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N OVO ORDENAMENTO TERRITORIAL DE R ONDÔNIA : O ZSEE-RO

Considerando esses processos de implementação das novas políticas ambientais, principalmente junto ao Banco Mundial e ao PPG-7, as primeiras discussões e propostas acerca do Zoneamento foram feitas por diferentes profissionais/pesquisadores, tais como os geógrafos Bertha Becker e Aziz Ab’Saber, e o economista Cláudio Egler, em conjunto com gestores do Brasil, os países doadores de fundos monetários ambientais e comunidades/instituições amazônidas locais. Esses agentes e sujeitos possuem visões conservacionistas distintas, o que ocasionou num processo de elaboração controverso, bem como na execução de forma diferenciada nos estados amazônicos. O zoneamento foi incorporado ao PPG-7, sendo, porém, executado pelo Governo brasileiro.

Conforme sugere Mello (2006, p. 163), temos os seguintes agentes com suas diferentes visões para a formulação do Zoneamento, o que justifica a polêmica e a tamanha

complexidade, somando-se à delicada situação das florestas brasileiras frente ao avanço da fronteira agrícola e das grandes corporações industriais, sobretudo na Amazônia:

Quadro 5: Diferentes visões acerca da formulação do Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia

Agentes Visões contraditórias

Governo Federal

O ZEE representava a possibilidade de identificação dos quatro tipos de áreas:

a) de expansão;

b) de consolidação da economia e do desenvolvimento;

c) áreas consideradas frágeis e destinadas à conservação e preservação, estrito senso;

d) e áreas destinadas à recuperação.

Governo Alemão O Zoneamento deveria servir exclusivamente para a identificação de áreas de preservação, destinadas ao estabelecimento de UCs.

Governo do Reino Unido

Dava assistência técnica para quatro estados. O Zoneamento teria que ser participativo, e envolver mecanismos para satisfazer os anseios de desenvolvimento de cada comunidade.

Estados amazônicos

Deveria servir a um extenso leque de abordagens. Para alguns estados, o Zoneamento em nada modificaria as tendências de ocupação e de desenvolvimento já apresentadas em suas regiões; para outros, a expectativa de uso efetivo no planejamento e na determinação dos usos de seus territórios.

Fonte: Retirado e adaptado de Mello (2006, p. 163). Organizado por Luciana Riça Mourão Borges.

O Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico (ZSEE-RO) foi primeiramente discutido e submetido ao Planafloro, por sua vez vinculado ao PPG-7, o qual foi pensando num âmbito de propostas que se adequassem às diferentes questões problemáticas ocorridas até então, sobretudo ambientais. O Banco Mundial então estabeleceu ao Governo que era necessária a criação do Zoneamento. Era preciso um novo modelo de desenvolvimento que tivesse “aprendido” com os erros cometidos anteriormente, em que o Zoneamento caberia enquanto forma inovadora de incorporar as questões ambientais e as sociais num mesmo patamar de planejamento e gestão (MELLO, 2006, pg. 153-154).

Assim, o ZSEE-RO foi discutido em Rondônia enquanto estratégia para reverter os problemas sociais e ambientais causados pela expansão desordenada da fronteira agrícola. Tinha como objetivo detalhar e classificar o conhecimento sobre os meios físico, biológico e socioeconômico do estado de Rondônia (RONDÔNIA, 2002b, 2007).

Submetido ao Planafloro, o Zoneamento materializou a nova concepção adotada pela política de gestão do território em Rondônia durante a década de 1990. Sendo sua ferramenta básica dentro da principal estratégia de ação política, o ZSEE imprimiu a característica que direciona as ideias hoje veiculadas como o desenvolvimento sustentável. Daí a inserção do ecológico dentro do social e econômico. Com o objetivo de “harmonizar” as ações humanas com o ritmo dos ecossistemas, as subzonas foram estabelecidas dentro do Decreto Nº 3782 de junho de 1988, que “(...) define a política de ordenamento ambiental para ocupação racional das terras rurais do Estado de Rondônia, segundo o Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico de Rondônia (...)” e sua primeira aproximação (RONDÔNIA, 1988, 1990) (figura 5).

Figura 5: Primeira aproximação do Zoneamento Sócio-Econômico e Ecológico de Rondônia em 1990. Fonte: Rondônia (2002c).

A segunda aproximação do ZSEE-RO foi instituída pela Lei Complementar nº 233, de 06 de junho de 2000, e classifica o estado de Rondônia em Zonas e Subzonas, as quais foram definidas para a realização de planejamento e ações a serem executadas, nesse caso as próprias políticas públicas, pelos setores públicos e privados.

Entretanto, Rondônia ainda consegue ser o estado pioneiro no estabelecimento do ZSEE como uma, até então, eficiente política de ordenamento territorial em relação aos outros

estados do país (RONDÔNIA, 2002b). O que seria um modelo de aplicação de uma política de gestão do território se torna um fracasso em âmbito estadual. Ou seja, o fato de o estado ser pioneiro em uma medida de zoneamento pode estar equivocado se a realidade for analisada, diante da intensa utilização da terra e dos recursos naturais, com incorporação de novas áreas, de forma até mais intensa que na época dos outros ciclos econômicos.

Verificamos o Zoneamento como um instrumento extremamente importante, mas diante dessa dinâmica espacial intensa em que o Estado se encontra deveria haver um maior rigor na atuação do próprio poder público, bem como no estabelecimento de critérios na seleção das Zonas e Subzonas, e na própria fiscalização em áreas de usos especiais e áreas institucionais.

Figura 6: Segunda aproximação do Zoneamento Sócio-Econômico e Ecológico de Rondônia em 2002.

Fonte: Rondônia (2002c). Cf. ANEXO E – Documentos do Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico – Documento 1.

