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A S DINÂMICAS POPULACIONAIS , ENERGÉTICAS E ECONÔMICAS

4.2. A NOVA VELHA R ONDÔNIA E SUAS ATUAIS CONFIGURAÇÕES

4.2.1. A S DINÂMICAS POPULACIONAIS , ENERGÉTICAS E ECONÔMICAS

Os dados de população representados no gráfico (figura 31) a seguir foram selecionados para as seis cidades de maior relevância política e econômica no estado. Foram utilizados os dados de população residente do IBGE entre 1996 e 2010. Observamos que há um crescimento acentuado em Porto Velho entre os anos de 2000 e 2010. Em segundo lugar, porém com uma população bem menor, está Ji-Paraná, e em seguida, embora muito abaixo na ordem sequencial estabelecida a partir dos valores quantitativos, estão Ariquemes e Vilhena. Este último também teve seu crescimento acentuado entre os anos ora citados. Além disso, observamos que o município de Jaru obteve um decrescimento populacional leve no mesmo período. O município de Cacoal permaneceu estabilizado.

Figura 31: População residente entre 1990 e 2010 em Rondônia. Fonte: Dados de população do IBGE.

Fonte: SIDRA/IBGE, disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/, acesso em 21 de junho de 2012.

Organizado por Luciana Riça Mourão Borges.

Essas dinâmicas populacionais internas podem ser explicadas pelo atual contexto rondoniense. Em Porto Velho, em função das obras do PAC, muitos migrantes chegaram juntamente com as novas empresas, antes mesmo de serem instaladas. Apenas com os boatos, incertezas e especulações, vários migrantes93, sejam investidores ou pessoas que queriam modificar suas condições de vida com esperanças de um emprego melhor, foram para Porto Velho nesse período. Com a instalação das empresas, oficialmente a cidade recepcionou o maior contingente migratório dos últimos trinta anos, ou seja, desde a época da colonização governamental.

No caso da produção energética do estado, conforme explicitado em outros momentos de nosso estudo, Rondônia é abastecida de energia elétrica a partir da usina hidrelétrica de Samuel, construída durante as décadas de 1980 e 1990, assim como unidades termelétricas e, sobretudo, pela existência de pequenas centrais hidrelétricas.

93 Reforçamos a ideia de que nesse novo contexto surge uma nova categoria de migrantes, uma vez que não somente os milhares de operários são os maiores atraídos por esses megaprojetos, mas também os do ramo empresarial, imobiliário, industrial, entre outros, além daqueles já designados à função de executarem as obras junto com os consórcios.

A energia gerada por Santo Antônio e Jirau, juntas, é em torno de onze vezes maior que a demanda de Rondônia. Essa demanda está calculada, segundo dados da Eletrobras, em torno de 634 MW (ELETROBRAS, 2010a, p. 42), para abastecer aproximadamente 1,5 milhões de habitantes, o que não ocorre em sua totalidade, pois algumas localidades ainda não possuem energia elétrica. O que o complexo do Madeira geraria caso também abastecesse Rondônia iria diminuir consideravelmente o custo da energia individual (residências urbanas e rurais, empresas e indústria), e sanaria os déficits energéticos de cada localidade. Essa energia não será distribuída para o estado, pois correrá através das linhas de transmissão por corrente contínua, não sendo permitida a conexão com outras linhas durante seu percurso.

Uma alternativa apresentada pelas empresas propõe, nesse caso, uma conexão com linhas de transmissão regional da Eletronorte (já no sistema regional interligado por abastecimento próprio – Samuel, termelétricas e PCHs) com a subestação coletora de Porto Velho construída para ser o ponto de partida da transmissão de energia pelas usinas do Madeira. A partir dessa pequena conexão, será possível captar um montante energético que se somará ao sistema energético de Rondônia.

A Eletrobras propôs em 2010 o plano decenal 2011-2020 de expansão do sistema de distribuição regional, com um gasto previsto para R$158 milhões, financiados pelo Banco Mundial e pela própria empresa de energia. Assim, estão previstas mais unidades de pequenas centrais hidrelétricas, subestações e linhas de transmissão (ELETROBRAS, 2010a, p. 50). Também estão previstas no plano as desativações de usinas termelétricas em substituição por usinas hidrelétricas.

Tal expansão do sistema se justifica pelo aumento da urbanização, de migrações e de empresas, diante do contexto de grandes obras – essas de energia. Conforme a própria empresa, “As providências apontadas retirarão a capital (...) [de Rondônia] de iminência de colapso energético atual” (ELETROBRAS, 2010a, p. 51). Na figura 32, temos uma representação cartográfica do planejamento da malha energética de Rondônia referente ao Plano Decenal 2011-2020 da Distribuição Rondônia de Energia (material fornecido pela Eletrobrás-Eletronorte durante o trabalho de campo realizado em Porto Velho em junho de 2011):

Para tanto, há a recomendação no próprio documento de que as obras supracitadas sejam realizadas do modo impreterível, em que se ratifica veementemente o risco iminente de colapso, ou seja, de “apagão”. Isso significa que, o estado rondoniense, dada sua realidade energética historicamente deficitária com a ocorrência de inúmeros “apagões” anuais, não possui suficiência energética, o que se agrava ainda mais com o surgimento de tantas obras e da constante expansão urbana e de seus equipamentos territoriais (residências e indústrias) pelas migrações.

Ocorre hoje em Rondônia o que ocorreu na década de 1980: a usina de Samuel foi construída para atender à demanda de migrações originadas pelos programas colonização mencionados em nosso estudo.

