FRIGORÍFICA, 2010).

A visão dos gestores a respeito desse tema é utilizar-se das ações que já executam dentro da empresa, como os programas nas áreas de educação, saúde e cultura, além do tratamento específico às questões ambientais em estratégias de competitividade através da divulgação.

No senso comum as pessoas entendem por responsabilidade social as ações ou projetos executados pelas empresas. O sistema cooperativo, a nossa unidade, está inserida numa atividade extremamente competitiva e com baixa rentabilidade, então a primeira responsabilidade é conseguir mantermos como empresa, sermos viáveis, atender a legislação, atender o regramento de tributação, e ainda pagar as conta (GERENTE DA UNIDADE FRIGORÍFICA, 2010).

As entrevistas mostram que a ideia de implantar um programa de responsabilidade social no frigorífico ainda precisa ser amplamente discutida e estudada pelos gestores. No século XX, se a qualidade total era considerada termo- chave para o desenvolvimento organizacional, neste novo século, destaca-se a sustentabilidade, que requer o atendimento às necessidades econômicas, sociais e do meio ambiente onde a empresa opera. Torna-se imperativo enriquecer a missão organizacional com práticas socialmente responsáveis, respeito ao meio ambiente, à comunidade local e à sociedade global (OLIVEIRA, 2005). Para os gestores parece não restar dúvida acerca da elaboração de um programa único e dos desafios que permeiam a sua implantação.