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A S COLECÇÕES DO M USEU – O PASSADO , O PRESENTE E O FUTURO

41 KUHN, cit 36, p.212.

1.3 A S COLECÇÕES DO M USEU – O PASSADO , O PRESENTE E O FUTURO

O Hospital de Santo António possui um património histórico-cultural constituído sobretudo por peças de cariz técnico-científico, dispersas actualmente pelos diversos serviços e áreas hospitalares.

Apesar dos seus mais de duzentos anos de prática clínica, a parte substancial do fundo

patrimonial do HSA remonta fundamentalmente a um período cronológico que se estende desde inícios do séc. XX até aos anos 90 e é, em grande medida, o resultado da colaboração

desinteressada de muitos profissionais, que apesar das limitações e constantes remodelações de espaços, colaboraram e colaboram na salvaguarda e protecção de instrumentos, objectos, documentação e outros materiais que chegam hoje às nossas mãos.

Embora muitos dos objectos relacionados com a memória da instituição não estejam hoje à sua guarda, o acervo em questão reflecte contudo um período importante da sua história e património, abrangendo milhares de artefactos que ajudam a construir a memória da Instituição, enquanto testemunho de técnicas médicas e sua utilização em épocas distintas, visando assim dar a conhecer a evolução da Medicina em termos científicos, técnicos, tecnológicos e a sua relação com outras ciências:

- Instrumentos, Aparelhos e Equipamentos Médico-Cirúrgicos, de Laboratório, Imagiologia e Farmacêuticos

Esta colecção encontra-se agrupada a partir das diversas áreas de estudo do organismo humano, e tem ainda em consideração a evolução da Medicina moderna e respectivas disciplinas e

especialidades médico-cirúrgicas, num total contabilizado até à data de duas mil cento e oitenta peças. 7 78 182 350 115 266 11 26 44 10 19 126 1 60 259 114 94 56 164 19 6 1

Ambulatório Anatomia Patológica Anestesiologia Aprovisionamento Bar CICAP Cirurgia

Estomatologia e Cirurgia Maxilo Facial Fisiatria Fisiopatologia Respiratória Gastrenterologia Hematologia Hematologia Clinica Mecânica Fina Microbiologia Neonatais SCNIP Obstetricia e Ginecologia Of talmologia Ortopedia Otorrinolaringologia Quimica Clínica Urologia Neurocirurgia

Gráfico 1 - Número total de objectos Médico - Cirúrgicos, de Laboratório, de Imagiologia e Farmacêuticos do Centro Hospitalar do Porto - Unidade HSA.

Pretendendo-se que as colecções de carácter médico - cirúrgico possam relacionar-se com outros objectos e memórias, numa lógica de complementaridade cultural, integram ainda o espólio as seguintes colecções:

- Instrumentos, Equipamentos e Utensílios de apoio hospitalar

Esta categoria integra objectos utilizados na terapêutica; saúde e higiene do corpo; conservação, preparação e consumo de alimentos; material administrativo e mobiliário hospitalar, entre outros, podendo-se contabilizar à data de Maio de 2007 cerca de cento e sessenta peças.

- Pintura

A colecção de Pintura é composta até à data por oitenta objectos enquadrados cronologicamente entre os séculos XIX e XX, sendo, na sua grande maioria, alusivos a benfeitores ou outras personalidades directamente relacionadas com o HSA ou com a Santa Casa da Misericórdia do Porto.

Fig. 11 - Retrato do Irmão José António dos Santos. Alves, 1841.

Proveniência: Santa Casa da Misericórdia e Centro Hospitalar do Porto. Fotografia Egídio Santos / Meio Formato.

- Escultura

A colecção de escultura reúne mais de trinta objectos de arte sacra - donde se destacam peças como a Cruz dos enforcados até à singela imagem do patrono do Hospital, Santo António, - e de âmbito civil – salientando-se bustos de figuras nacionais, sobretudo benfeitores, personagens com lustre científico internacional e outra estatuária diversa.

- Fotografia

Numa perspectiva de carácter documental, esta colecção reúne um importante espólio oriundo do fundo Ângelo das Neves, sob a alçada da Biblioteca Central do HSA, reproduções de legados particulares e diversas fotografias relativas ao edifício em si e registo de acontecimentos relevantes.

Numa outra vertente, encontramos fotografias dedicadas a temas médicos, captação de imagens sobre processos patológicos, eventos, cenas clínicas ou cirúrgicas, etc., perfazendo um total até a data de cento e cinquenta fotografias.

