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Este trabalho apresenta uma estrutura composta por quatro capítulos. No primeiro, procuramos fazer uma contextualização atrelada aos principais conceitos utilizados durante o estudo. Consiste não na conceituação individual de cada termo específico, mas na concatenação de todo o elenco conceitual relacionado às demais questões da pesquisa, trazendo o objeto de estudo e relacionando também com fatos da realidade estudada ao longo do período selecionado.

Fizemos também uma retomada histórica dos programas governamentais de colonização do estado de Rondônia e um resgate da implantação das linhas telegráficas do Marechal Rondon, na década de 1910, até o final da década de 1980, quando se encerram os projetos do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil (Polonoroeste). O intuito desse breve resgate, com um foco maior nas décadas de 1970 e 1980, foi o de entender

como Rondônia surgiu e se configurou no decorrer desse tempo, dando base para a nova configuração territorial existente hoje. Nesse caso, retornar ao período de Rondon implica compreender as primeiras configurações territoriais no então Território Federal do Guaporé, onde se criou com a linha de telégrafo o primeiro traçado do que seria posteriormente a principal rodovia do estado, e mesmo em escala regional: a BR-36412.

Pretendemos discorrer sobre as dinâmicas territoriais em Rondônia a partir da abertura da rodovia BR-364, surgida do traçado já existente da linha de telégrafo, um elemento importante na história rondoniense. Buscamos compreender as tendências de ocupação do território que se seguiram na Amazônia, numa análise macro, para então partir para o específico, elaborando uma espécie de linha do tempo.

Evidentemente, muitos trabalhos acadêmicos e científicos já discutiram esse assunto, principalmente autores conceituados como José de Souza Martins, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Bertha Becker, Philip Fearnside, Hervé Théry, Martin Coy, Gerd Kohlhepp, Neli Mello, entre outros. Entretanto, nosso intuito de resgatar o contexto histórico amazônico de implantação de políticas territoriais consiste justamente em não tornar o diálogo maçante e repetitivo, mas em trazer um momento importante de Rondônia enquanto configuração territorial, e as tendências de ocupação e utilização do território, para então chegar ao período recente quando se verifica uma nova configuração com a inserção de novos e modernos agentes e objetos.

Feita essa breve contextualização, o raciocínio rapidamente segue para o segundo capítulo, que compreende das fases seguintes de declínio e ascensão da economia até o final da década de 1990, já abordando aspectos recentes, com o surgimento, a exemplo, do Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro).

Dando continuidade ao capítulo dois, atentamos de modo mais específico para a década de 1990, em que o estado de Rondônia se encontrava em fase de recessão econômica, consequência de uma intensa crise na economia brasileira no mesmo período. Porém, uma das questões analisadas no segundo capítulo é que, apesar de Rondônia estar com a economia mais lenta, as ações governamentais não foram interrompidas, mas, contrariamente a isso, foi

12 Marechal Cândido Rondon (1865-1958) liderou a Comissão das Linhas Telegráficas Estratégicas do Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMA), que tinha como objetivo estabelecer a ligação por telégrafo entre o Centro-Sul e o Noroeste do País, em que neste último se incluía a região Amazônica nesse tempo denominada de “Sertões” – posteriormente reconhecida como Amazônia Legal. Além disso, o Governo detinha a preocupação em proteger as áreas de fronteira, sobretudo com o Paraguai e a Bolívia, integrando, para isso, o território brasileiro. Aliando a construção da linha telegráfica à de estradas de ferro, Rondon motivou-se apoiado pelo Governo brasileiro a adentrar territórios amazônicos e oficialmente estabelecer os espaços que futuramente seriam ocupados por colonos até grandes empresários. Note-se que toda essa estratégia de ocupação tinha como pano de fundo o militarismo (DOMINGUES, 2010; MARTINS JÚNIOR, 2001).

o período em que se definiu como seria a nova concepção socioambiental do estado. Através de financiamentos internacionais mediados pelo Banco Mundial, o Planafloro foi o programa que definiu o Zoneamento Sócio-Econômico e Ecológico de Rondônia (ZSEE-RO), as Unidades de Conservação e a demarcação de algumas das Terras Indígenas existentes hoje.

Fazemos referência ao momento em que uma nova configuração territorial se estabelece, as áreas de produção agropecuária começam a se consolidar e os antigos núcleos de apoio aos assentamentos rurais dos programas anteriores passam a se transformar em cidades e municípios.

O começo da década de 1990 é um marco na história dos programas governamentais do país, quando da criação e estabelecimento dos PPAs13. Os programas definidos pelo

Estado brasileiro se vinculam diretamente ao orçamento da União, definido através da Lei Orçamentária, a cada 4 anos, coincidentes com os mandatos presidenciais. Entretanto, é somente com o Programa Avança Brasil, do segundo mandato do governo Fernando Henrique, que novas transformações físicas e logísticas recomeçam em Rondônia, com a ampliação da BR-364 e do modal hidroviário para o escoamento da produção agropecuária do Brasil. Esses projetos se vinculam aos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (Enids), atrelados ao Programa Avança Brasil.

São as principais políticas territoriais no período recortado para Rondônia – os PPAs e seus programas (Brasil em Ação, Avança Brasil, Brasil de Todos e Aceleração do Crescimento). As obras em questão, os agentes e sujeitos identificados nesse processo (tais como as grandes empresas construtoras das obras, seus consórcios e a população local), as relações sociais e econômicas estabelecidas entre si, enfim, todo esse conjunto resulta em uma nova dinâmica, que por sua vez atrai novos agentes e novas relações. Esse movimento espaço- temporal que se manifesta territorialmente em Rondônia caracterizando um novo ciclo é analisado no segundo capítulo.

No capítulo terceiro, fizemos uma análise mais detalhada do que foram as ações federais para Rondônia entre 1995 e 2002, partindo então para o PAC, já em 2007, verificando os argumentos do Governo em seus relatórios publicados oficialmente.

Procuramos estabelecer uma análise mais crítica para cada obra, com contrapontos entre o discurso oficial e a realidade local. Dentro do elenco das obras estão inclusos os agentes e sujeitos relacionados direta ou indiretamente. Com a apresentação de quadros, representações cartográficas e figuras, o capítulo se caracteriza como momento descritivo-

13 Apesar de terem sido instituídos formalmente na constituição brasileira de 1988, efetivamente entraram em operação no formato de Programas a partir da década de 1990.

analítico de nossa investigação. Nessa parte do trabalho utilizamos a descrição como ferramenta para então seguir a análise aprofundada dos elementos encontrados, uma vez que propusemos sobreposições analíticas para a identificação dos conflitos.

No quarto capítulo, aprofundamos os dados coletados durante todo o período de estudo, seja em trabalho de campo, seja em gabinete. Para tanto, nos atemos às variáveis selecionadas para nosso recorte analítico, e também em conflitar dados e informações de movimentos sociais com argumentos oficiais do governo e empresas. Realizamos uma análise de modo a contemplar os seguintes aspectos (conforme as variáveis do recorte analítico apresentadas anteriormente): população, energia, PIB, atividades econômicas e aspectos urbanos e agrários.

Assim, procuramos mostrar com esses elementos por meio da realidade local qual é, então, a nova configuração territorial de Rondônia a partir das obras, dentro do recorte de 2007 a 2010, que se refere ao PAC-1.

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