Em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU) em 2008, Iremar Ferreira (presidente do IMV) já afirmava, contrariamente ao cenário otimista proposto pelas esferas governamentais, que embora haja um acréscimo de energia no sistema interligado regional de Rondônia pela energia das usinas do Madeira, “(...) não há nenhuma política de atração, quando terminar esse processo, todo mundo vai embora, levando o canteiro de obras para outro lugar”. Conforme o presidente do IMV, haverá uma demanda por outras empresas que darão suporte e manutenção das usinas hidrelétricas, mas, diferentemente do contexto de otimismo que apresenta a Eletrobras, ele afirma que apenas o sistema regional interligado não é suficiente para a demanda local. Por não haver outras formas de atração de investimentos após o término das obras devido à não existência de um parque industrial, a questão da falta de energia não será resolvida94.

Extrapolando a discussão, ocorre no estado uma dialética de consumo e produção de energia, que reordena o território, reconfigura, desestrutura, para atender uma demanda externa, criando uma demanda interna imediata a ser suprida pela própria produção local e que não é apenas da população local, mas dos novos agentes migrados. E, quando não houver mais a demanda ora criada, devido à conclusão das obras, não haverá retorno energético, porque o sistema interligado será do Centro-Sul do país.

E mais ainda, embora haja a ideia de que Rondônia exportará energia, não ocorrerá dessa forma, pois quem a venderá serão os próprios consórcios, empresas associadas à Eletrobras, que também é a Eletronorte, mas que nada têm a ver com a estruturação social de

94 Trecho da entrevista realizada com o presidente do Instituto Madeira Vivo, Iremar Antônio Ferreira, pelo Correio da Cidadania, publicada em 25 de agosto de 2008 com o título “Lobbies impõem usinas do Madeira em detrimento da natureza e da população”. Disponível em: http://www.mmdc.com.br/?p=210. Acesso em 28 de abril de 2012.

Rondônia. Embora haja um possível esforço da Eletronorte para suprir a demanda externa que se transforma em local, a questão problemática está na repercussão imensa causada por obras de tal envergadura, sem que, mesmo havendo a necessidade, haja um real e produtivo retorno. Santos e Silveira (2011, p. 225) nos explicam essas questões:

A expansão do meio técnico-científico-informacional aumenta as necessidades em energia elétrica. Não são apenas as demandas de um Brasil industrial, presente, sobretudo no Sudeste e Sul, mas também a procura representada pelo sistema de transportes e telecomunicações, e pela mecanização da agricultura e a informatização de boa parte das atividades econômicas. O consumo de energia elétrica [no Brasil] fica 2,6 vezes maior entre 1960 e 1972, e 3,3 vezes entre 1972 e 1984. Já no período entre 1984 e 1996, quando várias infraestruturas estavam implantadas, registra-se uma relativa desaceleração do crescimento do consumo de energia, que aumenta 1,4. Em 1996, o consumo de energia elétrica era 12 vezes superior ao de 1960.

No caso de Rondônia, observamos que esses fenômenos em âmbito local partem de um contexto nacional de aumento da produtividade econômica, refletindo a necessidade energética tão aclamada pelo Governo Federal nos últimos dez anos.

O Plano Decenal para a expansão do sistema de distribuição energética no estado para 2011-2020 apresenta uma regionalização a partir de um estudo de mercado, visto que o principal aumento da demanda, com tantas obras em andamento, procede de empresas e indústrias (tais como a IMMA e a Votorantim mencionadas anteriormente no trabalho), além do comércio, com o surgimento de novos supermercados e lojas de renome nacional, como no caso do Porto Velho Shopping. Embora tenha aumentado esse consumo, o líder no ranking continua sendo o residencial. Essa regionalização está apresentada no quadro 15 e na figura 33 a seguir:

Quadro 15: Divisão e descrição das regionais da Eletrobras-Eletronorte Regional Localidades atendidas Informações

Porto Velho Tiradentes, Caladinho, Centro Porto Velho, Rio Madeira,

Risco de colapso energético urbano na capital. União ao sistema coletor das

usinas do Madeira. Abunã

Abunã, Vista Alegre do Abunã, Extrema, Fortaleza do

Abunã, Nova Califórnia

Desativação de três usinas térmicas. Investimento previsto para R$53 milhões,

aproximadamente.

Ariquemes

Ariquemes, Garimpo do Bom Futuro, Monte Negro, Buritis, Campo Novo de Rondônia

Desativação de duas usinas térmicas. Investimento aproximado de R$82,5

milhões.

Ji-Paraná

Ji-Paraná, Ouro Preto d’Oeste, Rolim de Moura, Cacoal, Mirante da Serra, Alvorada d’Oeste, Presidente Médici, São Miguel do Guaporé, São

Francisco do Guaporé, São Domingos, Costa Marques

Pretende-se desativar três usinas térmicas. Investimento aproximado de R$166,5

milhões.

Pimenta Bueno Pimenta Bueno, Cacoal, Espigão d’Oeste

A configuração atual não é suficiente para atender à demanda de consumo. Investimentos de aproximadamente

R$26,5 milhões. Vilhena Cerejeiras, Colorado d’Oeste, Vilhena, Corumbiara,

Chupinguaia, Urucumacuã

Desativação de uma usina térmica. Investimentos entre 2011 e 2015 de cerca

de R$58 milhões.

Fonte: Eletrobras (2010b, p. 19), material coletado em trabalho de campo em 2011, fornecido pela própria empresa.

Organizado por Luciana Riça Mourão Borges.

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