Em 2005, por meio da Lei Complementar Nº. 312 de 6 de maio, o então Governador Ivo Cassol, no uso de suas atribuições, revogou a Lei Complementar que estabelecia a segunda aproximação do Zoneamento, realizando alterações que beneficiaram os proprietários

de terra. De modo geral, para fins de recomposição florestal, a reserva legal deve estar entre o mínimo de 50% da propriedade (RONDÔNIA, 2005). Isso significa que o rigor da conservação se fragiliza, em benefício da produção agropecuária e conversão da floresta.

Em 2004, o mesmo Governador sancionou a Lei Complementar Nº. 308, a qual modifica duas áreas do zoneamento, sendo uma delas sob a Zona 2 para Zona 1, adaptando o uso que já havia apenas no âmbito da legislação34 (RONDÔNIA, 2004). Falamos da área de

União Bandeirantes, próxima ao distrito de Jacy-Paraná, onde se constrói a usina de Jirau. De acordo com a Lei do Zoneamento, a Zona 2 é específica para áreas de vegetação endêmica, para conservação e criação de áreas de proteção. Já a Zona 1 compõe uma área convertida, com atividades de agricultura, familiar ou não, e agropecuária. Segundo um jornal eletrônico local, “O governo do Estado e o Ministério do Meio Ambiente firmaram o termo de acordo que pôs fim ao impasse criado com a Medida Provisória 2166, que tanto prejudicou o desenvolvimento do Estado nos últimos anos”35, esta que se refere à Reserva Legal e recuperação de Área de Proteção Permanente, que foi revogada pelo novo e atual Código Florestal, de 2012.

Ao ser estabelecido o ZSEE, teoricamente as diretrizes deveriam expressar a preocupação em como distribuir as Subzonas de acordo com o grau de utilização ou degradação da terra. Ora, seria difícil regularizar uma propriedade cujo dono deveria preservar 50% de uma área já praticamente toda ausente de cobertura vegetal. Isso ocorre, pois em tempos de Polonoroeste um colono deveria, logo de início, desmatar 50% da área garantindo sua ocupação, tomada de posse sobre sua terra de fato e a documentação junto ao órgão público (regra estabelecida pelo Incra na época). Desse modo, a política ambiental iria daí em diante enfrentar uma pesada tarefa de mudança de concepção de desenvolvimento, devido ao que era realizado até então não levar em conta a conservação, tampouco a preservação ambiental.

Nos dias atuais, podemos vislumbrar resultados positivos decorrentes da implementação do Zoneamento, tais como o controle do desmatamento e a delimitação de áreas de conservação, além de ações dirigidas com comissões junto a comunidades locais e à própria Secretaria de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (Sedam-RO). Assim, vemos que ele se faz eficiente enquanto ferramenta ou instrumento de planejamento, ordenamento e gestão territorial. Porém, observamos que o ZSEE-RO é insuficiente para estabelecer nova

34 Cf. ANEXO E – Documentos do Zoneamento Sócio-Econômico Ecológico de Rondônia – Documentos 2 e 3. 35 Cf. http://www.rondonoticias.com.br/?noticia,20137,cassol-destaca-lei-que-beneficia-unio-bandeirante-e-jacin polis. Acesso em 05 de junho de 2012.

política de controle de uso da terra e do desmatamento. Enquanto metodologia, os dados obtidos nos estudos ambientais e sociais, no estabelecimento de áreas protegidas e formas de uso do solo também se mostram insuficientes. Não há como preservar ou conservar uma área que já se encontra degradada, pois os limites e normas das zonas e subzonas estabelecidas não são respeitados pelos proprietários de terras.

Figura 7: Taxas de desmatamento anual em Rondônia entre 1988 e 2010.

Fonte: SIDRA/IBGE, disponível em http://www.sidra.ibge.gov.br/, acesso em 21 de junho de 2012; PRODES/INPE, disponível em http://www.obt.inpe.br/prodes/prodes_1988_2010.htm, acesso em 12 de junho de 2012.

Organizado por Luciana Riça Mourão Borges.

No gráfico anterior se pode notar que houve um pico de altíssimo desmatamento em meados da década de 1990 (1994 e 1995). Isso se deu pela intensa abertura de latifúndios, e pelo momento em que o estado começou a produzir grãos em larga escala, além das grandes pastagens. Notamos também que posteriormente houve, de fato, uma queda brusca no desmatamento a partir do ano de 2004. Entretanto, o gráfico demonstra números gerais, de todo estado. Se analisarmos de uma forma mais detalhada, veremos que o desmatamento foi reduzido em algumas áreas, mas em outras ele aumentou significativamente, sobretudo na região das obras. Veremos essa questão no terceiro capítulo.

No estado de Rondônia, em função de uma política de escala macrorregional, existem numerosos antagonismos entre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental, diante das consequências já vistas sobre as populações locais e o próprio meio ambiente (NUNES, 2004). Isso leva ao entendimento de que os instrumentos legais para o estabelecimento de uma política de zoneamento não têm sido praticáveis no modelo

econômico posto para a Amazônia, mesmo sendo de extrema importância para o ordenamento territorial amazônico, para o controle das formas de uso do solo e para a proteção ambiental.

Ora, podemos considerar que no caso de Rondônia o que manteve “pedaços” ainda existentes de floresta nativa foram basicamente as áreas de proteção, entre Unidades de Conservação e Terras Indígenas, o que nos remete a discutir sobre a questão ambiental ainda ser o talvez único fator limitante à expansão do capital, considerando aqui o estado rondoniense. Porém, esse instrumento, com uma aparente eficiência, se torna vulnerável e pouco rigoroso uma vez que para a construção das hidrelétricas houve concessões e modificações na legislação, além de a maior parte das leis ambiental não serem cumpridas.