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A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

No documento fernandabicharadasilva (páginas 89-96)

5 A SECADI E AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A

5.1 A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Em 2004, segundo ano do primeiro mandato do então presidente Lula, Tarso Genro se tornou ministro da Educação no lugar de Cristovam Buarque. Por parte do novo ministro e, sobretudo, em atendimento às demandas dos Movimentos Sociais, “foi criada uma nova secretaria no MEC, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, resultante da fusão da Seea” (Secretaria Extraordinária de Erradicação do Analfabetismo), da Secrie (Secretaria de Inclusão Educacional) “e da incorporação de programas antes localizados em outras secretarias do Ministério (Decreto Presidencial n. 5.159, de 28/7/04)” (MOEHLECKE, 2009, p. 467).

A criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) foi, segundo Moehlecke (2009, p. 468), o início de “uma tentativa de articular as ações de inclusão social com a valorização da diversidade étnica e cultural brasileira, ainda que isto apareça de modo pouco coeso nos documentos iniciais que definem os objetivos da nova secretaria”.

Pela primeira vez, estão reunidos os programas de alfabetização e de educação de jovens e adultos, as coordenações de educação indígena, educação do campo e educação ambiental. Esta estrutura permite a articulação de programas de combate à discriminação racial e sexual com projetos de valorização da diversidade étnica (BRASIL, 2004 apud MOEHLECKE, 2009, p. 468).

André Luiz de Figueiredo Lázaro (2013)12, que trabalhou no Ministério da Educação (MEC) de 2004 a 2011 e participou da criação e gestão da Secad, neste mesmo período, afirma que a Secretaria em questão apresenta uma política da diversidade em educação e que a “sua criação representou uma inovação na política educacional tanto por sua agenda quanto pelo modo de organização”. Para sua criação, “foram constituídas comissões com a participação de representantes de governo e de movimentos sociais para cada um dos temas da agenda”. Estas comissões “eram nomeadas por portaria ministerial, com agenda regular, pauta previamente definida, e ata-memória para registro dos debates e decisões” (LÁZARO, 2013, p. 270).

De acordo com Lázaro (2013, p. 271), a possibilidade de participação em diferentes frentes nos grupos de trabalho, comissões, comitês e conselhos como, membros do governo, representantes dos movimentos sociais, representantes de universidades e organismos internacionais, fez com que o conceito de diversidade em educação ganhasse “sentido político de promover e estimular os sujeitos de direito a que assumam e cumpram esse direito, que participem, avaliem, opinem, proponham, acompanhem e monitorem o sentido e a direção das políticas educacionais”. Lázaro ainda afirma que “o exercício do direito é a melhor forma de tornar o Estado um instrumento da promoção da igualdade inscrita, prometida e esperada”. Além disso,

A importância de um conceito ativo de diversidade para os debates das políticas em educação é que ele favorece o reconhecimento de ausências, potencialidades, forças de resistência e ação transformadora. O que os nomeou “diversos” por meio de complexos processos históricos e políticos tanto lhes negou direitos quanto reconheceu identidades às quais buscou imputar diferenças de ordem natural. Por meio do

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Doutor em Comunicação e Cultura. Professor Adjunto da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Trabalhou no Ministério da Educação (MEC), de 2004 a 2011. Presidente do Conselho Assessor das Metas Educativas 2021, da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), Rio de Janeiro/RJ – Brasil.

conceito de diversidade, o reconhecimento do direito à educação ganha também a forma de questionar a naturalização dos processos de exclusão (LÁZARO, 2013, p. 271).

A Secad, criada em 2004, sofreu uma reestruturação incorporando, em 2011, o eixo da educação inclusiva em seus programas, e passou-se a se chamar, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi). Para tanto, o Ministério da Educação, extinguiu “a antiga Secretaria de Educação Especial (SEESP) para introduzir os assuntos de sua competência na estrutura da [...] (SECADI), perante o decreto presidencial nº. 7.480, de 16 de maio de 2011, que passou a vigorar a partir de 23 de maio de 2011” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 102).

A reestruturação ocasionada pelo Decreto nº. 7.480, da então Secadi, e a extinção da Secretaria de Educação Especial (SEESP) gerou muitas críticas, principalmente por parte de profissionais e estudiosos que se dedicam a trabalhar com as temáticas sobre a educação especial. Em seus escritos, Bezerra e Araujo (2014) afirmam que houve uma diluição das questões destinadas a Seesp para a Secadi. Isso trouxe “à tona justamente o descompasso estrutural entre a proposta de uma política pública inclusiva e a realidade objetiva da exclusão social/educacional manifesta em nosso país” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 111). E acrescentam que “essa decisão é também evidência sensível de que as questões pertinentes à educação especial vão caindo novamente para um plano bastante inferior na pauta e na hierarquia do ministério, como no princípio da história” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 111).