Fig. 12 - Curativo. Pavilhão D. Manuel II.

Proveniência: Colecção da Enfermeira Ana dos Santos Machado. Fotografia Egídio Santos / Meio Formato.

- Medalhística

Esta colecção é constituída por sessenta e três medalhas alusivas às reuniões, confraternizações e congressos médicos, comemorativas de eventos médicos ou de homenagem a personalidades da Medicina e a cientistas nacionais e estrangeiros que contribuíram para o progresso das ciências da saúde.

- Mobiliário

Colecção constituída fundamentalmente por mobiliário hospitalar, predominantemente da segunda metade do séc. XX.

Para além das peças da referida tipologia, contempla em menor escala mobiliário de apoio, directamente relacionado com os diversos serviços clínicos e administrativos da instituição.

- Espólio Documental

O espólio documental, sob alçada da Biblioteca Central, é composto por milhares de publicações, monografias, manuscritos, revistas, jornais, etc., produzidos, acumulados e adquiridos no decurso do funcionamento da instituição.

Ressalve-se que os números aqui expostos dizem respeito ao “levantamento de existências” levado a cabo entre Janeiro e Maio de 2007, em cerca de quarenta serviços do HSA, sendo de salientar que este levantamento não está concluído, podendo assim ser revisto de futuro.

Relativamente ao património existente na Maternidade Júlio Dinis e Hospital Maria Pia, enquanto actuais unidades do Centro Hospitalar, não existe ainda posicionamento institucional quanto à possibilidade da integração deste no espólio do Museu do Centro Hospitalar do Porto.

Posteriormente a esta detecção de massa patrimonial potencial com caracterização relevante para a documentação da sua história e prática clínica aí desenvolvida, o HSA organizou a Exposição “Olhar o Corpo, Salvar a Vida” (Junho de 2007). A consciencialização patrimonial despoletada pela mesma originou na direcção institucional uma vontade de oficializar o projecto há muito pensado mas nunca concretizado efectivamente, nomeadamente a criação de um Museu.

Encarando-se este como um espaço museológico de carácter dinâmico, de reflexão e de debate como meio de produção de formas de autonomia e de cidadania crítica, o Museu do Centro Hospitalar do Porto (MCHP) tem assim por missão a celebração da memória da instituição e da Medicina, dando a conhecer por um lado, os sucessos, os desafios, a história e os sonhos de milhares de pessoas que fazem parte desta narrativa e da História da Medicina/ciências da saúde em Portugal e, por outro, destacando a capacidade de liderança e comprometimento desta instituição para com a educação e a investigação.

O conceito do Museu deverá igualmente desenvolver-se em torno dos cuidados de saúde, assumindo plenamente a sua vocação de serviço público em termos da educação e qualidade de vida, informando, explicando, explorando e discutindo princípios e práticas clínicas, participando plenamente na construção quer da cidadania activa quer de estilos de vida mais saudáveis.

Continuando a seguir os itens definidos no seu programa museológico preliminar132, da autoria da Professora Doutora Alice Semedo, as grandes linhas de acção do Museu inscrevem-se no: » Desenvolvimento das colecções distribuídas por três grandes categorias:

a) Colecção permanente: incluindo objectos e outros itens (como fotografias, documentos, etc.) relacionados com a missão e objectivos do museu e das suas políticas de aquisição e

comunicação;

b) Colecção de educação: incluindo objectos e outros itens relacionados com a missão e

objectivos do museu mas que – e obedecendo a critérios e procedimentos pré-definidos – sejam adquiridos para serem utilizados e manuseados no âmbito de programas educativos.

c) Arquivos: incluindo qualquer e toda a documentação relacionada com a história do CHP: correspondência, registos, etc.

» Investigação, interpretação, preservação e conservação do espólio;

» Desenvolvimento de políticas de gestão, conservação e comunicação das colecções;

» Desenvolvimento de acções de divulgação, comunicação e interpretação que visem assegurar a acessibilidade à colecção;

» Promoção de mecanismos de parcerias institucionais;

» Desenvolvimento de acções de manutenção e conservação do espólio que tem à sua guarda; » Cooperação com os diversos serviços e unidades do CHP;

» Promoção de uma melhoria constante do funcionamento nas actividades diárias do Museu; » Disseminação de informação sobre o estudo de colecções;

» Avaliação de conceitos, programas e conteúdos; » Cativação e fidelização de públicos próprios;

» Alargamento da oferta educacional e cultural da instituição;

