• Nenhum resultado encontrado

Museus que encerram colecções de Medicina

41 KUHN, cit 36, p.212.

E) Museus que encerram colecções de Medicina

Encaixam-se nesta categoria os museus interdisciplinares cuja linha expositiva e comunicativa não se remete em exclusivo para colecções relacionadas com as ciências da saúde, apresentando uma perspectiva histórica, técnica e cultural mais ampla.

Museus que visam sobretudo reflectir a história da ciência, que expõem um conteúdo em que as colecções médicas, convenientemente situadas, formam corpo como instrumentos pertencentes a outras ciências, sintetizando os traços fundamentais dos progressos científicos:

» Blists Hill Open Air Museum, Shropshire, Inglaterra » Boerhaave Museum, Leiden, Holanda

» Medisinskhisorisk Samling i Bergen, Haukeland Hospital, Bergen, Noruega » Musée d'Histoire des Sciences, Geneve, Suíça

» Musée Historique et des Porcelaines Château de Nyon, Suíça » Musée Marey, Beaune, França

» Museu da Ciência da Iniversidade de Coimbra, Portugal » Museum of the History of Science, Oxford, Inglaterra

» National Museum of America History Smithsonian, Philadelphia, USA » Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, USA

» Science Museum, Londres, Inglaterra » Steno Museum, Aarhus, Dinamarca » York Castle Museum, York, Inglaterra

Salienta-se a importância do alcance global destes museus, os quais oferecem uma perspectiva muito diferente das respectivas áreas, enquanto enquadradas em determinado período ou contexto histórico-social.

Fig. 6 - Boerhaave Museum, Leiden, Holanda.

Fonte: http://www.museumboerhaave.nl.

Conclusão

Tendo-se consolidado no decurso do séc. XX, impondo fundos específicos, intransferíveis, com conteúdos que os singularizavam e alcançando plenamente a categoria de núcleos independentes, com personalidade própria, muitos destes museus de medicina, sobretudo os mais antigos, foram de um modo crescente abrindo as suas portas ao público, alguns com restrições, permanecendo na sua pluralidade, estagnados, muitos em estado lamentável, até que por acção dos seus responsáveis, atentos às novas vias museológicas, empreenderam uma reestruturação de fundo, com a incrementação e recuperação das colecções, precedida de um minucioso estudo das peças.

Referenciando que o seu nascimento foi tardio e em número reduzido em comparação com outras tipologias museológicas, desproporção essa que se mantém actualmente, Cid afirma que a fundação de museus médicos a partir da segunda metade do séc. XX não melhorou contudo a situação, e tendo em conta as perspectivas com que se depara, acredita que de futuro não haverá progressos nesse sentido.

Como se poderá analisar na classificação proposta pela ICOM os museus de medicina integram- -se na tipologia museus científicos, sub-tipologia museus de ciência e tecnologia -

“museus relativos a uma ou várias ciências exactas ou tecnologias, como astronomia, matemática,

física, química, ciências médicas, incluindo planetários e centros de ciência”104, ocupando assim um comedido segundo plano nos saberes museológicos, o que " apesar dos pontos comuns e

similitudes, não é suficiente, pois em última instância os saberes médicos construíram-se para conhecer a complexa biologia do ser humano, as causas que mantêm a sua existência e aquelas que acidentalmente podem alterá-la"105.

Tipologia museológica recente, que assume como que uma obrigação de identificar e conhecer os objectos e os articular com o seu respectivo uso nas práticas clínicas e/ou experimentais, são contudo várias as razões e factores que determinam que a museologia médica, apesar de alguns museus possuírem fundos impressionantes, se mantenha em segundo plano:

» ocupando os saberes científicos ainda uma parcela bastante reduzida na ideia de cultura, as colecções médicas acabam por ser menosprezadas uma vez que não são consideradas como fazendo parte das Artes Nobres;

» dificuldade da museologia médica em "articular o significado, presença, sentido das suas

mensagens no mundo cultural, continuando a ser um reduto mais visitado pela curiosidade que desperta, muito mais que pela sua participação no conjunto da divulgação museológica"106. » requer conhecimentos específicos, o que leva a que os museus de medicina sejam maioritariamente prezados pelos profissionais de medicina, e não pelo visitante em geral;

» investigação deficitária, levando a que os conhecimentos sobre os seus espólios sejam estáticos; » …

A museologia médica caracterizada por Cid como a que "estuda, determina e apresenta a

evolução de um material destinado a verificar, por seus princípios e causas, a realidade dos fenómenos biológicos no seu estado normal ou patológico e encerrando saberes metodicamente formados e ordenados, circunscritos à heurística do mundo instrumental, que constituem um ramo particular nas tipologias científicas, uma vez que a Medicina e seus instrumentos e técnicas operam sobre seres vivos; enquanto o resto de ciências positivas o fazem sobre a matéria inerte"107, deverá reclamar para si, tendo em consideração as diferenças museológicas específicas, um lugar definido e individualizado no conjunto das tipologias museológicas.

104

ICOM - Statistics on museums and related institutions in 1999. Paris: December, 2000.

105

CID, cit. 97, p. 27. (segundo tradução da autora do presente trabalho).

106

CID, cit. 97, p. 350. (segundo tradução da autora do presente trabalho).

107

Óptica igualmente defendida por Ken Arnold108 que acredita que estes museus devem ter

inevitavelmente um papel dominante na preservação do significado histórico da cultura material da Medicina, apresentando e defendendo dois enfoques museológicos complementares: por um lado, o papel historiográfico na apresentação dos objectos, e por outro, o facto das suas próprias histórias institucionais fornecerem informações contextuais fundamentais na complementação dos exercícios académicos desta natureza.

Tanto que em palavras de Arnold "much more is possible by focusing on types of material that

have their own story to tell, and in particular by the imaginative use and juxtaposition of this

material and the insights it carries within thematic temporary exhibitions. If medical objects are held to have a historical voice, the role of museums is not just to keep them audible but, rather, to make them sing."109.

Os museus de medicina, mais do que qualquer outro tipo de museu, apelam ao social, abordando temas complexos, dada a sua interferência com sentimentos íntimos que os seus visitantes experimentam e com o seu estado físico e mental.

Encerrando este poder de reactivar valores através dos quais se reconhece, se questiona e se integra uma sociedade, os museus de medicina deverão assim converter-se em verdadeiros espaços públicos de reflexão, espaços abertos ao debate, constituindo-se como lugares ricos de sentido para os visitantes, devendo passar a ter a preocupação de centrar as suas exposições mais incisivamente em ideias e conceitos, do que propriamente nos objectos apresentados.

108

ARNOLD, Ken – Museums and the Making of Medical History. BUD, Robert – "Manifesting Medicine: Artefacts series, studies in the history of science and technology". London: Science Museum, 2004.

109