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Capítulo 3 – As gestões do PSDB e do PT: O importante período das políticas de

3.2. A segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso (1998 a 2002): A continuidade

Já na segunda gestão de FHC, de 1998 até meados dos anos 2000, emergiu um conjunto de ações de transferência de renda que contemplaram a agricultura familiar (ainda que não exclusivamente), como: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás.

Essas ações visavam de forma inicial, combater a desigualdade e a extrema pobreza e passaram a influenciar decisivamente a política de desenvolvimento territorial do campo até então realizada: O Pronaf.

Neste período, ganhou ênfase no Pronaf a modalidade denominada “financiamento da produção”, que comportava os recursos para custeio e investimentos voltados ao apoio financeiro dos agricultores familiares, segundo seis categorias de beneficiários. Essas novas categorizações, foram alvo de um estudo realizado em um convênio da FAO/INCRA em 199925, que sugeria a segmentação dos agricultores familiares beneficiários do programa em grupos distintos, de acordo com o nível da renda bruta familiar anual.

Essa classificação diferenciada, que pode ser considerada um dos pontos centrais da segunda gestão de FHC, permitiu que as regras de financiamentos passassem a ser mais adequadas à realidade de cada segmento social, fazendo com que os encargos financeiros e os descontos tivessem uma maior aderência às parcelas da população agrária em faixas de renda menores e em maiores dificuldades produtivas. Ou seja, a influência do combate à miséria passa definitivamente a pautar as ações na esfera agrária, que com apoio das demais organizações sociais do campo, passa a ganhar cada vez mais relevância.

Neste sentido, ainda em 1999, utilizando-se da segmentação dos beneficiários, o Pronaf cria mais três linhas de crédito especiais para os agricultores familiares de baixa renda. A primeira é o chamado crédito rotativo, também conhecido como “rural rápido”, operado exclusivamente pelo Banco do Brasil. Esse tipo de crédito funcionava como um cheque especial em que o agricultor se utilizava dos recursos segundo suas necessidades. Esta modalidade de crédito geralmente era utilizada pelo segmento mais capitalizado dos agricultores familiares, chegando ao ano 2000 como 52% dos totais de financiamento de custeio do programa (ABRAMOVAY, 2002).

A segunda linha de crédito especial era denominada de integrado coletivo, que se destinavam as associações, cooperativas e outras pessoas jurídicas cadastradas no Pronaf. O intuito desta modalidade de crédito era dinamizar essas instituições, dando- lhes liquidez financeira para a melhoria da produção e dos produtos agropecuários.

25 Importante ressaltar que esse estudo realizado em convênio da FAO com o INCRA sofreu uma forte influência de um estudo anterior, realizado em 1994 e que se constituiu como um importante referencial para a classificação quantitativa dos estabelecimentos considerados familiares. É a partir deste trabalho que nasceu a separação da classificação entre agricultores patronais e agricultores familiares.

Por fim, a terceira linha de crédito foi o Pronaf-Agregar (Projeto de Agregação de Renda da Agricultura Familiar), destinado a financiar projetos individuais ou coletivos que envolvessem infraestrutura, prestação de serviços, marketing, beneficiamento de produtos, entre outros. Deve-se mencionar ainda, que se enquadram nos três créditos possíveis pelo financiamento, os pescadores artesanais, os extrativistas, os silvicultores e os aquicultores, conforme os critérios de renda e dimensão da exploração, o que se caracteriza também como uma inovação e um avanço do programa (PICINATO et al, 2000; SABBATO, 2000; GRANZIROLLI et al, 2000).

Outra característica importante ocorrida na segunda gestão do presidente FHC foi a reformulação institucional ocorrida nos anos 2000, na qual o Pronaf deixou de fazer parte do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), vinculado à então Secretaria de Desenvolvimento Rural, para ser incorporado pelo recém-criado Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), ganhando maior importância e centralidade.

O novo Ministério passa então a abrigar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), instituição encarregada da política fundiária e de assentamentos da reforma agrária. E no lugar da Secretaria do Desenvolvimento Rural que anteriormente estava ligada ao MAPA, institucionaliza-se a Secretaria da Agricultura Familiar (SAF) no MDA, que passa a ter a finalidade de ser o órgão responsável pelas diversas linhas de ação do Pronaf e, posteriormente, dos demais programas ligados à agricultura familiar brasileira.

Nessa nova estrutura organizacional, o tema da agricultura familiar ganha definitivamente mais espaço e visibilidade da esfera estatal e da opinião pública. A partir do final da década de 1990, as demandas e expectativas da esfera agrária brasileira parecem enfim estarem vinculadas nas agendas de governo, sendo sempre permeadas por uma perspectiva interministerial e com forte tendência a minimizar os efeitos deletérios da miséria no campo.

Entre as diversas reformulações legais que afetaram as diferentes modalidades do Pronaf nos anos de 1998 a 2002, verifica-se:

a) Criação do Pronaf Agroindústria, no ano de 1998, com o objetivo de financiar projetos de grupos de agricultores;

b) Criação, em 1998, da linha de crédito de investimento conhecida como Pronaf Agregar, com o objetivo de agregar renda às atividades agropecuárias;

c) Fusão, através da resolução 2.766 do ano de 2000, das linhas de crédito de investimento Agregar e Agroindústria em uma única fonte orçamentária, com o nome de Crédito de Investimento para Agregação de Renda à Atividade Rural. Essa modalidade, ainda conhecida como Pronaf Agregar teve como objetivo liberar recursos para beneficiamento, processamento e comercialização da produção agropecuária, sendo destinada aos agricultores de renda mais baixa;

d) Extensão do crédito de custeio e das demais modalidades do programa, a partir de 2000, aos assentados da reforma agrária já contemplada com recursos de investimentos para estruturação de suas unidades habitacionais e produtivas.

3.3. A primeira gestão de Luís Inácio Lula da Silva (2002 a 2006): Entre a