Bezerra e Araujo (2014) acreditam que muitas das demandas específicas da educação especial ainda não foram superadas. Diante disso, apontam que a extinção da Seesp aconteceu de forma apressada, o que, portanto, demonstra que as atuais condições expressam uma contradição na medida de reestruturação realizada pelo MEC, uma vez que, destinar as discussões das demandas da educação especial “sob o comando da SECADI, em meio às suas múltiplas atribuições, há o risco de se pulverizarem as discussões” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 112). Os autores criticam também a forma como aconteceu a dissolução da Seesp, visto que foi realizada através

de “uma decisão técnica da equipe de governo, sem consulta prévia aos educadores e pesquisadores brasileiros”, o que, para eles, “sugere o declínio da capacidade reivindicatória do movimento ou, em outras palavras, explicita sua submissão ao controle estatal”. (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 113)

A formação da Secadi de maneira a atender diversas temáticas com interesses distintos, “sob a alegação de otimizar a estrutura organizacional do MEC”, apresenta-se de forma difusa “haja vista a amplitude dos trabalhos e demandas a serem atendidas” (2014, p. 113). Na constituição da Secadi,

[...] há, até mesmo, o aumento da fragmentação político- administrativa em um número considerável de diretorias. Estas, conforme o decreto mais recente, de n. 7.690, de 2 de março de 2012, ficam assim constituídas:

1. Diretoria de Políticas de Educação do Campo, Indígena, e para as relações étnico-raciais;

2. Diretoria de Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos;

3. Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania;

4. Diretoria de Políticas de Educação Especial; 5. Diretoria de Políticas de Educação para a Juventude (Brasil, 2012). De acordo com o artigo 20 do decreto em voga, o n. 7.690/2012, compete à SECADI:

I – planejar, orientar e coordenar, em articulação com os sistemas de ensino, a implementação de políticas para a alfabetização, a educação de jovens e adultos, a educação do campo, a educação escolar indígena, a educação em áreas remanescentes de quilombos, a educação em direitos humanos, a educação ambiental e a educação especial;

II – implementar ações de cooperação técnica e financeira entre a União, Estados, Municípios, Distrito Federal, e organismos nacionais e internacionais, voltadas à alfabetização e educação de jovens e adultos, a educação do campo, a educação escolar indígena, a educação em áreas remanescentes de quilombos, a educação em direitos humanos, a educação ambiental e a educação especial;

III – coordenar ações transversais de educação continuada, alfabetização, diversidade, direitos humanos, educação inclusiva e educação ambiental, visando à efetivação de políticas públicas de que trata esta Secretaria, em todos os níveis, etapas e modalidades; e IV – apoiar o desenvolvimento de ações de educação continuada, alfabetização, diversidade, direitos humanos, educação inclusiva e educação ambiental, visando à efetivação de políticas públicas intersetoriais (BRASIL 2012 apud BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 113-114, grifos nossos).

Sobre esta nova estrutura abrangente de temáticas da Secadi, será possível “construir políticas intersetoriais [...] ou se, ao contrário, estamos apenas diante de um eufemismo para escamotear a justaposição apressada de temáticas diversas, cujos apelos específicos ainda não foram superados historicamente” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 114). Ainda segundo os autores mencionados, “a impressão é de que foram postos no mesmo labirinto os assuntos relacionados à categoria diversidade, vista atualmente de maneira tão abstrata e dilatada que já está naturalizada” (2014, p. 114). Bezerra e Araujo acrescentam:

Produzida nesse cenário, a SECADI é, ao mesmo tempo, uma grande “totalidade” e um grande vazio, porque lida com uma pretensa complexidade. Nessa linha de raciocínio, pelos delineamentos do decreto n. 7.690/2012, só poderá alcançar seus múltiplos objetivos de maneira precária (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 115).

E concluem:

[...] como será possível à SECADI dirimir, sem uma alteração radical no direcionamento do MEC, as questões indígenas, a alfabetização, a educação de jovens e adultos, a educação do campo, a educação especial, a educação ambiental, a educação quilombola, a educação em direitos humanos, e toda a sorte de mais diversidades que se lhe acrescentem, senão pela via da fragmentação disciplinar, eufemisticamente denominada de intersetorialidade? (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 115, grifos nossos).

Cabe aqui um questionamento, para tentar ser respondido mais adiante, quando for realizada a análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: Diversidade e Inclusão. Terá a Secadi caído também nas armadilhas do slogan diversidade, ou será ela, o próprio equívoco se colocada como slogan, uma vez que tendo como base a definição de slogan trazida por Scheffler (1974 apud CARVALHO, 1997), conhecida entre nós pela obra de José Mario Pires Azanha, se colocada como um slogan, ela pode potencializar e dar visibilidade aos debates, tornando-se assim, formas positivas de discussões. Ou, por outro lado, pode causar o esvaziamento no potencial subversivo das especificidades das temáticas nas discussões, com a

“justaposição temática e fragmentação mosaica que a perpassam” (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 118).