Apesar de o Museu, oficializado no regulamento de Abril de 2008, não dispor correntemente de área expositiva própria, encontrando-se o seu acervo disperso por distintas áreas hospitalares, tem no entanto desenvolvido a sua acção tendo por base quatro eixos programáticos, a saber: 1. Produção de documentos orientadores;

2. Gestão de colecções; 3. Manutenção e conservação 4. Divulgação e comunicação;

No âmbito da produção de documentos orientadores, tem-se dado prioridade ao desenvolvimento de manuais de procedimentos que contemplem as diferentes áreas de intervenção e à produção de documentos orientadores para a execução dos normativos necessários para o correcto e normalizado funcionamento do Museu, nomeadamente, Regulamento Interno, Política de Incorporação, Normas e Procedimentos de Documentação e Conservação Preventiva, Livro de

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Inventário Geral; Livro de Saída; Processos das Peças; Minutas de Autos e Contratos de Doação; Empréstimo Temporário; Transferência; entre outros.

Eixo estrutural e estruturante da actividade museológica, o Museu tem dedicado uma especial atenção à gestão de colecções mediante o prosseguimento incessante do estudo e informatização do inventário no software In arte Premium, pretendendo-se que de futuro o MCHP aumente não apenas quantitativamente, mas também do ponto de vista qualitativo, os indicadores do

inventário133.

O inventário das colecções tem incidido no universo de peças catalogadas no decorrer do ano de 2007, assim como nas peças incorporadas em 2008.

Ao nível da incorporação de peças o MCHP continua a promover o consequente desenvolvimento e aumento das colecções, através da captação de colecções e espólios privados. Considerando os constrangimentos financeiros, tentar-se-á iniciar em 2009 uma restrita política de aquisições, envolvendo peças de carácter emblemático e excepcional, que permitam completar lacunas e ampliar e/ou constituir colecções de reconhecida relevância patrimonial nas esferas de acções disciplinares dominantes no Museu.

No que concerne à manutenção e conservação do espólio, e considerando a potencialização dos riscos da actual localização dos objectos expostos e em reserva, tem-se optado por dedicar especial vigilância ao estado de conservação dos mesmos, desenvolvendo-se relatórios periódicos de avaliação com ponderação das condições ambientais monitorizadas diariamente, assim como por implementação de rotinas de manutenção mensais. Constitui objectivo prioritário para 2009 o melhoramento de estratégias de acondicionamento dos objectos.

As áreas da divulgação e da comunicação assumem uma importância fulcral na actuação de um museu dado o seu papel de charneira com os públicos aos quais este se dirige.

Deste modo, este eixo programático constitui-se como uma área prioritária na actuação do MCHP, sobretudo com o reforço de acção que a página Web lhe permitirá quer ao nível da disseminação de informação do seu espólio, da fidelização de públicos próprios e sobretudo da projecção e visibilidade do trabalho de preservação da memória em que se tem investido.

Tendo em conta os estreitos contactos estabelecidos com diversos museus desta área temática, mais precisamente com o Museo Vasco de Historia de la Medicina, British Optical Association Museum; Royal College of Physicians; British Red Cross; Bethlem Royal Hospital; St.

Bartholomew´s Hospital Archives & Museum; The Royal College of Surgeons of England; The Wellcome Trust, entre outros, está a ser alvo de estudo a possibilidade de, já em 2009,se trazer para Portugal uma exposição em itinerância de um destes museus.

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Conclusão

Pretendeu-se retratar a história desta instituição centenária, suas vertentes vocacionais, linhas estruturantes e diversas áreas e serviços que espelham o desenvolvimento do conhecimento médico, escolar, científico e tecnológico da instituição, demonstrando-se a evolução e

modernização dos conhecimentos e da prática clínica praticada na instituição e reforçando a sua identidade. É exactamente tendo por base essas premissas que o Museu do Centro Hospitalar do Porto visa coleccionar, preservar, investigar, gerir, comunicar, expor e interpretar o património histórico-cultural herdado pela instituição e directamente relacionado quer com a memória da mesma quer com a investigação e práticas médicas e de enfermagem nela levadas a cabo, explorando com especial atenção contribuições específicas iniciadas neste hospital e seus contributos para a sociedade em diversos domínios, assumindo-se como um espaço museológico não de "mero repositório de instrumentos médicos mas sim como um espaço profundamente

identitário e educacional, de partilha de um património; um espaço de memória mas de uma memória necessariamente multivocal que implica os utentes / doentes; um espaço de

aprendizagem para a vida, que informa, relaciona, interroga e mobiliza saberes e competências que promovam a educação pública em torno dos temas da saúde"134.

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