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As diferenças como um dos discursos da diversidade

No documento fernandabicharadasilva (páginas 60-62)

3.1 Discursos da diversidade

3.1.3 As diferenças como um dos discursos da diversidade

Cabe analisar no presente item que discorre sobre as diferenças, o artigo “Sala de aula e diversidade”7

, encontrado no levantamento bibliográfico da Capes, de Eveline Borges Vilela-Ribeiro, Anna Maria Canavarro Benite e Edda Borges Vilela.

Segundo Luciana Rosa Marques (2009, p. 65), ao falarmos de diversidade, diferença e direitos, falamos sobre democracia, tendo em vista que esta implica uma igualdade entre as pessoas. Diante disso, a sociedade não deve se constituir apenas por aspectos normativos, mas também culturais, que devem ser desenvolvidos através da formação de valores e práticas pautadas no respeito às diferenças e à construção da diversidade.

O respeito às diferenças é crucial na discussão sobre as diferenças como um dos discursos que estão por trás das temáticas sobre diversidade. No artigo de Eveline Borges Vilela-Ribeiro, Anna Maria Canavarro Benite e Edda Borges Vilela (2013), as autoras apresentam, na primeira parte do texto, a diferença sob a pretensa ótica da biologia, falando das diferenças entre as espécies, como, por exemplo, a respeito da racionalidade e das diferentes linguagens entre os seres vivos. Mas, em seguida, apontam que cada um possui características únicas, singulares, distinguindo-se um do outro pela sua individualidade e que a condição de espécie representa apenas que determinado indivíduo pertence à mesma divisão populacional natural.

No mesmo artigo, as autoras questionam que a diferença, muitas vezes, se torna indiferença, visto que a diferença não é tida como uma construção sociocultural e aqueles/as que não estão dentro do padrão socialmente estabelecido, da norma, são desviantes dela: são “os outros”, “os diferentes”, o que acaba por desencadear os processos de discriminação social, permeados por relações preconceituosas e intolerantes:

7

Artigo publicado na revista Educação Especial, Santa Maria, Brasil, v. 26, n. 45, p. 145-160, jan./abr. 2013.

Olhando sob esse ângulo, um dos obstáculos que se interpõem na busca da convivência pacífica e tolerante relaciona-se à visão de que, não raro, a diferença é associada à inferioridade e desigualdade, e o “outro” – que é diferente porque diverso e plural – torna-se inferior e passa a representar uma ameaça aos padrões euroamericanos de ser e de viver. Tais padrões, assentados nas culturas ocidentais brancas, letradas, masculinas, heterossexuais e cristãs, estão arraigados no imaginário social e naturalizados cotidianamente nos diversos espaços de convivência humana, afetando tanto os chamados grupos minoritários quanto os pertencentes às esferas hegemônicas. Ademais, são padrões culturais definidos arbitrariamente e impostos de modo sutil ou arrogante e hostil, peculiar das culturas e identidades autoproclamadas “superiores”, o que contribui para reforçar e difundir a chamada ideologia do branqueamento, segundo a qual os grupos ocidentais brancos se dizem mais capazes e melhores que os demais existentes, tornando-os alvos de exclusão, discriminação, preconceito, etc. (SILVA; BRANDIM, 2008, p. 53).

Já em um segundo momento, o texto de Vilela-Ribeiro, Benite e Vilela (2013) trata especificamente, das diferenças no que diz respeito à educação especial e à inclusão no contexto educacional e apontam que a criação de “[...] salas e escolas especiais para deficientes demonstra a priorização de práticas segregativas e não inclusivistas” (VILELA-RIBEIRO; BENITE; VILELA, 2013, p. 151). As autoras mencionam ainda que, para se educar tendo em vista o paradigma inclusivo, é preciso reformular as antigas formas de ensino tradicionais e conservadoras, ainda vigentes nos modelos de ensino, tanto nos aspectos físicos quanto na consciência dos envolvidos no contexto escolar, pois não é possível proporcionar uma educação inclusiva que abranja todas as diferenças sociais em uma instituição que está preparada para lidar com um único modelo de aluno/a e, portanto, não é capaz de suprir as necessidades de todos/as os/as estudantes.

No que diz respeito ao modelo único de aluno/a citado, é relevante mencionar novamente Luciana Rosa Marques (2009, p. 67), utilizada para abrir esta seção, pois, segundo tal autora, o principal “[...] não é dissolver as diferenças em uma identidade universal”, como tem sido feito muitas vezes nas escolas, mas sim “[...] sustentar um campo de diferenças múltiplas, não- polarizadas, fluídas e voláteis, e defender a integridade de formas de vida e

tradições com as quais os membros de grupos minoritários possam se identificar”.

Diante da questão da reformulação do sistema escolar tradicional, Vilela- Ribeiro, Benite e Vilela (2013) abordam sobre a importância de fazer com que os/as professores/as reflitam sobre suas práticas, sobre/com seus alunos/as e sobre o contexto político, cultural e social da instituição de ensino. Esta passagem do texto nos remete à importância de os/as professores/as, cidadãos/ãs e governantes, frequentemente, questionarem “[...] as necessidades cotidianas dos sujeitos. É a única garantia de que a luta pelos direitos não tenha concepções ‘desencarnadas’ das cidadãs e cidadãos, o que redundaria na cidadania de alguns e não de todos” (AUAD, 2002-2003, p. 142). A esse respeito, Marques (2009) complementa:

Segundo Fraser (2001), é preciso desenvolver uma teoria do reconhecimento que ao mesmo tempo em que identifique e defenda a política cultural da diferença também possa ser combinada com a política social da igualdade, na medida em que, atualmente, justiça envolve tanto reconhecimento quanto redistribuição, podendo-se, portanto, falar em injustiças socioeconômicas e injustiças culturais ou simbólicas que, embora distintas, perpassam as sociedades contemporâneas, estão interligadas e enraizadas em processos e práticas que prejudicam alguns grupos em detrimento de outros. Dessa forma, só através de concepções alternativas de redistribuição e reconhecimento, que contemplem tanto os aspectos simbólico-culturais quanto os redistributivos econômicos, poderemos obter justiça para todos, uma vez que sua universalização implica no tratamento adequado da relatividade e da diferença de valores (MARQUES, 2009, p. 68).

Vale ressaltar, ao final da análise do artigo “Sala de aula e diversidade”, que os usos, pelas autoras, do termo “homem” ao invés de “seres humanos” em algumas passagens do texto e de “opção sexual”, e não “orientação sexual”, que é atualmente adotada, são colocações que não condizem com os referenciais propostos na presente pesquisa de mestrado, que busca por uma sociedade que se construa de forma igualitária e democrática, inclusive na linguagem falada e escrita.

No documento fernandabicharadasilva (páginas 60-62)