Por fim, Bezerra e Araujo enfatizam:

Vale dizer, o desafio de perscrutar a saída do labirinto donde se tem emaranhado o novelo das políticas públicas brasileiras, com destaque para aquelas voltadas para a educação especial inclusiva, cujos fios, mediante a implantação da SECADI, cruzam-se agora com outras políticas (inter)setorizadas, compondo uma colcha de retalhos (BEZERRA; ARAUJO, 2014, p. 119).

As críticas feitas por Bezerra e Araujo podem auxiliar no momento de realizar a análise das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: Diversidade e Inclusão, elaboradas no âmbito da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi).

A Secadi, em sua descrição de apresentação encontrada no site do MEC, se propõe, com ênfase no cenário educacional brasileiro, a trabalhar com programas e ações voltadas para a diversidade em suas múltiplas acepções, tais como diversidade sexual, racial, regional, física, cultural, geracional, entre outras que foram reclamadas pela cidadania ativa. Trata-se de uma empreitada que:

[...] em articulação com os sistemas de ensino implementa políticas educacionais nas áreas de alfabetização e educação de jovens e adultos, educação ambiental, educação em direitos humanos, educação especial, do campo, escolar indígena, quilombola e educação para as relações étnico-raciais. O objetivo da Secadi é contribuir para o desenvolvimento inclusivo dos sistemas de ensino, voltado à valorização das diferenças e da diversidade, à promoção da educação inclusiva, dos direitos humanos e da sustentabilidade socioambiental, visando à efetivação de políticas públicas transversais e intersetoriais. (MEC, s/d, s/p.)

A Secadi está localizada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, Distrito Federal, e, atualmente, é composta pelo secretario Paulo Gabriel Soledade Nacif, pelo chefe de Gabinete Adriano Almeida Dani, pelos assessores Clovis Esequiel dos Santos e Marcos Maia Antunes, e pela assessora Irlane Maria Cavalcante Medeiros, além de ser dividida em cinco diretorias. Primeiro, a Diretoria de Políticas de Educação do Campo, Indígena e

para as Relações Étnico-Raciais, dirigida por Rita Gomes do Nascimento e formada por três coordenações: Coordenação Geral de Políticas de Educação do Campo, coordenada por Divina Lúcia Bastos; Coordenação Geral de Educação para as Relações Étnico-Raciais, coordenada por Rodrigo Ednilson de Jesus; e, Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena, coordenada por Alva Rosa Lana Vieira.

A segunda diretoria a compor a Secadi é a Diretoria de Políticas de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos, dirigida por Arlindo Cavalcanti Queiroz e formada por duas coordenações: Coordenação Geral de Alfabetização, coordenada por Mauro José da Silva; e, Coordenação Geral de Educação de Jovens e Adultos, coordenada por Luiz Cláudio Machado dos Santos.

A terceira é a Diretoria de Políticas de Educação em Direitos Humanos e Cidadania, dirigida por Claudia Pereira Dutra e formada por três coordenações: Coordenação Geral de Acompanhamento da Inclusão Escolar, coordenada por Antonio Lidio de Mattos Zambon; Coordenação Geral de Direitos Humanos, coordenada por Camila Maria Moreno da Silva; e, Coordenação Geral de Educação Ambiental, coordenada por Cristiano Cezar de Oliveira Passos.

A quarta diretoria a compor a Secretaria, é a Diretoria de Políticas de Educação Especial, dirigida por Martinha Clarete Dutra dos Santos e formada por três coordenações: Coordenação Geral da Política Pedagógica da Educação Especial, coordenada por Eliana Lucia Ferreira; Coordenação Geral da Política de Acessibilidade na Escola, coordenada por Walter Borges dos Santos Filho; e, Coordenação Geral de Articulação da Política de Inclusão nos Sistemas de Ensino, coordenada por Suzana Maria Brainer.

A quinta e última diretoria, é a Diretoria de Políticas de Educação para a Juventude, coordenada por Cláudia Veloso Torres Guimarães e formada por duas coordenações: Coordenação Geral de Políticas Pedagógicas para a Juventude coordenada por Maria das Graças Correia Almeida; e, Coordenação Geral de Acompanhamento e Avaliação das Políticas de Inclusão Educacional para a Juventude, coordenada por Jader de Pietro Alves.

Ainda sobre a Secadi, é relevante mencionar nesta seção, que durante o ano de 2015, e com maior ênfase no mês de novembro, houve uma intensificação de discursos que defendiam, como um documento elaborado

pela Anped, a manutenção da Secadi, uma vez que houve o conhecimento de que há um interesse por parte do Governo vigente de extingui-la, como uma das formas de se conseguir reduzir gastos.

Dentre as publicações da Secadi, estão as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica: Diversidade e Inclusão, do ano de 2013, que carrega o termo diversidade em seu título, e que será o documento utilizado para o estudo e análise do termo diversidade em políticas públicas educacionais, e pela qual destinamos as seções seguintes da presente pesquisa de mestrado. O estudo do termo diversidade na seção seguinte será realizado através de um levantamento e descrição de todas as passagens do documento das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica:

No documento fernandabicharadasilva (páginas 89-96)